Dia seguinte Alice acordou mais triste. Eu sabia que aquele telefonema iria mexer com ela.

Porque Emmett tinha de ligar? Só pra ficar torturando a menina? Não sabe o quanto ela tá sofrendo? Ah, mas eu vou ligar de volta exigindo explicações.

Mais tarde, agora não porque Alice não está bem e eu preciso estar do lado dela.

Saímos de casa e fomos no Greystone. Demos um oi rápido em Jake, que estava já de saída, e ficamos vendo as fotos serem colocadas nas paredes.

Quando estávamos de saída vi ela entrando. Ela me olhou de lado e com a cara fechada empinou o nariz e se apressou a ir até o balcão.

-É ela? – Allie perguntou me pegando desprevenido e encafifado. – É ela. – Confirmou dando um sorriso sapeca. – Vá cumprimentar ela. – Me incentivou

-Você está esperando que eu seja morto, né?

-Ai, deixa de ser dramático e medroso. Ela não morde.

-Isso é que você pensa. - Murmurei.

-Vá cumprimentá-la. Eu vou com você. Aliás, ela tá vindo ai. – Me avisou e eu olhei automaticamente para onde Allie estava olhando vendo um ser de luz se aproximar de nós. Se eu não soubesse que por de trás dessa luminosidade toda estava um demônio eu juraria que estava no céu.

-Oi. – Acenei num largo sorriso.

-Oi. E adeus. – Falou grossa e eu instintivamente segurei o braço dela. Má ação. Ela está prestes a atacar.

-Desculpe. Pensei que não estivesse mais chateada pelo bilhete. – Falei constrangido e sem saber o que falar - Alice, essa é a garota que te falei. A do bilhete. – Apresentei sabendo que Alice estava mais ciente do que eu de quem era a garota.

-Oi, eu me chamo Alice, mas pode me tratar por Allie. Desculpe pelo Ed ter comprado o seu bilhete, mas era para mim. Eu amo Shakespeare e não queria vir sozinha. – Minha baixinha cumprimentou gentilmente, mas a garota continuou impávida e carrancuda para a gente

-Ok. - Respondeu secamente.

-Compreendo que esteja chateada…- Minha irmã tentou se lamentar.

-Compreende nada! – Bravejou – E eu não estou chateada, estou furiosa. Não é você que tem de optar por deixar sua irmã tarada à solta ou a tresloucada distraída. Estão as duas sobre minha responsabilidade e o que estavam para ser umas férias de sonho se tornaram num inferno. Tudo por culpa dele que além de ser o dono de um estúpido Volvo, grrr, como eu odeio esse carro, quase me atropelou e para não bastar me roubou o bilhete tendo como consequência eu ter de abandonar a irmã distraída em uma exposição qualquer. Por causa disso não vou ficar descansada durante a peça toda, pensando se a louca da minha irmã continua no mesmo sítio que a deixei ou se foi raptada por aliens. – Barafustou tudo de uma assentada só me fazendo gargalhar. Sério que ela é assim tão hilária? Minha irmã não gostou nada de minha atitude e me deu um tapa fazendo a garota selvagem gargalhar.

-Desculpe meu irmão. Ele é mesmo um anormal. – Alice se justificou. Agora eu é que sou o anormal? Não sou eu que tenho chilique e que fica apelidando todo o mundo de nomes horrendos. Nem as próprias irmãs escapam. Juro que começo sentindo imensa pena de quem mora com ela. Jesus. Essa garota precisa ser exorcizada.

-Já tinha percebido isso há bastante tempo. – Respondeu num sussurro esperando que eu não escutasse e em seguida me olhou envergonhada. Nossa, como ela fica linda embaraçada. - Vou ter de ir andando. Com licença. – Se despediu secamente de novo. Vixi santíssima. O demo voltou. Vá de retro Satanás. Prefiro a menina doce e encantadora do que essa assombração perturbada.

-Espere! Ainda não falou qual o seu nome. – Allie falou na esperança de fazer amizade. Péssima ideia. Nem morto que eu queria ser amigo dela.

-Desculpe se tô sendo grossa, mas não pretendo ser vossa amiga. – Respondeu fria e minha irmã entristeceu bastante. Rosnei mostrando os meus dentes e ela saiu correndo. Aê. Consegui marcar ponto na baliza minada da demônia!

-Ela parece ser simpática. – Allie falou.

-Como é que é? Simpática? Será que você já foi enfeitiçada pelo cântico da sereia? Acorde Alice, de simpática aquela garota não tem nada. Ela é simplesmente irritante.

-Não culpe a coitada. Você ouviu muito bem o que ela falou. A culpa é toda sua. Você é um grosso. Não tô mais reconhecendo meu irmão. Que é feito daquele cara cavalheiro e meigo para com as mulheres? Não admira nada que ela esteja arreliada e tenha sido grossa comigo. Culpa sua! – Brigou batendo pé no chão e me deixando ali sozinho. Essa demônia conseguiu virar minha irmã contra mim. Estou perdido.

Continua…