A Liberdade do Corvo escrita por Raquel Barros, Ellie Raven


Capítulo 18
Capitulo Dezessete - Arya


Notas iniciais do capítulo

OI sadizinhas, desculpas pela demora, é que minhas aulas voltaram, então o tempo diminuiu.



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Fico contando os segundos enquanto espero o Aspen, meu novo tutor aqui sair da ala hospitalar. Claro que preferi que ele fosse meu tutor ao meu namorado. Pelo menos seria uma desculpa razoável sem nenhum tipo de intimidade para ele ficar com os olhos bem fincados me mim. E meu tio me deu uma bronca tão grande, que não teve outro jeito a não ser aceitar a oferta dele. Parece que o Aspen tem realmente sérios problemas de saúde. E por isso, eu tenho que ficar aqui, plantada, esperando ele sair de uma rotina de exames semanal. Essa parte do hospital não estava muito agitada, diferentemente do outro lado. Parece que um grupo inteiro de sadics se queimou enquanto corriam mais próximo de um penhasco, e os lobos estavam fazendo algum tipo de limpeza nos pulmões, cheios de carbono. Ou seja, o lado direito da ala hospitalar estava cheia de pessoas gritando por causa da dor das queimaduras, e cheirava a carne queimada. Hazazel não está brincando nem um pouco dessa vez. Quer dizer. Isso se ele sabe o que é brincar. Do jeito que é transtornado até parece que sofreu algum trauma terrível na infância. Se ele sofreu não sei, mas que eu sofri. Ser criada dentro de um presídio é uma das coisas mais tristes que podem acontecer com uma criança. Isso sem contar é claro, que eu perdi minha família, ou achei que perdi. E a comida era horrível. E de vez em quando eu aprontava alguma que me resultava em algum tipo de castigo cruel, dependendo da minha idade é claro. Quando eu tinha cinco anos rasparam meu cabelo loiro quase branco, por eu ter chamado a mulher que cuidava de nós de gorda. Quando ele cresceu de novo, nasceu liso, negro, e bem mais pesados do que era antes. Acho que meu cabelo iria escurecer aos poucos, mas como os hormônios de super regeneração eu herdei da minha mãe, parece que adiantaram o escurecimento do meu cabelo. Bem, continuando, ano passado eu falei mal de um guarda da Fortaleza e me deram trinta chibatas que me deixou metade do ano na enfermaria. É horrível. Sério! Eu não desejo isso nem ao meu pior inimigo. Quer dizer, talvez para meu pior inimigo. Mas é como se tivessem tentando tirar sua alma. De vez em quando tenho pesadelos com a dor. Mas é algo que eu prefiro esquecer por completo. Afinal de contas, desse daí eu me vinguei. Ele não virou sargento por que eu roubei todos os livros dele, e deixei minha cama mais confortável. Depois os queime na frente dele. E de todo mundo. Foi ao memorável que até hoje cometam o ocorrido. E é claro, me mudaram para uma solitária por incitar a rebeldia e anarquia. Foi aí que eu descobri meu dom para dizer não as autoridades, até alguém me convencer de que eles estão certos. E esse tem que ter muita papa na língua.

Finalmente Aspen aparece, e o médico dele, um sadic ruivo que por acaso é meu primo, se chama Draco Apache, e é filho de Gaia Apache, que se tornou a Best de minha tia Bev, quando todo mundo achou que ela iriam se matar. Mas ele não é filho do Alef, na verdade, a Gaia se apaixonou de verdade pelo irmão gêmeo da Bev, o Peter, e teve o Draco e a Ivy. Acho muito azar de essas crianças terem recebido seus nomes como homenagens aos avos que queriam acabar com o mundo. Hoje em dia ninguém liga. Aspen aperta a mão do medico e volta. Olha para mim por alguns instantes, olha para baixo. Franze o cenho de leve, enquanto faz aquela cara de pensador linda que só ele sabe fazer.

–Obrigado, doutor.

Agradece Aspen, e começa a andar em minha direção. Ele parecia determinado. Muito determinado. O que era estranho. Realmente. Aspen parecia com alguém que tinha uma personalidade forte, era influenciável e irredutível em sua opinião. Também era incrivelmente controlador. É estranho. Quando ele diz faça isso, todos fazem. Ninguém pergunta o porquê. É como se ele fosse um rei sobre todos. Isso me fascina e irrita. Mas, nesse pouco tempo que eu estive aqui, nunca o vi tão determinado.

–Arya, desculpas por deixar-la esperando. E antes que alguém faça isso, você quer sair comigo?

– Sair com você? Eu não estou entendendo.

–È tipo, você e eu vamos fazer qualquer coisa querendo nós conhecer melhor. Se você recusar, eu bem entenderei, sua fila é bem grande e talvez eu não esteja nem na sua lista de pessoas a conhecer...

–Você conhece as constelações?

Pergunto mesmo não entendendo o que ele estava-me propondo. Aspen era envolto em uma cadeia de mistérios. Não fala nada do passado, ou do futuro. Parece que não tem expectativa para o futuro. Ele é um enigma desafiador. Eu gosto de enigmas, e amo desafios. A transparência me parece falsidade e o mistério me agrada. Aspen era interessante, não posso negar. Era como a combinação perfeita que me atraia em forma de um humano. Eu não sei o que é isso. Aspen pela primeira vez sorri. Não de desdém como ele normalmente faz, mas aquele sorriso que mexeu com alguma parte do meu cérebro, e fez meu coração ir a mil. Ele tinha covinhas nas bochechas, e seu sorriso era realmente torto. Branco e brilhante.

–De certo, eu conheço.

–Eu não. Você me ensina?

–Será um prazer te mostrar o quanto o céu é brilhante à noite, Arya.

Aceita ele. Isso me deixa estranhamente inquieta, tão inquieta que, dou um beijo na bochecha de Aspen, e saio andando. Olho para trás para ver se ele estava me olhando, e encontro com um olhar cheio de esperança e algo mais. Depois continuo meu caminho. Não sei se é pelo Aspen em si, ou se é por causa do que ele vai me ensinar. Talvez seja por causa dos dois. Não sei. Na verdade, de poucas coisas eu sei sobre sentimentos ou querer. Mas que eu estou saltitante, feliz da vida. E nem sei o por que.

–Eh, garota, você está estranha!

Comenta Zoey me olhando com uma cara de pura traquinagem. Ela estava sentada em cima de uma mureta de tijolos, e não parecia exatamente uma militar como ela normalmente anda. Estava parecendo uma moleca na verdade. Calça jeans surrada e uma camisa masculina com alguma frase estranha estampada na frente.

–Estou estranha?

–É.

–Acho que você está vendo coisa.

–Não estou não! Ou você vive com sorrisos bobos na cara?

–Não! Eu não estou com um sorriso bobo na cara.

–Se eu tivesse com um espelho eu te provaria, mas como não estou vou ter que perguntar para alguém desconhecido. Ei, Louise , ela não está com um sorriso bobo na cara?

Pergunta Zoey para uma morena, andando e lendo um livro, prestes a tropeçar em alguma pedra. Quando ela tira o livro da cara, para me olhar, logo vejo que é uma humana. Até por que, os óculos de armação preta, e grau altíssimo não é exatamente algo que um sadic precisa. E também tem a cor dos olhos, um castanho que na luz ficava verde musgo, da pele, mais escura do que a de um sadic, com um tom azeitonado, e do cabelo castanho, meio liso e meio cacheado. Era uma humana realmente linda. Eu não tinha visto nenhuma humana por aqui. Então foi fascinante vê uma assim de perto.

–Se estava, morreu Zoey.

Responde Louise abaixando o livro.

–Arya, essa é a Louise, a meia irmã de Aspen. Ela é uma das poucas humanas que restaram no mundo.

–Meia irmã do Aspen? Vocês não se parecem nem um pouco.

–Ah, é que, nossas mães são diferentes. A minha fazia parte dos sobreviventes brasileiros e a do Aspen dos americanos. Nosso pai era Europeu, e como pode ver não herdei quase nada dele, a não serem os óculos.

Explica ela, ajeitando os óculos assim que fala dele. Era engraçado saber que a família de Aspen era uma mistura louca de nacionalidades. A mãe dele era norte americana, a madrasta brasileira e o pai europeu. Pelo menos o Aspen não estava sozinho no mundo. Tem uma irmã mais nova.

–Isso é legal.

Comento sorrindo.

–Você é a garota do Aspen, a tal Arya que ele vive suspirando?

–Ele vive suspirando?

–Bem, você está mexendo com os sentimentos do meu irmão, Arya. Ele é uma boa pessoa, espero que não o magoe. Ainda mais agora, que ele passa por esse momento.

–Que momento?

Pergunta Zoey, entrando novamente na conversa e ficando séria de repente. Louise suspira, e pela sua expressão era percebível que Aspen não estava passando por nada de bom.

–Ele piorou. Depois, você pergunta, mas eu conheço aquela expressão de que está tudo perdido.

–Ele parou de fazer a... Por que não vamos jantar, depois conversamos.

Muda Zoey de assunto ao me vê olhando. Ela e Louise andam até um dos pavilhões e eu vou junto. Aquele era o refeitório da base. Tinha varias mesas de piquenique, dividas de uma maneira até estranha. Algumas mesas tinham apenas meus tios e alguns filhos deles. Noutras damas da luz e lordes darks sentavam juntos. Eram como as panelinhas que existia no Presídio. Como eu não conheço nada aqui, sigo Zoey e Louise. Elas vão á uma parte em que tem apenas o alimento. É muito diversificado, então só pego o que conheço. Ou seja, salada de alface e repolho e uns ovinhos bem pequenininhos. A Zoey olha para o meu prato, rouba ele de mim, e enche ele de um monte de coisa que eu nem imagino o que é. Isso sem contar que eu não vou comer tanto.

–Quer suco Arya?

–Não! Meu prato já é mais do que o suficiente.

Nego objetivamente. Imagina suco no jantar? Eu nem se o que é isso. E meu prato já está muito cheio mesmo. Eu vou ter que beliscar um pouquinho de cada coisa para experimentar tudo.

Continuo a seguir Zoey e Louise que conversavam animadamente. Elas tinham mudado de assunto. Falavam alguma coisa sobre Artemis Fowl e alguém chamado de C.S.Lewis. Eu não entendia nada, até por que, sou nova aqui. Do nada, Louise tropeça em alguma coisa e cai. Consigo ver um sapato vermelho sendo retirado, do lugar de onde ela acabou de cair.

–Ops! Desculpas, eu não vi você vindo.

Fingi a dona do sapato vermelho de maneira tão falsa que seria mais fácil ela não falar nada, o puro triunfo brilhava em maldade nos seus olhos. Ela tinha feito de propósito. Zoey pisca os olhos incrédulos, e o pavilhão inteiro explode em risos. Exceto por alguns que sente pena ou são afeiçoados a Louise, que olha para baixo envergonhada. Bem, eu não conheço a Louise, mas não sou de deixa grátis malvadezas a quem não fez nada. Olho para o lado e vejo um copo cheio com alguma coisa verde e grossa.

–Você vai precisar disso?

Pergunto ao sadic que faz com que não com a cabeça. Pego o copa, tiro a tampa, e jogo bem cima da cabeça da cabeça da malvadinha. Balanço o copo com um sorriso bem mais malvado e desafiador do que o dela, que morre assim que aquela gosma nojenta escorre pelos seus cabelos coloridos e ombros. Um silêncio tomou conta de todo o pavilhão. A boca de Louise e a de Zoey abrem em exclamação. A malvadinha levanta, exasperada e rosna para mim.

–Você por acaso é cega?

Grita me dando mais uma oportunidade. Coloco o copo na mesa e dou uma de sínica.

–Ah, não! Desculpas, eu não vi você aí! E não! Eu não sou cega, você que era transparente. Agora, bem eu preferia ficar transparente á nojenta.

–Você não sabe com quem está se metendo novata.

–Talvez não! Mas talvez, eu não me importe. E dá próxima vez, compra um óculos por que você está ficando cega. E garota, toma cuidado com esse pé, alguém pode pisar nele.

Respondo, sorrindo um pouco mais. E dando passagem para a garota passar, furiosa como um furacão. Então o pavilhão é tomado novamente pelo som de risadas.

–Você sabe quem é aquela garota ali?

Pergunta um jovem rapaz sadic quando sentamos. Faço que não com a cabeça.

–Bem, ela é a dama da luz mais poderosa da atualidade.

Informa ele, me olhando com um pouco de pena. Isso incita minha raiva ao máximo.

–Dama da luz? Aquilo é uma dama da luz? Vocês estão ficando loucos! Damas da luz não humilham pessoas.

–Bem, é que está difícil conseguir talentos como a Denise tem com as nevoas. Carmem acabou mimando e recrutando ela antes do tio Alef. Já era metida antes, agora ficou assim, um monstro.

Explica Gwen, sentando conosco. Aspen senta do meu lado, e Jasper e Neal na nossa frente. O Lorde Dark moreno que eu vi entre os pupilos do Alef senta ao lado de Louise que fica corada de leve, e abaixa a cabeça, e Zayn senta por ultimo do outro lado.

–Quem é Carmem?

Pergunto antes de qualquer coisa. O pupilo do Alef levanta os olhos sobre a comida, pisca um pouco, e eu não deixo de pensar que ele me parece estranhamente familiar. Sei lá! É como um parente desconhecido ou qualquer coisa do tipo.

–Ah, é minha mãe.

Responde o jovem de cabelos escuros e olhos claros, dando um sorriso que eu não chamaria de sorriso. Era algum tipo de pedido de desculpas. Vou ignorar essa informação. Até por que, o que o filho de uma dama da luz faz entre os pupilos de Alef? Eu não consigo imaginar.

–Ele é adotado!

Informa Zoey, ao perceber algum tipo de interesse desinteressando da minha parte. Mas é claro que isso explica tudo. O sangue aqui chega a ser mais importante do que a criação. A não ser que o próprio pai, ou mãe crie para não seguir seus passos. O que é realmente uma atitude bem rara. Mas o que eu sei de criação? Nada. Não conheci meus pais para me guiarem pelo caminho que eles quiserem e não fui obrigada a escolher o caminho que seguiria ao crescer. Na verdade eu achava que mal chegaria aos vinte anos. Mas eu sei o suficiente sobre biologia para saber que os genes benignos e malignos de um sadic poderiam afetar seus descendentes. Sou o maior exemplo disso. Então me limito a soltar um Ah, para deixar claro que entendi e vou beliscar minha comida até sentir que estou satisfeita. Então deixo o prato de lado. Isso atrai o olhar de todos.

–Não vai terminar de comer?

Pergunta Zayn olhando para o prato gigantesco que a Zoey tinha colocado para mim. Ainda tinha noventa por cento dele intacto.

–Estou satisfeita.

–Você nem tocou na comida!

Retruca Gwen. Era estranho como ela lembrava o Zayn. Eles tinham os mesmos olhos e o cabelo era da mesma cor. E tinham quase o mesmo tamanho. Se a Gwen cortar-se o cabelo no mesmo estilo do de Zayn e vestir-se como um homem, poderíamos confundir os dois. Claro que eles tinham suas diferenças, até por que eram irmãos gêmeos, mas de sexo diferentes.

– Por que colocou tanto?

Pergunta Aspen tentando não se sentir ofendido. Maravilha! Agora eu sou uma desperdiçadora de comida. Logo eu que valorizo cada grão de arroz que tem no meu prato.

–Não foi ela não! Fui eu.

Informa Zoey, pegando metade da comida do meu prato e dando a outra metade para Louise que não tinha comido nada por causa da provocação de Denise mais cedo. Como alguém pode fazer isso contra outra pessoa? Da próxima vez que aquela “dama da luz” apronta uma para cima da Louise, ou eu piso no pé dela de propósito ou deixo cair alguma coisa em cima dele. Eu não tenho medo de controladores de nevoa. E no dia que eu tiver, é para me internarem em um hospício. Se ainda existir um.

Todos soltam um “Isso é a sua cara, Zoey” e voltam a comer. Quando terminamos todos se separam, para fazer seus respectivos trabalhos. Eu vou com a Gwen e a Zoey para a área carcerária. Vou ser a substituta do carcereiro do príncipe Ethan por uma semana, depois meu trabalho será decidido por dois testes: um de aptidão e outro de conhecimento. Aí vão decidir se vou para O Controle, A Enfermaria, ou para O Centro de Treinamento. Eu não sei o que se passa em cada um, então para mim tanto faz. Entramos no Presídio, e pegamos meu crachá. A Zoey veste uma blusa por cima da que ela estava e então coloca outra branca por cima, e isso faz a Gwen rir.

–Por que tantas blusas?

Pergunto curiosa. A Zoey coloca o crachá dela e responde:

–Bem, na cela que vamos tem alguns tarados de plantão. Estou apenas me prevenindo.

Limito-me a levantar uma das sobrancelhas e sigo-as prédio adentro. Aquele lugar não parecia exatamente um presídio. Era limpo, arejado, e bem arrumado. Em cada cela não tinha mais do que três detentos. Todos eles estavam bem limpos e alimentados. Acho que isso deixava bem claro o nível de humanidade que meus tios tinham aqui. Eram criminosos e muitas vezes pessoas que não pensariam nem por um minuto em matá-los se tivessem a chance. Mas meus tios os colocaram em uma situação extremamente confortável. Aposto que até melhor do que a que estavam antes. Alguns presos ficavam olhando pelas grades das janelas. Se eu fizer-se isso em Fell, eles me colocariam em uma cela sem janela. Em Fell os presos não poderiam ficar na grade para não verem a movimentação dos guardas, e acabarem descobrindo pontos fracos na fortaleza. Eu acabei descobrindo pelo som dos passos dos guardas e pela identificação que eles fazem quando trocam de turnos. Entramos no elevador no final do corredor e descemos até o ultimo andar. Passamos por quase três portas com dez guardas de vigia em cada uma delas, mais uma grade com senha e cadeado, uma parede de vidro blindado duplex transparente de um lado, com homens armados até os dentes, com porta com identificação. Era claro que aquela era a parte com segurança máxima do lugar inteiro. Não preciso ser um gênio para saber que aquele com certeza era o lugar em que os príncipes de Master Great ficavam. A cela por si só deixava claro que aqueles não eram prisioneiros normais. Diferente as outras, essa era bem grande e espaçosa. Tinha três camas, uma estante imensa de livros, três bancadas e cadernos sem aros, assim como canetas de pontas redondas. Em cima de cada cama tinha um andar vazio com uma janela bem pequena que dava para ver o lado de fora. Isso sem contar os banheiro e o espelho. Acho que no dia que aquilo for uma cela para detentos normais, o mundo vai está tão bem humanizado que transformaria em um quarto de hotel e não precisaria mais de presídios.

Os três presos estavam em lugares diferentes cada um. Um ruivo acastanhado com uma tornozeleira de metal tinha tirado um cochilo no chão, e um loiro de uniforme roxo ficou encolhido em outro canto com as mãos nos ouvidos. O terceiro detento, era um que estava deitado de costas na terceira cama, com as mãos em punho, e uma enfermeira assustada estava levantado uma mesinha com vários medicamentos perto da cama. Quando entramos, o loiro de roxo levantou os olhos totalmente vermelhos, e o ruivo acordou e jogou a cabeça para baixo.

–Aquele mal humorado ali é o seu, boa sorte.

–É, eu vou precisar.

Concordo com Zoey, enquanto ela vai em direção do loiro de olhos vermelhos. A Gwen também me dá um sorriso de boa sorte, na verdade, eu já sabia que iria precisar. Chego perto do Ethan de maneira anestesiada. Logo vejo qual é o problema dele. Tinha lacerações que atravessavam suas costas de todas as direções. Eram recém abertos, de alguns minutos, no máximo uma ou duas horas, por isso são vermelhos e ainda sagram. Alguns estavam ficando purulento o que é um péssimo sinal, e todas as costas dele estava roxa. Deveriam ter sido de quinze a vinte cinco chibatas. Recuo automaticamente. Não por nojo ou medo. Mas pela lembrança que me atingi como uma bola de pura dor.

–Espero que você não vomite.

Comenta a enfermeira, olhando para mim e parando de arrumar tudo no seu devido lugar novamente. Ela parecia cansada.

–Eu não vou vomitar.

Sussurro pesarosa, com uma estranha compaixão dele me tomando. O Ethan deve ter tido uma vida regada a mimos e regalias sem limites. Mas ele era tão familiar para mim. Como alguém que eu conheço e não me lembro de onde conheci. E ele era meu primo de qualquer maneira. Ethan olha para mim como se esperar-se meu escárnio. Acho que ele deve saber que só ganhou tal castigo por causa de mim, e do que o pai dele fez com Alef há alguns muitos anos atrás. Tinha um pouco de rancor naqueles olhos verdes familiares. Não que eu tivesse alguma culpa nisso. E quem deveria sentir raiva aqui sou eu. Quem perdeu a infância inteira, metade da família, e passou a maioria da vida em uma prisão fui eu. E tudo por culpa do pai dele. Então não aceito que Ethan me olhe com mágoa ou rancor. Subo na parte de cima da cama e fico lá, em silencio, perdida em pensamentos sobre tudo, esperando o tempo passar. Isso até começar os berros de dor. Mas será possível que essa enfermeira está torturando esse homem? Para ele gritar tanta só pode ser isso. E não era nada interessante. Cortava a alma, dava tristeza e vontade de chorar com ele. O outro loiro, mesmo não tendo uma única ferida se quer no corpo começou a se debater para o desespero de Zoey. E o ruivo colocou as mãos nos ouvidos de pura agonia. Olho para baixo e vejo que a enfermeira deve ser novata. Estava limpando os ferimentos com algodão. Quer dizer, estava desinfetando com um algodãozinho encharcado de álcool. É claro que ela não sabia que isso piorava a dor. Até por que, Ethan descontava em tudo que fosse de vidro, e na mesa dela, o que a assustava. Suspiro fundo. Se ela queria desinfetar as costas dele não poderia ser assim. Aos poucos.

–Você pode parar com isso?

Grito para a enfermeira que solta o algodão, e me olha assustada.

–Não tem outro jeito, se eu não fizer isso, ele vai morrer.

Retruca inocentemente. Como se eu não soubesse. Já estive no lugar dele e se a enfermeira chefe de Fell não fosse adepta ao uma única dor, de uma única vez, numa mesma hora eu estaria morta.

–Ah, qual é? Deixem-me morrer em paz.

Implora Ethan como quem faz uma piada interna. Reviro os olhos e suspiro, depois desço.

–Deixa que eu faço isso.

–Mas você não é qualificada.

–Ah, não! Só olha. Ei, príncipe, tranca bem o maxilar, essa vai dor bastante.

Aviso. Ethan faz o que eu peço de bom grado. Pego o álcool, misturo com outro remédio que tinha lá e em uma só derramo nas costas de Ethan. A dor foi tão intensa que ele desmaia. Mas o lugar que estava infectando começa a ficar limpo do pus. Pego um paninho molhando e vou limpando as costas dele da maneira mais delicada possível. O pano encharca de sangue e a enfermeira busca mais. Com Ethan desacordado e as costas dele limpas, ela começa a injetar o analgésico nele, e logo depois, muito pacientemente vai dando pontos nas costas de Ethan. Coloco a cabeça dele no meu colo, enquanto ela faz o curativo. Depois disso, nós entregamos ao silencio. Cada um em seu canto, com seus problemas e pensamentos.


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Notas finais do capítulo

Ei gente, comentem, e opinem, isso me anima e muito. E beijocas para vocês.



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