Rhorus escrita por Sandro Morett


Capítulo 5
Brian


Notas iniciais do capítulo

Introdução de novos personagens



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O alvo estava marcado. A mira da besta estava precisamente acertada em cima de um arbusto volumoso coberto de neve. O dedo do atirador de olhos azuis-celestes estava em cima do gatilho. Ele soprou uma mecha negra de cabelo da frente do olho e esperou um pouco. Depois tudo aconteceu em questão de segundos; o arbusto mexeu, a lebre correu; antes que o pequeno roedor pudesse fugir, um virote já estava encravado em sua garganta. Um tiro perfeito! Há alguns metros dali um rapaz loiro descarregava sua besta de repetição em um coelho lento e gordo, que se escondeu sem se ferir.

– Sua mira é tão boa quanto sua aparência, senhor Brian. – disse o moreno ao loiro. Aquilo era sem dúvidas uma mentira. Os dois eram jovens belos e fortes de aparentemente 14 anos. O moreno com boa mira e olhos azul-celeste era ligeiramente mais alto que o loiro chamado Brian, que o encarava com seus olhos verde-oliva. – Se continuar atirando tão bem assim, nunca se tornará um cavaleiro.

– Não me irrite, Sir! – disse Brian apontando sua besta de repetição na direção do outro rapaz. – Pode até ser um cavaleiro, mas eu serei um Lorde, e por isso me deve respeito!

– Devo mesmo respeitá-lo, futuro Lorde Stealhorn? – perguntou o outro apontando sua simples besta leve para Brian, com uma mira precisa na testa do garoto. – Temos a mesma idade e já sou cavaleiro, escolhido por seu pai para instruí-lo na arte do combate. O senhor será um Lorde, por isso deve se esforçar ainda mais. Seu povo, sua Casa, seu reino, todos contarão com você. O que fará se não souber empunhar uma espada ou atirar uma flecha quando necessário?

O rapaz Stealhorn abaixou sua arma. Sua indisciplina já era conhecida por seu tutor, e sermões como aquele eram frequentes. No momento em que o jovem cavaleiro também abaixou sua besta um escudeiro se aproximou com um cavalo já selado e o entregou em suas mãos.

– Obrigado Phellipp! – subiu na sela e se aprumou em cima do cavalo. – Senhor Brian, o treinamento de hoje está terminado, seu pai me pediu para levá-lo até o Salão do Degelo assim que acabássemos, então pegue seu cavalo e me siga. – dito isso, se virou e começou a partir.

Brian deu uma olhada para Phellipp, o escudeiro, que logo depois se apreçou para pegar e selar um cavalo para o jovem senhor Stealhorn. Minutos depois ele voltou puxando pela rédea um alazão de pelagem branca e crina dourada. Um cavalo magnifico que pertencia ao jovem senhor.

– Demorou demais! – disse ele montando apressadamente e pondo-se a galope atrás de seu jovem professor.

Os campos por onde passavam estavam todos cobertos de neve. As árvores pingavam com o degelo causado pelo sol do meio-dia e um pequeno riacho semicongelado corria por uma das extremidades do campo, caindo como uma rápida cascata em uma pequena lagoa às portas do palácio Stealhorn. Aquilo era raro, levando em conta que Rhorus estavam no meio do outono, e no norte o céu per vezes permanecia escuro e salpicado de estrelas tanto de dia quanto de noite.

Todo aquele terreno era o pátio de Constance, o mais antigo castelo do continente.

Os Stealhorn eram a mais antiga família. Tendo nas veias o sangue dos Bravos Congelados, os primeiros homens que colonizaram as terras daquele continente; aqueles que usando nada mais que peles e rusticas espadas feitas de bronze expulsaram ou mataram os outros povos que habitavam o sul. Exploraram o sul o quanto puderam e em seguida tornaram ao norte e lá habitaram milênios, até a chegada dos Povos-que-voavam-sobre-a-água, também chamado de Senhores do antigo continente Vitalius.

Brian conhecia aquela história, sabia que em sua veia corria o sangue dos Bravos Congelados, sabia a história de seu castelo e o quão importante para um Stealhorn era a honra. Ficou parado à porta do castelo observando aquele monumento que um dia pertenceria a ele, mas hoje ele pertencia ao pai, o Senhor de Constance; o impiedoso Lorde Sliver Stealhorn.

Entrou pelas grandessíssimas portas de carvalho revestidas com bom aço e passou pelo grande salão de entrada ainda montado. Nas paredes ao seu lado estatuas de bronze de tamanho original dos seus antepassados estavam enfileiradas. Chegando ao fim do salão de entrada duas portas em cada parede lateral levavam à cozinha e à biblioteca e duas escadas se despunham à sua frente; uma para a esquerda e uma para a direita. Brian desceu do cavalo e chamou um serviçal para levá-lo aos estábulos. Caminhou até a base única das duas escadas que levava até um altar elevado com a estatua em bronze de 4 metros de altura do Grande rei do Norte, Broomer Stealhorn, o Inquebrável, aquele que protegeu o norte até o fim, até sua morte, para então seu filho e sucessor dobrar o joelho para o Rei-que-dominava-o-Sul, Trivium Bullbuster há 400 anos. Olhou a rustica e firme face do maior Rei que o norte teve segurando uma réplica da espada que agora era passada de geração em geração para os Senhores Stealhorn; a poderosa Iceberg. Aquela magnifica espada bastarda de uma mão e meia, forjada com magias antigas e um raro metal que tinha um tom cinza-esbranquiçado era sem dúvidas uma das mais belas espadas do reino, e sem dúvidas a com mais história.

Brian se perdeu no tempo enquanto observava a réplica da espada que um dia seria sua quando e um grito por seu nome o tirou de seus devaneios.

Era Lorde Stealhorn, seu pai, quem descia as escadas e o chamava.

– Você nunca muda não é, Brian? – falou o robusto homem de cabelos loiros abaixo dos ombros vestindo uma bela veste carmesim. Seu rosto, em contraste ao seu corpo, tinha traços gentis, e seus olhos verde-oliva transpassavam leveza assim como sua voz firme. – Quando não está olhando esta velha estatua está na biblioteca lendo algum velho livro sobre nossa Casa. Sabe muito bem que o Conselheiro pode lhe contar o que quiser.

– Perdão pai. Sabe que a história me encanta.

E de fato o jovem senhor Stealhorn tinha uma paixão demasiada por livros e artefatos históricos. Seu pai teve de contratar um jovem cavaleiro – Sir Lance Beambotheon – para instruí-lo devidamente na arte do combate. Sir Lance tinha a mesma idade de Brian e fora ungido cavaleiro por Sir Gir Linstern, um bravo homem que combateu ao lado de Lorde Sliver Stealhorn na Mata do Desespero, derrotando os temidos Bandidos do Desespero.

– Sabe o que tem de saber. - Lorde Sliver falou. – Sabe que um dia dominamos o Norte e Extremo Norte como reis, até que os Bullbuster nos tomaram esses domínios e passaram para os Winterborn da Baixada de Inverno. Sabe que Constance é antigo, e que Iceberg é linda e poderosa, e um dia será sua. Almeja ser lorde, filho? Quer meu lugar?

Brian sabia aonde aquilo chegaria. Baixou a cabeça e caiu sobre um joelho.

– O sangue em minhas veias é congelado como o teu, pai, mas ainda não mereço tais honrarias. Minha hora chegará, mas até lá o senhor é o gelo sobre o lago, que mantem os pés do Norte firmes sobre a água. – Brian decorara aquele discurso. Seu pai gostava de tais agrados.

– Se eu sou o gelo sobre o lago que mantem os pés do norte firmes, porque os domínios de nossa casa foram passados para os Winterborn? – perguntou Lorde Stealhorn

Brian Stealhorn sabia que aquela lição era pura história. Como futuro Senhor de Constance ele deveria saber que seus suseranos eram usurpadores de um reino, e que a família de seu rei roubaram dele todo o norte.

– O Rei Trivium I Bullbuster era casado com uma Winterborn. O sul e as Terras Pantanosas já haviam sido dominados, mas ao Norte do Estreito da Aurora era tudo domínio do Rei do Norte, Broomer II Stealhorn. Rei Broomer fechou a estrada de pedra real, portanto os ataques vindos pelo sul só poderiam ser feitos pelo Estreito da Aurora, e lá Broomer os repeliu por 10 anos. Mas um dia veio uma gripe de inverno que levou nosso rei, e o Reino do Gelo e da Neve foi passado para seu filho, o Rei Brian Stealhorn, segundo do seu nome. – Brian corava sempre que dizia o nome do rei que ajoelhou. Fora batizado com esse nome não se sabe por quê. Talvez apenas uma piada de mau gosto do pai. O rapaz era o primeiro Brian na casa Stealhorn depois de 400 anos. – O Rei Brian dobrou o joelho na primeira investida do Sul pelo Estreito. O Rei Trivium Bullbuster permitiu que o antigo rei do norte mantivesse sua cabeça, mas em contrapartida todo o domínio do Norte e Extremo Norte passou para Lorde Roinare Winterborn, sogro do rei.

– Exatamente. – Lorde Sliver acenou positivamente com a cabeça. – Filho, seu futuro como Senhor de Constance será grandioso. Você terá que ser forte. Por você e por todo um reino. Lembre-se de nossas palavras:...

Fortes e Incorruptíveis. – eles disseram em uníssono. – Nós sabemos reinar.

Os dois subiram até uma torre onde Lorde Sliver Stealhorn costumava se reunir com seus comandantes em tempos conturbados. Dezenas de cartas com selos das mais diversas Casas se dispunham sobre a mesa, e também um mapa desenrolado onde se via marcado um x em cima da fronteira do continente, ao norte, no lar da Guarda da Fronteira, outro na Cidade do Fim pouco mais abaixo, até finalmente chegar à Baixada de Inverno, onde os Winterborn habitam. Brian estudava aquilo tentando compreender, até seu pai fechar o mapa. Fosse o que fosse, não era assunto para ele. Ainda. Seu pai falou para o que lhe chamara ali.

– Irá para o sul, filho.

– Posso pergunta-lo por quê?

– Realmente é necessário? – Lorde Sliver fitou-o, congelando Brian até os ossos. – O inverno está chegando, e este parece que será duro. O Conselheiro Alphonse diz que o sol poderá ficar escondido por meses a fio, e isso com certeza atrapalhará seu treinamento. Então o enviarei com Lance para o Forte, para sua irmã, e talvez lá Lorde Robben Linstern possa ajudar a treiná-lo.

Brian ponderava aquelas palavras e disfarçadamente estudava seu pai, pois não queria que ele percebesse sua dúvida. Ir para o Forte parecia boa ideia, mas aquele não parecia o real motivo. Brian só estivera lá quando tinha apenas cinco anos e ainda era capaz de se lembrar: o Forte fazia jus ao nome; uma fortaleza maciça e sólida, feita de rocha negra e metal com quatro torres gigantescas onde qualquer um com o instrumento certo podia ver milhas e milhas ao longe, rodeando o castelo quadrado. Suas muralhas eram tão altas e negras quanto as torres, e cinquenta homens podiam andar sobre elas enfileirados. Os soldados do forte eram ainda tão esplendidos, vestindo suas armaduras pesadas escuras como o breu e fechadas por completo, deixando exposto apenas uma fina brecha nos olhos, e marchando em volta da fortaleza lentamente, arrastando seus pés metálicos pela manhã fazendo um ruído que amedrontava o pequeno Brian.

Não era só isso que o impressionava lá, mas também como o castelo Monte d’Ouro se estendia na colina da Capital, distante, e parecia tão brilhante e pequeno visto das torres do Forte, assim como todo o resto da cidade. Sua doce irmã – Selina, nascida Stealhorn, mas agora uma Linstern – era quem o levava por aqueles passeios dentro da grande fortaleza negra.

Vê?, ela por vezes lhe perguntava, entregando uma luneta em suas mãos, Ali é onde o rei mora. Bonito não é? Quem nos dera morar lá., Brian não se lembra de Selina nos seus tempos de solteira, mas seu irmão mais velho, morto há alguns anos, vivia lhe contando que a irmã tinha sonhos de princesa.

Ela devia estar com 29 anos agora, e ele se perguntava se ela estaria parecendo ainda mais com a sua mãe. Brian já havia se decidido.

– Quando eu partirei pai?

– Amanhã, à primeira luz do dia. E eu preciso que você entregue esta carta à sua irmã. – Lorde Sliver falou entregando a Brian um envelope com um símbolo estranho que não era de sua Casa, seu tom de voz indicava que era sério. – Diga a ela que estou com saudades, e também...

O que Lorde Sliver Stealhorn segredou no ouvido de Brian fez suas pernas bambearem, e ele foi colocar as roupas em seu baú de viagem preferindo não pensar naquilo.


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Notas finais do capítulo

Olááá., Sandro aqui de novo. -q
Sim, eu sei que tô postando muito rápido, mas eu quero adiantar a história -q
Brian e Lance estão aí, mesmo não tendo sido tão abordados em relação à personalidade deles nesse capítulo, eles vão ser um fator importante no que acontece com o reino.

Sem mais spoilers. O torneio se aproxima (aquele citado no capítulo da Yunna), e até lá mais personagens serão introduzidos, e mais coisas vão acontecer.

Espero que vocês gostem desse capítulo.
E não esqueçam de comentar. Isso realmente deixa qualquer autor feliz. q

Bye