Meu sonho começou assim:

Eu via uma silhueta correndo por entre uma densa névoa. As imagens no sonho estavam pouco precisas; eu não sabia se estava em uma rua, em uma ruína de cidade ou em qualquer outro lugar.

O lugar estava escuro, parecia ser noite, ou talvez fosse apenas impressão de escuridão. A silhueta começou a ganhar forma, e com um susto percebi que era uma garota. Uma garota baixa, de cabelos castanhos claros curtos e olhos âmbar que corria sem parar, olhando para trás, como se fugisse de algo. A garota era a minha amiga Cassandra.

Ela estava com o escudo no braço e a espada desembainhada; tinha um corte no queixo e seu cabelo estava completamente bagunçado.

– Você não pode fugir de mim, filha de Ares. - falou uma voz.

A expressão de Cassandra pouco se alterou; isso era uma das coisas que eu mais admirava nela: a capacidade de não demostrar medo. Ela apenas franziu as sobrancelhas e comprimiu os lábios. Não estava tranquila; começou a correr mais rápido.

Eu não conseguia ver nada, aos poucos a escuridão foi aumentando. Senti o ar me faltando nos pulmões, como se estivesse me afogando, só que sem água. Senti como se estivesse caindo em um vazio.

*****

Acordei em sobressalto.

Me sentei na cama e instintivamente levei a mão ao meu pescoço. Ainda continuava com a sensação de ter pulmões comprimidos.

Será que Cassandra estava com problemas? Eu sabia que sonhos de semideuses sempre tem algum significado, e Cassie não dava sinal de vida havia três semanas, sendo a última vez quando ela me mandou um e-mail e eu respondi.

Levantei da cama e tirei o meu cabelo do rosto. Minha amiga some e parece estar em perigo e meu namorado não dá sinal de vida desde o inicio de setembro, me deixando a mercê de Sean Thomas. Que coisa linda!

Olhei a hora em meu relógio; puxa, já eram seis e quarenta e cinco! Meu pai ainda não havia chegado, senão ele teria me acordado. Resolvi tomar um banho quente para tentar me acalmar.

*****

Saí do banho mais calma. Desci as escadas com um livro que peguei as cegas em minha prateleira e me joguei no sofá. Iria ler até meu pai voltar de onde ele tinha ido.

Comecei a ler MacBeth, minha peça favorita de Shakespeare. Mal li a primeira linha a campainha da minha casa tocou. Suspirei, uma das poucas coisas que me irritavam era quando me interrompiam quando eu estava lendo.

Me pus de pé e andei até a porta. Antes de abri-la, coloquei meu sobretudo, porque ele era quentinho e também porque tinha uma de minhas facas guardadas em seu bolso. Abri a porta. E dei de cara com Sean Thomas. Maldição! Havia esquecido que esse parasita queria me levar a um encontro.

Ele me olhou de cima a baixo, sorrindo levemente.

– Você vai assim? - ele perguntou.

– Sean, eu não vou a lugar nenhum com você. - falei, dessa vez secamente.

– Por quê? - ele perguntou levemente alterado - Por causa de seu namorado imagi...

– Alexandra? - uma voz me chamou, cortando a fala de Sean.

Essa voz era uma voz que eu conhecia muito bem. Era a voz que eu não ouvia desde o inicio de setembro. A voz que eu queria ouvir todos os dias durante esses três meses.

Sean olhou para trás, aborrecido, para ver quem o havia interrompido.

Eu olhei para trás de Sean com um sorriso.

Olhei para ver o recém chegado Nico di Angelo.