O céu estava levemente pintado por um laranja sobre o azul que aos poucos ia ficando apenas mais escuro, além da complementação das nuvens já meio escuras por todos os cantos. O sol estava aos poucos sumindo, deixando a imagem de um pôr do sol perfeito. Não que o rapaz de cabelos róseos que andava pelos corredores solitários e quase silenciosos se não por seus próprios passos ligasse muito para o céu. Fazia algum tempo que já não conseguia apreciar algo bom de verdade além do café da lanchonete em que comia, perto de sua casa todas as vezes em que era obrigado a acordar cedo. Aquela era sua única realmente boa apreciação com o passar do tempo. Seus 26 anos estavam sendo mais complicados. Pelo menos aos 20 ainda conseguia fazê-lo — apreciar —, mas com a idade, passou a se dedicar mais ao trabalho. Não que isso fosse algo ruim, de qualquer maneira.

Estava andando desleixadamente pelo corredor, as enormes janelas de vidro ao seu lado refletindo uma luz laranja sobre a parede opaca creme de dentro do prédio. Tinha sido chamado na sala do diretor e sinceramente não fazia ideia do por que. Fazia algum tempo desde que fora chamado lá. Digo, não que ele não aparecesse na sala do diretor Makarov com frequência, porque ele era o “velhinho” — como gentilmente a maioria da escola o apelidara —, e não conseguia ficar muito tempo sem falar com seu amigo de nem tão longa data assim. Mas fora chamado pela secretária/assistente, Mirajane Strauss pessoalmente, então talvez fosse algo mais importante.

Andou pouco mais do que três minutos até chegar na sala do diretor. Bateu três vezes na porta de madeira e teve que bater mais duas segundos depois para que o diretor escutasse. Ouviu um pequeno “entre” e não hesitou em segurar a maçaneta e abrir a porta, vendo o velho sentado que a primeira vista parecia estar fazendo algo importante num de seus papéis, mas desenhava obscenidades enquanto carimbava por cima.

— Velhinho, você é uma figura — riu pelo nariz o rapaz, sentando na poltrona a frente da mesa principal, não esperando por uma ordem para isso. — Por que me chamou aqui? Algum aluno fez algo de errado?

Makarov virou a página e jogou a caneta em algum lugar aleatório da mesa, juntando as mãos e fitou o rapaz.

— Recebemos um pedido. — falou, procurando alguma coisa, abrindo gavetas. — Diga-me, Natsu: você sabia que Jude Heartfilia tem uma filha?

Enrugou a testa, parecendo pensar. Aquele Jude? Que havia perdido a mulher por conta de uma doença? Já tinha ouvido falar, mas não acreditava, não que importasse muito.

— Ouvi que tinha uma filha, mas como nunca vi, não cheguei a acreditar. Quantos anos a garota tem? — questionou.

— Dezesseis, dezessete, por aí, não lembro agora — deu de ombros, achando enfim o que procurava, um papel com um símbolo oficial da escola, uma fênix com rabo. Não fazia muito sentido, mas nem a própria academia tinha um nome lógico. — O nome dela é Lucy Heartfilia. Sim, ela tem dezessete anos e não sai de casa porque é doente. Não sabem que doença é e por que foi causada, talvez alguma complicação na gravidez de Layla, que infelizmente morreu, era uma boa mulher e maga. — leu o papel de cima a baixo, entregando-o ao rosado logo depois cujo passou a ler o papel.

Aquilo era uma surpresa. Natsu Dragneel era um cara que principalmente gostava de liberdade. Não que ser um professor demonstrasse isso, mas não sabia se conseguiria ficar preso dentro de uma casa se fosse doente. Talvez surtasse. Era explosivo — literalmente, tinha controle (ou quase) de uma magia de fogo — e talvez até algo parecido com claustrofobia sem tanta seriedade para sequer colocar-se no lugar de alguém assim.

— Certo... Mas por qual motivo exatamente me chamou para falar sobre isso?

— O pai dela pediu que eu achasse alguém para ensiná-la lá. Falou que não por muito tempo, só o necessário para “desencanta-la sobre a magia”, como ele mesmo disse. Como a maioria dos alunos gosta de você e eu sei bem porque, achei que estivesse mais apto já que a garota não fala com muitas pessoas e deve ser bem fechada. — explicou. — Entendo se não quiser aceitar e não o obrigo a isso, posso achar outra pessoa para o trabalho.

Como se Natsu Dragneel fosse capaz de rejeitar algum pedido, especialmente caso sentisse-se desafiado.

Balançou a cabeça, como se achasse um absurdo que Makarov pensasse aquilo.

— Eu aceito. Eu posso ir à casa da garota. Ela usa de que tipo de magia?

— É uma maga estelar, assim como a mãe que lhe deixou as chaves. Esse é outro motivo pelo qual o escolhi, essa magia é bem rara nos dias de hoje, quis deixar sob os cuidados de alguém em quem confio.

O rosado sorriu mostrando os caninos.

— Agradeço por confiar em mim o trabalho. Quando começo?

— Vou ligar para Jude. Se tudo correr como o esperado, você começa daqui a dois ou três dias. — explicou, levantando-se e indo até a porta com o rosado em seu encalço. Abriu-a logo depois, sorrindo desafiadoramente para o mesmo. — Combinado?

Natsu sorriu de volta.

— Eu estou empolgado.