Nothing Else Matters escrita por Miss Vanderwaal


Capítulo 5
O recanto de Emily Fields


Notas iniciais do capítulo

E Emaya finalmente começa a tomar forma no presente capítulo, que saiu longo pra caramba e bastante meloso, porque não adianta, sempre serei uma romântica (e romancista, arrisco dizer) incorrigível :3



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— Você ainda não me disse para onde se mudou – perguntou Emily, timidamente, vendo que eles cautelosamente se aproximavam de sua casa.

— Umas três quadras para baixo – Toby respondeu, apontando para trás de si com o polegar.

Emily assentiu.

— Então você já recebeu sua cesta de boas-vindas?

Toby olhou curiosa e divertidamente para Emily.

— Hã... que eu me lembre não. É um costume daqui?

— Mais ou menos. Minha mãe entrou recentemente para esse comitê que dá doces como boas-vindas para os novos moradores.

Toby deu uma leve risada.

— Bem, acho que eles passam algumas casas por engano, de vez em quando.

Emily parou, pegando da mochila uma pequena barrinha de Milky Bar.

— Tecnicamente, eu não posso comer muitos desses – ela entregou o chocolate a Toby. – Sabe como é, treinos puxados. Se eu não tomar cuidado, uma grama a mais de açúcar pode jogar pelo ralo o trabalho de dias. Então, sinta-se bem-vindo.

— Uau! – exclamou ele – Meu favorito quando era pequeno. Como sabia?

Emily apenas sorriu e deu de ombros. Normalmente, esse era o tipo de coisa que as pessoas diziam apenas no intuito de serem agradáveis.

Deram mais alguns passos em silêncio até que pararam novamente.

— Então, este é o meu quintal – informou Emily. Seu tom de voz tinha som de despedida.

Toby deu uma olhada na propriedade, parecendo não saber o que dizer.

— É bonito.

Só que não era diferente de mais nenhuma casa de Rosewood, ou pelo menos não de casas daquela área. De qualquer jeito, Rosewood era uma cidadezinha simétrica, quase não tinha prédios e todas as casas se pareciam. Quase todas eram enormes e tinham quintais maiores ainda. Nem mesmo as cores dos imóveis se diferenciavam – moradores que pintavam suas casas de cores "incomuns" (como verde ou cor-de-rosa), isto é, de cores fora da lista de tons pastéis, eram considerados incomuns também. Sim, o nível de conservadorismo dos cidadãos daquela cidade chegava a ser ridículo.

Eles ficaram frente a frente sem dizer nada pelo que pareceu ser um longo tempo.

— Obrigada por ter me acompanhado – agradeceu Emily, meio sem jeito.

— Não há de que – garantiu Toby. – Tem certeza que está tudo bem?

A pergunta pegou Emily de surpresa. Ela não havia pensado no que acontecera no vestiário desde que começara a caminhar junto de Toby. Parecia que a presença dele a fazia sentir-se segura. Porém os olhos prata-acinzentados dele pareciam preocupados de novo, atenciosos às expressões dela. Novamente, Alison fora a última – e talvez a única – pessoa que olhara para ela assim, com tanto cuidado.

— Sim, estou bem.

Eles se deram um abraço rápido, ainda sim íntimo demais para pessoas que se conheciam há apenas dois dias.

— Te vejo amanhã? – Emily perguntou docemente.

Toby sorriu.

— É claro – ele começava a se afastar. – E não fique tão... bem, neurótica, quanto ao açúcar. Você está ótima.

Emily corou. Ficou parada por alguns segundos, apreciando o elogio. Quando tinha sido a última vez que alguém a elogiara assim, de uma forma tão casual, gentil e sincera? Ah, sim. Alison.

Ela por fim girou o corpo em direção a sua casa, pensando se diria mesmo para a mãe que alguém da equipe de natação havia morrido para que o treino tivesse sido cancelado ou se simplesmente diria que havia ficado menstruada alguns dias antes do previsto e esquecera de levar absorvente interno.

Antes que pudesse se decidir – e antes mesmo que pudesse pisar em seu próprio gramado –, Emily ouviu uma voz feminina chamando-a pelo lado esquerdo.

— Com licença?

Emily virou a cabeça na direção da voz de uma jovem de pele cor-de-café e cabelos escuros ondulados. Ela nunca a havia visto por ali. Era muito estranho ver um rosto novo em Rosewood, pois todo mundo ali conhecia todo mundo.

— Seu sobrenome, por acaso, é Fields? – a garota perguntou, um tanto encabulada, roçando os dedos uns nos outros.

— Sim... – Emily respondeu cautelosamente, arqueando uma sobrancelha em desconfiança.

A garota expirou e sorriu, parecendo aliviada. Em seguida se aproximou um pouco mais de Emily.

— Eu acabo de me mudar para cá – explicou-se, apontando para trás de si. – E acho que alguém da sua família deixou uma cesta para mim ontem. Em um cartão assinado apenas com "Família Fields" dizia “seja bem-vinda a Rosewood”.

A expressão de Emily se suavizou e ela sorriu.

— Você ficou com a antiga casa dos DiLaurentis, não é? – perguntou ela, pela primeira vez não sentindo um bolo no estômago ao ouvir-se pronunciando o sobrenome de Ali. A garota assentiu. – O negócio da cesta foi ideia da minha mãe.

— Eu já imaginava – disse a garota, com uma expressão divertida no rosto.

— Eu sou Emily – ela estendeu a mão direita.

— Maya St. Germain – a garota apertou a mão de Emily –, mas prevejo que muitos por aqui vão me chamar de "a garota nova da Califórnia", pelo menos nos primeiros meses.

— É mesmo? Califórnia? Caramba, isso é o que eu chamo de uma longa viagem.

Emily ainda não conseguia entender o magnetismo que Rosewood parecia ter para com forasteiros. Era de se espantar!

Maya deu risada.

— Muitos se impressionam.

Emily estava louca para perguntá-la porque cargas d’água ela havia saído de um lugar paradisíaco como a Califórnia para vir se socar em um lugarzinho como o sul da Pensilvânia, porém se controlou.

— O que está achando do lugar?

— Bem, tenho que admitir que é tudo muito diferente do que eu estava acostumada – Maya colocou ênfase no “muito” –, mas confesso que estou animada. Adoro mudanças!

Emily classificou como fofo algo no jeito como Maya pronunciou a última frase, parecendo uma criança que andava de avião pela primeira vez e, sem que ela realmente percebesse, as duas começaram a caminhar juntas em direção à casa da esquina.

— Mas você conheceu a família que morou aqui? – Maya perguntou, com um olhar curioso – Pareceu, pelo jeito como falou o sobrenome deles.

— Conhecer o sobrenome dos vizinhos por aqui não é nada, acredite. Mas sim, eu... conheci a garota. A filha única de um casal – Emily hesitou, percebendo que conhecera de fato apenas Alison, e não o resto da família. Ela nem mesmo tinha certeza se Alison era filha única.

— Ela era uma amiga sua?

Emily congelou. Amigas compartilham coisas, e ela e Alison não haviam compartilhado quase nada durante todo o sétimo ano – era como se, por um ano inteiro, ela tivesse tentado ver Ali através de um espelho embaçado; embora tenham de fato trocado algo íntimo, algo que geralmente amigas não trocavam. O que Alison fora dela? Pensar em tal pergunta e mais uma vez não obter resposta fez o coração de Emily doer.

— Éramos colegas de classe – Emily disse por fim, sentindo lágrimas formando-se sorrateiramente ao fundo de seus olhos.

Maya assentiu.

— Conheceu a casa dela?

Tal pergunta fez Emily sacudir levemente a cabeça, pensando não ter ouvido direito.

— Hã... por dentro, não.

— O que acha de um tour? – Maya tinha um sorriso travesso nos lábios, que por um segundo deixou Emily sem reação.

— Agora? – sorriu, desajeitada – Tem certeza? Quer dizer, você acabou de me conhecer.

Ela se arrependeu no instante em que concluiu a última frase. Rezou para que Maya não a achasse imbecil demais.

— Ah, entendi. Você pode ser uma assassina em série. Eu posso estar em perigo agora, não é? – a garota sussurrou ao ouvido de Emily e caminhou em torno dela – Bem, honestamente, você não me parece do tipo que carrega revólveres por aí.

Emily gargalhou. Ela nunca havia pensado que tinha realmente um "tipo".

— Qual é? – Maya continuou – Sua mãe dá cestas recheadas de doces para desconhecidos. Duvido que ela tenha criado uma psicopata.

A língua de Emily coçou para dizer “nem tudo é o que parece” mas ela apenas concordou, começando a seguir Maya pelo jardim. A grama parecia recém aparada; as roseiras continuavam no canto direito perto da cerca que dividia o terreno, mas obviamente não haviam mais rosas, o que fez algo dentro de Emily se contorcer.

Ela lembrou-se do dia em que vira Ali e a mãe ajoelhadas às roseiras aparando algumas folhas. Por um momento, Emily fantasiara que Ali iria convidá-la para se juntar a elas, mas a loirinha apenas sorrira e acenara – o que, por si só, fizera Emily se sentir muito bem, na verdade.

— Certo – falou Maya com a porta da frente fechada atrás de si e Emily ao seu lado. Ela apontou para a esquerda e para a direita ao mesmo tempo. – Sala de estar, cozinha e quartos lá em cima – ela apontou com os dois indicadores para as escadas.

A casa parecia ser dividida como o resto das casas da cidade, ou pelo menos parecia igual às casas que ela havia visitado. A sala oscilava entre tons de marrom, branco e cor-de-rosa, devido ao conjunto de sofás florido. Silêncio dominava o local, que cheirava a produtos de limpeza.

Maya guiou Emily vagarosamente pelas escadas.

— Então, você nasceu aqui? – perguntou ela, em meio às passadas das duas pelos degraus – Tem cara de veterana.

Emily riu outra vez, achando peculiar o jeito como Maya presumia coisas sobre ela.

— E você sai por aí analisando os outros?

A garota deu de ombros quando chegaram ao segundo andar. O sol não iluminava muito o corredor.

— Acho que sou boa nisso.

O quarto de Maya, diferentemente do resto da casa, pelo que Emily conseguiu notar, era espaçoso e naturalmente bem iluminado – paredes em tom amarelo creme contribuíam para isso.

— Quando você chegou? – perguntou Emily, olhando em volta e percebendo que o cômodo ainda não tinha sido inteiramente mobiliado. Uma cama de casal e uma pequena cômoda ao lado da única grande janela do quarto eram as únicas coisas ali, além de algumas malas e um pôster emoldurado do filme I Walked with a Zombie, que já estava pendurado na parede oposta à cama.

— Ainda ontem de manhã – disse Maya, ziguezagueando pelo quarto. – Ainda estou tentando me ajustar. É tudo tão maior e tão mais “respirável” do que em São Francisco.

Emily, que estava olhando pela janela, se virou para encarar Maya, com as mãos nos bolsos da calça jeans.

— Por quê? Como são as casas em São Francisco?

— Bem, para começar, quase não há espaço lá para casas de verdade. Eu mesma nunca morei em uma, apenas em apartamentos. E as que eu conheci eram claustrofóbicas e coisas verdes cresciam nas paredes.

Emily riu outra vez; algo no jeito como Maya falava, despreocupadamente, era naturalmente cômico. Tentou puxar pela memória tudo o que conhecia sobre São Francisco e tudo vinha de seriados como As Visões da Raven e Três é Demais; mas tais realmente davam a ideia de uma cidade atarefada.

— Acho que entendo porque alguém iria querer escapar um pouco do tumulto das cidades grandes – falou Emily finalmente.

— Pois é – rebateu Maya, pensativa, sentando-se na cama. – Meus pais e eu sempre adoramos a quietude de cidades pequenas.

— Ah – disse Emily, um tanto surpresa. – Não sei porque achei que você iria morar aqui sozinha. Acho que talvez seja porque você parece mais velha.

Maya cruzou as pernas e fitou Emily de um jeito... sexy? Sim, pela primeira vez desde Alison, Emily se permitiu classificar algo com tal adjetivo.

— Então agora é você quem está me analisando, não é?

Emily corou e não soube o que responder.

— Tudo bem – Maya a tranquilizou. – Mas mesmo se eu quisesse morar aqui sozinha, não conseguiria. Para você ter uma ideia, aqui há quatro quartos. Dois seriam suficientes, mas há um de hóspedes e outro que está oficialmente demarcado para meu irmão, que ironicamente não vai vir morar com a gente.

— Ele é mais velho que você?

— Sim. Ele cursou direito em Yale e começou a pós-graduação há pouco tempo.

Emily tomou a liberdade de sentar ao lado de Maya na cama. Seus braços se tocaram sutilmente e algo bom preencheu-a quando sentiu a pele quente de Maya contra a sua.

— Impressionante.

— E quanto a você? O que você faz? Por mais incrível que eu seja em analisar as pessoas, olho para você e não consigo decifrar.

Maya disse a última frase em um tom mais aveludado, quase como se estivesse confidenciando um segredo a Emily, o que a fez se perguntar se “ser indecifrável” era um elogio ou não. Maya olhava fundo em seus olhos, quase como se estivesse tentando de fato descobrir o que se passava dentro da mente de Emily. E Emily, por sua vez, não pôde fazer nada a não ser sustentar seu olhar em Maya também. A garota tinha lindos olhos amendoados; olhos esses curiosos e despreocupados, como ela, que pareciam vasculhá-la, fazendo cócegas em seu interior, se é que isso poderia ser possível.

Emily se endireitou, percebendo que haviam passado um considerável tempo olhando fundo uma nos olhos da outra e que, por conta disso, estava um tanto arrepiada. Torcia para que não estivesse com cara de idiota.

— Eu nado – Emily respondeu por fim. – Profissionalmente, há algum tempo.

Maya emitiu um "hum", assentindo.

— Impressionante também, mas preciso dizer que há um choque de personalidades aí.

— Por quê?

— Eu não sei nadar. Aliás, acho que é por isso que eu não sentirei tanta falta das praias da Califórnia. Não me sinto confortável em meio a grandes quantidades de água.

Maya agora parecia levemente desconfortável; soava como alguém que havia sofrido um trauma na infância ou algo assim. Ela havia descruzado as pernas e colocado as duas mãos sob as coxas, como se quisesse esquentá-las; olhava para frente e pareceu tremer por um segundo. Emily sentiu uma vontade súbita de confortar Maya acariciando delicadamente suas costas, porém se conteve.

— Bem, você pode trabalhar para mudar isso – garantiu ela. – É tudo questão de autoconfiança.

— Acho que sim – disse Maya, abrindo um sorriso franco que mostrava dentes invejavelmente brancos. – Talvez um dia você possa me ensinar a nadar.

Em circunstâncias normais, Emily acharia que Maya estava flertando descaradamente com ela, mas havia algo doce e sincero no jeito um tanto triste que Maya fizera tal pedido, como se ela estivesse criando coragem para deixar de lado algo que acontecera em seu passado.

— Por que não? – Emily considerou a possibilidade, animada.

Maya assentiu.

— Eu aposto que você é boa. Tem o corpo ideal.

Emily baixou o olhar para o decote singelo em sua regata. Ela estava mesmo tão em forma assim? Bem, duas pessoas já haviam elogiado o físico dela naquele dia, estranhos, praticamente, que não tinham motivos para fazê-lo. Então, Emily devia estar fazendo algo do jeito certo. Mesmo assim, não pôde evitar corar, querendo dizer que não merecia tal elogio.

— Mas e você? – Emily quis mudar de assunto – O que você faz?

Maya suspirou, como se fosse contar algo corriqueiro, e caminhou até a janela. Emily não queria parecer insistente ou algo do tipo, mas havia algo diferente naquela garota, algo novo que despertava curiosidade nela, algo que a fazia querer olhar nos olhos dela enquanto se falavam, o que geralmente não importava para Emily, sendo que ela mesma não fazia questão de olhar muito nos olhos de estranhos devido a timidez.

— Minha mãe foi violoncelista – explicou Maya, com os antebraços apoiados na parte de baixo da moldura da janela. – Ela me ensinou a tocar e eu gostava muito quando era pequena. Ainda gosto, mas eram raras as vezes em que eu me dispunha a tirar o violoncelo do “falso” porão do meu último apartamento. Mas quem sabe agora com esse negócio de casa nova eu não o mantenho aqui e volto a tocar – ela deu uma rápida olhada ao redor.

Emily sorriu, primeiramente tentando imaginar Maya com o corpo pesado do instrumento apoiado em seu próprio, afinal, a garota era pequena e definitivamente não era o que vinha à mente de Emily quando ela pensava em violoncelistas, que quase sempre eram altas e esguias. Por fim, concluiu que este era um pré-julgamento imbecil.

— Isso é realmente muito legal – garantiu Emily, querendo dizer na verdade que gostaria de ouvi-la tocar. – Você vai começar a estudar em Rosewood Day? Eles têm ótimos cursos avançados e música é um deles.

— Rosewood Day é a escola de primeiro e segundo grau, não é?

Emily assentiu.

— Então não – Maya esclareceu. – Vou começar meu primeiro ano em Hollis.

Após ouvir aquilo, Emily perguntou-se se o desapontamento não estaria visível demais em suas expressões. Hollis era a universidade de Artes de Rosewood e era um tanto afastada daquela região, quase dentro da Filadélfia.

— Vai cursar o quê? – ela forçou um sorriso, tentando parecer entusiasmada.

— Design – Maya deu um sorriso tímido.

Emily baixou os olhos para a blusinha colorida e salpicada com glitter que Maya usava e, por um momento, design fez sentido, sabe-se lá por quê. Notou também que a garota começou a ficar um tanto retraída, como se a conversa sobre o violoncelo a tivesse deixado absorta em memórias. Emily perguntou-se se Maya não se sentia culpada por ter parado de tocar, assim como ela sabia que se sentiria se parasse de nadar, mais por seus pais do que por si mesma.

— Quantos anos você tem? – perguntou simplesmente, não querendo deixar o assunto morrer.

Maya riu de leve, e Emily jurou poder ver sua pele morena ruborizar.

— Muitas perguntas, não é? – ela deu um tapinha na própria testa – Desculpe, eu não costumo ser assim.

Maya apressou-se em se fazer entender, tocando o pulso de Emily delicadamente.

— Não, está tudo bem. Eu gosto que me façam perguntas. E gosto de fazer perguntas também, afinal, é a única maneira de se conhecer realmente as pessoas, não é?

Ela lançou a Emily mais um daqueles olhares que pareciam vasculhá-la por dentro, o que lembrou-a instantaneamente de Alison e do jeito incomparável como a loirinha costumava olhá-la e assim, mesmo sem dizer uma só palavra, parecia saber mais sobre que seus próprios pais. Quer dizer, incomparável até... agora.

— Mas eu acho que o mistério é estragado se as pessoas contam a idade em primeiros encontros – Maya se afastou para arrumar algo na cômoda ao lado da janela –, você não?

Emily se virou novamente para encará-la. Gostou daquela colocação, ainda que a confundisse um pouco.

— Bem, o que é a idade de alguém realmente? – Maya continuou – Apenas um número, não é? Mas parece que tal número diz muito mais sobre uma pessoa do que deveria. Por exemplo, sinto que se você me disser a idade que tem, já vou saber metade das coisas que existem para saber sobre você, entende?

— Mas você acabou de me dizer que vai entrar para o primeiro ano da faculdade – Emily tentou soar desafiadora –, de um jeito ou de outro eu sei a base da sua idade.

— É verdade, mas eu posso ter repetido ou adiantado um ano, não? – Maya se aproximou novamente, parecendo brincar de queda de braço com Emily somente por meio do olhar. Ela parecia querer mostrar que era a melhor quando o assunto era desafiar alguém. – Ou seja, o mistério em si ainda continua.

Emily ainda sustentava o olhar em Maya, com um princípio de sorriso no rosto, como se ela quisesse fazer a análise interior agora, porém a garota parecia ser intransponível e, por mais genial que a teoria dela fosse e por mais sedutora que ela tivesse soado ao explicá-la, Emily não iria permitir que mais alguém em sua vida fosse um completo mistério. Por mais que fosse excitante no começo, doía demais no fim, e ela não suportaria se acontecesse mais uma vez.

Como se a decepção estivesse visível nas feições de Emily, Maya sorriu de forma apaziguadora.

— Mas está livre para me perguntar qualquer outra coisa.

Alívio percorreu o corpo de Emily e ela deu alguns passos pelo quarto espaçoso e quase vazio. Não havia notado antes uma foto de Maya junto a um garoto aparentemente mais jovem em um porta-retrato sobre a cômoda. Os dois estavam sentados sobre a grama e o rapaz de cabelos curtos e enroladinhos tinha seus braços pálidos ao redor de Maya. Pareciam felizes.

— É seu namorado? – perguntou Emily, não desgrudando os olhos da fotografia.

— Ah – disse Maya, outra vez como se fosse contar algo corriqueiro. – Bem, o nome dele é Justin. Acho que ele quer ser meu namorado, mas eu não vejo isso acontecendo.

— Por que não? – Emily sorriu para ela – Vocês estão tão bonitos aqui.

Maya suspirou, tocando a borda do porta-retrato e quase indo de encontro aos dedos de Emily.

— Ele é realmente um doce, mas nós crescemos juntos e eu o vejo como um irmão.

De repente, Emily sentiu seu coração se contorcer de pena por aquele garoto. Ela sabia muito bem o quanto doía estar apaixonado por alguém e não ter certeza se esse alguém se sente do mesmo jeito.

Maya ajeitou o porta-retrato, colocando-o rente à parede.

— E você? Tem namorado?

Emily apressou-se para dizer que sim, mas mordeu a língua.

— Tinha – corrigiu-se, sentindo-se um tanto desconfortável. – Nós... terminamos recentemente.

— Ah – Maya parecia condolente. – Eu sinto muito.

Emily apertou as mãos uma na outra, quase podendo sentir novamente os toques nauseantes e pretensiosos de Ben. Eu sei que você gosta, ele havia dito. Então conteve um riso vitorioso. Ele realmente não sabia nada sobre ela.

— Por favor, não sinta.

Maya lançou a ela um sorriso cúmplice.

— Imbecil?

— Totalmente! – Emily gargalhou, e por algum motivo gostou do som das duas rindo ao mesmo tempo.

— Quase todos eles são – Maya concordou, voltando a se concentrar na janela.

Passaram um longo tempo em silêncio e Emily pensava no que mais poderia perguntar para não deixar o assunto morrer e mesmo assim não parecer enxerida.

— Ei, eu tenho uma ideia – Maya animou-se de repente. – Há um rio aqui perto, não é?

— Lago – Emily explicou. – Perto do bosque. Não é perto daqui, exatamente, é até um pouco isolado, na verdade.

O rosto de Maya continuava iluminado, como se ela estivesse prestes a propor a Emily algum tipo de travessura.

— Acha que podemos dar uma passada por lá? Meus pais saíram há pouco para fazer as “compras para a casa nova” e com certeza ainda vão demorar. E... bem, não sei, acho que eu simplesmente não gostaria de ficar sozinha esse tempo todo. Então, por que não me mostra o que sabe fazer? Talvez eu até entre na água com você, se prometer não me deixar morrer afogada. Que tal?

Emily deu uma leve risada.

— É, eu sempre levo comigo o maiô que uso nos treinos mesmo. Mas e quanto a você?

— Eu devo ter algum biquíni por aqui em algum lugar.

— Acho que temos um acordo – Emily sorriu abertamente desta vez.

Depois de colocar seu maiô da equipe de natação e de vestir-se novamente em um dos três banheiros da casa, Emily seguiu Maya até a garagem.

— Você dita o caminho – instruiu a garota jogando as chaves de seu carro para ela.

Emily engoliu em seco, reprimindo o ímpeto de jogar as chaves de volta para Maya e dizer a verdade: que embora tenha tido já várias aulas de direção com o pai, ainda não tinha carteira porque tinha apenas quinze anos. Mas em seguida animou-se. Maya achava que ela tinha pelo menos dezesseis, senão não haveria dito para ela ficar no volante. Ela deveria honrar isso.

— Aperte bem o seu cinco – Emily recomendou antes de manobrar para fora da garagem da casa.

Maya não pareceu estranhar mas, depois de um tempo, olhou para Emily com o canto dos olhos.

— Você está com a sua habilitação aí, não é?

— É claro – ela limpou a garganta, torcendo para que sua voz não tivesse soado esganiçada demais.

Emily estava nervosa. Estando ali era como se dirigir bem contasse para uma entrevista de emprego. Pisava no freio de forma não muito suave nos sinais vermelhos. Maya parecia perceber aquele nervosismo, como se de fato conhecesse Emily de dentro para fora. Ela ria, puxando assuntos aleatórios, querendo deixar Emily confortável. E tal gesto a fazia se sentir quente por dentro, acolhida, quase do jeito que se sentira quando esteve com Toby mais cedo naquele dia. E aquele “quase” se destacava quando Emily olhava para os cachos frouxos de Maya, entre uma parada e outra, e percebia que alguns de seus batimentos ficavam um tanto fora de ritmo.

Falaram sobre Rosewood Day e como a maioria das pessoas pareciam estar lá mais para mostrar que tinham poder aquisitivo do que para estudar ou fazer amigos. Ela e Maya tinham isso em comum: não se encaixavam em meio a pessoas vazias. Emily descobriu que Maya também se intitulava, ironicamente, a ovelha negra dentre a maioria dos adolescentes e que ela contava nos dedos quem podia chamar de amigo.

Honestamente, Emily não estava louca para chegar ao lago. O clima dentro daquele carro estava bom e ela queria fazer de tudo para considerar Maya uma amiga de verdade ao fim do dia. Porém, chegaram lá mais rapidamente do que Emily poderia esperar.

A tarde começava a nublar, o que não dava destaque ao verde em volta. Emily instantaneamente se lembrou dos tempos em que ela obrigava o pai a trazê-la para ali quando era pequena e ela ficava dentro da água fria até a ponta de seus dedos murcharem. Carolyn nunca morrera de amores pelo lugar. Sempre fora a garotinha urbana e docemente rebelde que se incomodava com a terra abaixo dos pés quando estava no lago. Emily ria e a xingava de fresca. E as duas brincavam de fazer guerra de água.

Emily se despiu e deixou apenas o maiô colado ao corpo. Surpreendentemente ela não se sentiu envergonhada. E pulou para a água, que estava fria como de costume, embora fosse verão. Maya também havia se livrado das roupas e exibia um biquíni verde-limão, encolhida sobre uma das pedras à margem do lago.

Fazia bastante tempo que Emily não nadava ali. Para falar a verdade, ela já não lembrava mais quando havia sido a última vez que ela nadara por diversão. Havia esquecido também a sensação de liberdade que a invadia toda vez que vinha para o lugar. A água ali obviamente não era extremamente bem tratada como a da piscina e também não exalava o forte cheiro de cloro (que, por mais que ela adorasse, passar horas respirando aquilo dava-a uma leve dor de cabeça no final do dia).

Emily levantou a cabeça, seu corpo já estava se acostumando à temperatura fria da água. Sentindo os minúsculos grãos de terra abaixo de seus pés, ela se sentia como a Rapunzel, de Enrolados, pisando em solo firme pela primeira vez. Ela estava feliz.

— Se lembra quando eu disse que entraria na água com você? – Maya parecia apreensiva novamente – Bem, eu acho que hoje não. Prefiro ficar aqui vendo você brincar de ser sereia.

As duas se conheciam há, provavelmente, pouco mais de uma hora, e isso – levar uma estranha a um de seus lugares favoritos – parecia loucura, mas Emily sentiu seu corpo formigar de felicidade ao ouvir a palavra “sereia” dos lábios de Maya – uma das palavras favoritas de Emily, por razões óbvias. Seu pai a chamava de sereia muitas vezes. Mas a garota havia dado um tom completamente novo àquele apelido, um tom íntimo, que fazia Emily sentir que elas se conheciam desde sempre.

— Não confia em mim? – ela sentiu-se genuinamente desapontada, como se as duas fossem amigas de longa data e como se, por algum motivo, Maya realmente não confiasse nela.

Maya sorriu como quem acaba de ouvir uma criança dizer algo estupidamente fofo.

— Não é isso, meu bem, é só que... eu sou bastante desajeitada.

Meu bem. Pronto. Emily já começava a sentir o coração derreter. Deus, afinal, que tipo de feitiço era aquele? Ela nunca acreditou realmente em paixão à primeira vista – ou mesmo ao primeiro dia, ou à primeira hora. Isso era, de fato, loucura. Reaja, sua idiota, vamos!, Emily dizia a si mesma.

— Eu não sou exatamente uma bailarina clássica – afirmou ela cautelosamente, ainda afetada.

Maya levantou a cabeça e pareceu fitar profundamente os olhos de Emily mais uma vez. Tinha um sorriso tênue nos lábios, parecendo, por um segundo, absorta nos pensamentos dela. Pareceu que ela iria elogiar Emily novamente.

— É diferente – disse apenas, soando conformada.

Emily suspirou, se sentindo, agora, determinada. Deu dois passos para frente, ficando perto de Maya o suficiente para tocá-la, e ergueu os braços, agarrando firme e delicadamente os tornozelos dela.

— O que está fazendo? – Maya olhava para baixo com uma expressão nervosamente divertida.

— Algo para te ajudar – ela começou a puxar Maya para si, por um momento se surpreendendo com a própria força.

— Emily, não – a garota tentava protestar – Falei sério quando disse que não conseguia fazer isso.

Emily parou por um segundo.

— Todos são capazes fazer qualquer coisa – disse, puxando Maya de uma vez, e a garota caiu anatomicamente nos braços de Emily depois de um gostoso e familiar som de splash.

A proximidade pareceu deixar as duas atônitas por alguns segundos, mesmo assim os braços de Emily envolviam Maya pela cintura firmemente.

— Eu prometi que não ia deixar você morrer afogada – disse Emily, baixinho.

Maya tentou esboçar um sorriso, sem muito sucesso. Pareceu que ela ia pronunciar um fraco “obrigada” mas também não conseguiu. Parecia pasma e um tanto amedrontada. Ela tinha os braços apoiados nos ombros de Emily e não olhava diretamente para ela.

Emily pôde sentir o corpo da garota tremer levemente. Seu coração batia de forma descompensada. E ela se perguntava, agora, se não devia ter apenas respeitado a privacidade de Maya.

— Ei, está tudo bem? – perguntou Emily docemente, buscando pelo olhar de Maya.

— Sim – a garota assentiu, ainda sem fazer contato visual com ela – É só que... está terrivelmente gelado.

Emily relaxou e sorriu, achando certa graça da situação, porém não pôde deixar de sentir uma pontinha de frustração, pois frio era tudo o que ela não sentia no momento.

— Você vai superar – garantiu ela, afrouxando os braços em torno de Maya para que a garota pudesse por fim colocar os pés no chão.

O inocente desespero ainda era presente na expressão de Maya e a respiração dela ainda estava fora de ritmo. Emily entendeu que ela não iria se sentir muito segura se largassem as mãos uma da outra. Ela então apenas deu um passo para trás e começou a brincar com os dedos de Maya no objetivo de tranquilizá-la.

A calmaria reinava em volta das duas e a vida parecia, aos poucos, voltar ao rosto de Maya.

— Eu sei de uma coisa que pode te ajudar a relaxar – disse Emily, dando um meio passo em direção a Maya e fazendo o braço direito cruzar pelas costas dela – Levante as pernas.

— Hã... eu não sei se...

— Vamos – interrompeu Emily, convincentemente, passando o braço esquerdo ao redor dos joelhos de Maya – Confie em mim. Apenas deixe as pernas esticadas e não deixe seu peso recair sobre elas. Relaxe.

Um suspiro emocionado escapou dos lábios de Maya quando percebeu que boiava sem que Emily a segurasse realmente. Ela tinha os olhos no céu encoberto.

— É bom, não é?

— Muito! – Maya sorriu, deixando que Emily compartilhasse da mesma emoção – Apenas... não saia daqui, está bem?

— Não vou – garantiu.

Maya suspirou novamente depois de certo tempo, um pouco mais à vontade dentro da água.

— Não sabe por quanto tempo eu esperei por alguém como você, que me desse coragem para fazer isso.

— Por que não deu coragem a você mesma? – perguntou Emily, complacente.

— Porque eu tinha medo.

— Do quê?

— De que acontecesse tudo de novo.

— Tudo o quê?

Maya engoliu em seco, como se quisesse conter as lágrimas.

— Há vários anos atrás – começou, vagarosamente – Meu irmão estava com os amigos dele na piscina do condomínio onde nós morávamos. Ele havia me dito que não me queria lá, mas eu fui do mesmo jeito. Eu era pequena e estúpida, e queria mostrar ao meu irmão e aos amigos dele, que na época eram mais estúpidos ainda, que eu podia fazer tudo o que eles faziam – Maya olhou de canto para Emily – E você já é capaz de imaginar o que aconteceu depois, não é?

Emily sorriu tristemente, assentindo.

— Mas não vai acontecer novamente – ela também quis adicionar um “meu bem” ao final da frase, mas por algum motivo, se conteve – Eu não vou deixar.

Depois de ajudar Maya a ficar em pé novamente, Emily caminhou de costas, sem largar as mãos dela, conduzindo-a em uma caminhada cautelosa pelo contorno do lago.

Parecia que a fachada sexy e misteriosa da garota que dizia “sou mais velha e mais experiente” e que havia, de certa forma, encantado Emily à primeira vista – fazendo-a lembrar-se inevitavelmente de Ali –, havia desaparecido completamente. Ela agora era encantadora de outra maneira. De uma maneira transparente.

Assim que estacionou o carro de Maya novamente na garagem da casa – sabia que teria que sair dali primeiro –, Emily permaneceu alguns segundos olhando para a ponta dos dedos, que estavam levemente murchas. Ela e Maya pareceram conversar por horas e horas naquele lago, porém o relógio digital no painel do carro marcava apenas 5:50. Faltava meia hora para acabar o tempo regulamentar dos treinos de natação. E a garota sentada no banco do carona não era mais uma estranha.

— Obrigada – disse Maya, em um tom sério e ao mesmo tempo delicado – Duvido muito que eu fosse deixar alguém... além de você... tirar aquela insegurança de mim.

Emily pôde sentir o rubor preencher-lhe as maçãs do rosto.

— Acho que tenho que te agradecer também – ela olhou para Maya – Eu não me sentia leve assim há muito tempo.

Isso era uma mentira. Ela nunca havia experimentado nada igual. Nem mesmo com Ali. Nunca havia se sentido leve – e livre – como se sentira naquela tarde. Foi como se o mundo e as preocupações extremamente banais do dia a dia não existissem.

E Maya a abraçou, parecendo emocionada novamente. Havia uma certa urgência naquele gesto e as duas permaneceram entrelaçadas uma na outra pelo que pareceu ser um longo tempo. Emily apreciava a sensação do peito de Maya subindo e descendo devido a sua respiração calma.

O ar-condicionado do carro deixava a pele exposta dos braços de Maya gelada, porém o hálito dela estava quente – e tinha um cheiro doce de chiclete de banana –, e em contato com o ouvido de Emily, provocava-a arrepios.

Emily simplesmente não queria que elas se desprendessem. Era gostoso abraçar aquele corpo pequeno. Ela juntou os lábios que ansiavam por beijar o pescoço de Maya e, dando-a um singelo beijo na bochecha, afastou-se, relutante.

— Espero que possamos repetir – Emily se ouviu dizer, antes de sair do carro. Repetir não apenas o dia, mas também aquele momento. Afinal, ela nunca havia se sentido tão próxima de alguém antes.

Maya assentiu. E alguma coisa na expressão dela passava convicção.

Antes de entrar em casa, Emily notou que o carro da mãe não estava na garagem. Era bom demais para ser verdade!

A porta do quarto de Carolyn estava aberta e a garota tinha os pés, ainda calçando all stars vermelhos, em cima da cama – a mãe a advertia diariamente para que não fizesse isso –, um livro no colo e headphones nas orelhas. Ela cantarolava uma música do Paramore enquanto balançava a cabeça.

— Ei! – Emily gritou.

Carolyn balançou a cabeça algumas vezes antes de gritar em resposta, sem tirar os headphones da cabeça.

— O quê?

— Cadê a mamãe? – Emily disse de modo a facilitar a leitura labial da irmã.

— Compras.

Emily assentiu, indo em direção ao próprio quarto porém ouviu Carolyn a chamando de volta.

— Voltou cedo do treino hoje, não? – ela tinha agora os headphones em volta do pescoço.

— Eu não fui ao treino – Emily se viu na vontade de dizer a verdade – Dez pratas se você ficar calada sobre isso.

— Uau! O preço do meu silêncio está aumentando! O que você fez dessa vez? – ela falou como se Emily sempre saísse da linha – É algo ilegal? – os olhos de Carolyn brilharam. Ela era com certeza a cata-encrencas da família.

Emily achou graça e disse que não, fingindo estar entediada. Mas, se jogando em sua própria cama segundos depois e pensando melhor, talvez fosse, se ela levasse em consideração o que os pais iriam pensar se soubessem o que ela estava começando a sentir em relação a Maya, sendo os cristãos rígidos que eram.

Mas agora o “estrago” já estava feito, pensou Emily, de olho no teto. Duas horas e vinte minutos foi o tempo que levou para que ela se apaixonasse. Por uma garota. Pela segunda vez. Só que desta vez ela não ia deixar que Maya escapasse por entre seus dedos.


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