Between us escrita por IS Maria


Capítulo 5
Um pulo a insegurança




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Havia sido um longo e silencioso caminho . O silêncio havia sido a única maneira encontrada para demonstrar o quão desconfortável eu estava diante a tudo . Não que pudesse ser de outra maneira , afinal não havia uma explicação lógica para jogar-me dentro de um carro e dirigir rumo ao nada sendo que mal tive tempo para decorar seu nome . Quando paramos, eu não necessariamente sabia se aquele era o momento perfeito para correr ou matá-lo , apenas permaneci sentada ... Até que por vontade própria ele me puxara para fora do carro .

– É aqui onde eu vivo - disse ele apontando para o imenso matagal a nossa frente . O olhei incrédula e então tentei retornar ao carro mas fora impedida .

– ... E ? - perguntei depois de revirar os olhos . Aquilo claramente não chegava nem a ser um dos possíveis assuntos que um dia me interessariam .

– Quero dividir algumas coisas sobre mim com a garota com quem conviverei pro resto da minha vida - Não pude evitar gargalhar diante daquilo .

– Interessante . Podemos ir ? - perguntei tentando sutilmente me soltar de seus braços que se mantinham firmes ao redor de minha cintura .

– Não até o amanhecer do dia - Arregalei os olhos enquanto tentava desesperadamente me soltar de seus braços . Eu poderia gritar, mesmo sabendo que ali ninguém me escutaria, porém, apenas decidi acreditar que aquilo não passava de uma grande piada . - Antes que se desespere é bom avisar que informei seus pais e... a escola não é realmente importante . - Deixei que meu corpo caísse e não me surpreendi quando ele não me impediu de me espatifar ao chão . Afundei minha cabeça no joelho e desejei que aquilo fosse apenas um sonho ruim . - Não está curiosa em saber como seus pais confiariam em mim ou no porque da escola não ser importante ?

– Eu sei bem o nome que meu pai carrega e sei muito bem a associação dele com o colégio , afinal não sou tão burra a ponto de não saber quebrar alguns ovos ... E quanto aos meus país ... Ao menos os que me amavam de fato morreram a um mês atrás junto com a vida que eu costumava ter . - saber que eles haviam me entregado nas mãos de um idiota, não me surpreendia nem um pouco. Eu não era sangue do sangue deles e provavelmente sabiam que eu não lhes traria nada além de problemas .

– Não te trouxe aqui para viver uma experiência depressiva - disse ele levantando-me do chão depois de uma longa pausa .

– Então leve-me de volta pois certamente sou depressiva o suficiente para transformar isso em uma verdadeira tragédia . - Eu não me orgulhava de ser sempre amarga , mas agir de tal maneira havia se tornado tão normal que controlar estava fora de cogitação .

– Sangue ruim - disse ele sorrindo como se aquilo de fato houvesse sido algo irônico . Bem , eu havia de fato perdido a piada .

– Não faz nem ideia - Eu disse, ele não teria nem como imaginar o quão podre era o sangue que corria em minhas veias. Me soltou e partiu em direção as folhagens, eu poderia ter permanecido parada, porém, permanecer sozinha em uma estrada deserta não me parecia uma boa escolha.

Não , eu não havia me incomodado nem um pouco com o lugar pois ele me trazia de certa maneira alguma recordação de onde eu havia sido criada , mas eu provavelmente morreria sem admitir algo do tipo a ele . A calmaria que aquilo trouxera a mim apenas viera para confirmar que eu realmente havia apreciado o lugar . Ao abrir a porta fui surpreendida pelo leve cheiro de lavanda , os móveis organizados de maneira que proporcionava harmonia ao ambiente e a decoração rústica fazendo com que eu me sentisse acomodada antes mesmo de conhecer tudo até o final . Ele certamente havia acertado em cada pequeno detalhe daquela construção . Desde as paredes em pedra ao assoalho de madeira polida e o carpete na sala central em um tom de pérola com uma enorme lareira, era sofisticado porém simples e pra lá de aconchegante .

Eu não era uma viciada em organização , mas meu avô entendia perfeitamente como cada canto de um lugar descente deveria ser decorado , passou anos de sua vida construindo diversos tipos de imóveis e assisti-lo sonhando com suas ideias para cada um deles , era definitivamente um de meus passatempos preferidos . Patrick pisou dentro da casa e então fechou a porta e de repente aquele lugar se tornou completo , apenas demonstrando que o dono de fato se torna parte de sua casa . Era simplesmente irritante a sua presença , eu sabia exatamente o porque ... Mas as palavras certas ainda não haviam me vindo a cabeça para que eu as pudesse berrar em seu ouvido e quebrar a sua teimosia .

– Explique-me seus motivos , os exatos , para ter me arrastado para cá - disse me virando em sua direção e então cruzando os braços . Não havia uma explicação , mesmo se estivesse de fato interessado em mim ... Simplesmente não faz sentindo . Ele caminhou até mim suspirando e então levou as duas mãos até meu rosto olhando profundamente em meus olhos , sua respiração se tornou pesada e aquilo fez com que cada pequeno pedaço de mim começasse a apitar freneticamente me avisando da ameaça eminente que se aproximou .

– Pare de raciocinar , não é pra fazer sentindo - Disse ele então saindo . A maneira como ele havia respondido aos meus pensamentos me causara arrepios e plantou uma grande dúvida ao pé de minha orelha ... Se não é para fazer sentindo ... Então qual é o sentido ? - Não é para fazer sentido - dissera ele novamente , causando-me ainda mais arrepios . " Mas então qual era o sentido ? " pensei enquanto tocava meus lábios . Ele caminhou até mim e parou em minha frente cruzando então os braços - Já leu Alice no país das maravilhas ? - concordei . Aquele sempre fora meu livro favorito , aquele que eu sempre trazia embaixo do travesseiro quando me deitava para dormir . - Então diga-me a diferença entre um corvo é uma escrivaninha . - disse ele fitando-me seriamente .

– Não faz sentido - era a única coisa que conseguia me vir a cabeça , como se qualquer raciocino lógico que eu possuísse , tivesse sido desmontado como um prédio de pecinhas de Lego .

– Exatamente ! Não é para fazer sentido . - disse ele então desmanchando sua pose . A maneira como havia desmontando minha resposta antes mesmo que eu pudesse despeja-lá , havia me deixado muda . Como um desconhecido poderia me conhecer tanto a ponto de me silenciar ?

– Trouxe-me aqui sem sentido algum ... Interessante - disse caminhando em sua direção e em seguida me sentando no balcão da cozinha .

– Senti que deveria trazê-la aqui ...e simplesmente fiz - disse ele suspirando enquanto colocava ao meu redor os ingredientes para cozinhar algo que eu não poderia descrever nem se soubesse a receita , cozinhar jamais fora o meu forte .

– Não teve tempo para sentir - disse lhe lembrando do fato de me conhecer a exatamente um dia .

– Duas pessoas podem estar em um relacionamento a dois anos e não sentirem nada assim como duas pessoas podem estarem juntos a dois meses e sentirem tudo - disse ele enquanto cortava as cebolas e as colocava para dourar na frigideira com a habilidade de um verdadeiro chef .

– Não estamos falando de dois meses ... Ou de relacionamentos - disse arqueando uma das sobrancelhas . - Um dia . - Ele se aproximou e colocou os braços ao meu redor .

– Você pensa demais - disse ele enrugando a testa e em seguida retornado ao fogão levando junto a si os rabanetes que estavam ao meu lado .

– Não gosto de rabanetes - disse me lembrando de como me sentia assim que sequer sentia o cheiro . Eu não estava afirmando que provaria daquilo do que ele estava preparando , só estava afirmando que se possuísse rabanetes , provar estava fora de cogitação .

– Não pode se recusar a comer só porque o cheiro te faz mal - disse ele os cortando e colocando com gosto na panela . Aquilo me assustara tanto que mal vi quando peguei a faca , apenas percebi quando estava apontando para ele .

– Quem é você é como sabe tanto sobre mim ? O que você é ? - ele simplesmente sorriu e então se virou . Puxou minha mão livre fazendo com que meu corpo encontrasse o seu , mudou a direção da faca passando a apontar para cima e então deixou que seus lábios pousassem suavemente em minha testa , deixando claro o quanto ele era mais alto do que eu . Soltou-me aos poucos e enquanto recobrava a consciência assimilando o que ele havia feito , percebi que a lâmina já não estava mais em minhas mãos .

– Primeira regra do ataque ... Não esteja atraída pelo seu alvo - disse ele piscando para mim , deixando-me gaguejando contra os ventos tentando o responder . - Não sei nada sobre você e está aqui justamente para que mudemos isso , o rabanete foi apenas um chute porque vi que se incomodou quando os coloquei ao seu lado . Sempre fui bom em ler as pessoas . - disse ele de costas acrescentando coisas e mais coisas a sua frigideira .

Em instantes o prato estava pronto para ser servido . Não me incomodei de perguntar o que era e com a fome que sentia nem sequer me preocupei em recusar quando ele colocara a comida a minha frente . Eu o odiei assim que coloquei a primeira garfada na boca , porque aquilo simplesmente estava divino . E o gosto desconhecido que eu encontrava em meio a carne do frango grelhado e aos vegetais , só podia ser o sabor do rabanete ... Eu o odiei ainda mais ao perceber que de fato não era tão ruim quanto o cheiro .

– Tão teimosa a ponto de não admitir que está errada - disse ele enquanto me observava . Ele nem sequer havia olhado para o seu prato , a todo o momento mantivera seus olhos sobre mim . Eu apenas fora notar agora que ele havia me assistido devorar tudo como uma completa esfomeada .

– Um defeito - disse admitindo .

– Um charme . Pois apesar de não admitir , deixa bem claro quando sabe que está errada ... Apenas pelo biquinho - disse ele levando o dedão ao canto de minha boça e limpando um dos traços de comida . Em seguida levou o dedo em sua boca enquanto mantinha seus olhos azuis sobre mim , os mesmos que aos poucos iam escurecendo , fazendo-me corar .

– Pretende escrever um livro sobre mim ? - sorri tentando disfarçar o quão sem graça ele conseguia me deixar apenas com um olhar .

– Não sobre você ... Com você - disse ele enrouquecendo o tom de sua voz . - Do que são feitos os seres humanos se não de pecados ? - murmurou para si mesmo .

– O que ? - aquilo novamente não havia feito sentindo considerando o rumo do diálogo .

– Apenas encontrando uma desculpa para a fraqueza da carne - disse ele sorrindo .

Sem perceber eu o ficara observando durante o resto do jantar . Havia pouco menos de duas horas que chegamos naquele lugar e ele nem sequer era o garoto ao qual fui apresentada no mundo lá fora . Bastou pisar nesse lugar que ele se tornou alguém maduro o suficiente para não colocar uma garota desconhecida em um carro e levá-la até a sua fortaleza . Um alguém que eu não podia enxergar nos olhos do Patrick que havia me beijado a força , um alguém intrigante e interessante capaz de me deixar muda , me surpreender com seus gestos , de me ler como um livro aberto ... Um alguém que certamente valia a pena olhar a respeito .


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Notas finais do capítulo

CoMeNtÁrIoS ?? *-*



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