*-*

–Aqui Anna! Você não vê? Está bem aqui!

–Ela não pode me ver... Só você pode- Sussurrou Jack em meu ouvido.

Ó Deus. Ó meu Deus! Minha irmã deve estar pensando que sou louca! Estou gritando e me manifestando com algo que só eu vejo! Que maravilha...

Ok, ok... O que eu faço? Explico? É isso aí! Vai que dá certo(?)...

– Anna, estou falando com Jack Frost. Aquele espírito invernal que traz o frio em certas épocas. Lembra?- digo o mais séria possível, para não parecer uma louca débil, que aos poucos estava caducando. Porém, a expressão no rosto da minha irmã só indicava que o que eu havia dito não fazia o menor sentido. E que sim, eu parecia uma louca débil que estava caducando.

Olhei para Jack, que estava ao meu lado e notei que ele se segurava para não rir. Seu rosto estava avermelhado e eu me senti uma boba. Como explicaria para minha irmã o motivo de eu estar falando com supostas paredes?

– Jack! Assim você não ajuda em nada, sabia?- reclamei, revoltada.

– Elsa!- Anna exclamou ainda mais horrorizada.- Sente-se! Você não está passando bem...Está doente? Com febre? Está delirando!

– Anna! Me escuta! Tem um espírito invernal que me apareceu ontem em meu quarto e disse ser um estilo de guardião e...

A expressão de Anna passou de horrorizada, para pensativa e de pensativa, para encantada. Ela olhou na direção de Jack e novamente e sua expressão voltou para chocada. E de novo, para encantada. E ficou assim por bons minutos.

Depois ela soltou gritinhos bobos e deu pulinhos típicos dela.

– AI MEU SANTO OLAAF! VOCÊ EXISTE! MAMÃE FALAVA DE VOCÊ PARA NÓS! LEMBRA ELSA? VOCÊ É JACK FROST!– olhou para mim, esperando que eu respondesse. Porém, o quê? Como assim ela vê Jack? Olhei para Jack, em busca de resposta, mas ele estava da mesma maneira que eu. Estático.

*-*

– Me explica isso direito, Elsa! - disse Anna com seu habitual tom “pensante”.

– Já disse! – suspirei cansada- Ele é Jack Frost. Foi ele que me atingiu e por algum motivo desconhecido, eu ganhei meus poderes.

–Ah – disse ela. – entendi. EU ENTENDI!

E começou a rir histericamente. Eu não entendo minha irmã.

*-*

Algumas horas depois do acontecido...

– Elsaaaaaaaaaaaaa...

Ignore, Elsa. Apenas ignore.

–Elsaaaaaaaaaaaaaaaaa...

Continue ignorando.

–ELSAAAAAAAAAAAAAAAAA!

– O QUE VOCÊ QUEEEEEEEEER, HEIN? ESTOU TRABALHANDO!- gritei para Jack, que estava dependurado nos pilares de minha sala.

– Estou entediado!

–Não posso fazer nada...- bufei, revirando os olhos.

Então ele desceu do pilar e abriu a porta janela. O ar quente e agradável de primavera rapidamente me envolveu e pude sentir o cheiro de lírios e margaridas entrarem por ali.

– Venha... – exclamou Jack estendendo a mão para mim.

–Mas... E John? Ele vem me visitar!

– Ele pode esperar...

Vi o rosto de Jack se contorcer em uma careta. Resolvi ignorar. Logo, seu deslumbrante sorriso voltou à tona. Seus cabelos brancos caiam em sua testa e seu cajado pendia em sua mão, o suspendendo no ar. Senti-me ruborizar, e fiquei com vergonha por estar com vergonha, se isso faz sentido. Creio que não faça. Estou confusa. Enfim! Voltando... Ele estava me encarando com seus olhos azuis e sua mão gélida agora segurava a minha.

–Para onde quer ir? – Pergunta-me ele, já me levantando no ar e me puxando para si, começando a voar. Fechei os olhos com força já que estava com medo. Voar? Fora de cogitação. A altura não me incomodava. Até aquele momento. Comecei a me desesperar e coloquei minha cabeça no contorno de seu pescoço.

–Qualquer lugar, desde que estejamos no chão! AGORA!

Ouvi sua risada e de repente, me senti patética. Forcei-me a abrir os olhos e lá estava. Um lindo sol que brilhava fortemente sobre as tulipas cultivadas aqui. Estávamos no meio de uma clareira, mas o Sol entrava por entre as brechas como se não quisesse perder a festa.

– Que lindo! Nunca tinha visto essa parte do reino...- disse maravilhada.

Pousamos e para descansar, nos sentamos no meio das tulipas amarelas, bem debaixo da principal entrada do Sol.

– Eu morava aqui perto, sabia? Ali - exclamou apontando para um determinado lugar.- passa um córrego, onde eu costumava brincar com Emily, minha irmãzinha. Foi nele que morri. Está vendo aquela casinha ali? A de madeira?- apontou para outro lugar. Uma casinha de madeira já corroída pelo tempo, mas um tanto charmosa.- Eu morava ali. No inverno, as árvores se enchem de neve e a clareira fica linda.

Senti meu sangue gelar. Como assim? Morreu onde? Quando? Quer dizer que ele é um morto vivo? Estou confusa.

– Hã?... – foi só o que eu consegui exclamar.

Ele deu uma risada metódica e fria e o vento me pareceu mais cortante e mais intenso. Senti-me estremecer.

– Desculpe... Te ofendi? Não era minha intenção...- me senti avermelhar.

– Não! Elsa, não se desculpe!- ele se virou pra mim, e colocou sua mão gélida no meu rosto. Me coração, por algum motivo, disparou. Jack começou a fazer movimentos circulares em minha bochecha, e me senti ruborizar. De novo. - Não foi minha intenção te fazer pensar assim...Mas é que é um assunto delicado pra mim.

Então, um silêncio estranho recaiu sobre nós. Porém, me sentia confortável. Era bom sentir esse silêncio. Era reconfortante. Mas a curiosidade não me deixaria tão cedo.

– Sem ser indiscreta, poderia me contar sua história?- Não parece de o meu feitio falar isso, mas algo nele incita minha curiosidade. Gostaria de saber tudo sobre ele. Mas é um desejo repentino e inseguro e INDEVIDO. Ok, exagerei. Porém preciso conhecer quem é esta pessoa que cuida de mim. Desde pequena.

– Tudo bem.

– Sério?- pergunto chocada. – Não quero te forçar a nada...

– Não, sério. Tudo bem.

Me senti estranhamente feliz. Algo que eu não sabia que estava ali havia despertado. Um desejo de cuidar dele como ele cuida de mim. Toquei sua mão em meu rosto e olhei em seus olhos, deixando transparecer toda minha curiosidade.

– Tudo começou a trinta anos atrás...