"When the days are cold
And the cards all fold
And the saints we see
Are all made of gold"

O som de Demons-Imagine Dragons me despertou e eu automaticamente xinguei minha banda favorita. Uma dica: nunca coloque sua música favorita como despertador, a não ser que você queira odiá-la.

Enrolei ainda mais um pouco na cama, quer dizer, colchão. Nos últimos dois dias, meu apartamento aqui em New York está completamente vazio, tirando os colchões, as roupas e as coisas no banheiro. Por que? Porque todo o resto está em Washington, minha nova casa a partir de... Hoje.

Levantei com dificuldade e logo ouvi a porta do meu quarto ser constantemente arranhada. Revirei os olhos, tinha esquecido Sammy do lado de fora do quarto, de novo. Abri a porta e o labrador com pouco mais de um ano pulou em cima de mim.

Aí vocês pensam "Nossa, que crueldade, nem se lembra do próprio bichinho de estimação". Não, eu não sou cruel, sou só esquecida, e também a culpa não é inteiramente minha, Sammy que é um inútil preguiçoso que só dorme o dia inteiro, ele teve até meia-noite para entrar no meu quarto, ele que não quis.

O relógio do meu celular marcava 5h da manhã, eu estava morta, mas mesmo assim fui pro banheiro e tomei um banho quente, sendo que quase dormi lá dentro. Coloquei a roupa mais confortável que achei[1] e prendi meu cabelo em um rabo de cavalo frouxo. Não passei maquiagem, simplesmente odeio ter algo no meu rosto.

Fui até a cozinha e meus pais estavam lá. Meu pai sorriu e deu um beijo extremamente desnecessário na minha bochecha.

-Bom dia, princesa- ele falou sorridente- Dormiu bem?

Eu não entendia como alguém conseguia ficar tão animado a essa hora da manhã, mesmo que fosse o dia de se mudar oficialmente.

-Bom dia pai- eu disse e peguei refrigerante na geladeira- Bom dia mãe.

-Elizabeth Jones, são 5h da manhã e você bebendo refrigerante?- minha mãe me reprovou e eu dei um sorriso amarelo- Como consegue ser magra?

Ta aí uma coisa que nem eu sabia responder, o fato de eu ser sedentária e comer muito não aplicava-se ao fato de ser magra. Não que eu me importasse em virar uma gorda mórbida e acabar como uma velha rabugenta com 99 gatos em sua casa.

Tomei meu copo de refrigerante e guardei na velha geladeira, na qual nunca veria mais, já que meus pais compraram outra que está nesse momento descansando em minha nova casa.

-Vamos, temos que pegar o avião- meu pai disse e eu fui ao meu quarto, peguei minhas duas malas de roupa e a mochila onde estava as coisas do Sammy. Peguei também meu travesseiro e meu cobertor e logo descemos de elevador, abandonando nosso querido prédio. Na verdade eu odiava essa coisa velha e nojenta e não, eu não estou me referindo ao porteiro gordo e emburrado, mas ele também estava incluído.

Meus pais se despediram dele e ele mal olhou, montamos no carro e fomos a caminho do aeroporto.

-x-

Minha mãe me acordou com um cutucão.

-Lizzie, já chegamos- ela disse e eu abri os olhos, o avião estava praticamente vazio e eu me toquei que tinha chegado a minha nova cidade.

Levantei cambaleando e saí do avião, fomos buscar o Sammy (fiz um escândalo por ele não poder ir no avião junto comigo) e nossas malas.

A parte boa é que eu fiquei com a coleira de Sammy e meu pai e minha mãe carregaram minhas malas.

Montamos num táxi, que quase proibiu meu cachorro de entrar, mas meu pai negociou com ele e ele recebeu cem dólares a mais, isso bastou para o motorista rechonchudo e careca permitir a companhia da criatura de pelos dourados que estava aparentemente desconfortável atravessado deitadamente (isso existe?) no meu colo e no da minha mãe.

A viagem foi curta e o caro finalmente parou, abri a porta e o pulguento do meu cão saltou pra fora, brincando no lindo jardim da minha nova casa, mas que lindo. Só que não.

Meu pai abriu a porta e entramos com as malas, a casa já estava toda decorada e era bem bonita até, subi as escadas e fui ao meu quarto[2], ele também estava decorado, só faltava minhas roupas. Guardei as malas no guarda-roupa ainda cheias, daria muito trabalho arrumar tudo e eu estava morrendo de sono.

Me joguei em minha cama e logo senti um peso sobre mim, quase que me sufocando.

-Argh, Sammy!- murmurei para meu cachorro, mas tudo o que eu ouvi foi um rosnado, olhei para onde o ser estava olhando e vi um garoto muito, muito, muito, muito gato, sem camisa, com uma gata do lado. Ironia, não?

Ele estava me encarando e continuou mesmo depois de eu ter o flagrado, fui até minha sacada, de frente para a dele e cruzei os braços, ele ainda estava me encarando com um sorrisinho de lado. Me irritei.

-Não tem nada melhor pra fazer, garoto?- digo e fecho as cortinas com força. Olho para Sammy que se deitou no chão, ao lado da minha cama e me jogo na mesma, pegando no sono em seguida.