O Despertar do Lobo escrita por Chase_Aphrodite, danaandme


Capítulo 12
Capítulo 11 - Je vois la vie en rose


Notas iniciais do capítulo

Chase um tanto preocupada, se aproxima de Dana devagar.
Chase: Como você está se sentindo hoje?
Dana (meio cabisbaixa): Se é questão de confessar, não sei preparar café e não entendo de futebol...
Chase (se senta ao lado dela na cama): Tudo bem... Eu não sou assim tão fanática por nenhum deles...
Dana: A verdade é que também choro uma vez por mês, sobretudo quando está frio...
Chase (dando tapinhas amigáveis nas costas dela): Tudo bem... As cidades do nordeste geralmente são extremamente ensolaradas...
Dana: Comigo nada é fácil, já deve saber, me conhece bem...
Chase (franzindo o cenho): Peraí... Meu, isso é Shakira?! Okay! Chega de curti o drama, nós vamos para uma balada agora!
E arrasta Dana para fora do quarto.

Algumas horas depois...
Dana (dançando na bancada do bar com uma garrafa de tequila na mão): And I'm crazy, but you like it loca, loca, loca!!!!
Chase (observando a distância e gravando tudo com o celular): Pelo menos ela não vai poder dizer que não extravasou.



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CAPITULO 11 - JE VOIS LA VIE EN ROSE

– Grandmerè costuma utilizar o salão para algumas reuniões do clube de leitura. – disse Quinn revirando os olhos, e então um sorriso maroto brotou em sua face. – Ela, a vovó Pierce e a abuela Lopez se reúnem todas as sextas com mais quinze anciãs para estudos de textos clássicos da nossa literatura ou estudos bíblicos. Pelo menos é isso que elas querem que todos acreditem. Eu e Frannie descobrimos há alguns anos que na verdade elas passam a noite toda jogando pôquer. Têm até um campeonato anual!

Rachel não conseguiu deixar de sorrir, olhando de relance para o salão decorado com sofisticação. Tal qual a grande maioria dos cômodos, esse também tinha janelas grandes, num estilo francês, com cortinas em tons pastéis, de tecidos leves pendendo desde o teto até o chão, móveis de madeira escura, poltronas e sofás estofados em cores claras, várias obras de arte em mesinhas de centro ou peças emolduradas nas paredes. Cada detalhe esbanjava elegância. Aquele lugar facilmente poderia servir de modelo para um catálogo de revistas sobre decoração de interiores, mas de alguma forma ele também refletia muito bem tudo aquilo que Rachel sempre esperou encontrar na casa da família de Quinn Fabray.

Mordendo o lábio inferior, Quinn observava sua companheira escrutinar o salão. Seus olhos castanhos analisavam cada canto da casa, como se estivessem tentando guardar na memória todos os detalhes. Era como se de alguma forma, Rachel estivesse tentando desvendar os segredos do lugar onde ela vivia, e esse pensamento fazia que tanto ela quanto sua loba interior, vibrassem de satisfação.

Elas atravessaram o salão, voltando para a sala de estar tomando a direção contrária do foyer de entrada, Quinn seguia alguns passos à frente, liderando o caminho até seu espaço preferido depois dos jardins. A loira abriu a porta dupla e se afastou, num convite mudo para que Rachel entrasse primeiro no cômodo.

– Essa é a biblioteca. É meu lugar preferido, depois do deck nos jardins. Meu piano também fica aqui...

Rachel já esperava que Quinn tivesse uma biblioteca em casa. Ela sempre soubera sobre da paixão da loira pelos livros. Ela só não esperava que o lugar fosse tão grande a ponto de ainda abrigar um piano de calda. Realmente, os Fabray eram uma família de bastante recursos.

O ambiente tinha decoração clássica, como todo o resto da casa. Paredes escuras, mobília de madeira também em tons escuros, com almofadas e poltronas claras. Estantes ocupavam grande parte das paredes, todas abarrotadas de livros, uma lareira e, lógico, próximo a grande janela estava o piano de cauda. Um belo instrumento de superfície negra tão lustrosa que era capaz de reluzir a luz fornecida pelo incontestavelmente elegantemente caro lustre que pendia no teto.

Quinn caminhou um tanto nervosa até o piano puxando as cortinas. Só então Rachel pode notar que a grande janela na verdade se tratava de uma porta dupla de vidro que dava para uma varanda e os jardins. A loira girou as maçanetas douradas e abriu as portas devagar, deixando a brisa suave da noite invadir o cômodo. Ela tinha notado que Rachel tinha se impressionado mais com esse ambiente do que com qualquer outro, e de repente ficou um tanto incerta de como a morena estaria encarando esse pequeno tour.

– Por favor, não ache que sou uma esnobe. – ela sussurrou sem perceber.

Rachel se voltou para ela no mesmo instante, com um olhar curioso.

– Por quê? Por que você acha que estou pensando isso?

Percebendo que havia exposto seus pensamentos em voz alta, Quinn pareceu ponderar o que dizer por alguns instantes, se apoiando junto ao piano.

– Eu não sei... Eu. Eu só não queria que você pensasse isso... De mim. – a loira voltou a confessar, desviando o olhar para o chão.

Rachel se aproximou dela, tomando seu rosto entre suas mãos.

– Eu não penso isso de você. – Rachel sussurrou, com o rosto a milímetros de distância do dela. De alguma forma, a fragilidade nos olhos de sua companheira fez com que a morena sentisse a urgência incontrolável de confortá-la.

Quinn ergueu os olhos conectando seu olhar ao de Rachel no mesmo minuto. Seu coração martelava em seu peito e toda sua conversa com Francine se repetia em sua mente. Ela podia sentir o hálito de Rachel próximo ao seu rosto, e o toque de suas mãos exalando ondas de calor por suas bochechas que começaram a se espalhar por todo seu corpo. Aqueles olhos castanhos pareciam chamá-la... Não. Eles pareciam desejar resgatá-la de si mesma e possuí-la completamente.

Quando Rachel se afastou, privando Quinn do calor do toque de suas mãos, seu corpo reagiu quase que imediatamente, e ela percebeu que seus dedos haviam se fechado sobre o tecido fino da blusa de gola polo que Rachel usava, a puxando novamente para perto. A resposta de Rachel também aconteceu quase que instantaneamente, e Quinn sentiu o calor percorrer seu corpo novamente, quando as mãos de Rachel a puxaram pela cintura unindo seus corpos pelos quadris com um movimento firme.

A distância entre seus lábios era quase inexistente agora, suas respirações se misturavam, seus corações batiam em uníssono. Nenhuma delas era capaz de decidir onde seus olhos desejavam se fixar. Se preferiam se perder absorvendo os detalhes de seus rostos, ou se concentrar em decorar os contornos dos lábios que se aguardavam famintos por finalmente estarem tão próximos um do outro.

Só seria preciso um movimento de qualquer uma delas e tudo mudaria para sempre. Um movimento e tudo entre elas seria diferente. As mãos de Rachel apertaram mais firmemente sua cintura e Quinn fechou os olhos.

Foi então que ela sentiu Rachel enrijecer e logo em seguida um ‘oucht’ ressoou pela biblioteca. No instante seguinte, Quinn abriu os olhos e viu Rachel se afastar, se virando na direção do som, abrindo espaço para Quinn entender o que havia acontecido.

Parada na soleira da porta, sua mãe olhava irritada para seu pai, que tinha os olhos arregalados na direção delas. Ao lado deles Francine sorria maliciosamente, enquanto sua avó encarava Rachel estreitando os olhos para sua Alfa.

Judy Fabray suspirou sonoramente, falando docemente as duas garotas que ainda permaneciam imóveis diante deles.

– O jantar está servido, meninas. – e depois ela girou nos calcanhares, agarrando seu marido e Francine pelos braços os puxando dali. Victória Fabray estreitou os olhos ainda mais na direção de Rachel, antes de dar meia volta se dirigindo a sala de jantar.

Rachel engoliu seco, mas ao ver a expressão de absoluto constrangimento que cobria as feições já tingidas de vermelho de Quinn, deu uma risadinha e talvez mais relaxada do que jamais estivera em toda vida, tomou a loira pela mão a conduzindo pela casa até onde os outros já as esperavam.

...

Finn Hudson praticamente se arrastava até o vestuário masculino completamente exausto. Tudo que ele mais queria era chegar em casa e devorar o prato especial de bolo de carne com batatas recheadas, que sua mãe certamente teria pronto sobre a mesa. 'Ela sempre fazia bolo de carne as quintas.' pensou Finn, sorrindo satisfeito.

Nas noites de quinta o treino do time de basquete terminava um pouco mais tarde, principalmente agora com o final da temporada de futebol americano. A nova treinadora havia imposto uma rotina de exercícios extenuante, depois do fiasco no Campeonato Municipal, muito provavelmente determinada a compensar na aparição inicial do Time na Liga Junior de Basquete, no campeonato intercolegial.

– Cara, nunca suei tanto... - disse Mike passando por Finn, com ambas as mãos puxando a camiseta para desgrudá-la da pele.

– Talvez ela não tivesse nos feito correr vinte vezes ao redor a quadra, se o Puck e o Karofsky não tivessem faltado ao treino. - um garoto chamado Billy, reclamou. - Hey, Hudson, onde diabos eles se meteram?

Finn abriu seu armário e puxou de dentro dele uma toalha um tanto encardida.

– Cara, eu não faço ideia. Puck disse que tinha coisas para fazer. Eu não sou a babá de nenhum deles, sabia?

Não satisfeito com a resposta, muito menos com o tom de voz debochado de seu capitão, o rapaz já se preparava para revidar o comentário quando todas as luzes do vestiário se apagaram de uma vez só.

– O que foi isso cara? – alguém gritou na área dos chuveiros, o que provocou uma onda de 'Oh, ele está com medinho do escuro!' dando início a várias imitações de vozes femininas pedido socorro com gritinhos agudos.

– Parece que o apagão foi geral. –Mike concluiu, acendendo uma lanterna que ele habilmente encontrou em seu armário, mesmo em meio toda a escuridão. - Pronto, agora podemos ajudar os outros nos chuveiros.

Os gritinhos e gargalhadas continuavam aumentando e Finn resolveu tomar uma postura condizente com a sua posição de capitão.

–Hey, caras! Parem com isso! Estamos indo até aí e vamos sair todos juntos!

'Oh, capitão venha nos resgatar!', um deles respondeu numa vozinha fina e outra onda de gargalhadas sucedeu a nova brincadeira, com vários outros membros do time chamando Finn de 'meu herói' e declamando amor eterno ao garoto.

– Calem a boca! - Finn berrou de volta.

– Vamos lá, cara. Quero ir logo para casa. - disse Mike apontando a lanterna na direção dos chuveiros.

O feixe de luz varreu o corredor dos armários onde os três rapazes estavam, iluminando o caminho o suficiente para que os garotos pudessem enxergar por onde iam. Mike seguia na frente com Finn no seu encalço. Se vendo sozinho num corredor escuro, Billy decidiu acompanhá-los, sem nem ao menos perceber a criatura gigantesca de olhos avermelhados que o seguia.

...

– E lá estava nossa Quinnie coberta de chocolate em pó, em meio a uma cozinha completamente destruída, com um sorriso gigantesco no rosto, segurando minha travessa de prata com um bolo torto em cima. - concluiu a senhora Fabray, direcionando um olhar afetuoso para a bela representação de tomate em formato de gente sentada à sua frente na mesa de jantar, AKA sua filha mais nova.

Rachel não conseguiu conter a gargalhada. A morena havia se deleitado com a narrativa de Judy ao contar como Quinn, aos sete anos, havia finalmente conseguido preparar um bolo de chocolate trufado descente, transformado a cozinha num verdadeiro campo de batalha no processo. A imagem da pequena loira de adoráveis olhos castanhos esverdeados, completamente coberta em chocolate e farinha, mas sorrindo orgulhosa exibindo seu grande feito... Era com certeza a cena mais carismática que ela podia imaginar.

– Acho que até hoje as bancadas cheiram a chocolate! - brincou Frannie.

Quinn olhou para ela no mesmo minuto, suprimindo um rosnado. Frannie abriu um sorriso travesso enfiando um pedaço exagerado de cenoura na boca.

–Coma direito, Francine Marie. - Victória ralhou, dando um peteleco na cabeça da neta. - Você vai se engasgar.

Quinn escondeu o riso com uma das mãos ao ver sua irmã realmente engasgar, mais pelo susto provocado por sua avó, do que pela cenoura em si.

– Viu? Eu avisei. – dizia Victória dando tapinhas nas costas de sua neta, enquanto Frannie tossia pedaços de cenoura, tapando a boca com um guardanapo.

'A providência divina realmente não falha.', ela pensou.

Embora o jantar estivesse transcorrendo exatamente como ela temia - com sua mãe desenterrando uma enxurrada de histórias constrangedoras, - Rachel não havia parado de sorrir ou de alcançar por sua mão todas as vezes que gargalhava, fazendo o calor brotar mais uma vez em sua face.

Oh, e disso Quinn tinha certeza. Ela deveria estar tão vermelha quanto o sinal de ‘Pare’ num semáforo, mas não exatamente por causa dos relatos extremamente ricos em detalhes de suas peripécias na infância. Na verdade, era o toque da mão de Rachel, o sorriso descontraído e o brilho presente naquelas órbitas mornas, tão ironicamente da cor de chocolate, que estavam fazendo seu corpo ferver por dentro.

Olhos verde-avelã se viram atraídos para suas mãos entrelaçadas, que descansavam inocentemente sobre sua coxa esquerda, e ela mordeu o lábio se esforçando para conter um sorriso bobo. O polegar da morena acariciava sua pele em movimentos suaves já há alguns minutos, e Quinn estava usando todo autocontrole que ela ainda possuía, para não se inclinar sobre sua parceira e descansar sua cabeça sobre ombro dela.

Aquilo definitivamente podia ser definido como a mais deliciosa tortura que ela já experimentara na vida. Em vários momentos entre a entrada e o prato principal, Quinn se pegou desejando estar sozinha com Rachel. Seus verdadeiros sentimentos pela morena dançavam na sua frente, reluzentes como uma estrela cadente numa noite sem lua.

‘Tão perto e ao mesmo tempo tão longe...’ E de repente tudo que ela mais queria era recuperar o tempo perdido. Ouvir a melodia daquele riso, saber desvendar os segredos daquele olhar, sentir o calor daquelas mãos sobre seu corpo. O sabor daqueles lábios junto aos seus. Quinn queria tudo, e queria verdadeiramente. Mas talvez, o único desejo que sobrepusesse todos os outros, fosse o desejo de deixar Rachel conhecê-la inteiramente. De tal maneira que a morena pudesse enxergar seus reais sentimentos por ela, e que a sinceridade presente em seu coração fosse capaz de alcançá-la, a envolvendo da mesma forma que Quinn desejava envolvê-la em seu abraço agora.

Por um breve momento, sua imaginação a transportou para seu quarto, onde ela pode se ver, deitada sobre os lençóis desalinhados de sua cama, cochilando tranquilamente aninhada junto a Rachel. A morena segurava um dos seus livros preferidos em uma das mãos, enquanto usava a outra para acariciar suavemente sua nuca e ocasionalmente afundando os dedos na imensidão dourada em seus cabelos. Quinn viu os olhos de seu eu imaginário se abrirem lentamente, ao mesmo tempo que um longo suspiro de contentamento escapou por seus lábios – que curiosamente pareciam levemente inchados, – enquanto seu corpo buscava se aconchegar ainda mais próximo do calor de sua companheira.

‘Eu te amo’, ela ouviu sua voz rouca confessar, antes de assistir seu outro eu se erguer languidamente, enlaçando Rachel num abraço que envolveu braços e pernas livres de qualquer vestimenta. Aquela Quinn havia sido ousada o bastante para debruçar-se completamente sobre a morena, como se exigisse sua inteira e absoluta atenção. Algo que aquela Rachel concedeu aparentemente de muito bom grato, enlaçando seus corpos de uma maneira ainda mais comprometedora. E com a mesma rapidez que a visão à trouxera aquela deliciosa miragem, Quinn se viu assumindo o lugar da sua cópia imaginária, sendo finalmente capaz de desfrutar da sensação de ter Rachel ao seu alcance, totalmente entregue aos seus desejos.

‘Rachel’, ela sussurrou, deslizando seus braços pela pele morena, sentindo aquela doce onda de calor percorrer seu corpo novamente, porque ali, em sua imaginação, não existia nada se interpondo entre elas, não haviam conflitos ou outras dificuldades, somente seus corpos misturados. Pele sobre pele. Um cheiro inebriante e convidativo preenchendo o ambiente, e as mãos de Rachel tomando a liberdade de passear por suas costas e coxas, a puxando para ainda mais perto.

E foi naquele instante que Quinn viu um brilho exuberante refletido naquelas írises quentes, que ardiam não somente de amor, mas também estavam escuras de desejo. Sua respiração ficou presa em sua garganta, e todo seu corpo pareceu tremer em antecipação porque ela sabia muito bem o que aconteceria entre elas a seguir. Foi um ligeiro aperto em sua mão esquerda que a trouxe de volta a realidade.

– Quinnie-bear, não é de bom tom se perder em pensamentos, enquanto sua mãe está narrando mais uma de suas travessuras constrangedoras. – disse Frannie olhando para ela do outro lado da mesa, como se de alguma maneira, soubesse exatamente em que tipos de pensamentos Quinn havia se perdido.

Quinn se remexeu na cadeira, já se preparando para jogar uma batata em Francine, quando Rachel interviu dirigindo um sorriso cálido à sua irmã.

– Não me importo que de vez em quando, ela se perca em determinados pensamentos. Desde que ela não demore para voltar para mim.

E então o tempo parou. Porque de alguma maneira inexplicável, Quinn soube que Rachel havia visto sua visão.

Ela podia sentir seu coração batendo tão violentamente dentro de seu peito, que era bem possível que ele atingisse alguma de suas costelas a qualquer instante. Buscando pela confirmação de suas suspeitas no olhar de sua companheira, ela viu refletido em seus olhos castanhos, o mesmo esplendor dos sentimentos em sua visão, e quando Rachel alcançou seu rosto com uma das mãos, gentilmente colocando uma mecha de seus cabelos atrás de sua orelha, Quinn engasgou subitamente na tentativa de conter sua surpresa, esquecendo até de respirar ao ver o reconhecimento nas feições de sua companheira.

Ninguém à mesa se atreveu a falar. Judy Fabray tinha os olhos marejados e apertava a mão de seu esposo com tanta força, que os olhos do pobre senhor Fabray também já estavam começando a marejar, por motivos completamente diferentes dos da sua esposa, no entanto. Do outro lado da mesa, Victória Fabray tentava esconder o sorriso, tomando um longo gole de seu chá. Até Francine que exibia um largo sorriso para o jovem casal, cobriu a boca com uma das mãos, piscando compulsivamente para conter as lágrimas de felicidade.

– Você também viu? – Quinn perguntou num sussurro, segurando a mão de Rachel junto ao seu rosto, inclinando a face sobre a palma da morena.

Rachel mordeu os lábios brevemente, antes de dizer.

– Pude sentir cada detalhe...

O rosto de Quinn assumiu um tom avermelhado no mesmo minuto, mas ela não foi capaz de desviar o olhar do de sua companheira.

– Me perdoa por ter demorado tanto para perceber? – ela perguntou baixinho, beijando a palma da mão da morena e voltando a segurá-la junto ao rosto.

– Acho que valeu a pena esperar...

A essa altura, nenhuma delas lembrava que estavam no meio de um jantar em família, com os ditos membros da referida família como espectadores cativos. Sem mais poder se segurar, Rachel se inclinou na direção de Quinn, que com a mesma urgência, já erguia o rosto para a morena, dando permissão para Rachel finalmente tomar posse daquilo que sempre fora unicamente seu.

Mas então alguém começou a tossir sonoramente... E a bolha que as isolava do mundo estourou.

– Judy querida, acho que já estamos todos prontos para sobremesa! – Russel Fabray estava de pé defronte seu lugar à cabeceira, exatamente à direita de sua filha mais nova. Suas mãos estavam estendidas sobre a superfície da mesa, seu rosto tingido de vermelho, olhos arregalados numa expressão pasma, com uma fina camada de suor escorrendo por sua testa. Já à direita dele, Judith Fabray, ainda sentada, o encarava de braços cruzados, rosto vermelho, cenho franzido e queixo travado.

– Mas é claro, querido. – ela respondeu entredentes, forçando um sorriso e se levantando de uma vez. – Porque você não me ajuda a trazer a travessa, meu amor?

Sem esperar por uma resposta, ela marchou em direção a cozinha, sendo seguida logo depois pelo pobre homem que agora parecia apavorado e miseravelmente pálido.

Francine ensaiou um sorriso malicioso e já se preparando para deferir um golpe certeiro quando:

– FRANCINE MARIE FABRAY! VENHA ME AJUDAR TAMBÉM! – Judy berrou de algum lugar da casa.

A garota quase caiu da cadeira na pressa de atender ao chamado de sua mãe.

Completamente encabuladas, Quinn e Rachel trocaram olhares, antes de se voltarem para a única figura ainda presente na sala de jantar.

– Acho que agora nós precisamos ter aquela conversa, minha querida Alfa. – disse Victória Fabray, finalmente pousando sua estimada xícara de porcelana sobre a mesa.

Quinn se engasgou com a própria saliva, ao mesmo tempo que Rachel sentiu o jantar revirar em seu estômago.

...

Quando Charles Wilson, o chefe do departamento do Corpo de Bombeiros da cidade de Lima, recebeu aquela chamada onde podia-se ouvir um bando de adolescentes berrando sem parar um bocado de palavras sem sentido, ele naturalmente quis desligar o telefone. Mas, então ele ouviu o rosnado e algo que mais parecia uma parede caindo.

Tentando o máximo se concentrar no que os jovens estavam gritando do outro lado da linha, ele começou a rascunhar palavras soltas em um papel em branco sobre sua mesa. Foi quando ele conseguiu juntar numa sentença algumas das palavras que ele ouvira.

‘Socorro. O. Lobo. Vai. Nos Matar. William. High.’

Um estrondo estarrecedor ecoou pelo fone do aparelho telefônico, e logo em seguida a linha foi desconectada.

Charlie enfiou o dedo no botão de alarme, acionando seu batalhão. Eles precisavam chegar o quanto antes na escola.

...

RESIDÊNCIA DOS FABRAY

– Não diga que sente muito. – Quinn falou suave. – Não foi sua culpa.

Rachel negou com a cabeça apertando levemente a mão da loira.

– Eles queriam te matar... Para me atingir... Não vejo como não é minha culpa. E... Oh Deus... Eu os matei Quinn. Eu os matei e não posso dizer que me arrependo e você deve ter tanto medo de ficar sozinha comigo e ...

– Eu não tive medo. – Quinn sorriu da expressão surpresa de Rachel. – Quero dizer, fui treinada para essas situações. Cometi um deslize porque ouvi o seu grito... Senti sua dor. Fiquei com medo de que algo tivesse acontecido. Por um momento, não consegui mais sentir você. Foi angustiante pensar eu poderia ter perdido e então abri meus olhos e você estava lá.

– A morte personificada. – Rachel murmurou se afastando dela.

– Não. – Quinn a puxou pela mão, fazendo-a se aproximar novamente. – Você estava viva. Me protegendo. – ela continuou, beijando as costas da mão de Rachel suavemente. Ela precisava que Rachel soubesse. – Eu nunca me senti tão segura como me sinto com você ao meu lado...

A morena sorriu, aproximando-se ainda mais da loira. Às vezes Rachel se espantava como Quinn era linda, e de como quanto mais ela se aproximava mais dessa beleza parecia emanar dela.

– Prometo que nunca mais vou deixar ninguém te machucar. - Rachel sussurrou a centímetros do rosto dela.

– Confio em você. – Quinn sussurrou de volta, inclinando o rosto para o lado e fechando os olhos.

Quando Quinn achou que Rachel finalmente a beijaria a bolha voltou a estourar.

– Muito bem. Acho que já chega desse exercício de sinceridade por hoje. Já pude perceber o quanto a ligação entre vocês duas se intensificou. – disse Victória após limpar vigorosamente a garganta.

Quinn sorriu timidamente, deixando algumas mechas de seu cabelo dourado cobrirem seu rosto.

– Se não queria uma comprovação, Grandmerè, então não devia ter feito a proposta para começar.

No final das contas, a ‘conversa’ que Victória queria ter com elas, se resumia na verdade a explicá-las o quanto a conexão entre elas passaria a ser ainda mais forte depois que Rachel havia sido capaz de captar aquilo que Quinn desejou que ela sentisse.

‘Foi como se o véu tivesse finalmente caído’, disse a anciã. E agora que ambas pareciam ter aceitado o laço que as unia, a conexão só cresceria.

Por isso, a matriarca da família Fabray, juntamente com as outras duas anciãs da alcateia, seriam de agora em diante, as responsáveis por instruir o casal nos costumes antigos, assim como tirar as dúvidas das garotas quanto a vários assuntos que poderiam surgir eventualmente. Fazendo a mente de Rachel berrar imediatamente ‘pergunte sobre as malditas Ninfas Psicóticas da Fertilidade’, mas a Alfa engoliu as palavras no mesmo minuto. As Ninfas poderiam esperar.

Naquele momento, entretanto, Victória havia somente solicitado um único exercício. Ela pediu que elas deixassem fluir os sentimentos que elas escondiam uma da outra. E se dirigindo especificamente a Rachel, a anciã deu-lhe a vez, já que aparentemente Quinn havia feito sua parte anteriormente, de uma maneira bastante peculiar diga-se de passagem.

Foi por causa disso que a morena resolveu falar de como o episódio do ataque a Quinn ainda a afligia.

– Você está ficando muito sabidinha, mon petit agneau. Tu es heureux?

Quinn olhou na direção de Rachel e sorriu calorosamente.

– Muito. Muito feliz.

Uma declaração que só fez com que um enorme sorriso se espalhasse pelas feições da morena.

– Será que a gente já pode voltar para a mesa? Eu quero minhas guloseimas... – Francine resmungou saindo detrás da porta, com a cara emburrada. – Mamãe está nos prendendo na cozinha há décadas e eu já não aguento ouvir o papai murmurando ‘minha garotinha cresceu’.

Rachel não conteve a gargalhada ao notar o quão parecidas as duas irmãs eram quando estavam emburradas. Frannie sentou-se em seu lugar à esquerda da outra cabeceira da mesa, onde sua avó estava sentada e cruzou os braços fazendo biquinho. Quinn entrelaçou seu braço ao de Rachel, deitando sua cabeça sobre o ombro da morena. Francine revirou os olhos e ao ver o gesto, e Quinn revidou, infantilmente, mostrando a língua para ela.

Mon Dieu. Ils sont comme deux enfants... – Victória disse respirando profundamente. – Judy querida, venha! E por favor, diga a Russel parar com tanto drama.

...

O carro dos bombeiros, três ambulâncias e mais duas viaturas da polícia estavam estacionados em frente da entrada principal do colégio. Vários alunos do time de basquete estavam deitados na calçada, esperando por atendimento ou ainda em estado de choque. Nenhum deles conseguia descrever os acontecimentos daquela noite. Nenhum dos relatos fazia sentido.

– Charlie? – chamou um dos policiais de plantão, quando viu o bombeiro-chefe deixar o prédio. – Você faz ideia do que aconteceu aqui?

O bombeiro sacudiu a cabeça negativamente, ainda assombrado pelo rastro de destruição deixado por o que quer que fosse que tivesse aterrorizado os membros do time de basquete.

– A única coisa que sei Justin, é que nenhum desses garotos tem a capacidade para fazer aquilo lá dentro.

O oficial desviou o olhar para a pequena procissão de carros, certamente pertencentes a alguns pais bastante preocupados que começava a chegar no estacionamento da escola. Ele já se preparava para seguir na direção deles para recebê-los e organizar a situação, quando um rapaz alto, com um corte profundo na testa o agarrou pelos ombros.

– O senhor precisa voltar lá! Ele, ele não está aqui! – o rapaz parecia desesperado, e começou a sacudir sem perceber o oficial pelos ombros.

– Calma rapaz, de quem você está falando? Qual é seu nome?

O jovem jogou os braços para cima, extremamente agitado e visivelmente abalado.

– Eu sou o capitão! Eu devia ter tirado todos de lá...

– Calma rapaz. – o policial continuou. – Quem não está aqui?

– Billy! Billy Thompson! Ele sumiu!

O policial mal teve a chance de passar a informação adiante, quando um dos bombeiros veio correndo de dentro do colégio, chamando urgente os paramédicos.

– Temos uma vítima! Preciso de ajuda!

...

Rachel caminhava com um sorriso bobo para longe da casa dos Fabray. Saber que Quinn de fato a amava... Aquilo não apenas aquecia seu coração e tranquilizava sua mente. Também parecia que mandava uma carga extra de energia e força às suas células. Podia sentir os músculos por debaixo da pele fortalecendo, desenvolvendo, vibrando... Podia sentir a aceleração de seus reflexos, perceber a melhora dos sentidos básicos... Podia sentir o pulsar de seu próprio coração e ao mesmo tempo tomava consciência de que se conseguisse se concentrar o suficiente poderia sentir a pulsação de Quinn.

A sensação que fizera florescer todo aquele estado de mais absoluto êxtase, ainda formigava sua pele, a fazendo recordar de todos aqueles sentimentos que ela havia sentido emanar de Quinn durante o jantar.

Ela não havia visto exatamente toda a visão que sua companheira tinha desejado mostrá-la. Alguns pontos apareceram fora de foco, ou completamente turvos, mas as sensações como: a essência inebriante do ambiente, o calor do toque, a textura da pele de Quinn sobre suas palmas, o desejo... A voz rouca sussurrando seu nome junto ao seu ouvido, tinham aparecido em sua mente claramente, assim como o nítido desejo de Quinn para provar-lhe a veracidade daqueles sentimentos.

Foi o que bastou para que ela decidisse abraçar aquele doce mistério que era Quinn Fabray.

‘A lua ressaltava suas feições angelicais enquanto elas duas se despediam timidamente junto as roseiras que ornamentavam o jardim de entrada da residência dos Fabray.

Quinn se aproximou de Rachel, escondendo o rosto junto ao pescoço da morena.

– Eu queria que você ficasse... – ela murmurou de um jeito manhoso, agarrando as laterais da camisa de Rachel.

– Não acho que seu pai esteja preparado para tanto. – Rachel brincou, depositando um beijo suave na têmpora de sua companheira e se alegrando ao ouvi-la rir junto ao seu pescoço.

Quinn levantou o rosto em seguida, seus olhos reluziam com um brilho travesso que Rachel nunca vira antes.

– Talvez ele precise de um tratamento intensivo para se acostumar com a ideia. – o tom rouco da voz dela, fez um arrepio percorrer o corpo da morena.

Elas ainda permaneceram perdidas uma na outra por alguns poucos instantes, até serem graciosamente interrompidas por Francine Fabray, afirmando que Quinn tinha que entrar para evitar que seu pai protagonizasse mais um drama. Então as garotas desejaram boa noite uma a outra, sob o olhar atento de uma irmã super protetora – que certamente sofreria as consequências mais tarde, - sem nem ao menos poderem dar vazão ao desejo de expressarem seus sentimentos.’

Depois de um beijo casto em sua bochecha esquerda, Quinn seguiu sua irmã para dentro de casa, e Rachel arrodeou o quarteirão determinada a realizar uma patrulha ao redor da casa de sua amada. Ela havia sentido Santana e Brittany deixando os arredores assim que transformou-se. Santana era uma cadela às vezes, contudo não podia pedir uma amiga mais fiel para sua companheira.

Ela estava quase chegando em sua casa quando aconteceu.

Ela e todos os outros lobos que haviam lhe jurado lealdade, receberam uma imagem mental que não vinha de ninguém entre eles.

A visão começava com a casa dos Fabray e imediatamente migrava para Quinn deitada em sua cama. Seus longos cabelos loiros espalhados sobre um grande travesseiro branco. Seu corpo iluminado apenas pela luz da lua. Até que todos os detalhes da cena finalmente entraram em foco. Um risco vermelho atravessava a garganta alva e o sangue carmim escorria pelos lençóis brancos. Os olhos avelã-esverdeados completamente estáticos, refletiam a frieza tétrica da morte.


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Notas finais do capítulo

Devido a certas inconveniências de lidar com a ressaca de uma certa indivídua enebriada ao som de Shakira... A nota final de hoje será substituída por um mero comunicado de que apesar da correria da vida de Chase e Dana, aparentemente tudo voltou a funcionar melhor o que nós permite voltar a nossa programação usual, ou seja:
PRÓXIMO CAPÍTULO 30 DE MAIO!
Beijos galerinha!!!