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Contei a ela minha história. Senti-me extremamente vulnerável, mas Elsa ouvia atentamente, o que me dava forças para continuar a falar. Desde minha morte, nunca sequer abri a boca para falar de meu passado. Era extremamente difícil. Lembrar-me de como eram felizes meus dias me davam um nó na garganta enorme. Pelo menos, estava falando com ninguém menos que Elsa. Ansiava por este momento a um bom tempo e estar sentado o lado dela era surreal.

–Jack, você sente muita falta da sua vida antiga?

– Sim, demais! Acho que você foi minha âncora. Você fazia-me lembrar do que era bom no mundo. Sua risada me trazia paz e observar você crescer foi maravilhoso.

Ela soltou uma risada nasalada pequena e olhou para seus pés. O tom vermelho invadiu suas bochechas e eu suspirei internamente.

A rainha me fitou, e olhou para cima, logo após. Pela brecha da árvore conseguimos ver que tínhamos passado horas longe do palácio.

–Está ficando tarde- diz ela, com certa decepção no rosto- queria poder ficar mais um pouco.

–Amanhã podemos voltar...

–Sim!

Rio, e me levanto, estendendo a mão para ela. Ela a segura e sorri. Seguro sua cintura perto do meu tronco, e Elsa se agarra no meu pescoço. Levantamos vôo e quase tocamos as nuvens brancas e fofas no céu.

Ao chegar ao gabinete real dela, olho para seu cabelo, e dou uma gargalhada alta. Seus cabelos estão numa grande bagunça loira. Estavam quase se soltando da trança e devido ao vento, pareciam vários chifres ou cobras no alto de sua cabeça.

–Está rindo do que?- Pergunta a descabelada para mim.

– Do seu cabelo!

– O que tem ele?-Elsa levanta a mão para o cabelo rapidamente.

–Está uma bagunça!

–Culpa sua!- Diz ela, com o narizinho franzido e uma pose emburrada. Ela se vira rapidamente e passa a me encarar.

–Minha culpa?- Exclamo indignado.

–Sim! Foi ideia sua sair para dar um passeio! Agora, tenho manchas no meu manuscrito, não terminei meus afazeres, meu cabelo está horrível e não posso receber minha visita!- Pontua, já rodando a sala várias vezes, com o cenho franzido.

– No final das contas, John das Ilhas do Sul não apareceu não é?-Levanto a sobrancelha, em sinal de sarcasmo, para mudar de assunto. Ela olha para mim com ódio e como se por mágica (ou karma) alguém bate na porta.

–Rainha Elsa? Oi, é o Príncipe John!Das Ilhas do Sul! Eu vim visitá-la mais cedo, mas, você não estava!– Sua voz sai abafada pelo fato de ele estar do outro lado da porta.

Reviro os olhos e Elsa me encara, com um olhar vitorioso. Depois, um olhar apavorado.

“MEU CABELO!” Ela sussurra. Seguro a vontade de rir.

–Majestade?- um batido na porta.

–Já atendo, só um segundo!- Responde, com um tom soberano.

Elsa corre (na ponta dos pés, para não ser ouvida) para o espelho na sua parede ao norte do gabinete e faz um coque simples, desajeitado, mas que para mim, deixou-a mais linda ainda. Ela pigarreia, e endireita a postura.

–Uau! Adorei!- Elogio enquanto ela se levanta.

–Obrigada!– sussurra de volta.

Ela se ajeita, empina o nariz, dá mais uma olhada no espelho e abre a porta.

Neste momento, um sujeito alto e de ombros largos entra no recito. Ele se vestia com um príncipe, sem dúvida nenhuma. Os cabelos castanhos muito bem penteados para trás indicavam certo cuidado com a aparência. O Príncipe mais velho das Ilhas do Sul entra e faz uma reverencia perante Elsa. Ela responde com uma mesura, e nisso, ele levanta a cabeça e pega a mão dela, depositando ali um beijo casto. Elsa ruboriza e então diz:

–Entre, Vossa Alteza!

– Obrigada Majestade.

– Chame-me apenas de Elsa. - ela diz, fechando a porta.

– Chame-me apenas de John. – Completa ele, a encarando de forma intensa. Sinceramente, não gostei daquilo. Vi coisas naquele olhar que eu não queria ter visto.

–Gostaria de um chá?- pergunta a rainha, preparando uma xícara para ela.

–Sim! Adoraria.

Ela se vira e começa a preparar as xícaras para ambos. John fita as costas dela, e as mãos fechadas em punhos. A forma intensa de olhar para ela volta, e uma onde de raiva invade meu ser. Ela merece respeito? Ele está olhando para ela de forma vulgar!

Elsa volta a encará-lo e ela sorri, endireitando as costas. Ela levanta uma sobrancelha e sorri também. Enquanto ambos estão ali, como se estivessem sozinhos, eu os observo “confortavelmente” no teto. Elsa coloca a bandeja na mesa de centro da sala dela e entrega o chá para John. Ele toma um gole, encara-a e diz:

–Nossa! isso está muito bom! Parabéns... Elsa. – Ele diz seu nome, num tom mais baixo.

– Obrigada! – Responde ela, desconfortável, olhando para baixo.

Segundo ele, apenas veio (novamente) para se redimir do que houve no incidente do seu irmão. O das Ilhas do Sul diz que Hans foi enviado para uma casa com vários doutores que cuidariam da sanidade dele, já que, segundo John, ele havia ficado “louco”. Sei... Louco! Isso, posso afirmar, ele sempre foi...

Voltando para a conversa dos dois, John exalava charme para cima de Elsa. Ela, inocente, não notava, e respondia suas perguntas alegremente. Até que ele perguntou sobre a situação financeira do reino de Arendelle. A carinha de Elsa murchou e pude perceber que ela teria de contar sobre a crise. Depois da morte dos pais de Elsa, o reino passou por inúmeras dificuldades, inclusive o fato de eles não terem governantes por três anos. Tempo que demorou até Elsa chegar a maioridade. O reino perdeu aliados poderosos e desde então, Elsa estava tentando reafirmar estes laços, porém, quem ia querem se aliar a um povo governado por uma rainha de dezenove anos apenas? Ela governava muito bem, isso era obvio, Elsa amava demais seu reino. No entanto, para muitos, ela era inexperiente e jovem demais.

–Bom... Arendelle passa por dificuldades... Crises...

– Sério? Mas que horror... - Comenta John, dizendo o óbvio.

Ela ri sem entusiasmo e exclama:

–Vai passar! Isso é passageiro... – Não senti convicção ao Elsa falar, como se ao invés de convencer John, ela estivesse tentando se convencer do que falava.

–Logo, me tornarei rei, já que sou o próximo na linha de sucessão, bem depois do meu pai. Este ano ele abdicará o trono e eu entrarei para governar. Depois de arrumar uma esposa, que é o que preciso, eu gostaria de unir nossos povos. Aliar-me ao seu reino.

Então eu entendi. Finalmente, percebi os planos de John. Notando isso, soube que Hans não era o único a estar louco.