Nothing Else Matters escrita por Miss Vanderwaal


Capítulo 10
Anjo da guarda


Notas iniciais do capítulo

Escrevi esse capítulo unicamente porque queria explorar mais a relação fraternal Emily/Carolyn que, infelizmente, não tem muito espaço nos livros.



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Emily acordou disposta naquela manhã ensolarada e, por um longo momento, se esqueceu que era sábado. Depois de lavar o rosto e pentear os longos cabelos, ela desceu e foi em direção a cozinha.

– Bom dia – ela sorriu para a mãe, que já organizava a mesa para o café da manhã.

– Parece que alguém acordou de bom humor hoje – disse Pam, como se Emily nunca a cumprimentasse ao sair da cama.

– Por que acha isso? – perguntou a garota indo em direção ao armário pegar uma caixa de cereal.

– Um palpite – a mãe deu de ombros.

– E o papai? – indagou Emily, se ajeitando em uma das cadeiras altas do balção da cozinha.

– Vendo uma daquelas reprises matinais de jogos de beisebol – Pam apontou para a sala com a cabeça.

Emily olhou na direção para qual a mãe apontava e notou que o pai estava sentado em frente à tv e tinha as pernas de Carolyn em seu colo. A garota tinha um livro na frente do rosto, claramente não dando atenção ao jogo, e duas tranças cor-de-cobre um tanto desarrumadas pendiam para fora do sofá.

Palavras não seriam o suficiente para Emily indicar o quanto gostava daquela tranquilidade.

– Ah, está certo, eu não consigo me conter – disse Pam sentando-se ao lado da filha – Por que não nos contou que ia ao Homecoming?

Por meio segundo, Emily perguntou-se como sua mãe sabia sobre isso, mas Rosewood era uma cidade pequena, e fofocar era o esporte favorito de seus habitantes.

– Eu ia contar – disse Emily – , mas há menos de doze horas atrás nem eu sabia que iria.

– Bem, e está claro que uma certa pessoa quer muito que você vá.

O sangue pareceu se esvair do rosto de Emily e o coração dela disparou. Maya? Mas como diabos a mãe poderia saber sobre o plano das duas? E então Emily deu-se o direito de se acalmar. Havia certa malícia na voz de Pam, e ela não parecia nem um pouco atordoada, o que com certeza pareceria se soubesse sobre Maya.

– O que quer dizer? – perguntou Emily, ainda um tanto nervosa.

– Meu bem, não me odeie, mas quando fui ao seu quarto abrir as cortinas, ouvi o seu celular fazer um barulhinho e o nome de um garoto apareceu na tela. Toby – Pam deu um leve sorriso – Juro que não apertei um só botão. Ele queria saber o que você iria usar hoje à noite para ele, então, poder escolher um terno que combine.

A mãe sabia do término de Emily com Ben (a filha havia despejado a bomba ainda naquela terça-feira, sem se importar realmente com a reação do público) e parecia realmente feliz em saber sobre Toby, tanto que Emily não pôde conter um sorriso também.

Assim que terminou de comer, Emily sentiu a mão do pai em seu ombro. Wayne sentou de frente para ela.

– Sua mãe me contou sobre o tal baile – disse ele com um sorriso travesso, exatamente o mesmo que ele costumava ter no rosto anos antes, sempre que trazia uma surpresa no banco de trás do carro para as filhas pequenas.

Wayne pescou a carteira do bolso detrás da bermuda e tirou de lá quatro notas de cinquenta dólares.

– Faz tempo desde que tive a chance de te dar um vestido pela última vez – disse ele, e Emily teve a impressão de que o pai estava emocionado.

– Papai, não – Emily tentou negar – As coisas hoje em dia estão bastante ecléticas. Tenho certeza que ninguém mais segue o padrão vestido-e-fraque-de-gala em Rosewood Day.

– Não discuta comigo, Emmy – ele fingiu severidade – Isto aqui vale pelo Natal e pelo seu aniversário. Agora vista-se e vá às compras. E que o vestido que você escolher não revele coisas demais – brincou.

Depois de rir, agradecer e abraçar Wayne, Emily enfiou-se debaixo do chuveiro e seguiu o conselho dele. Zanzou pelo King James – o único grande shopping de Rosewood – por uma boa meia hora. Ela detestava aquilo. Detestava fazer compras e provar roupas fora de casa. Ela não se importava em ter o vestido mais bonito e/ou mais moderno do baile, tampouco se importava se tal combinava com o terno de Toby. Ela estava pronta para escrever uma mensagem em resposta para ele dizendo que preto era a melhor opção, pois combinava com qualquer coisa, quando praguejou mentalmente, lembrando que tinha deixado o celular em casa.

Ela saiu de um dos provadores dentro de um vestidinho simples, amarelo creme, um pouco acima dos joelhos, solto e confortável. Um cinto branco e fino delineava sua cintura e dava um toque moderno à peça, que remetia a Emily os anos sessenta. Ela se olhou em um dos espelhos longos dispostos pela loja e gostou do que viu. Sua pele bronzeada contrastava com o tom claro do vestido assim como os cabelos escuros. Ela sorriu para sua imagem no espelho, respirando a mesma confiança da noite passada.

– Você está parecendo uma banana ambulante – disse Carolyn por trás de Emily, de braços cruzados e direcionando um olhar de desgosto para a peça que envolvia a irmã mais velha.

Emily quase pulou.

– Jesus! – exclamou ela – Por que você sempre faz isso?

– Porque é divertido – Carolyn sorriu vitoriosamente, passando a língua entre os dentes.

– O que está fazendo aqui, afinal?

– Eu segui você – disse Carolyn, orgulhando-se da façanha – Você não pretende usar isso hoje à noite, pretende?

– Desde quando virou minha consultora de moda? – Emily virou-se para a caçula, levemente irritada – Eu gostei.

– Está bem, camponesa, é a sua vida – Carolyn deu de ombros.

Emily suspirou.

– O que você quer?

– Bem, quero, em primeiro lugar, te entregar isso – Carolyn entregou a Emily seu celular – Você esqueceu.

A morena pegou o aparelho da mão da irmã com uma sobrancelha arqueada.

– Você não veio até aqui para me fazer uma caridade, não é?

– Mas é claro que não – afirmou Carolyn, calmamente – Por isso eu disse “em primeiro lugar”.

Emily revirou os olhos contendo um riso.

– Isso aí não custa duzentos dólares, certo? – Carolyn apontou novamente para o vestido.

– Não – rebateu Emily, sem tirar os olhos do espelho – , e se custasse, eu provavelmente não compraria.

– Esperava que dissesse isso – o sorriso da ruiva claramente dizia “boa menina!” – Enfim, o negócio é que eu meio que preciso de um empréstimo. Jodie vai fazer desesseis anos no próximo sábado e disse que vai convidar um garoto da Filadélfia “especialmente para mim”. Ele supostamente é muito legal e está ansioso para me conhecer.

Emily se virou para encarar a irmã.

– Então é para ela a festa no Country Clube?

Carolyn assentiu, sorrindo de um modo inocente e impaciente, e Emily teve que se controlar para não beliscar a bochecha dela. Tudo indicava que Carolyn ia conhecer o primeiro namorado. Havia algo mais fofo?

– E você quer que eu te ajude a escolher um vestido? – presumiu a morena.

– Um vestido não – Carolyn torceu o nariz – Não me dou bem com vestidos. Mas algo casual e mais feminino do que jeans e uma camiseta do Rolling Stones.

Emily conteve o riso mais uma vez ao ouvir a irmã de treze anos pronunciar a palavra “casual” e, depois de separar o vestido que iria levar, escolheu para ela um macaquinho verde-esmeralda, que evidenciava os olhos quase de mesma cor da caçula.

– Está linda – ela sorriu para Corolyn, que fez o mesmo, encabulada, enquanto olhava para a própria imagem no espelho.

– Posso fazer uma pergunta? – indagou a ruiva, enquanto a irmã mais velha abotoava o cinto fino marrom da peça para ela.

– Ah, Deus, lá vamos nós.

– Estou falando sério! – protestou.

– Diga – a expressão da morena se suavizou.

Carolyn pareceu pensar em tal pergunta antes de soltá-la.

– Quem é Maya?

Em um primeiro momento, o coração de Emily deu uma cambalhota e ela pareceu esquecer de como se respirava, mas depois notou a voz doce com a qual Carolyn fizera a pergunta, não soando perturbada ou inquisitiva, parecia estar apenas curiosa. Mesmo assim, Emily não soube o que responder e apenas baixou o olhar.

– Seu celular tocou enquanto eu vinha para cá – explicou a irmã – Eu achei que fosse o grude do seu ex-namorado querendo implorar para reatar e atendi sem olhar o visor direito. Você sabe que eu faço isso, às vezes, não é?

A morena assentiu. Sim, ela sabia. Carolyn gostava de colocar a paciência dos outros à prova e fazer trotes ou atender ligações alheias eram algumas de suas especialidades.

– Mas não era ele – continuou Carolyn – Em vez disso foi uma garota que perguntou por você. Eu achei que não fosse nada demais e disse que você ligaria de volta. Mas havia uma mensagem dela também, de antes, perguntando se “ainda estava tudo certo para hoje à noite” e no final ela dizia que estava sentindo sua falta.

A caçula sempre fora bastante enxerida, mas isso não parecia incomodar Emily, afinal, ela nunca fora uma pessoa que escondia segredos. Bem, até agora.

Parecia haver uma pontinha de algo parecido com decepção na voz de Carolyn quando ela concluiu a última frase, o que entristeceu Emily profundamente.

– Podemos não falar sobre isso aqui? – pediu ela, de repente se sentindo sem forças para defender-se.

Carolyn não protestou enquanto Emily a puxava para fora da loja em direção a um café do shopping, as duas já com as sacolas em mãos. A ruiva mordiscava o canudinho em sua lata de Fanta sabor uva, encarando a irmã mais velha.

– Então? – instigou ela, impaciente.

Emily suspirou e a frase clichê “não é o que parece” escapou de seus lábios sem seu consentimento. E afinal, não era mesmo o que parecia. Ela e Maya não estavam namorando.

– Emily, relaxa! – Carolyn riu do nervosismo da morena – Eu não sou como eles. Não vou te cruxificar só por você estar saindo com uma garota.

Por “eles”, Emily presumiu que Carolyn estivesse se referindo aos pais delas. No fundo, ela meio que já esperava uma reação como aquela por parte da irmã, que era esperta e antenada, mas mesmo assim, os olhos de Emily não deixaram de ficar úmidos. Carolyn havia dito “saindo com uma garota” com tamanha naturalidade! Como se isso não a surpreendesse nem um pouco, na verdade.

Emily ergueu o olhar e sorriu para a irmã, em um sincero “obrigada”, mas lágrimas queimavam em seus olhos e ela não sabia direito o porquê.

– Qual é o problema? – questionou a ruiva outra vez, parecendo preocupada.

Emily apoiou os antebraços na pequena mesa e descolou as costas do sofá que ficava rente à uma das paredes do local.

– Eu acho que estou genuinamente com medo – confessou ela em uma voz mais baixa.

– Então isso é bastante sério, não é? – Carolyn se inclinou para a frente também, os olhinhos verdes e travessos brilhando de contentamento – Você gosta mesmo dela!

Emily apertou os lábios, assentindo e pensando subitamente que parecia ter passado uma eternidade desde que ela havia visto Maya pela última vez. Ela lutou contra a ânsia de pegar o celular e ler a mensagem que a garota havia lhe mandado pela manhã.

Carolyn se levantou de sua cadeira vagarosamente, sentando-se ao lado de Emily, e ficou por um longo tempo em silêncio.

– E quanto ao menino, Toby? – questionou ela, cautelosa.

– Ele é muito especial. Mas acho que de um jeito diferente – disse Emily, antes de contar à Carolyn o que tinha em mente para aquela noite.

A caçula fez mais um período de silêncio e Emily ficou imaginando se, agora, Carolyn não pensava nela como um mau exemplo.

– Eu não quero apenas ser uma peste na sua vida – disparou ela, de repente.

– Como é? – Emily franziu uma sobrancelha, com um princípio de sorriso no rosto.

– Bem, eu queria que você pensasse em mim como o tipo de irmã com quem poderia falar sobre os “fatos da vida”.

Emily deu uma risada gostosa e a vontade de chorar evaporou.

– Eu já pensava – afirmou – Mas principalmente agora.

Carolyn sorriu timidamente e se recostou no ombro da irmã.

– Quero que saiba que nada mudou, Em – disse ela suavemente – Você continua sendo para mim o que sempre foi. Minha melhor amiga.

E outra vez os olhos de Emily se encheram d’água, porém desta, de felicidade. Ela sempre sentiu que sua conexão com a irmã era forte, mas aquela era a primeira vez, se é que Emily não estava enganada, que Carolyn a chamava de melhor amiga. E o sentimento era recíproco.

Sem palavras, ela apenas beijou a caçula na testa.

– E também quero que saiba que eu nunca gostei do Ben – pronunciou a ruiva em um tom cômico e descontraído – O cara tinha olhos de cafajeste desde o início.

Emily gargalhou outra vez.

– Sempre soube que você tinha caído de paraquedas em nossas vidas por alguma razão – disse ela, convicta, em meio a um abraço.


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Notas finais do capítulo

Podemos dizer que "a minha" Carolyn é beeeem diferente da Carolyn original, começando pelo fato de que, nos livros, ela é dois anos mais velha que a Emily (se não me engano), e não mais nova. Elas duas não são quase nada próximas e a Carolyn demora bastante a aceitar a sexualidade da irmã, chegando a se recusar a dormir no mesmo quarto que ela certa vez (o que me deixou profundamente enojada). Enfim, como sempre, escrevi para fazer eu me sentir melhor :3