Escolha-me [EM REVISÃO] escrita por Moriah


Capítulo 8
Música sobre performances, familiaridade e abraçar travesseiros


Notas iniciais do capítulo

Gente eu recebi muito comentários e me senti muito mal (acho que era minha consciência) por ter postado um capitulo tão pequeno, então acabei de terminar um e resolvi postar.
A musica é Little Too Much - Natasha Bedingfield
O clipe de America não existe pois essa música perfeita não tem clipe.
Espero que gostem.
Imaginei o Damien como algo parecido com Tom Hellis mais novo.



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Capítulo Oito:

Música sobre performances, familiaridade e abraçar travesseiros

 

Oda estava horas tentando descobrir qual o melhor penteado para a juba ruiva de America, enquanto isso America pensava em como seria voltar para a casa agora. Para a casa grande e amarela, com o jardim de sua mãe e piscina no fundo que mais parecia comunitária. O reflexo de America sorria e uma Oda atrás a olhava com plena confusão mal-disfarçada.  

— Se sente pronta, senhora?

— Eu espero que esteja — America sorri. — Na verdade nunca estou...

Oda reparou no suspiro pesado da senhora. Ela estava deslumbrante em um vestido inspirado em uma obra de arte. Azul escuro e verde clarinho se mesclavam em poucos tons de amarelo. Os planos para o clipe eram simples e para a sorte de America muitas cenas podiam ser feitas sem ela. Imagens de quadros rasgando, balões estourando e tintas explodindo.

A música em si se tratava de uma antiga que America sempre cantava por ser a queridinha dos seus fãs, mas havia amargo e pegajoso como lembranças e sangue quando pensava demais nos versos. Foi pensada um mês após o fim da seleção, quando começou a trabalhar como professora na escola da província, uma época maravilhosa e sensações doloridas.

Um pouco demais” diria uma letra enorme em branco no meio da tela, enquanto uma câmera gravava suas costas nuas. Um raio soaria após a edição antes da música começar e todos os convidados do baile fingiam estar congelados no tempo até America se aproximar de uma cadeira velha de balanço que imitaria um trono em pedaços. Com folhas caídas aos seus pés e muitos espinhos na cabeça da ruiva.

Você chega fatal como um acidente de carro a voz de America soaria, enquanto ela murmurava em sua cadeira de balanço costurando um novelo de lã escuro como a noite e se torna muito tarde para voltarmos no tempo. A lã então era lançada para um chão refletindo sirenes e mostrando cacos de vidros. Querido você traz o melhor em mim, quando não está disfrutando do meu pior. A câmera focava na lateral de America, onde seu rosto estava enrugado, cansado e derretendo, como um monstro de argila.

Nós sabemos ser teimosos como essa maldita chuva, ainda assim estamos queimando todas as nossas coisas. Os convidados de Maxon, ministros, juízes, bancários, dançavam em seus vestidos cremes e beges, usando mascarás que tampavam metade de seus rostos como criaturas horríveis enquanto o lado sem cobertura de seus rostos estampavam sorrisos congelados. Amanhã, entretanto, estaremos de branco fazendo promessas vazias para nosso próprio prazer.

Pequenos confetes que na edição pegariam fogo choviam sobre os convidados, enquanto todos abriam seus guarda-chuvas de papel America girava e batia palmas pelo fogo. Nós secamos e molhamos de novo. Nós consertamos só para quebrarmos mais, amor. Nós voltamos só para terminar, você sabe, nos conhece mais do que ouvir falar.  America andava pelo salão em meio a sons de trovões e pequenos papéis chamuscados nos ares, dançando, girando e sorrindo enigmática. A câmera se perdia em um chamado de dedo de America e logo a mostrava outra vez entrando no salão, como se fosse outro dia, com outro vestido, tudo novo outra vez. E de um jeito irrevogável e perfeito, nós sempre voltamos para o nosso começo. Nós nos machucamos demais, mas me diga se isso não é normal? Nós nos machucamos sempre, mas me diga por que nunca fazemos diferente?

Maxon não aparecia na filmagem, estava completamente hipnotizado, perdido e encantado. Nada poderia fazê-lo desviar o olhar. Não é maravilhoso cair por aí, amor? Vamos jogar tudo no amor e perder tudo em nossos corpos, amar não é isso? Eu gosto de amar e perder um pouco demais com você. Ao final da canção todos comemoraram e passaram até America para dar-lhe parabéns. Maxon foi o último.

— Olha, agora eu entendo — ele murmurou. A coroa estava reluzente sobre seus cabelos bem comportados, seu paletó escuro não o deixava com cara de engomado, mas sim como um perigo de gravata e sorriso sedutor. — Você é fantástica.

Em seguida uma pequena careta. O rosto de América enrubesceu, não era o tipo de coisa que você dizia após uma transa memorável?

— Você está deslumbrante — ele corrigiu-se, após limpar a garganta.

— Obrigada — America sorriu. — Agora pare ou vou ficar mal-acostumada.

— É o preço da fama, querida.

Poucos minutos depois Maxon, como um Rei, estava cercado de pessoas o paparicando e pedindo uma pequena palavra. Ainda assim, todas as vezes que America se atrevia a olhá-lo lá estava ele em um círculo diferente lhe sorrindo de longe com os olhos. Como cúmplices.

— Deve ser a doce America — uma voz masculina soou perto demais de seu pescoço e rapidamente America desviou os olhos de Maxon. — Sou Dareon Klein.

America segurou-se para não experimentar o nome em voz alta.

— Um Klein do qual nunca ouvi falar, com certeza eu estou surpresa — a ruiva sorriu por cima da taça.

Dareon sorriu, sem abalo.

— Espero que meu sangue não tenha lhe causado muitos problemas.

— Apenas os melhores.

De onde viera isso? Talvez do longo tempo sem sexo, paixão ou qualquer coisa. Sabendo que nada havia entre ela e o homem na sua frente, parecia seguro relembrar como era qualquer coisa casual. Levando em conta que seu sobrenome era Klein, podia ter certeza que seria completamente casual e efêmero.

— Sinto-me lisonjeado e envergonhado, devo pedir desculpas?

America riu.

— Conheço alguns primos seus — America recebera diversos convites para as inaugurações dos cassinos de luxo que os Klein abriam, para esconder a liberdade sexual que davam aos seus clientes. — Um ou dois — ela deu de ombros.

Klein sorriu. Dentes grandes, sorriso largo e olhar de predador, não havia dúvidas do sangue de Dareon.

— Será que poderíamos continuar a boa conversa enquanto dançamos? — com uma reverência Dareon reivindicou a mão de America e a ostentou para os demais.

America escondeu a careta, pois, bem, não existe perfeição. Dareon parecia decidido a falar sobre fama, e America sabia como manter esse tipo de conversa por umas cinco horas mesmo que quisesse fugir. Os Klein eram donos de um dos bancos de Illéa, o mais antigo ainda em financiamento. Tinham muita influência, sentavam no Conselho do Rei e eram os segundos da lista de festas da elite, além de, obviamente, patrocinar o cinema da própria pátria. Logo Maxon e John estavam conosco, começando a conversar coisas que claramente a ruiva não conhecia.

— E Cancún? — Dareon perguntou, parecia zombar de John, Maxon sorriu e John engasgou.

— Problemas com México? — Meri sugeriu, estrelando a língua para disfarçar a curiosidade.

John se recompôs rapidamente.

— Faltam dois anos — John sorriu.

— Dá última vez que há vimos faltava dois anos.

— Rakel não está em seu melhor momento — Foi a resposta do príncipe. Dareon sorriu. John nem mesmo a vira desde seus onze anos.

Maxon pareceu considerar contar à America, mas mal a ideia surgira já fora jogada para escanteio, além de que John iria ficar incomodado. Agora, sentia-se a beira de um colapso de raiva por ver John ser tão rapidamente rebaixado por Dareon, isso não parecia muito com um príncipe, muito menos com um futuro rei.

— Continua quente, com certeza — era o Klein de novo, honrando seu sobrenome. Mas América notou que era o tipo de cara que as gurias desejavam que falasse delas.

— Viva — John corrigiu. Uma veia em sua testa pulsava, mas ele logo terminou sua bebida e se retirou. Quando abaixou levemente a cabeça foi possível ver a pequena coroa masculina escondida dentro de seus cabelos loiros, da cor do ouro. — Não acho que o banco deva saber qualquer detalhe, mas Rakel está em um internato estudando, em retiro.

Isso queria dizer: escondida em segurança.

America limpou a garganta, sorriu e se afastou, recebendo um olhar de compreensão de Maxon. Parecia íntimo demais para um monarca, isso fez America chacoalhar a cabeça e se arrepender em seguida. May apareceu e gesticulou por horas — talvez apenas dez minutos, mas o álcool estava fazendo efeito rápido demais na ruiva.

E atrás dela, de May, America conseguia ver: John dançava com Pâmela, pareciam conversar agradavelmente e do lado aposto Dareon ia até Sally como quem caçava e America cerrou os olhos, sabendo que deveria se preocupar, mas enjoada demais para isso. Enjoada pensando em como suas filhas já pareciam parte daquele mundo, voando nas alturas com delírios de contos de fadas. Um alarme soava dentro de America.

— Acho que está na hora do seu discurso — May suspirou. — Se você ainda souber falar, claro.

Ames deu um soco meio bobo em May, sorrindo sarcasticamente.

— Eu gostaria de agradecer aqui à todas as pessoas que não irão aparecer no clipe, mas o tornaram possível. À todas as pessoas que nem mesmo estão nesse lugar, mas mantém minha carreira em pé com suas vidas — America ri. — Vocês tornam sonhos possíveis. Espero que curtam ao máximo esse momento como eu. Obrigada pelos figurinos, luzes, cenários... Obrigada.

Ao terminar o discurso America foi aplaudida e em seguida, superada, pois outra música era cantada no palco improvisado. A saia do seu vestido foi puxada para baixo e ao virar-se encontrou grandes olhos castanhos claros e cabelos escuros.

— Olá mocinha — America sorri. A menina alcança a ela uma roas vermelha, e sorri. — Muito obrigada, qual seu nome?

Um garoto aparece rapidamente, colocando as mãos nos ombros da menina.

— Desculpe senhorita America, Julieta é surda e muda, mas a rosa é um presente pela linda performance — o menino vestia um lindo smoking preto com algumas medalhas que America duvidava um pouco serem verdades. — Eu me chamo Stanlin, ao seu dispor — ele sorriu, um sorriso maliciosa demais para a idade e America quase compreendeu.

— Eu agradeço pela rosa, de verdade — ela sorri e acaricia os cabelos da menina. O menino sorri.

Quando ambos saem America nota algumas pessoas reverenciando a dupla enquanto passavam.

♫♫♫

Quando chegara ao quarto estava decidida a dormir como quem hiberna, porém quando estava embaixo das grossas cobertas, aproveitando a sensação gostosa de deitar-se meio bêbada a batida na porta a levantou.

— America? — era Maxon. O sussurro a fez encolher.

Sua língua parecia meio arrastada e ele acentuara as sílabas, como quem tem medo de errar. Ela só notou prender a respiração quando precisou colocar mais oxigênio para dentro. Não devia abrir a porta, nem mesmo queria. Sentia a tensão, como se Maxon estivesse pingando isso do lado de fora e escorresse para dentro do quarto e se arrastasse até ela e a dominasse como se tivesse vida. Era hesitação, desejo e álcool. Muito, muito errado. E certo. E, céus, ela queria. Há quanto tempo não estava com um homem? Só olhar para a beleza de Dareon já a deixara completamente boba. Ela deseja alguém. Deseja a sensação de ser consumida e desabar e poder abraçar e sentir pele contra seu corpo e não só travesseiros. America abraçou um travesseiro, deitando-se devagar para não fazer barulho. Sabia que só precisava resistir até que ele saísse. Ele a chamou por mais três vezes. Ele é o Rei. Ele é pai. Ele é o Rei. Ele é o Maxon. Ele está bêbado. Ele é O Maxon. Ele já sabe seu gosto. Ele escolheu Kriss. Ele é o Rei. Ele é O Maxon. Ele está bêbado.

As lágrimas vieram devagar, sem esforço ou pressa e um nó pesado machucava a garganta de America, ele era agonizantemente conhecido. O rei permitiu-se suspirar a sua porta antes de sair, e America respirou fundo — aliviada e melancólica. Ela podia ser aquela que o esperava no quarto todas as noites, porém pensar isso só a deixou ainda pior. Seu cabelo estava grudado no rosto quando America decidiu abrir as janelas do quarto. Naquela madrugava pouco importava os perigos de fora, ela sentia que estava se perdendo.

Decidiu culpar as taças de vinho suave pelas suas lágrimas e drama particular. As estrelas no seu, com a lua por testemunha, velaram o sono de America banhando em sal e tristeza. Era um belo e deprimente retrato.

E o castelo foi adormecendo aos poucos, como mágica. Os funcionários receberam folga e era domingo de madrugada. Uma mensagem no celular de America dizia “Você se saiu muito bem, os ministros se sentiram honrados pela participação, obrigada por acalmar os ânimos” — de um número que ela não reconhecia.  Possivelmente nada mais aconteceria naquela noite, ainda assim America não conseguira pegar no sono até o relógio marcar três horas.

Dormiu pensando em como jamais conseguiria dormir.

Para provável infelicidade do Príncipe John, Dareon Klein não estava sóbrio para ir para sua própria residência, na província de Dominica, entretanto o resto dos convidados partiu quando era a primeira hora da manhã. Ninguém nunca os vira realmente brigando ou discutindo, mas parecia que seu relacionamento era sempre baseado em veneno frio sem limites, John destacando-se sempre pela discrição e deixando evidente sua tensão com a proximidade. O Príncipe jamais entenderia como Rakel poderia achar Dareon uma companhia agradável todos os invernos, mas também sabia que não era o tipo de coisa com o qual perderia muito seu tempo.

 


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Notas finais do capítulo

Até o próximo capitulo gente :3

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