Nothing Else Matters escrita por Miss Vanderwaal


Capítulo 3
As aparências enganam




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Depois que Emily achara a medalha de hóquei de Alison no dia anterior (e mantivera-a carinhosamente guardada no fundo de uma gaveta em seu guarda-roupa), assim descobrindo que ela viera de Chicago, seu coração se aquietara. Conseguira dormir mais profundamente e, naquela manhã, o sol parecia brilhar mais forte, os pássaros cantavam mais alto e ela notou que as folhas das árvores começavam a ter tons mais vívidos de marrom e vermelho. Inclusive os rostos dos alunos de Rosewood Day pareciam mais amigáveis, até mesmo o de... Toby Cavanaugh.

Assim que Emily entrou na sala para sua primeira aula do dia junto com grande quantidade da turma, Toby já estava lá, abrindo seu caderno em uma carteira da fileira oposta à porta, perto da janela. Ela parou por uma fração de segundo e sustentou o olhar em Toby. Ele tinha a mesma jaqueta jeans branca do dia anterior mas por baixo, desta vez, estava uma camiseta colorida do Grateful Dead. Pessoas vindas de reformatórios não deviam gostar de Grateful Dead, pensou Emily, o som deles é bastante... “não-demoníaco”.

Toby já tinha a esferográfica na mão direita e ia começar a anotar algo no caderno quando percebeu que estava sendo observado. Aquilo era... um meio-sorriso o que ela estava vendo brotar dos lábios do rapaz? Emily corou e, como em uma ação automática, sorriu também.

A terceira e última aula antes do almoço era de biologia. Todos se dirigiram para o laboratório. Emily gostava de aprender sobre o meio ambiente e sobre as demais coisas como o corpo humano. Ela era uma atleta, afinal, e saber como seu corpo reagia quando ela estava dentro da água sempre fora um grande fascínio seu.

Emily também gostava quando o professor, Sr. Craig, trazia aranhas ou lagartas em pequenos aquários de vidro para tornar as aulas mais dinâmicas. A única coisa ruim era que as bancadas do laboratório de biologia eram duplas, o que significava que Emily tinha que interagir. Talvez fosse por isso mesmo que ela não tinha amigos de verdade. Ela era péssima em interagir.

Enquanto folheava o livro de biologia esperando o professor passar a lição do dia, Emily levantou os olhos para onde Toby estava. De pé, ele falava com o Sr. Craig. Ela não conseguia decifrar sobre o que era, mesmo estando a apenas uma bancada de distância deles, mas quando o Sr. Craig apontou com a cabeça na direção onde Emily estava, seu sangue praticamente congelou. Ela encolheu os dedos.

Deus, por favor, aqui não.

Aqui não.

Aqui não!

– Acho que somos parceiros por hoje – Toby se pronunciou, ainda em pé, em uma voz simpática que, em um primeiro momento, surpreendeu Emily – Você se importa?

Não olhando diretamente para o rapaz, Emily ficou em dúvida gramatical se respondia “claro” ou “claro que não”. Acabou apenas por tirar a mochila do banco ao seu lado, dando espaço para Toby se sentar.

– Obrigado – disse ele, colocando seu material sobre seu espaço na bancada.

Toby era dono de uma voz um tanto rouca que Emily julgou ser... hã... sexy? Não!, ela fechou os olhos. Dentre todas as pessoas e coisas que ela já havia visto na vida, sexy era uma palavra que descrevia apenas um único alguém para Emily: Alison. E... e... ela não podia sair por aí descrevendo pessoas que ela mal conhecia com tal adjetivo. Emily se sentiu ridiculamente mal depois de pensar nisso. Era como se estivesse traindo seu primeiro amor.

Ela estremeceu em seu lugar. Pronunciou, em sua mente, as palavras “primeiro amor” com eloquência, sem medo. Ela havia esquecido como descrever Ali com tais palavras a fazia se sentir bem. Mas... será que Ali pensava nela da mesma maneira? Ela nunca havia dito nada. Está certo que dizem que um beijo vale mais que mil palavras, mas, desta vez, tal provérbio não era uma boa justificativa.

Emily desejava ter ouvido algo de Alison. Não era necessário um preciso “eu te amo” mas apenas um “ando sentindo coisas por você” já teria sido suficiente.

Emily mordeu a tampa de sua esferográfica cor-de-rosa. Alison estaria mesmo em Chicago? Estaria neste exato momento em uma sala de aula, mordendo a tampa de sua caneta e pensando em Emily?

Ela suspirou nervosamente, sentindo o estômago embrulhar. Ficar sem respostas nunca havia sido tão agoniante.

O sr. Craig ziguezagueou por entre as bancadas do laboratório distribuindo pequenos círculos de plástico transparentes que pareciam-se com porta-copos. Neles, segundo o professor, continham amostras de bactérias que só poderiam ser vistas com o auxílio de microscópios.

Havia apenas um para cada dupla, e o deles estava do lado de Emily. Ela deslizou o aparelho até o centro da bancada e deixou que Toby analisasse sua amostra primeiro. O garoto puxou o microscópio para mais perto de si e curvou-se para olhar através dele, dando uma leve risada em seguida. Sem que pudesse notar, Emily também o fizera.

Assim que terminou de observar, Toby retirou o seu círculo plástico do aparelho e estregou este a Emily. Seus olhos se encontraram nessa hora e ela pôde notar que os lábios dele se curvavam de forma tênue para cima, em um gesto extremamente doce e amigável. Algo dentro de Emily pulsou e, quando colocou os olhos nos binóculos do aparelho, percebeu que seus dedos tremiam levemente. Se sentia nervosa e desajeitada. Mas... ela não se sentia assim com a presença de praticamente toda pessoa nova com quem ela tentava interagir?

O resto da aula transcorreu tranquilamente, mas sem que nenhum dos dois dissesse algo, o que deixava Emily muito nervosa. Ela devia começar uma conversa? Tentar fazer com que ele se sentisse mais à vontade na escola nova? Porque, apesar de ser uma caloura no ensino médio, ela era veterana em Rosewood Day. Era a única escola da cidade e ela estava lá desde o jardim-de-infância.

Assim que o sinal para o almoço soou e o Sr. Craig disse “Certo, vejo vocês na sexta”, Emily começou a guardar seu material. Enquanto ajeitava as outras coisas na mochila, não percebeu que a folha com o desenho de uma laranjeira que ela fizera na última aula de artes caíra de um dos outros cadernos. Toby se agachou prontamente para pegá-la e entregá-la a Emily.

– Obrigada – agradeceu ela, meio sem jeito.

– Você que fez? – perguntou Toby, gentilmente – Posso ver?

Emily olhou novamente para o desenho feito somente com lábis 6-B e colocou-o sobre a bancada. A árvore ficava de frente para a janela da sala de artes e ela apenas fizera uma releitura sombreada. Nada de muito relevante. Arte não era o forte dela.

– Está muito bom – algo na expressão de Toby dizia a Emily que ele estava sendo sincero – Me faz lembrar um pouco dos quadros de natureza morta de Cézanne.

Emily franziu uma sobrancelha, em descrença, e riu.

– É sério?

– Bem, eu não sou O Cara das Artes, mas... – ele mostrou-a a parte de dentro da contracapa de seu caderno, onde havia um Homem de Ferro colorido que ocupava toda a extensão desta.

Emily juntou os lábios.

– Impressionante.

Toby sorriu, mostrando os dentes superiores desta vez, e guardou o caderno em sua mochila.

– O que um garoto solitário não faz em seus momentos de tédio, não é? – disse ele, se levantando já com a mochila no ombro – Foi bom falar com você, Emily.

Ela não respondeu. Embora eles não tivessem falado quase nada, Emily não pôde evitar ficar surpresa com o fato de ele ter decorado seu nome tão depressa. Estava lisonjeada. E quanto aquela primeira frase? Garoto solitário? Ainda que Toby tenha dito tal coisa com uma expressão divertida, solidão era uma palavra pesada e não parecia descrever aquele simpático rapaz que ficara quase uma hora ali junto dela. Timidez talvez, até introspectividade, mas solidão não.

Emily ainda não havia terminado de guardar o material e apenas ela e o Sr. Craig estavam no laboratório, embora o professor estivesse ocupado demais revirando em seus papéis para dar pela presença dela.

Ela permaneceu ali por mais alguns segundos, refletindo sobre como havia gostado de ver Toby sorrir e, sem que notasse, um singelo sorriso começava a brotar de seus lábios também.

Talvez Toby fosse ser seu primeiro amigo.


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Notas finais do capítulo

Em minha humilde opinião, Toby foi, é e sempre será um cavalheiro fofo, tanto na série quanto nos livros :3