Rhorus escrita por Sandro Morett


Capítulo 6
Brynden Sand  




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Os três galeões que Brynden arranjara em Pedravelha estavam abarrotadas de homens de armas, suprimentos e armas de cerco. O Clava do Gigante - o maior dos três - era onde a víbora estava; o próprio capitão havia lhe cedido sua cabine. Logo atrás seguia o Lança, uma galé esguia como uma enguia, com mastro pintado nas cores azul e laranja; era o barco mais veloz do Extremossul. Ao seu lado estava o Martelo do Norte; um navio largo e lento, pintado nas cores branco e cinza, cores do norte; foi comprado dos Senhores do Norte em Porto Congelado por causa da sua capacidade de carga.

No primeiro dia de viagem de Sedareia até o próximo porto em Salinas se mostrou bem mais difícil do que o esperado.

– Senhor Sand – o capitão chamou chegando à porta de sua cabine. Brynden estava na cama com uma acompanhante de acampamento – vem aí uma tempestade. Uma das grandes.

– Quanto tempo? – a víbora se levantou e a moça cobriu sua nudez.

– Uma hora, no máximo. Vem a bombordo. Vamos pegá-la no ápice.

– Vamos enfrentá-la. Recolha os remos e solte as velas. Vamos usar a força do vento. – disse Brynden vestindo um roupão de seda.

– Brynden, não acho que seja prudente. Os navios estão no seu limite de carga, talvez tenhamos que jogar algumas coisas no mar.

– Que joguem. Temos que chegar logo à Salinas.

Os dois subiram então para o convés do navio. Lá, homens e mais homens puxavam cordas, faziam nós, recolhiam remos e gritavam coisas uns para os outros. O capitão já chegou gritando ordens.

– Abram as velas. Vamos enfrentar a tempestade!

Os homens se entreolharam e olharam para o capitão, confusos. Brynden apreçou-os batendo palmas.

– Vamos, vamos, vamos. Não ouviram seu capitão? – o roupão de seda que a víbora usava era uma extravagância de cores, todo em verdes, amarelos e laranjas.

E os homens voltaram a trabalhar. De hora em hora olhavam a víbora com cara feia, mas nada falavam, ele era amigo do capitão.

O capitão Luxxis observava tudo atentamente. Olhava o céu coberto e as águas escurar. Ouvia as ondas rebentando no casco, e estudava sua tripulação, dizendo palavras de ânimo para eles de instante em instante, para evitar um alvoroço quando a tempestade mostrasse sua face. Depois de um tempo, bastardo e capitão voltaram para o interior do navio.

– Você é sempre muito carismático, Brynden. – disse Luxxis enchendo duas taças com vinho amargo, dando uma para a víbora. – Dessa forma meus homens o odiarão.

– Já odeiam. – o homem de cabelos prateados disse. – Todos odeiam. Exceto você, bom amigo.

O capitão acenou com a cabeça.

– Mesmo sendo odiado, consegue o que quer.

– Isso eu chamo de lábia.

– Muitos chamariam de carisma. Mas eu bem sei que você não tem.

A tempestade não demorou a chegar. Chegou com rajadas de vento e a chuva atingia a todos como virotes de besta. O Lança cortava as ondas com facilidade, tomou a frente das três embarcações. E no Martelo do Norte já podia se ver homens lançando caixas e caixas de mantimento no mar. Brynden observava tudo do castelo de proa.

Boa parte do meu vinho estava lá., ele pensou vendo seus barris sendo jogados pela balaustrada. Voltou a olhar para os homens no Clava do Gigante mas eles também lançavam barris no mar. Oh...

Mas não era a única coisa que se via cair no mar. Mesmo as armas de cerco estariam se estilhaçando sob as ondas se elas não estivessem bem amarradas. Por vezes alguns homens caiam e outros homens sequer notavam, estavam ocupados puxando cordas e fazendo nós.

Foram duas horas de tempestade até que o céu voltou a ficar azul. Três marinheiros tinham caído no mar no Clava do Gigante e Brynden podia apostar em mais uns tantos que tinham caído dos outros dois navios.

Agora a paz estava retornando e eles foram fazer o calculo dos estragos. Os três navios se puseram lado a lado e os capitães gritaram uns com os outros fazendo a contagem das perdas em cada navio. Luxxis foi então ter com o bastardo, que desceu para sua cabine para trocar de roupa. Seu roupão de seda de Asran havia sido devastado pelo vento mesmo no abrigo.

– Robert diz que dois marinheiros caíram ao mar no Lança enquanto tentavam manter a velocidade nas velas – o capitão do Clava falou – e algumas cargas nos porões se quebraram contra as paredes. Mas fora isso nenhuma perda relevante.

– Ótimo. – disse o bastardo que agora vestia couro. – E naquela coisa grande e lenta?

– Ah. – Luxxis pareceu atordoado. – O Martelo do Norte está danificado. Temo que quando pararmos em Salinas ele não possa continuar. Foi oque o capitão Lábio Rachado me disse. E também perderam muitos homens. Dez ao todo.

– Tenho a esperança de que a partir de lá não precisemos daquela coisa. O Senhor de Salinas é muito orgulhoso. – a víbora disse. – Pretendo usar a minha lábia. – e piscou.

O restante dos dias em alto mar se arrastou sem imprevisto. Chegaram a Salinas três dias depois de partirem de Sedareia. A cidade era uma desolação de areia e casas feitas de barro. Na praia as rochas eram todas marcadas com o branco do sal, assim como o casco dos navios e as madeiras do cais. Brynden desceu do Clava do Gigante e foi até o castelo do Senhor Tremond Hargalen de imediato. Uma coisa feia era o castelo, mas não havia motivo para dizer.

Entrou pelas grandes portas de madeira já roída por cupins e foi escoltado pelos guardas até o salão do senhor, mas só foram encontrar Hargalen na adega; ele era um homem alto, de 1,80m, cachos castanhos e chegado a vinhos.

– Lorde Hargalen – anunciou o guarda – Brynden Sand, chamado Víbora Prateada, Bastardo dos Rowen de Pedravelha, autoproclamado Embaixador de Lorde Syn Rowen, veio vê-lo.

Autoproclamado? – Hargalen falou em tom de zombaria, virando-se para fitar o bastardo de seu suserano. – De que serve ser embaixador do pai se quem o proclamou assim foi você mesmo? – ele era um homem belo e forte, seria um grande guerreiro não preferisse estar em adegas a campos de batalha.

– Alguém tem que me proclamar algo – disse Brynden em resposta. – por que não eu?

Os dois riram.

– O que o bastardo dos Rowen quer aqui na desolação de Salinas? – Tremond perguntou entregando a Brynden uma taça de vinho.

– Já estive em lugares mais desolados. – ele respondeu bebendo um gole. Era doce como a primavera. – Tem um ótimo gosto para vinhos, milorde.

– Fico grato que reconheça.

– Mas eu trouxe algo aqui comigo. – pegou uma garrafa e encheu duas taças. – Veio direto de Terralta. Ouvi que lá é onde se fazem os melhores do reino.

Tremond olhou para o vinho e depois para a víbora, confuso.

– A carta chegou a mim. Seu pai marcha contra Terralta. – tomou um gole, deixando na boca por alguns segundos antes de engolir. – Os vinhos de lá são sem dúvidas os melhores. Apenas tolos não admitem isso.

– Sim. – concordou Brynden. – Mas não vim lhe comprar com promessas de vinhos e saques. Sei que você é mais do que isso. É o mais honrado dos vassalos de meu pai, e tem a maior força. Aquele gordo de Sedareia cedeu cinquenta homens para a causa de meu pai! – falou ele com incredulidade. – Ele se esquece de que eu marcho sob estandartes Rowen e que é ao meu pai que ele presta vassalagem.

– Cinquenta homens para ir contra Terralta? - perguntou Hargalen pasmo.

– E dez armas de cerco.

Tremond Hargalen remexeu o vinho na taça e bebeu, fitando Brynden com seus olhos embriagados.

– Diga-me seus planos, víbora, e eu verei o que posso fazer.

Depois de uma hora de conferência Brynden saiu da presença do Senhor de Salinas e voltou para as docas. Encontrou lá seu capitão e outra porção de homens nas apalpadelas com prostitutas, e outros tantos caindo de bêbados. Mesmo ele já estava um pouco embriagado depois da reunião com Lorde Hargalen.

Ela havia terminado com o belo senhor bêbado fitando sua taça, enquanto se apoiava em uma parede para não cair. Brynden olhava-o impiedosamente, fuzilando-o com as duas pepitas púrpuras que eram seus olhos. Sabia que dali em diante, depois de dito tudo aquilo, só restava esperar.

A víbora já estava indo para sua cabine quando o pesado som de passos compassados começou a ecoar, e tudo começou a tremer. Tremond Hargalen chegou à frente do milhar de homens com lanças, das centenas de cavaleiros e arqueiros, chegou montando um cavalo branco de guerra.

– Tens razão quando disse que quando cem sulistas de bronze vão à guerra outros tantos se unem a ele por onde ele passa. – ele falou. Vestia cota de malha e sua armadura era de aço negro. Uma lança dourada estava presa às suas costas. – Estes homens irão ao seu comando, víbora. Somos todos agora seus. Leve-nos à guerra e juntos vamos derrubar o Senhor da Mata.

Um clamor de mil vozes começou a ecoar por todos os lados. Víbora, víbora, víbora. Vivas à Víbora Prateada. Todos os homens gritavam, e alguns cavaleiros livres e mercenários que estavam de passagem pela cidade também se uniram ao clamor. Sentiram cheiro de ouro. O capitão Luxxis veio falar com Brynden para saber como ele havia conseguido tal coisa, o bastardo apenas se virou e respondeu:

– Carisma. – ele era todo sorrisos. – Acho que na verdade eu fui agraciado com isso.

– E agora?

– Agora vamos à guerra!


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Notas finais do capítulo

Olá, olá.

Primeiramente queria agradecer aos animados o bastante para ler ate aqui: muitíssimo obrigado.

Bom, Brynden se encaminha para a batalha. Agora ele não é mais só um bastardo enviado pra morrer, ele realmente pode conseguir alguma coisa com esse ataque. É esperto e astuto, e como podem ver, ele é bem convincente quando quer (e vocês vão saber mais sobre isso no próximo capítulo dele.)

Ainda está vago o motivo para o ataque, mas eu vou explicar nessa nota o fraco relacionamento entre Extremossul e a Mata nessa nota:

A Mata é um território muito vasto, e seus rios por vezes cortam o deserto sulista. Os Sulistas de Bronze tem uma rixa antiga com os Senhores da Mata, desde antes dos Templey, desde antes da conquista dos Bullbuster, e o motivo real há muito se perdeu, mas o povo do Extremossul não parece precisar de um motivo real.
Por viverem em um deserto onde tudo é escasso, a inveja sobre à Mata e sua capacidade de produção de alimentos e sua fartura.
Isso tudo vai ser mais abordado no futuro, mas eu preferi explicar aqui, pra não deixar tão vago.

Agora resta esperar os próximos acontecimentos e tudo que eles vão causar.
Um bastardo com sede de poder, e algo mais por trás de tudo, que talvez nem ele mesmo saiba.

Enfim, sem dar spoilers. q
Eu espero que vocês gostem desse episódio mesmo tendo ficado curto. Amanhã devo postar outro capítulo.

Boa leitura, e não esqueçam de comentar