Assassin's Creed: Aftermath escrita por BadWolf


Capítulo 15
Templário, Eu?


Notas iniciais do capítulo

Hey, mais um cap postado!
Espero que gostem!

E acrescentei uma figura porque achei que a Arte ficou maneira, rs!
Créditos da imagem: obsceneblue@devianart



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Eu senti que meu pai estava prestes a dizer alguma coisa, muito provavelmente uma observação a respeito da minha repentina palidez, ou do meu comportamento estranho. Eu pouco me importava. Meu desespero era visível, e o fato de ele estar tão evidente assim já era questão menor perto do que minhas ações estavam provocando. O que eu fiz de errado, afinal, para provocar um destino tão terrível assim?

Dirigindo-se à gaveta, meu pai retirou o artefato, cuidadosamente.

–Isto fica comigo, por hora. – disse, ameaçadoramente, colocando a Maçã no bolso de sua casaca. Assenti, com uma imensa sensação de fracasso corroendo meu coração. Então, era este o fim. Meus pais estavam vivos, mas separados. E eu tinha me tornado um assassino (com “A” minúsculo) vil e sanguinário, não muito diferente do Haytham Kenway que conheci. O Haytham Kenway que pensei que seria capaz de mudar.

–Vamos, meu filho. Creio que precisa de um ar fresco.

Estava prestes a protestar, mas ele me deteve.

–Seu repouso pode esperar. Venha, Shay quer falar conosco. Ele está lá em cima.

Mas afinal, quem era este Shay Cormac que ele tanto mencionara? E porquê estávamos no navio dele? Meu pai parecia confiar nele, e isto era algo raro de se esperar. No entanto, isto não tornava este Shay como alguém aprazível. Bastava se lembrar do companheirismo de meu pai com o crápula do Charles Lee. Creio que ele tinha lá um dedo um tanto podre para suas alianças, e algo me dizia que este Shay não era diferente. Provavelmente, mais um Templário arrogante e preconceituoso.

Assim que subi, fui golpeado com o ar quente do Caribe. Um ar não muito diferente daquele que senti, quando no Áquila atrás de um sonho que agora, mais parecia um pesadelo.

Caminhei por aquela tripulação, notando que todos eram rostos estranhos para mim. No entanto, o comportamento deles era semelhante ao da minha própria tripulação, o que era sinal de que o capitão não se utilizava de violência contra os seus subordinados. Ao menos isto.

Naturalmente, meus olhos se voltaram ao leme. Conduzindo o navio, estava um homem de cabelo e barba espessa, já grisalha. Usava uma roupa bastante rústica e um chapéu de abas largas. Suas roupas eram, sem dúvida, mais adequadas a quem enfrentava dias e noites à cavalo, seja sob sol ou chuva, e não para o forte calor do Caribe. A julgar por sua testa, repleta de gotas de suor, poderia se dizer que estar sob tal ambiente estava longe de ser um costume.

Vi no convés um homem a caminhar em nossa direção. E para meu pasmo, eu já o conhecia. E não de uma maneira agradável.

Sua cicatriz considerável, a traçar metade do seu rosto, seu cabelo castanho, com alguns fios brancos, e principalmente sua Armadura Templária já envelhecida corroboravam minhas suspeitas.

Sim, eu já me “encontrei” com esse Shay antes.

Foi no dia em que me feri gravemente no ombro. Isso aconteceu um pouco depois da morte de Dobby Carter, a última a morrer. Eu sempre fui um pouco impulsivo, tendendo ao quase suicídio, como apontava meu Mentor, e a morte de Dobby acentuou estas minhas velhas características. Afinal, que outra explicação havia para que eu enfrentasse O Grão-Mestre Templário Howard Davidoson completamente sozinho, no meio daquela noite?

Nem pensava mais em mim, ou na minha gente, ou no meu povo. Pensava em vingança, em retribuição a todas as minhas perdas, a ter desapontado aqueles que tanto confiaram em mim, que deram suas vidas pelo Credo que sempre defendi. Eu não poderia me acovardar. O sangue de meus amigos clamava por ação.

Foi quando eu o vi pela primeira vez.

Aquele homem que meu pai chamava de Shay

Naquela época, eu não sabia seu nome, mas assim que ele apareceu naquela noite sangrenta, eu percebi que Dobby estava certa. Havia um único responsável pelas mortes de meus companheiros de Ordem, e ele estava ali, bem diante de mim.

Era um homem mais velho que eu, usando uma Armadura Templária bastante sofisticada, mas envelhecida pelo tempo e por suas ações. Trazia condecorações templárias, pude notar em seu peito. Uma grande cicatriz cortava o lado esquerdo de seu rosto, e embora as rugas em seu rosto demonstrassem sua idade, seu cabelo ainda trazia uma cor castanha, diria que intacta se não fosse por alguns fios de prata discretamente aparecerem em seu penteado, rigorosamente amarrado para trás. Praticamente, o mesmo homem que estava diante de mim agora, no convés do navio.

A guarda pessoal de Davidson já tinha sido dizimada por mim, sendo este motivo o bastante para o próprio aparecer para me eliminar pessoalmente. Ele parecia me esperar, na verdade. Tinha um claro instinto de caçador. Um caçador de Assassinos, com sede de sangue.

E finalmente, aconteceu o que eu mais desejava. Lutamos, eu com minha Tomahawk, e ele com sua espada e adaga. Apesar de sua idade, não foi uma luta fácil. Nenhum de nós dois esperava que fosse.

–Então... O último recruta de Achilles... – ele disse, entre um golpe e outro, num forte sotaque irlandês. Sem duvida, ele foi o tal homem que Achilles se referiu como “um Templário que não é mais problema nosso”. Pensei que ele quis dizer que estava morto, mas só agora notei a gravidade do meu engano. Talvez estivesse ocupado com outra coisa, ou mesmo confiante de que os Assassinos estavam definitivamente dizimados.

–E você, o último Templário do Rito Colonial a ficar de pé...

Nossa luta não avançou tanto, por total culpa minha. Conseguiu desarmá-lo, lançando sua adaga ao longe, mas o tal sujeito acabou por ejetar, para minha surpresa, uma Hidden Blade. Notei que ele era, ouso dizer, até melhor com as lâminas que com a adaga. Sua experiência venceu a minha fúria, e acabei sendo lançado ao chão.

–Acha que é o único que sabe usar isto, Assassino? – ele disse, ejetando a lâmina mais uma vez, e agora, prestes a enfiá-la em meu pescoço. – Você faz alguma idéia da estirpe dos homens que levara?

–Sim, e o bastante para não me arrepender de te-los matado. – rebati, parcialmente mentindo.

–Você levou o Grão-Mestre, Assassino. – ele disse, em seu sotaque irlandês. – Um dos homens mais dedicados que já tive o prazer de conhecer. E como se não bastasse, bombardeou um terço da cidade durante seu plano maligno. Parece que vocês, Assassinos, nunca irão aprender...

Eu sabia que ele estava se referindo ao meu pai, e notei sinceridade em sua voz. Diria até que certa estima, respeito. Ele não era um mero subalterno.

–Quão ingênuo é você. Acredita em um mundo preto e branco, monocromático. É isso que os Assassinos ensinam, em suas velhas doutrinas. Pena que você não viverá o bastante para saber que o mundo é cinzento, repleto de tons. – ele disse, me avaliando. Meu capuz, ainda escondido, dava poucas margens para ver meu rosto. – Mas agora, deixe-me ver o seu maldito rosto...

Ele puxou o meu capuz, e notei que ele se espantara. Um misto de horror e pasmo, foi tudo que vi em seus olhos. Claro, afinal se ele conhecia meu pai, notou nossa semelhança física.

–Vo-você não seria...?

Percebi que ele estava hesitante. Deveria aproveitar o momento certo, e então esperei por seus questionamentos, mas não em silêncio.

–Sim. – eu disse. – Eu sou filho dele. – enfatizei.

–Como pôde?! Você matou o seu próprio pai! – ele se indignou, e com certa razão. Ótimo, pensei comigo mesmo. Fique com bastante raiva, fique inquieto tal como um animal enfurecido. E ele parecia me obedecer, pois na hora certa, ele ligeiramente afastou sua Hidden Blade de minha garganta, dando-me manobra o bastante para escapar.

Ele estava cambaleante, mas seu instinto de caçador não se deixaria reduzir por um mero subterfúgio. Eu estava prestes a virar a esquina e ganhar a liberdade, quando ouvi um disparo. Uma dor me picara imediatamente, mas a ignorei e permaneci correndo.

Só quando já estava perto da Fronteira, notei que meu ombro estava coberto de sangue, tornando a subida ao cavalo quase uma tortura. Assim que meu dedo tocou aquela região de meu ombro, e pela primeira vez eu senti a dor daquela ferida que me faria não mais ser o mesmo homem de antes, eu me despertei para a realidade

O próprio Shay Cormac, diante de mim, tocou exatamente no mesmo lugar que ele atirara e me ferira gravemente. No entanto, havia apenas camaradagem e gentileza em seu toque desta vez.

–Vou fazê-lo ficar longe do rum, da próxima vez. – disse, com diversão, provavelmente se referindo à minha bebedeira. – Espero que não tenha vomitado em meus aposentos, aliás...

Eu e meu pai nos entreolhamos.

–Na verdade, Shay... – começou meu pai, evitando tocar naquele assunto. – Connor e eu estamos interessados em saber o quanto você andou estudando a respeito destes artefatos. Agora, que afundamos a tropa inteira dos Assassinos, eu creio que temos tempo para uma conversa adequada sobre isto.

–De fato, sir. Tens razão. Estive na Europa nos últimos anos, em especial na França, e entrei em contato com muitos irmãos Templários que também são fascinados em estudar Aqueles Que Vieram Antes.

–Hum... Maravilhoso. É bom saber que mais alguém, além de mim e de Connor, tem interesse em estudar Aqueles Que Vieram Antes. Venha, vamos conversar em meus aposentos....

Shay parecia estar prestes a replicar, provavelmente para indicar os seus aposentos, mas decidiu deter-se. Decerto não gostaria de retrucar o Grã-Mestre, pensei comigo mesmo.

Quando já nos encontrávamos devidamente sentados em nossas próprias cadeiras, ao redor de uma mesa pequena, tendo a Maçã e mais um objeto que se assemelhava a uma caixinha antiga, Shay começou a conversar.

–Chefe... O senhor ainda usa aquele colar?

Meu pai estranhou a pergunta.

–Sim, uso. Por quê pergunta?

Notei que Shay ficara incomodado.

–Como eu disse, eu conversei com alguns estudiosos, e... Bem, eles me disseram que estes artefatos podem nos... Influenciar.

–Explique-se. – exigiu meu pai, em um tom neutro, mas que poderia se converter em hostil por bem pouco.

–Não quero dizer que o senhor esteja sendo influenciado por este colar, sir. Mas... Por acaso o senhor percebeu alguma diferença em sua atitude, desde que começara a usá-lo?

–Shay... Está querendo dizer que estou me tornando uma pessoa má?

–De modo algum, sir! – protestou Shay. – O que quero dizer é que estes artefatos podem servir de conexões com Aqueles Que Vieram Antes, e posso dizer, “qualquer tipo” de conexão. Não sabemos a real finalidade de sua criação.

–Meu artefato... – disse meu pai, puxando o objeto de dentro de sua roupa, para nossas vistas. - ... É uma chave, Shay. Não tem poder para qualquer coisa, senão abrir uma mísera porta que eu sequer sei onde está.

–Ainda assim, chefe... Alguns estudiosos apontavam para algum tipo de influência. Podemos ficar mais calmos, mais agressivos... Dizem que um mero acontecimento pode desencadear o processo. Como uma porta que deixamos aberta.

A julgar pelo semblante pensativo de meu pai, notei que ele estava começando a considerar. Seria realmente a tal Chave Percursora a razão para seu comportamento mais agressivo? Eu percebi que o Haytham que estava na Aldeia, ao meu lado e ao lado de minha mãe, parecia alguém mais calmo e leve. Já o Haytham que estava bebendo em seu escritório, resmungando se deixaria a Ordem ou não, estava diferente. Estaria ele usando a Chave desta vez? Seria este o motivo, então, para seu retrocesso? A chave realmente o estava reduzindo a um mero marionete da vontade dos Deuses?

–Você quer que eu pare de usar a chave, é isto?

–É uma possibilidade, sir.

Para minha surpresa, meu pai arrancou o cordão de si, colocando-o sobre a mesa. Tanot eu quanto Shay ficamos surpresos com sua atitude repentina.

–Você venceu, Shay. Esta chave fica sob sua tutela, agora.

–Obrigado, sir. – disse Shay, tomando o cordão para si, mas colocando-o em seu bolso.

–Aliás, seria bom se verificássemos se esta Maçã realmente tem o poder de mudar o futuro, não?

Shay não parecia contente com essa possibilidade.

–Pensei que o senhor quisesse escondê-la. Chegou até mesmo em cogitar afundá-la com o navio.

–Opção esta que considero agora um completo equívoco de minha parte. – respondeu meu pai. – Podemos mantê-la em nossa guarda perfeitamente, longe de qualquer intromissão ou interferência dos Assassinos. Mas é sempre bom sabermos o que realmente temos em mão.

–Entendo. – disse Shay, ainda abnegado. – Bom, quem a ativará, então?

–Bom, pode ser você mesmo, Shay....

–Não, sir. Eu não quero tocar nesta “coisa”, por favor...

–Mas Shay, nós...

–Eu me voluntario.

A minha voz, finalmente, interrompeu aquela conversa. Era visível que os dois estavam temerosos do que poderia acontecer. Havia um olhar de repleto horror de Shay, na mera menção de ele utilizar a Maçã, por razões que eu desconhecia, e meu pai estava duvidoso também.

–Tem certeza, meu filho?

–Isso pode ser perigoso, Connor... – insistiu Shay. – Eu já vi estes Artefatos em ação, e sei do que eles são capazes.

Suspirei. – Por favor. Deixem-me tentar.

Após um longo silêncio, meu pai suspirou.

–Está bem, Connor. Tente ativá-la. Que o Pai da Compreensão te guie, meu filho.

Recebi um forte aperto em meu ombro, num claro sinal de afago fraternal. No entanto, a ultima frase de meu pai apenas me deu mais convicção do que estava prestes a fazer.

Se é para mudar essa infeliz realidade de Templário, eu farei isto com todo o prazer.

Sem qualquer hesitação, eu tomei a Maçã outra vez, envolvendo-a com as minhas duas mãos. Seu brilho me cegava outra vez, em uma permissão para que os Deuses brincassem com minha vida mais uma vez, tal como Shay alertara. Que assim o fizessem. Eu não poderia deixar que minha vida fosse transformada daquela forma com total passividade de minha parte. Eu queria ser feliz. Queria que todos terminassem bem, isso era pedir muito? Que fosse. Meu destino poderia não ser dos melhores, mas eu não me renderia, enquanto não tentasse o melhor para mim.

E definitivamente, o melhor não era ser um Templário, como meu pai poderia estar planejando.

Eu tinha que detê-lo. Fazê-lo desistir da Ordem. Mas como?


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Notas finais do capítulo

Então, este é o fim da Jornada de Connor Templário. Esperam que tenham gostado desse encontro de Connor com Shay - o homem que dizimou sua Ordem e lhe causou uma sequela no ombro. Foi mais calmo do que pensei, e graças ao fato de Connor ser muito focado em consertar as coisas. Será que ele ainda vai conseguir evitar este destino de Templário?



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