Assassin's Creed: Aftermath escrita por BadWolf


Capítulo 46
Afaste Sua Lâmina




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Ele não poderia estar falando sério, poderia?

Talvez eu o tenha provocado demais. Sim, eu realmente estava transtornado, como ele me dissera. Eu estava deixando escapar detalhes importantes. Em uma mesma conversa, disse a respeito de sua negligência e ausência como pai, algo que eu jamais poderia ter vivido, e também deixei praticamente escapar que eu já o matara uma vez. No entanto, eu não o disse que fiz tal coisa por não haver outra escolha.

O que me trouxe pânico, entretanto, foi o seu olhar de pavor. Como se... Como se soubesse do quê eu estava me referindo. Era quase como se ele tivesse passado por aquela dor. A dor de minha lâmina, perfurando seu pescoço. A dor de sua própria morte. Mas como isto era possível? Meu pai também tinha plena consciência de que o passado estava sendo alterado?

Mas agora era tarde demais para voltar atrás. Não havia forma de fazer minhas palavras voltarem à minha boca. No entanto, ainda havia tempo de recuar. Afinal, não fiz uso da Maçã para mata-lo. Tirar a vida de meu pai outra vez seria como abrir uma nova ferida sobre uma velha cicatriz.

Por isso, desci do cavalo. Estava prestes a dizer que não iria lutar contra ele quando mais precisávamos permanecer unidos, mas acabei recebendo um soco na cara, que me fez cambalear.

–Da próxima vez, não serei tão condolente, Connor. É bom que saiba.

Fiquei quieto, tamanho meu pasmo, ao notar que ele desembainhara sua espada e ejetara a lâmina da mão esquerda, pondo-se em guarda. Ao ver que eu ainda estava parado, meu pai me provocou.

–Será que eu criei um homem, ou um rato? Vamos lá, garoto! Lute comigo! Honre ao menos estas vestes de Assassino, que pertenceram ao seu avô!

Aquilo fez meu sangue esquentar, e logo me vi tomando minha Tomahawk.

–Parem com isto! Vocês são pai e filho! – gritou minha mãe, em desespero quando nos viu em guarda. Aquilo trouxe-me desgosto, e também uma sensação de náusea. O que ela teria pensado de mim, se tivesse me visto matando ao meu próprio pai, naquela noite no Forte George?

Ao ver minha mãe se aproximar, meu pai a afastou com um leve empurrão.

–Fique onde está, Ziio! Não se meta!

Começamos a caminhar sorrateiramente, como se estivéssemos prestes a golpear, e também estudando os movimentos um do outro. Quem tomou a iniciativa fui eu. Notei que meu pai se esquivou, mas com pouca destreza. Sua casaca foi levemente rasgada, ao menor contato de minha Tomahawk. Percebi que ele estava surpreso. Isso durou pouco, pois começamos a lutar, e logo vi que ele começou a aprender sobre meus movimentos e golpes e se adaptar ao meu modo de lutar.

–Sabe uma coisa que não reconheço em ti, Connor?

Golpeei mais uma vez, e desta vez, ele foi mais eficiente em deter meus movimentos. Chegou, inclusive, a me lançar para longe com um chute.

–São os teus movimentos. Eu te treinei a vida toda, e jamais te ensinei a lutar desse modo tão... Desengonçado.

Era bem verdade que se eu tivesse sido treinado por ele, eu deveria ter herdado seus movimentos elegantes de esgrima. Isso me fez pensar que, se assim o fosse, um combate entre eu e ele terminaria rapidamente, pois ele saberia exatamente o que eu iria fazer. Na verdade, iria mais além. Imaginar que sabia de todos os meus movimentos lhe faria mais confiante. Creio, então, que frustrei sua confiança.

Ele tentou me golpear fortemente, e eu aparei, com dificuldade. Nossos rostos estavam próximos.

–Onde aprendeu a lutar deste jeito?

–Minowhaa. – menti, e ainda tentando lhe provocar.

–Eu já o vi em ação, e sei que Minowhaa não luta tão bem assim. Pare de mentir para mim, Connor.

Notei que ele estava expectante, e na verdade, curioso.

–Está bem, eu vou te contar.

Aproveite que sua curiosidade estava atiçada o bastante para distraí-lo, e após fazê-lo perder a espada, eu dei-lhe uma rasteira, fazendo-o cair de costas para o chão. Ainda ao chão, ele se rastejou rapidamente até a espada. No entanto, ele soltou um suspiro, não sei se de surpresa ou raiva, quando eu pisei em suas duas mãos, evitando que ele retomasse a espada e ejetasse as lâminas. Minha mãe gritou de pavor, quando viu que eu poderia mata-lo em um piscar de olhos.

Mesmo tendo suas mãos levemente esmagadas por meus pés, meu pai resistiu, apoiando seu corpo nos cotovelos.

–Ai! – ele gritou, de dor. Tudo indicava que eu tinha quebrado um de seus dedos.

–Connor, solte seu pai! – pediu minha mãe, desesperada.

–Deixe-o, Ziio. – pediu meu pai. – Deixe-o terminar o que começou!

Minha mão, que segurava a Tomahawk, estava hesitante. Então, era para isto que a Maçã servira? Para matar meu pai, e desta vez, diante de minha mãe? Então, veio-me uma inquietação: ela jamais iria me perdoar se eu fizesse isto. Mas conhecendo meu pai, eu sabia que eu se eu recuasse, ele iria me matar.

–Connor... – ele pediu, ainda com a voz dolorida. – Eu queria te dizer uma coisa... Antes de você me matar...

–Haytham, pare com isto! – exigiu Ziio.

–Não se meta nisto, Ziio! – pediu meu pai, furioso. – Connor! Ah! – ele exclamou, outra vez, de dor. – Por favor, meu filho... Se aproxime...

Fiz tal como ele pediu, sem entender. Por precaução, preparei minha Tomahawk de suas mãos, para mostrar que ele tentasse se libertar, eu poderia cortá-las. Quando me agachei, para ficar na mesma altura que ele, que estava de joelhos no chão, lembro-me de ter ouvido apenas uma coisa.

–Isso vai doer.

Depois, sobreveio dor, e uma inexplicável escuridão.


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Haytham virou para o lado, sentindo intensa dor na cabeça, e especialmente em seu nariz. A cabeça de Connor era muito mais dura do que ele tinha previsto. Mas ao menos, seu golpe dera certo. Como ele imaginara, Connor não contava com uma cabeçada e acabou recebendo o golpe estando completamente vulnerável. Bastou exagerar um pouco de dor em seus dedos e fazer uma voz quebrada, que seu filho iria adquirir confiança e baixar a guarda. De fato, ele e Connor pecavam muito em sua autoconfiança.

–Ah, meu nariz! – gritava Haytham, sentindo o sangue escorrendo por seu queixo. Ao perceber que a luta terminara, e para seu alívio, sem morte, Ziio correu para perto de Connor, que estava desmaiado.

–Quanta loucura, Haytham!

–Não me culpe, mulher! Derrotá-lo era o único jeito de impedi-lo de se lançar à este resgate mirabolante e suicida!

–E se você o matasse?

–Eu jamais faria isto.

Ziio não estava confiante com sua resposta.

–Mesmo se não tivesse escolha?

–Sim. – disse Haytham, com firmeza. – Eu poderia morrer por suas mãos, mas... Matar? Meu próprio filho? Jamais.

Ziio não parecia muito aliviada.

–O que me dói é saber que Connor realmente poderia ter te matado. E eu não suportaria mais uma perda. – disse Ziio, acariciando o cabelo de Connor, ainda desmaiado.

–Talvez. Nosso filho é um tanto impulsivo. Céus, eu acho que realmente quebrei o nariz... – notou Haytham, com desgosto, sentindo dor ao tocá-lo.

–Deixe-me ajuda-lo.

Em um só movimento, bastante brusco, Ziio colocou o nariz de Haytham no lugar, fazendo-o soltar um grito de dor bastante horripilante.

–Pronto, ele está no lugar. – ela disse. Depois, virou-se para Connor, observando-o desmaiado, com preocupação.

–Não se preocupe, ele acordará daqui a pouco, e com uma ligeira dor na cabeça e um ferimento na testa. E creio que no orgulho, também. – disse Haytham, tentando tranquilizar Ziio.

–E o que fará agora?

Haytham se levantou e para abismação de Ziio, começou a se despir.

–Haytham, o que você está fazendo? – ela perguntou, enquanto ele já tinha se desfeito de sua casaca e colete, ficando apenas em calças e camisa de mangas.

–Eu irei no lugar dele. Está decidido.

–Você não pode estar falando sério... – lamentou Ziio, ao ver que Haytham estava começando a retirar o manto de Connor.

–É duro admitir isto, mas Connor está certo. Cada minuto que se passa diminuem as chances de nossa filha ainda estar viva. Também não podemos esperar que os outros Assassinos se reúnam. Tenho que invadir o Forte Duquesne e resgatá-la.

–Mas você mesmo admitiu que este plano é suicida.

Haytham terminou de abotoar o Manto, que pertencia ao seu pai. Por alguns instantes, manteve-se em profundo silêncio.

–Eu estive naquele lugar por alguns meses, Ziio. Na época em que... Na época em que expurguei os Assassinos. Sei como entrar sem ser notado. Só espero que Tessa seja forte o bastante para me acompanhar, pois o Forte fica muito embrenhado na floresta. Connor pode despertar a qualquer momento. Você tem que ser rápida, Ziio. Leve nosso filho para o quarto e o amarre a cama.

–Eu não posso fazer isso com o nosso próprio filho! – indignou-se Ziio.

–Você quer chorar a morte de mais um filho, mulher? Ou de mais dois? – reclamou Haytham, já aborrecido. – Vamos, faça como eu disse. E rápido.

Assentindo, ainda resoluta, Ziio tomou um desmaiado Connor em seus braços, levando-o para dentro de casa, quase o arrastando. Connor era forte, e portanto, muito pesado, e ela fez tal coisa com dificuldade.

Ao subir, notou que Minowhaa, que estava inconsciente, não estava mais ali. Decerto ele despertou e já foi embora, pensou Ziio. Colocando Connor sob a cama, Ziio tomou uma corda. Percebeu que seu filho começava a se mexer, enquanto ela amarrava seus punhos firmemente.

Haytham já estava montado ao cavalo, correndo como um louco. Ele sabia que precisava chegar à Nova York o quanto antes, mas também estava ciente de que a viagem demoraria quase dois dias, ou um dia inteiro, se seu cavalo aguentasse metade da viagem em um galopar rápido.

Já fazia um tempo que ele estava montado, galopando sem parar. Seu cavalo começava a resmungar disto, mas Haytham procurava ignorar, muito embora soubesse que não poderia fazer isso por muito tempo, ou então esgotaria.

–Ratonhnhaké:ton!

Oh, maldição. Era Minowhaa, reconheceu Haytham. Ele está me vendo vestido como Connor, e pensa que é ele. Haytham procurou ignorar, permanecendo no galope, mas Minowhaa o alcançou, detendo-o gentilmente pelo braço.

–Ratonhnhaké:ton, eu... Haytham?

Haytham decidiu parar de cavalgar. Retirando o capuz de sua cabeça, deixou que Minowhaa o olhasse, olho no olho. O nativo, obviamente, ficou surpreso, mas não deixou de fazer alguma graça da curiosa situação.

–O que é isso? A realização de algum fetiche ou sonho de infância?

–Poupe-me dos comentários, Minowhaa. E se puder, saia do meu caminho, pois tenho algo importante a fazer.

–Sim, eu posso imaginar. Escalar alguns prédios e edifícios usando um capuz...

–Me deixe em paz, Minowhaa.

–Onde está seu filho? O que você fez com ele, seu monstro?

–Ele está vivo, caso queira saber. Mas inconsciente. Eu não poderia deixa-lo invadir o Forte Duquesne sem um plano adequado.

–Seu filho, que já esteve liderando grupos de Assassinos em ataques a templários, não é capaz de invadir o Forte Duquesne, um dos mais frágeis das Colônias, mas você, que nos últimos tempos esteve ocupado negociando trigo na Alfândega, se sente capaz de fazê-lo? Não acha que você está sendo presunçoso demais, Grão-Mestre?

Haytham sorriu.

–Eu jamais parei de treinar, Minowhaa. Além disso, eu sei como entrar naquele Forte, e tal como vocês dizem, “fora de vista”. Daria um melhor Assassino do que vocês, atrapalhados e barulhentos como um elefante numa loja de porcelana.

Minowhaa optou por se limitar ao silêncio. Sabia que a ajuda de Haytham na invasão ao Forte era considerável. Ele vivera por aqueles fortes em seus tempos de Grão-Mestre, afinal. Deveria conhecer seus pontos fracos.

–Está bem. Afinal, eu prefiro que você morra, ao invés de Connor.

Haytham se limitou a apenas grunhir em resposta. Não estava com humor para retrucar qualquer coisa.


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Notas finais do capítulo

OPA!!!

Então, teremos mais uma ação conjunta de improváveis aliados: Haytham e Minowhaa.
Esses dois, viu... Se odeiam, mas estão cada vez mais juntos. Haja amor.
KKKKKKKKKK

No próximo cap: o resgate de Tessa.


Até o próximo cap!



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