Escolha-me [EM REVISÃO] escrita por Moriah


Capítulo 2
Música sobre maternidade, despedidas e corações trancados


Notas iniciais do capítulo

Olá anjinhos, ai esta o capitulo ^-^



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Capítulo Dois:

Música sobre maternidade, despedidas e corações trancados

 

Pela manhã May insistiu para que levasse America até seu apartamento, onde Magda havia passado a noite com seus netos. O apartamento era grande o suficiente para America, seus quatro filhos e Sally, a babá da caçula. Sua família não de sangue, mas de coração. Fazem cerca de seis anos que America tem todos eles em sua vida, tornando-a completa. Seis anos que eles a encontraram.

Já da porta era possível sentir o cheiro das tortas de Magda e ouvir as risadas de Gabriel e Emily.

— Pare! — a voz de Pâmela preencheu a cozinha e America congelou na porta.

— O quê?! — America e May falam ao mesmo tempo.

— Esse cachecol é meu, May Singer!

Todos olham para May, que trazia enrolado em seu pescoço um cachecol verde escuro.

— Hm, é? — May sorriu.

— Não, na verdade não, ele é meu — Sally diz, aparecendo por trás de May. — Ficou lindo em você.

May sorriu, o contraste da idade nítido no ambiente. Sally tinha por volta dos seus vinte e seis anos, mas era tão centrada e calma que era difícil não achar que era a mulher mais adulta no ambiente.

— Isso é para aprender a não roubar dos outros, criança — Magda joga um pano no rosto de Pâmela que faz uma careta.

— Você sujou meus belos olhos com pão, vovó. Mas o cheiro está muito, muito bom.

Emily apareceu como um furacão ruivo e abraçou as pernas de America. Emy tinha a pele escura e tingia os cabelos como os de America, davam-lhe um ar forte e todos eram apaixonados pela garra que a menina exalava.

— Não se deixe enganar, ela só quer acompanhar você nos bastidores — Sally comentou, dando batidinhas no ombro de Emily.

No sofá Gabriel jogava vídeo-game e ralhava para que Emily voltasse logo para seu lugar. Henrique, ao que parecia, ainda estava no seu quarto estudando. Magda lançava aquele olhar raio-X de mãe sobre America e May — como fazia nos velhos tempos antes dA Seleção.

America encarou seu reflexo na geladeira de inox, vestia uma calça de alfaiataria cor de vinho e uma blusa escura, se sentia confortável e neutra, talvez um pouco melancólica.

— Você está linda, não dê ouvidos para a rabugenta — Sally comentou, antes de se sentar ao lado de Pâmela no balcão.  — E considerando que na minha idade não ouvimos tanto músicas sobre coração partido, você ainda está no topo entre nós porque qualquer coisa que usar fica lindo em você. É seu charme.

— Você só tem vinte e sete anos, não fale como uma velha — Magda repreendeu. — E seu cabelo está lindo, a propósito.

Sally costumava ter sempre o cabelo encaracolado, mas decidiu alisá-lo.

— Obrigada Magda, ao menos alguém notou.

Logo todos elogiaram o cabelo belíssimo que Sally ostentava, e comentavam que iriam sentir saudades dos seus belos cachos. Cabelos são sempre a cura de um coração partido, certo? America esperava que o coração da mulher estivesse se sentindo reconfortado porque estava deslumbrante, com toda a certeza.

— Você já decidiu se vai leva-la? — Sally sussurrou, apontando disfarçadamente para Emily. May aproximou-se do balcão.

— Não sei se é uma boa ideia. O clima está tenso devido ao luto real, não vai ser divertido como ela espera.

— Ela não é tão infantil, tem 10 anos — Sally responde.

— Às vezes o tamanho dela confunde um pouco minha cabeça — May admite.

— Acho — Magda começou, após retirar da geladeira uma torta de ameixa — que temos que aprender a lidar com o luto, independente da idade que estamos. Porque é assim, não é? — ela suspira, descansando a cabeça no ombro de America. — O luto vem se estamos preparados ou não, e dói igual.

— Além de que a rainha de Emily morreu, e ela está grande o suficiente para aprender a lidar com este fato — Sally completou.

— E o que você, acha? — America pergunta para Pâmela, pegando sua mão. Os olhos claros de Pâmela demonstraram surpresa.

— Estou aonde você decidir, sempre. Mas nunca compramos um peixinho dourado para ela lidar com a primeira perda e alguma hora acontece, não é?

— Decidido então — America suspirou. — Deixem que eu diga.

Todos concordaram e enquanto colocavam a mesa para o café da manhã Henrique apareceu, dando um beijo na testa de Magda e Meri.

— Então a que horas partem minhas belas ruivas? — Magda pergunta para America, enquanto terminam de colocar as xícaras na mesa.

— Ih, senhora Singer, essa sua memória está deixando a desejar, já começou a anotar recados para si mesma na geladeira? — May perguntou, colocando as mãos na cintura dramaticamente. — Vou começar a revisar se a senhora escovou os dentes todos os dias.

— Me respeite, May Singer! Eu ainda sou a sua mãe, menina.

— Céus, já estou com saudade disso — America murmura para Sally que lhe devolve um sorriso.

— Pode ser TPM? — Sugere Pâmela, enquanto amarrava seus cabelos escuros em um coque firme e Magda ralhava sobre deixar cabelo cair sobre as comidas.

Logo após o café America chamou Emily para conversarem em seu quarto.

— O que vamos fazer?

— Pensei que podíamos separar suas mudas de roupas para a viagem.

— Ah, certo — Emily parecia lutar contra a vontade de pedir para acompanhar America e ir na frente dos seus irmãos. — Hm... Ames, nós gostaríamos... Eu, eu gostaria de saber quem irá com você, de-dessa vez?

Emily parecia ter planejado algum tipo de discurso para convencer America, usava um vestido azul escuro que contrastava belamente com seu cabelo ruivo claro.

— Quem me acompanhou da última vez?

— A Pâmela, mas como Henrique precisa estudar para suas provas, pensei se eu poderia ir em seu lugar...

— Bem, acho que Henrique se considera velho demais para se divertir nessas burocracias — America murmura, abrindo o armário de Emily e começando a tirar algumas peças de roupas, colocando-as sobre a cama. — Acredito que precisamos arrumar rápido sua mala, então. Certo?

Emily solta um gritinho e corre abraçar America.

— Eu mal posso esperar!

Sempre que havia um show America levava uma das crianças consigo, porém desde que Henrique começara sua faculdade e Gabriel entrara na idade de se envergonhar de quem é sua família, apenas Pâmela e Emily competiam pela chance de acompanhá-la realmente, os meninos iam apenas para deixá-la feliz.

Emily tinha toda energia de uma pré-adolescente, a fila do aeroporto nunca era grande demais, as burocracias para as viagens nunca eram cansativas demais e todas as palavras ríspidas dos adultos nunca eram duras demais, lembrava bastante May quando era menor.

Após de deixar todas as roupas de Emily separadas, America se dirigiu até seu próprio quarto a fim de fazer o mesmo. O próximo show seria em Angeles, em um palco que montaram na praça onde America passou por sua despedida para a sua seleção. May encontrou sua irmã deitada na cama, por cima de algumas peças de roupas, com os pés para fora da cama ainda calçados com seu coturno. America trazia os braços sobre a cabeça e parecia murmura sozinha.

— Toc-Toc — May diz ao entrar. Olha com desgosto para as paredes brancas do quarto de America, tão sem personalidade.

— Funciona se você bater na porta também — America murmura azeda, recebendo uma careta de May. — Contei a Em que irá me acompanhar.

— Eu pude supor isso assim que ela saiu do seu quarto se despedindo de todos às — May olha para seu relógio e pulso — onze e meia da manhã.

America ri.

— Bem, isso é a cara de Em.

— Então, está tudo bem? — May atira-se ao lado de America. — Quer alguma ajuda com as malas?

— Ah, não, as malas já estão todas prontas, mas se você quiser levar essa última até a porta eu não deixaria de agradecer.

— Aproveitadora — May balançou seu dedo fingindo indignação. — Levarei.

Ambas ficaram em silêncio. America encarou May, suas sardas, seu cabelo recentemente pintado de azul e seus olhos idênticos aos de America. May sorriu.

— Você está bem?

— Não — America suspirou. — Fico pensando nas notícias, você viu que o caixão foi fechado? E ninguém além da família dela e a família real participaram. Não permitiram nem mesmo que as criadas e damas de companhia comparecessem.

— O que você quer dizer?

— Que algo aconteceu com o rosto dela, eu acho — America balançou a cabeça, como se para esquecer dos pensamentos.  — Não sei como posso ter coragem para fazer o show amanhã, e não sei como explicar isso para Joseph e toda a equipe esta tarde.

— Na verdade você até pode falar, mas duvido que deixem você realmente desistir da coisa toda, envolvendo patrocinadores e sem ter uma ordem Real para isso.

— Fora toda a confusão de devolver ingressos e etc... — America completa, passando as mãos em suas bochechas. — Sei que não posso, e nem vou, mas parece tão errado. Absurdo. As crianças vendo... elas... Illéa toda... Céus, Kriss morreu e ela era a jóia da nação. Eu não quero ser o assunto do momento, ela deveria ser.

— Bem, eles vão pedir para você falar algumas palavras de solidariedade, a mídia vai gostar. Se o Rei não cancelar, você não poderá nem sugerir desistir disso. Encerre com uma música triste, ofereça como consolo a família real e depois venha direto para cá, vamos estar esperando você. Eu posso até fazer um bolo de chocolate.

Meri sorri.

— Muito obrigada, May.

— Nada, nada. Agora vamos, em pé. E talvez eu leve algumas das suas roupas para o meu apartamento, mas você sabe...

— Sim, sei que você não vai devolver mais, como fez com o cachecol de Sally. Pode pegar o que quiser, sério.

May e America passaram o restante do tempo conversando, pouco antes do almoço o telefone de America tocou, encerrando a conversa entre as irmãs.

— Meri? Desculpa só consegui ligar agora. Você ficou sabendo?

— Marlee! Estou com tanta saudade! Eu descobri ontem, que loucura...

— Oh, Meri. como você está? O show ainda vai acontecer? Eu e Carter quase ficamos sem ingresso!

— Sim, irá acontecer sim. Por favor, não deixe de passar no meu camarim, estou com muitas saudades de você e do meu afilhado lindão.

— Meri, você está mesmo legal com tudo isso?

America suspira. Então ter uma amiga é basicamente isso: não conseguir esconder a grande maioria das coisas sobre si mesma porque a outra lhe conhece bem demais.

— Não, mas não posso cancelar. “O show deve continuar”.

— Sinto muito não ter ligado ontem.

— Tudo bem, May esteve comigo após a coisa toda no hotel de Elise.

Um silêncio constrangedor. Ambas haviam discutido fervorosamente, pois Marlee ainda sentia que precisava se esconder e manter sua vida em segredo, tendo se recusado a participar da homenagem para Celeste.

 — Como foi lá?

— Lindo, como ela teria feito. Foi divertido, mas queria poder estar com você e Lucy. E... E Kriss também.

Mais um longo silêncio. Às vezes era confuso lembrar como America havia encontrado em Kriss uma boa amiga durante A Seleção, em muitos momentos.

— Eu sei.

America gostava de como Marlee não julgava muitas coisas. Não julgava seu coração sofrer por algo tão antigo e de modo tão antiquado, não julgava suas mudanças de assunto e lágrimas inesperadas, não julgava muitas coisas que mereciam ser julgadas em Ames, ou em qualquer um.

— Meri, o nenê acordou, tenho que desligar.

— Diz que a titia mandou um beijão pro meu docinho, até mais Lee!

— Beijos Meri!

♫ ♫ ♫

A reunião começara às 14:00 da tarde e quando o relógio informou que passavam das seis America implorou para ir para sua casa. No final May estava certa, os patrocinadores estavam animados e não aceitariam o fim do show que seria no dia seguinte. America seria levada de carro até um hotel em Angeles, o motorista buscaria ela e Emily às quatro da manhã. O show começaria às oito da noite, mas America e Emily estariam lá mais cedo para que fosse passado todo o som dos instrumentos e lugares para as coreografias.

Naquela noite a despedida ocorreu. Sally fora a primeira, pois estaria indo para sua casa arrumar sua própria mala. Ela se abaixou até ficar na altura de Emily e então segurou suas mãos, em seguida puxou Ames para um abraço apertado de despedida.

— Você vai arrasar, como sempre — ela sorri. — Cuide bem da nossa garota.

America sorriu.

— Agora minha vez — May apareceu, cortando a despedida de Sally. — É claro que você vai arrasar, você é uma Singer! — America puxa May e ambas se abraçam. — Você é o que é hoje, apesar de tudo o que já aconteceu e isso é apenas mérito seu. Seu talento, sua carreira, sua fama, Meri. Você é uma inspiração para mim.

America segurava as lágrimas quando se separou de May. Ela nunca se sentira tão grata por ter a irmã tão perto.

— É essa TPM, maldita!

— Ela está certa. — Henrique se aproximou, concordando. — Você é o que é, seria isso de qualquer maneira, independente do antes e depois.

Eles se abraçaram forte e America conseguia sentir seus ossos protestarem.

— Perdi ossos importantes agora — ela riu. Odiava despedidas.

— Tome cuidado, por favor — ele pediu.

— Eu tomar cuidado? Tome cuidado você, senhorzinho — diz, fingindo indignar-se — acha que eu não sei a fila de garotas que espera você ter um momento sozinho para atacar? Se eu descobrir que engravidou alguma garota enquanto eu estiver fora, juro que volto correndo para cortar suas bolas.

— Você só vai ficar longe um dia — Henrique riu, dando lugar para a próxima pessoa.

Pâmela se aproximou, seus cabelos ainda em um coque firme no topo de sua cabeça, seus olhos azuis pareciam com um Singer. Odiava despedidas, também, se sentia frágil nesses momentos.

— E você, guarde esse seu coração até nos vermos novamente, entendeu bem? Nada de dar conversar para os rapazes de Angeles.

May ri, lembrando-se de America e Aspen.

— Oh, no, minha ideia era aproveitar todas, dar uma festa, beber muito e dar para o primeiro que cruzasse meu caminho, sabe? — Pâmela balança o quadril de um lado para o outro.

— Pelo amor de deus, criança! — outro pano é jogado na cara de Pâmela, que o joga de volta para os braços de Magda. — Ainda bem que é apenas um dia, eles são a razão de todos os fios de cabelos brancos nessa minha cabeça. Eu sou muito nova para isso, vocês sabem.

Gabriel fora o último a se despedir, tímido como sempre. Trouxe consigo um origami que fizera de um cisne.

— Para lembrar de mim — ele sorri.

— É impossível me esquecer, meu bem.

— Ótimo, pois agora quem irá obrigar o Henrique a recolher suas meias sujas? Obrigar Pam a parar de cantar alto e lavar a própria louça? Quem? Estamos perdidos, santa dona Magda, que a senhora seja iluminada neste dia.

Magda e America reviraram os olhos, rindo. Estava na hora de todos deitarem.

— Mal posso esperar para nossa viagem acontecer! — Emily murmurou enquanto se ajeitava sob as cobertas naquela noite.

“Mal posso esperar para que ela acabe logo” pensa America. O medo de feridas serem abertas e sangrarem de novo paralisavam seu coração. Tudo o que não queria era sair da sua zona de conforto, para não precisar doar-se demais para alguém que não fosse seus filhos, irmã, mãe ou sua carreira. Sempre parecera muito cansativo e fútil ter um relacionamento após a seleção, todos os caras estavam sempre falando disso como se America se resumisse ao tempo que passou no castelo. Ela sabiamente trancou seu coração e engoliu a chave após a última desilusão, que se mostrou tão interessada na imagem inventada de America que não conseguia enxergar a sua versão real. Jamais poderia entregá-lo a alguém outra vez, nem mesmo se quisesse.

— No hotel, vou dormir com você, não é Am?

America gostava particularmente quando umas das garotas ia com ela, pois dividiam a cama e virava uma noite do pijama, os meninos em si tendiam a ser mais envergonhados e espaçosos, não queriam se sentir criancinhas que precisavam estar perto da mãe. America se sentiu grata por Emily acompanhá-la em um show difícil como aquele que viria.

 — Claro, meu bem.

— Você viu o que houve com a Rainha? — Em perguntou, já pronta para dormir.

America suspirou, deitando-se ao lado de Em na cama.

— Sim, vi. Não consigo imaginar como podem estar seus filhos, ninguém está preparado para perder a própria mãe.

Não podia imaginar sua vida sem Magda.

— Espero que elas tenham a sorte de encontrar uma nova mãe como nós encontramos você  — Em cochichou, abraçando America até pegar no sono.

America sorriu. Acabou pegando no sono na cama de Emily mesmo, dormindo mal e numa posição ruim. O cheiro de café e as conversas na cozinha despertaram ela antes do relógio marcar quatro horas da manhã. Logo Sally apareceu na porta do quarto com uma xícara de café nas mãos, sorrindo, com certeza ela merecia um aumento de salário dos bons. Todos na casa sabiam que America funcionava melhor após uma boa xícara de café.

Hoje era, então, o grande dia.

E a Rainha Kriss havia morrido.

E as lembranças sombrias ainda atormentavam America.

 


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Notas finais do capítulo

No próximo capitulo será o show ^-^



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