Nunca Durma escrita por Hunter Pri Rosen


Capítulo 10
Caçados


Notas iniciais do capítulo

Oi!

Hoje o título do capítulo não é um verso da musiqueta do Freddy porque ninguém vai sonhar com o moçoilo queimado. Maaaaaaaas, mesmo assim, asseguro-lhes (ai tô falando difícil) que o capítulo está bem instigante mesmo assim. Teremos um pouquinho de cada casal e uma baita reviravolta no final para complicar a vida desses hunters apaixonados. Oi?

Peço desculpas pelo tamanho enooooooooorme do capítulo, mas me empolguei. Sacomé né?

Ah! O comecinho do capítulo se passa um pouquinho antes do final do capítulo anterior, então a Isabelzinha ainda está sendo atormentada pelo Frê (apelido carinhoso para Freddy, que já é um apelido) enquanto Rachel e Tony... Rachel e Tony... Humm... Vejam o que eles estavam fazendo enquanto a Isabel dormia.

Bem, lá vai! Espero que gostem da bagaça!



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Rachel não sabia por que, mas quando o celular de Tony começou a tocar Can't help falling in love e ele segurou a sua mão, lhe convidando para dançar mais juntinho, ela simplesmente foi.

A caçadora permitiu que o Estrupício colocasse aquelas mãos firmes em sua cintura, e se permitiu passar os braços em volta do pescoço dele e apoiar a cabeça em seu ombro, antes dos dois começarem a se movimentar lentamente ao som daquela música tão romântica.

Por mais que não levasse as cantadas de Tony à sério e não quisesse de jeito algum se envolver com ele, Rachel não podia negar que alguma coisa tinha mudado dentro de si naquela noite.

Surpreendentemente, o fato de Tony Carter existir não estava a irritando mais e a morena tinha que admitir que estava gostando da companhia dele. Até que o mequetrefe era bem agradável. Engraçado. Bonito. Cheiroso...

Sem perceber, Rachel fechou os olhos e aspirou profundamente o cheio inebriante da colônia que exalava do pescoço dele. Em seguida, soltou um suspiro, também sem perceber, e sorriu levemente, sentindo um calor engraçado em seu peito.

Por mais que não pudesse ver a expressão da garota, Tony havia ouvido ela suspirar e não conseguiu conter um sorriso de satisfação por causa disso.

No entanto, quando Rachel percebeu o que havia feito e a forma estranha como estava se comportando nos últimos minutos, um alerta se acendeu em um lugar remoto do seu cérebro e ela abriu os olhos rapidamente. Com um movimento cauteloso, ela afastou o rosto do ombro de Tony e procurou pelo olhar dele.

Rachel pensou em se afastar mais e acabar com aquela palhaçada de uma vez, mas algo a impediu. Isso porque Tony olhava fixamente para os seus lábios, de um jeito que a fez engolir em seco e sentir suas pernas ficarem um tanto trêmulas e o seu coração acelerar sem motivo aparente.

— Boneca... — murmurou o rapaz, enquanto uma de suas mãos subia pelas costas dela e a outra segurava com mais força em sua cintura, lhe causando um arrepio desconcertante.

Rachel queria saber o que Tony tinha em mente, o que iria fazer na sequência. No fundo, ela sabia muito bem, já que ele estava olhando demais para a sua boca e se inclinando sutilmente em sua direção.

Mas, tudo isso, de repente, fez aquele alerta disparar ainda mais em sua mente e ela se afastou de uma forma brusca, enquanto perguntava:

— Quantas músicas do Elvis você tem aqui mesmo?

A morena sentou na cama e pegou o celular, enquanto sentia o seu rosto ficando vermelho. Droga! O que significava isso? Ela estava virando adolescente de novo? Legal. E onde estava com a cabeça quando aceitou dançar daquele jeito com Tony? Ela só podia estar ficando maluca. Doida de pedra, isso sim.

Sentindo-se frustrado e surpreso com aquela súbita interrupção, Tony soltou um suspiro e respondeu desanimado:

— Acho que todas. Por quê? — antes que Rachel pensasse em uma resposta, ele se aproximou, sentou ao lado dela, lhe lançou um meio sorriso e perguntou: — Por acaso você quer ouvir It's now or never?

Rachel estreitou o olhar na direção dele, esboçou um sorriso amarelo e respondeu com desdém:

— Engraçadinho.

Sem se intimidar, Tony ficou a observando enquanto ela dava pausa na música que tocava e olhava, aleatoriamente, para as demais canções armazenadas no aparelho.

Discretamente, Tony se aproximou mais um pouco e, disfarçadamente, passou um braço em volta de Rachel, repousando a mão em seu ombro suavemente, dedo por dedo.

Com isso, a garota ficou um tanto tensa e se endireitou rapidamente, deixando sua coluna mais alinhada. Olhou para a mão de Tony em seu ombro e estava pronta para perguntar o que diabos ele estava pensando, quando um grito ecoou pelo corredor daquele andar da pousada e chegou até eles.

Os dois se levantaram imediatamente, enquanto Rachel deduzia preocupada:

— Isabel.

XXX

No quarto no final do corredor, Erik ainda olhava aflito para Isabel, que parecia ter tido um pesadelo assustador. A respiração dela estava ofegante e o pavor era visível em sua face. Então, tentando acalmá-la, o rapaz colocou a mão no rosto da garota, acariciando suavemente a sua bochecha e disse:

— Está tudo bem, foi só um sonho ruim.

Isabel sentiu uma espécie de corrente elétrica se espalhar pelo seu corpo diante daquele toque quente e suave em sua pele e, aos poucos, foi se acalmando e a sua respiração foi voltando ao ritmo normal. Mesmo assim, ela não conseguiu dizer nada. Estava concentrada demais, e perdida demais, naquele olhar tão acolhedor e intenso de Erik, para conseguir dizer qualquer coisa.

E Isabel queria, como ela queria, lhe dizer uma série de coisas. Queria lhe contar que tinha sonhado com Freddy Krueger, as ameaças que ele havia feito e por que estava assustada daquele jeito. Queria contar para Erik as coisas que aquele miserável havia dito sobre ela e sobre os relacionamentos que ela teve. Queria contar para ele que, infelizmente, era tudo verdade. Queria contar que ela era filha de um anjo com uma humana que tem sangue de demônio nas veias. Queria dizer que era por isso que os dois não poderiam ser mais do que amigos. Porque ela não servia para ele e para ninguém. Queria contar o que aconteceu com os seus dois últimos e únicos namorados, e que provava essa teoria. Queria afastar Erik de uma vez por todas, porque não queria que ele se machucasse por causa dela. Queria dizer que tinha muito medo disso e mais medo tinha do sentimento que nutria por ele.

Mas, apesar de querer dizer todas essas coisas, Isabel não conseguiu. Porque tudo o que ela conseguiu foi seguir um instinto e uma vontade irresistível de segurar Erik pelo colarinho da camisa que ele usava, trazê-lo para junto de si, fechar os olhos e pressionar seus lábios contra os dele com uma força que o assustou um pouco. Só um pouco, afinal, ele estaria mentindo para si mesmo se dissesse que não gostou daquele gesto impulsivo.

No entanto, antes que ele se acostumasse com a sensação deliciosa dos lábios de Isabel nos seus e mergulhasse de vez naquela boca que tanto desejava, ela o afastou, visivelmente envergonhada e um pouco ofegante.

Erik não conseguiu conter um sorriso, ao se lembrar de que aquela era a segunda vez que a garota o surpreendia assim, e então perguntou:

— Ok... Agora por que você fez isso?

Isabel engoliu em seco e passou as mãos pelos cabelos, antes de responder com sinceridade e de uma forma meio impensada:

— Porque me deu vontade. Desculpe.

O sorriso de Erik se alargou ao ouvir aquilo e, em seguida, ele replicou:

— Sabe, Isabel, você tem que decidir se quer só a minha amizade mesmo ou algo mais, porque desse jeito fica meio difícil de me controlar perto de você. — e voltando a segurar o rosto dela com uma das mãos, ele completou com os olhos fixos no dela: — E a propósito, está desculpada.

Então ele fechou os olhos e inclinou o rosto na direção da nephilim, que decidiu não pensar no que estava prestes a acontecer e simplesmente se entregou ao que tanto ansiava e sentia.

Sendo assim, ela se moveu um pouco para a frente, envolveu o rosto de Erik entre as mãos trêmulas, fechou os olhos e seus lábios estavam quase tocando nos dele, quando a porta do quarto foi aberta de uma forma abrupta e os dois se afastaram um pouco assustados.

Isabel e Erik olharam na direção da entrada e viram Tony adentrando o recinto, seguido por Rachel. Ambos seguravam suas respectivas armas e a preocupação estava estampada em suas faces. Eles olharam para os dois sentados na cama, muito próximos e com as mãos nos rostos um do outro, e arquearam as sobrancelhas simultaneamente diante do flagra.

Tony abaixou a arma e, depois de fazer o mesmo, Rachel olhou na direção de Isabel e disse com um sorriso contido:

— Eu pensei que tinha ouvido um grito e que você estava em perigo, mas, pelo visto, me enganei feio. Foi mal.

Imediatamente, Isabel e Erik se afastaram um tanto envergonhados, ela mais do que ele.

— Bem, — se pronunciou Tony, guardando a arma no coldre preso em sua cintura — desculpem pela interrupção e podem continuar de onde vocês pararam, pombinhos. Eu e a Boneca faremos o mesmo, não é, raio de sol?

Em seguida, ele se virou na direção de Rachel e com um meneio de cabeça, indicou a porta. A morena o fuzilou com o olhar, mas por fim, sentindo que estava sobrando ali, decidiu deixar o quarto. Mas, quando os dois estavam prestes a sair, Isabel levantou com um impulso e contou:

— Eu tive um pesadelo! — e quando Tony e Rachel deram meia volta e olharam para ela, a nephilim completou: — Com o Freddy.

— Tem certeza? — indagou Rachel surpresa e atônita.

— Sim. — confirmou Isabel afobada, tentando se lembrar de cada detalhe do pesadelo. — Ele ia me matar e... Eu acho que vai tentar matar todos nós porque... De alguma forma, ele sabe. O Freddy sabe quem nós somos e o que estamos fazendo aqui. Ele está... Nos caçando, eu tenho certeza.

— Que tipo de fantasma é esse? — questionou Tony intrigado, enquanto pensava um pouco.

— O tipo que faz isso. — respondeu Erik, indicando o lençol da cama.

Isabel olhou para o lençol, bem como Rachel e Tony que tinham acabado de se aproximarem. Então Erik ergueu o tecido e mostrou que ele tinha vários cortes, assim como parte do colchão onde antes a nephilim estava deitada.

Preocupada, Isabel passou as mãos por suas costas, mas logo respirou aliviada, já que não havia nenhum corte nem na sua roupa, muito menos em sua pele. Então ela se lembrou do pesadelo e de que Freddy surgiu de dentro da cama, daquela cama, mas não chegou a tocá-la. Mas o que teria acontecido se ele tivesse conseguido? Será que o fato de ser uma nephilim, e ter certa resistência e capacidade de cura, iria salvá-la?

Isabel acreditava que não, já que Freddy parecia muito seguro e convicto de que iria matá-la. Talvez nos pesadelos, os poderes dela não fossem suficientes. Talvez ela fosse tão vulnerável quanto as demais vítimas de Freddy Krueger. Assim como, no passado, ela se mostrou frágil diante do Slender Man.

Isabel sentiu um arrepio de medo percorrer o seu corpo ao se lembrar daquela ocasião e se encolheu um pouco.

Preocupado, Erik se levantou da cama e puxou a garota para um abraço dizendo:

— Ei... Vem aqui.

Isabel foi. Como não iria? Aceitou o abraço de bom grado. Correspondeu e enterrou a cabeça no ombro de Erik. Como poderia ser diferente? Ela estava apavorada e impressionada com aquele pesadelo, com medo de dormir novamente, com medo de que qualquer um deles dormisse, com medo de que Erik dormisse, com medo de perdê-lo, com medo de tudo aquilo. E ele, de alguma forma, a acalmava.

Rachel inclinou a cabeça e uniu as sobrancelhas enquanto observava aquela cena fofa. Pensou em fazer um coraçãozinho com as mãos, mas achou que o clima estava tenso demais para piadinhas. Então, ela apenas sorriu levemente, quando Isabel a encarou de volta por sobre o ombro de Erik.

Enquanto isso, Tony tentou uma reaproximação e passou um dos braços em volta de Rachel, mas ela logo se desvencilhou dele e se afastou um pouco, incomodada com a ideia de que estivesse lhe dando esperanças. E, principalmente, incomodada com a ideia de que estava começando a ver Tony de um jeito diferente.

— Vai ficar tudo bem. — assegurou Erik, repousando uma das mãos na cabeça de Isabel.

— Ele se alimenta do nosso medo. — balbuciou ela, sentindo seus olhos lacrimejarem ao se lembrar das coisas que Freddy falou para causar aquela sensação nela.

— Não importa, vai ficar tudo bem. — reafirmou Erik, a abraçando mais forte. — Quando o Henry e a Emily salgarem e queimarem os restos mortais do Freddy, isso vai acabar. É assim que funciona, certo?

— Por falar nisso, — anunciou Rachel, procurando pelo celular no bolso da calça — eu vou ligar agora mesmo para o meu priminho lindo e pedir para ele se apressar.

Ao ouvir aquilo, Isabel se desvencilhou do abraço de Erik, se recompôs e opinou:

— Eu não acho que seja um espírito vingativo.

— Como assim? — quis entender Tony, interessado em ouvir a teoria da garota.

Já com o celular em mãos, Rachel articulou:

— Freddy Krueger morreu há anos, os seus restos mortais estão enterrados em uma cidade longe daqui e tudo indica que é ele que está provocando essas mortes. Então, como não pode ser o espírito dele?

— Eu não sei. — admitiu a nephilim um tanto confusa com a própria sugestão, mas mesmo assim tentou explicar: — É que... As coisas que ele fez com as vítimas, as coisas que ele fez no meu pesadelo, a forma como ele entra nas nossas mentes e se comporta quando está lá... Eu não sei, mas talvez Freddy Krueger seja algo mais... Bem mais poderoso do que um reles espírito.

Todos ficaram em silêncio, avaliando aquilo e não podiam negar que havia lógica naqueles argumentos. Mesmo assim, Rachel selecionou o número do primo, colocou o celular contra a orelha e, enquanto aguardava ele atender, disse:

— Só tem um jeito de saber. Temperando e assando o desgraçado do Freddy. Se ele for um espírito, isso vai parar. Talvez ele até apareça no cemitério para um último susto antes de queimar até a morte de novo.

De repente, Rachel franziu o cenho e Tony indagou:

— O que foi?

— O Henry não atende. — respondeu ela, afastando o celular do rosto.

— Eu vou tentar a Emily. — anunciou ele, pegando o celular no bolso e ligando para a irmã. Mas, instantes depois, falou: — Só dá Caixa Postal.

Aflita, Isabel cogitou:

— E se eles pegaram no sono e o Freddy foi atrás deles? E se eles...

— Ei! Ei! — interrompeu Tony, disfarçando a preocupação que sentiu ao ouvir aquilo. — Minha irmã está bem, ok? Ela não deve ter atendido porque... Sei lá porque, mas com certeza tem uma explicação razoável. Talvez o celular esteja fora de área.

Notando que Isabel não estava convencida disso, Rachel argumentou:

— Como é mesmo que a tia Mia fala? Não entrar em pânico? Pois então, não entre em pânico. Vai ficar tudo bem.

Isabel sorriu mais calma ao se convencer de que aquilo era exatamente o que a sua mãe diria numa situação como aquela.

— Isso mesmo. — concordou Erik. — Não vamos entrar em pânico. Agora nós temos que ficar juntos, não dormir de jeito nenhum e esperar que a Emily e o Henry façam o que tem que fazer.

— E por enquanto, eu vou continuar ligando para o meu priminho para infernizá-lo, óbvio. — comprometeu-se Rachel, aproximando o celular do rosto.

— E eu para a minha irmãzinha. — completou Tony, fazendo o mesmo que Rachel.

Enquanto isso, Erik caminhou até a pequena copa, junto com Isabel, e serviu um pouco de café para ela, para Tony e Rachel, e por último para si mesmo.

Cafeína ajudava a manter o sono longe e era exatamente isso que eles precisavam naquele momento. Não dormir.

XXX

Longe dali, Emily começou a despertar, sentindo o movimento contínuo dos pneus do carro de Henry contra o asfalto da estrada por onde seguiam. Os dois tinham revezado e, desde que o caçador assumiu a direção, a ruiva aproveitou para cochilar um pouco.

Sentindo algo quente, cheiroso, firme e ao mesmo tempo macio servindo de apoio para a sua cabeça, Emily abriu mais os olhos e percebeu que tinha dormido no ombro de Henry.

Constrangida, ela se afastou imediatamente, endireitando-se no seu banco e murmurou:

— Ai meu Deus...

— Me chame de Henry. — brincou ele, achando engraçado o constrangimento dela.

Em seguida, o rapaz a observou, discretamente, pelo retrovisor. Emily era ruiva, tinha a pele bem clara e com algumas sardas bem suaves no nariz e nas bochechas. E era engraçado perceber que ela estava ainda mais vermelha, só que de vergonha.

Sem perceber, Henry sorriu diante da cena e, em seguida, voltou a olhar para a estrada logo a frente.

— Foi sem querer. — explicou-se a garota, sem olhar para ele, ainda envergonhada.

— Está tudo bem, Emily. Você só estava cansada. — replicou o rapaz, tentando encerrar aquela questão. — Mas eu confesso que depois do que aconteceu com a Rachel, eu fiquei com medo de você sonhar com o tal Freddy também. Por isso, se eu percebesse qualquer sinal de pesadelo, eu ia te acordar, tudo bem?

Emily sorriu, gostando da ideia de que Henry se preocupava com ela. Isso a fez se lembrar do passado e de todos os riscos que ele correu, na dimensão do Slender Man, para protegê-la.

Emily lhe devia tanto. Lhe devia a própria vida. E reencontrá-lo depois de tantos anos, tinha mexido com ela e feito aquele sentimento, que surgiu quando os dois eram crianças e passaram por tudo aquilo, ressurgir. Só que agora o sentimento estava mais forte e maduro.

Deduzindo que devia estar com cara de boba enquanto pensava sobre aquilo, Emily se endireitou no banco novamente, disfarçou e olhou para a paisagem pela janela lateral. Mas, voltou a olhar para Henry quando ele recomeçou a conversa:

— Eu ainda não entendi como você me convenceu a deixar o Tony ficar para trás. Com a Rachel. Ele é que devia ter vindo comigo, para me ajudar a cavar o túmulo do Freddy.

Depois de pensar por um instante, Emily expôs calmamente:

— Bem, em primeiro lugar, apesar de ser mulher, eu sou muito mais eficiente do que o meu irmão quando o assunto é profanar túmulos. Em segundo lugar, eu sei que você não gosta de imaginar o Tony perto da Rachel, mas, como irmã dele, eu sou a pessoa que o conhece melhor do que ninguém. E por isso, eu posso assegurar que o Tony tem boas intenções com a sua prima. Ele tem aquele jeito meio abusado e aparentemente descompromissado, mas acredite, Henry, ele está gostando dela de verdade. No fundo, eu acho que ele sempre gostou.

O caçador soltou um riso sem humor e resmungou incrédulo:

— Conta outra. Ele era um pirralho quando viu a Rachel pela primeira vez e você está querendo me convencer de que ele se apaixonou por ela à primeira vista? Quando ela também era uma pirralha?

Enchendo-se de coragem, a ruiva decidiu perguntar firmemente:

— Você acha que só por que duas pessoas são crianças, elas não podem se amar de verdade? Mesmo que elas só descubram que sentimento é esse anos mais tarde... Quando se reencontram?

Pego de surpresa, Henry não soube o que dizer, olhou Emily por alguns instantes e voltou a olhar para a estrada antes que se perdesse demais naquele olhar intenso e inquisidor que a ruiva mantinha sobre ele. Pensou mais um pouco, e só então se encheu de coragem também e replicou:

— Nós ainda estamos falando sobre a Rachel e o Tony?

— Eu não sei, estamos? — devolveu a garota, arqueando uma sobrancelha, enquanto o seu coração acelerava subitamente.

Emily não tinha ideia do que estava fazendo, mas ela precisava saber se era correspondida, se Henry sentia alguma coisa por ela ou não, precisava saber se não estava imaginando coisas ou se ele realmente a olhava de um jeito carinhoso, às vezes, e até com certo interesse, em outras vezes.

Quando eles se reencontraram no meio de uma estrada, na sala de espera do hospital em que Tony esteve internado há alguns dias, no estacionamento do lugar, em frente a delegacia de Springwood, no IML, na lanchonete, durante aquela viagem. Em cada uma dessas ocasiões, Emily havia pegado Henry a olhando daquele jeito.

Mas, por algum motivo, ele disfarçava imediatamente quando ela o fitava de volta de uma forma interrogativa, esperando que ele dissesse algo, que fizesse algo, que não a deixasse no escuro com aquele sentimento.

O silêncio no carro estava ficando aterrador, quando Henry respirou profundamente, tentando conter certo nervosismo que sempre sentia perto de Emily, e finalmente se pronunciou de novo:

— Eu sei o que você está tentando fazer, Emily. E por isso eu vou ser bem claro. Eu não quero te machucar.

Depois de se recuperar da surpresa por Henry ter sido tão direto, a ruiva decidiu retribuir:

— Por que você acha que me machucaria?

— Porque... — Henry começou a responder, mas não encontrou as palavras certas. Era difícil falar de si mesmo, ainda mais falar mal de si mesmo, mas ele precisava ser honesto com Emily e então prosseguiu: — Porque eu não sou quem você pensa que eu sou. Eu falo do seu irmão, mas eu sou mil vezes pior, Emily. Eu não consigo me prender a ninguém. Nunca consegui. Eu sou... Mulherengo, para usar um eufemismo. E por isso, eu... Eu acho que não mereço mais do que isso. Eu não mereço você.

Após um longo momento o observando atentamente e até com certa raiva, Emily expôs de uma forma direta e um tanto dura:

— Eu não sei que ideia você faz de mim, mas eu também preciso deixar uma coisa bem clara, Henry. Eu não sou nenhuma santa.

— Emily! — repreendeu o rapaz, boquiaberto.

Sem se intimidar, a ruiva prosseguiu:

— Eu sei que eu disse que tive alguns namorados, mas não pense que eles tiveram importância para mim. A maioria era apenas diversão. Uma diversão recíproca. Muitas vezes, era apenas sexo.

Henry ficou ainda mais boquiaberto. Era difícil ouvir aquilo da garotinha assustada e inocente que ele tinha conhecido há quinze anos. Mas a questão era exatamente esta: Emily havia crescido. Se tornado uma mulher. Uma mulher linda, decidida, resolvida, intimidante, apaixonante e muito sexy.

E isso deixava Henry ainda mais desconfortável porque a mulher que Emily Carter se tornou mexia demais com ele. Fisicamente e emocionalmente. Tanto que ele não sabia direito como agir perto dela.

Sendo assim, o caçador se mexeu um pouco no banco e pediu sem jeito e evitando olhar para ela:

— Será que você pode evitar a palavra... Sexo, porque me faz pensar em... Sexo.

Após um instante que pareceu uma eternidade, a ruiva estreitou o olhar na direção dele e provocou:

— Comigo?

Calor. Henry sentiu muito calor. Uma onda de calor excessivo que fez o seu rosto corar, o seu coração pulsar acelerado e uma parte do seu corpo acender de desejo.

Ele ficou tão desconcertado que quase saiu da estrada, mas conseguiu retomar o controle da direção à tempo e respirou fundo, tentando se recompor e parar de pensar em certas coisas impróprias.

Emily disfarçou um sorriso e olhou para a estrada, satisfeita por comprovar que mexia com Henry, tanto quanto ele mexia com ela.

Por fim, com a confiança renovada, a ruiva decidiu terminar o raciocínio, olhou na direção dele e articulou:

— Bem, o que eu estou querendo dizer com tudo isso é que eu não estou te pedindo em casamento, Henry. Eu não estou exigindo qualquer obrigação, qualquer compromisso. Só o que eu estou te pedindo é que, se você sente alguma coisa por mim, qualquer coisa, deixe acontecer e vamos descobrir onde isso vai dar. Se for apenas em diversão, que seja uma ótima diversão. Se for algo maior do que isso, nós voltamos a conversar quando chegar a hora de conversar. Até lá, relaxe.

Henry a fitou de volta, permitindo-se fazer isso de um jeito mais intenso. Sentiu o seu coração acelerar ainda mais e aquele desejo que sentia se misturar com um sentimento que também nutria por ela.

Não era só atração física. Se fosse, Henry não teria o menor problema em ter ido para a cama com Emily na primeira oportunidade. Mas além do desejo havia um sentimento. Puro, forte, verdadeiro. Era com isso que ele não sabia lidar, porque a única vez que sentiu algo assim, foi quando ele tinha sete anos e a conheceu.

Apesar disso, Henry decidiu ouvir o conselho dela, sobre relaxar e deixar as coisas acontecerem, e avisou:

— Eu vou me lembrar disso, Emy.

E depois de lançar um olhar rápido que percorreu todo o corpo dela e parou em seus olhos, ele voltou a atenção para a estrada e sorriu levemente.

Emily ainda o observou durante um bom tempo, satisfeita por ter conseguido abalar aquele muro que parecia existir entre eles. Por fim, suspirou, voltou a olhar para o caminho logo a frente e encerrou dizendo:

— Ótimo.

Enquanto isso, em algum lugar dentro de suas mochilas no banco traseiro, o celular de Henry vibrava sem parar e o de Emily estava sem serviço. Nem Rachel nem Tony conseguiam falar com eles.

Uma hora depois...

Finalmente Henry e Emily chegaram no cemitério onde Freddy Krueger havia sido enterrado. Porém, por mais que a ruiva tivesse insistido em ajudar o caçador a cavar o túmulo, Henry não permitiu e se encarregou de fazer aquilo sozinho, pois, por mais que ela fosse uma caçadora, primeiramente era uma mulher. Muito linda e delicada que não precisava fazer aquele serviço exaustivo, se ele estava ali para isso.

Então Emily pegou uma lata de querosene, uma de sal e um isqueiro no porta-malas, adentrou o cemitério, seguindo o rapaz, sentou em um dos túmulos, próximo do túmulo de Freddy Krueger, e ficou observando Henry cavando o lugar com uma pá.

Emily não podia negar que até que aquela imagem era bem interessante. Henry ligeiramente suado, indiscutivelmente lindo, fazendo aquele serviço braçal sob a luz de uma enorme lua cheia estampada no céu.

E enquanto assistia àquilo com certo fascínio, Emily tomou uma decisão muito importante. Quando aquilo acabasse, ela beijaria Henry. Simples assim. Não para pressioná-lo ou para tentar apressar as coisas entre eles, mas simplesmente porque precisava disso. Precisava dele.

A ruiva não podia imaginar, mas enquanto cavava o túmulo e sentia o olhar dela sobre si, Henry também decidiu que tomaria uma atitude.

Ele não conseguia esquecer a conversa que os dois tiveram no carro e, se Emily queria que ele relaxasse e descobrisse onde aquilo ia dar, era exatamente o que ele iria fazer.

Então, quando Freddy Krueger fosse carta fora do baralho, Henry beijaria Emily. Estava decidido. Simples assim. Porque ele também precisava dela. Muito.

Só de pensar nisso, os corações de ambos aceleravam de um jeito frenético e uma felicidade genuína inundava suas mentes.

XXX

Algum tempo depois, Henry jogou a última pá de terra para fora do túmulo. Então Emily levantou, se aproximou, trazendo o sal, o querosene e o isqueiro, e assistiu o caçador usando a pá para afastar a tampa do caixão, enquanto dizia:

— Desculpe, Freddy, mas chegou a hora de você virar churrasquinho de novo.

No entanto, quando o caixão finalmente foi aberto, tanto Henry como Emily olharam para o seu interior suspresos, confusos e até incrédulos.

Foi a ruiva que, após olhar mais uma vez para o interior completamente vazio do caixão, questionou:

— Onde estão os ossos?

Depois de enxugar o suor da testa com a mão e apoiar-se na pá, Henry resmungou frustrado, exausto e ofegante:

— É uma ótima pergunta.


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Notas finais do capítulo

Vamos por partes:

Onde diabos estão os restos mortais do Frê??? Eis a questão.

Well, até então, sociedade, esses hunters estavam pensando que estavam lidando com um espírito vingativo, certo? Mas, se o túmulo está vazio, então...? Será que o Freddy é um fantasma mesmo e seus ossinhos estão em outro lugar, ou será que o moçoilo queimado é outra coisa?

Com os próximos capítulos, iremos descobrir isso e muito mais!

Humpf! Só porque Hemily iam se beijar quando encerrassem o caso, as coisas se complicaram...

Mudando de assunto, acho que talvez vocês estejam se perguntando qual é o problema da Rachel com o Tony. Por que ela não deixa o bichinho se aproximar? Por que não quer se envolver? Por que se ele é aquela fofura de muchacho?

Bem, em algum momento, ela vai nos explicar essa postura, mas digamos que assim como o Henry acha (ou achava) que não é bom o suficiente para a Emily e que relacionamento sério não é com ele, a Rachel também tem os seus motivos para se esquivar deste jeito.

Maaaaaaas, conforme vocês devem ter percebido, os sentimentos dela estão começando a mudar. E quando os sentimentos mudam, minha gente... Sai de baixo kkkkkk

Por falar em sentimentos, e a Isabelzinha beijando o Erik de novo, hein? Ainda não foi um beijão de tirar o fôlego, maaaaaas, já deu para perceber que ela não está mais conseguindo resistir ao moçoilo Colt. Só amigos, né? Sei. Se Rachel e Tony não tivessem aparecido justamente naquele milésimo de segundo, garanto que esse papo de amizade teria caído por terra.

Ah! Viram que eu citei a Mia?

Por falar nisso, anuncio que em breve (mais precisamente no capítulo 12), Dean Winchester fará uma singela participação na fic.

Ah! Sobre Hemily, era um casal que eu estava com certa dificuldade de desenvolver, mas depois desse capítulo (Emily surpreendendo o Henry e mostrando que é poderosa, meu beeeeem!) acho que peguei o feeling da coisa. E a participação do Dean terá tudo a ver com esse casal kkkk

Quero anunciar também que a fic está na metade! Bem, pelo menos eu acho que tá né? Vai saber... Eu quero que ela tenha 20 capítulos, assim como a primeira temporada, mas como escrevo demais, é impossível precisar.

Bem, acho que falei tudo. Agora é com vocês! Reviews?

Bjs!



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