A Filha do Presidente escrita por Jess Gomes


Capítulo 9
Baile de 4 de Julho




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POR ELA

A noite chegou rapidamente e logo me vi rindo e brincando com Cam enquanto éramos arrumadas pelos melhores profissionais do país. Há algumas noites Camille me ligou pedindo perdão por ter mentido pra mim, e eu decidi por fim naquela birrinha idiota. Eu era quem havia sido imprudente, e não sei se suportaria uma festa com todos aqueles políticos falsos sem ter a minha melhor amiga do lado.

– Cabelo preso ou solto? – A loira me perguntou, me olhando pelo espelho, com o cabeleireiro atrás dela.

– Eu vou usar solto, então é melhor você usar preso, né? Pra a gente não ficar igual. – Respondi sem olhá-la, já que a maquiadora insistia em enfiar aquele lápis no meu olho. Algum tempo depois, estávamos livres para colocar nossos vestidos. O meu, um Valentino longo estilo princesa, numa cor nude e todo brilhante. O dela, um Donna Karan Resort 2012, vermelho e em estilo sereia. Seus cabelos loiros estavam presos em um coque firme, combinando com uma maquiagem forte. Eu estava com os cabelos soltos e ondulados colocados pra um lado só e uma maquiagem mais simples, porém que marcava meus olhos verdes.

Mal havíamos terminado de jogar spray no cabelo quando um dos funcionários do meu pai abriu a porta, dizendo que era hora de ir. Com Camille e vários seguranças atrás de mim – Dylan havia combinado de me esperar na festa – me encaminhei para o salão aonde eram feitas as festas do Estado.

O barulho do lado de fora era alto, mas assim que meu nome foi anunciado e as portas foram abertas, o salão parecia ter congelado. Fingindo não sentir os olhares sobre mim, caminhei lentamente entre as pessoas, sorrindo pra alguns conhecidos e acenando pra outros, até que esbarrei com Parkes.

– Amellie. – Me cumprimentou, seus olhos azuis sérios enquanto me observavam, chocados.

– Dylan. – Respondi, sorrindo debochada. O homem abriu a boca pra dizer mais alguma coisa, porém foi interrompido por um som alto. Imediatamente, nos viramos para o palco, aonde meu pai se encontrava com um microfone nas mãos e alguns representantes de Estado atrás.

– Boa noite, amigos e amigas. É com grande prazer que recebemos vocês na Casa Branca, para comemorarmos, juntos, mais um 4 de julho! – Sorriu, dando uma pausa para os aplausos. – Pois bem, não quero ser um empecilho para a hora da comida, mas me permitam dizer o seguinte. Há crianças hoje em todo o mundo perguntando aos pais o que há de tão importante no dia de hoje. E talvez alguns dos pequeninos que estão por aqui, correndo no gramado Sul, podem pensar que hoje é apenas uma desculpa para comer cachorro-quente. – Riu, sendo acompanhado pelos convidados. Eu apenas prestava atenção em seu discurso. – Mas vale a pena lembrar o que aconteceu há 237 anos e o que significou para o mundo.

“Em 4 de julho de 1776, um pequeno grupo de patriotas declarou que éramos um povo criado igual, livre para pensar e cultuar e viver como quiséssemos; que o nosso destino não seria determinado para nós, seria determinado por nós. Foi um ato de coragem e bravura. E foi inédito, impensável. E naquele momento da história humana, as decisões eram tomadas por reis, príncipes e imperadores.

Mas aqueles patriotas sabiam que havia uma forma melhor de fazer as coisas, que a liberdade era possível e que, para conquistar sua liberdade, estariam dispostos a abrir mão de suas vidas, de suas riquezas e de sua honra. E deram início a uma revolução. E poucos teriam apostado neles, mas pela primeira vez entre tantas outras que viriam, a América mostrou que aqueles que duvidavam dela estavam errados.

E hoje, 237 anos depois, essa improvável experiência de democracia, os Estados Unidos da América, se destaca como a maior nação da Terra. E o que nos faz grandes não é o nosso tamanho ou a nossa riqueza, mas nossos valores e nossos ideais e o fato de estarmos dispostos a lutar por eles. Uma terra de liberdade e oportunidades; um defensor global da paz e da liberdade; um farol de esperança para pessoas de todos os lugares que prezam esses ideais.

E também fizemos por merecer - vocês fizeram por merecer - pois, como parte de uma longa linhagem de pessoas dispostas a lutar por aqueles ideais, conseguimos não apenas preservar e aperfeiçoar essa união, mas também tentamos propagar essa luz para todos os outros lugares. Vocês, homens e mulheres combatentes dos Estados Unidos, e aqueles que vieram antes de vocês, desempenham um papel especial. Vocês defenderam nossa nação, aqui e no exterior. Vocês lutaram pelas crenças de nossa nação, para fazer do mundo um lugar melhor e mais seguro. Povos em vários cantos do mundo vivem em paz hoje, e estão livres para escrever seu próprio futuro, graças a vocês.

Então todos os dias, homens e mulheres ao redor de todo o país estão levando adiante os ideais que inspiraram aquele sonho americano há 237 anos. A defesa de nossa nação e de nossas liberdades com força e sacrifício é sua responsabilidade diária. E é a responsabilidade de todos nós, a responsabilidade de todos que servem em todo o mundo, inclusive nossas tropas que ainda estão em risco, e suas famílias aqui no nosso país. Elas também cumprem uma missão. E, por isso, pensamos nelas, rezamos por elas.” *

– E, em nome de todos os americanos, quero agradecer a vocês e desejá-los um 4 de Julho muito, muito feliz. Vocês fizeram por merecer. Que Deus os abençoe. Que Deus abençoe seus familiares. Que Deus abençoe os Estados Unidos da América! – Exclamou, e todos nós repetimos a frase que virou a marca de nosso país. – E com isso, deixo vocês com a Banda dos Fuzileiros Navais.

Papai se retirou do palco sendo ovacionado por todo o salão. Aos poucos, as pessoas foram se dispersando, e quando a música recomeçou, me virei pra Dylan.

– Você me concede a dança, senhorita? – Levantou a mão pra mim num sinal de cavalheirismo, e eu fiz uma leve reverência, entrando na brincadeira.

– Seria uma honra. – Respondi sorrindo e nos aproximamos, dançando uma valsa meio desajeitada. Ficamos alguns segundos em silêncio até Parkes voltar a falar.

– Sabia que você está linda essa noite? – Ele questionou e eu arquei as sobrancelhas, surpresa.

– Pensei que você nunca ia falar. – Brinquei, vendo Dylan fazer uma careta. – É, você também não está tão mal.

– Você disse mais cedo que tinha tido uma conversa ruim com o seu pai. – Comentou, me rodando. Eu franzi o cenho. – O que aconteceu?

– Ele não quer me deixar ir pra faculdade. – Suspirei, querendo deixar o assunto de lado.

– Você quer que eu converse com o Presidente? Você sabe que eu posso fazer ele mudar de ideia. – Parkes argumentou e eu cerrei os olhos pra ele.

– Não preciso da sua ajuda. – Expliquei e ele riu como se eu fosse uma criança birrenta. Mas antes que Dylan pudesse retrucar, meu pai se aproximou, colocando a mão em seu ombro.

– Parkes, será que você me permitiria dançar com essa linda dama? – Sorriu pra mim, porém eu desviei o olhar.

– Claro, Senhor. – Meu segurança concordou e se afastou, ignorando o olhar fuzilante que eu o lançava.

Papai colocou uma mão na minha cintura um pouco relutante, enquanto me observava.

– Você ainda está chateada comigo? – Perguntou e eu ri fraco.

– O que você acha? – Retruquei.

– Amellie, você tem que entender que eu só faço o que é melhor pra você. – Ele argumentou.

– E desde quando me proibir de fazer faculdade é o melhor pra mim, pai? – Questionei, já sentindo meus olhos se encherem de água. Eu já estava farta de ser tão limitada.

– Você já sabe o porquê. É perigoso demais.

– Se for pra ter a mesma conversa que hoje cedo, eu prefiro acabar por aqui. – Me soltei dele. – Parabéns pelo discurso, senhor Presidente.

Me afastei rapidamente, virando as costas pra ele enquanto o mesmo chamava meu nome. A única coisa que eu precisava agora era achar Dylan e poder finalmente desabafar com alguém.

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POR ELE

Após deixar Amy com seu pai, e ignorando seu olhar de ódio dirigido a mim, resolvi sair um pouco do salão para procurar algum lugar aonde eu pudesse ficar em silêncio, já que nunca gostei muito de barulho.

Suspirando aliviado pelo já notável silêncio em comparação ao salão, abri a porta da Sala China, que geralmente era usada pelas mulheres dos antigos Presidentes e que hoje é onde Amy se reúne com algumas colegas famosas, ás vezes. Porém eu mal havia pisado no cômodo e logo notei a presença de mais alguém. Sentada no sofá vermelho no centro da sala, Camille olhava para algum ponto fixo enquanto segurava uma taça de champagne.

– Desculpa, eu não sabia que essa sala estava ocupada. – Declarei assim que a loira ergueu os olhos pra mim, já me aproximando da porta.

– Não, fica. – Ela respondeu, fazendo com que eu parasse de andar. – Acho que nós dois não somos muito de festa. Prometo que você nem vai notar minha presença.

– Você não é muito de festa? – Ri, sentando ao seu lado no sofá. – Duvido.

– O que? Só porque eu sou jovem eu tenho que ser festiva? – Camille riu também, arqueando as sobrancelhas.

– Não, claro não. É só que você é bonita e tem esse estilo toda solta... – A loira sorriu surpresa e eu tratei de me corrigir, envergonhado. – Eu só quis dizer que você tem jeito de quem é festiva.

– As aparências enganam, Parkes. Sabia disso? – Ela tomou um gole de champagne, se aproximando de mim.

– Ah, como eu sei. – Respondi, me lembrando de como eu achava Amellie metida e mimada antes, e agora que a conheço vejo uma pessoa totalmente diferente.

– Eu gostaria muito de te mostrar quem é a Camille de verdade. A por trás das aparências. – A menina subiu no meu colo de repente, me fazendo arregalar os olhos.

– Camille, o que... – Comecei, sem respirar, mas ela colocou um dedo em meus lábios e fez um sinal para que eu me calasse.

– Não diz nada, Dylan. Eu sei que você quer isso tanto quanto eu. – Sorriu, beijando meu pescoço em seguida. Eu estava apenas em choque.

– Mas eu não que...- Antes que eu pudesse terminar minha frase, a garota juntou seus lábios nos meus, me puxando pra junto dela. Antes que eu pudesse associar direito o que estava acontecendo, a porta foi aberta de supetão, fazendo eu e Camille darmos um pulo.

Mas que diabos?

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POR ELA

– Amellie, não é nada do que você está pensando. – Dylan declarou, retirando a minha amiga nem um pouco delicadamente de seu colo. Eu apenas pisquei.

– Eu acho que o que eu to pensando não importa. Vocês não me devem satisfação. – Respondi depois de alguns segundos, embora algo dentro de mim gritasse que não era bem assim. Ignorando essa voz, comecei a me retirar da sala.

– A Amelesma está certa, Dylan, nós não devemos satisfação a ela. – Ouvi Camille zombando atrás de mim, e parei no mesmo momento. Espera ai, é o que?

– Do que você me chamou? – Questionei, girando nos tornozelos. Erguendo os olhos pra mim, a loira deu de ombros, deixando a taça de champagne de lado e abrindo um sorriso debochado.

– Ah, é isso mesmo. Cansei de me fazer de sua amiguinha pra você continuar apenas jogando na minha cara que eu nunca vou ser como você. – Ela se levantou, segurando as bordas do vestido vermelho que eu havia emprestado. Cada palavra que ela me empurrava era como uma agulha sendo cravada no meu estomago. – Você quer saber o real motivo pra eu ter me aproximado de você? Fama, Amellie, apenas por fama! Você realmente acha que alguém suporta conviver com você por livre e espontânea vontade? Olhe a sua volta, não existe ninguém aqui que não esteja sendo pago para ficar do seu lado! – Antes que eu me desse por mim, meu braço se estendeu acima da minha cabeça e logo em seguida um forte som de tapa foi ouvido. Camille, que tinha os olhos transbordando de ódio, passou a mão na bochecha agora vermelha, rindo.

– Isso, sua sonsa, me bate! Faça algo por você pelo menos uma vez na vida! – Outro tapa foi ouvido, então outro, e outro, e logo me vi literalmente encima de Camille. Por incrível que pareça, era terapêutico poder puxar seus cabelos loiros ou deixar suas bochechas mais vermelhas. Por que nenhum psicólogo havia me apresentado isso antes?

– Chega, chega! – Senti os braços de Dylan ao redor de minha cintura, e logo fui retirada de cima de Camille, que tentava se recompor. Sorrindo satisfeita pro meu trabalho, limpei a mancha do meu batom e comecei a me dirigir pra saída. – Você tem cinco minutos pra sair daqui e nunca mais voltar, Camille, cinco minutos. – Parkes ordenou, antes de me seguir. Parando um segundo no batente da porta, virei-me para minha antiga melhor amiga, que bufava de ódio.

– Não se esqueça de devolver o meu vestido e as joias que eu te dei. – Pisquei pra ela, que grunhiu.

– Seu vestido? Olha o que eu faço com a merda do seu vestido, Barbie! – Gritou, segurando nas duas pontas do decote e o puxando, fazendo com que o mesmo se rasgasse até perto da cintura. Depois ela puxou várias camadas da saia, ficando só com o forro. Se dando por satisfeita, ela jogou os cabelos para trás e sorriu pra mim. – Acho que agora eu não posso te devolver ele, né?

– Não tem problema. – Sorri de volta pra ela. – Eles fazem outro sob medida pra mim.

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POR ELE

– Amy, espera! Vamos conversar. – Chamei, poucos passos atrás da menina que segurava a saia do vestido enquanto corria pelo jardim Norte.

– Me deixa em paz, Dylan. Eu só preciso ficar um pouco sozinha. – Ela respondeu, parando de correr, mas sem se virar pra mim.

– Não precisa, não. Eu sei que foi difícil pra você ouvir aquelas coisas da menina que você pensava ser sua amiga e sei que você quer conversar. – Caminhei até parar na sua frente, colocando a mão no seu ombro. Amellie piscou os olhos verdes cheios de lágrimas pra mim, rindo com o nariz.

– Você não entende, não é? Parkes, eu estou mais do que acostumada com isso. Você não faz ideia de quantos “amigos” eu ganhei e depois perdi só por ser quem eu sou. Não posso dizer que esperava isso de Camille, mas... Até que demorou. – Deu de ombros, andando mais um pouco. Eu fui atrás, novamente.

– Mas você não acreditou no que ela disse sobre ninguém estar perto de você por livre e espontânea vontade, certo? Porque Amy, eu posso até estar sendo pago, mas eu gosto de você de verda...- Parei quando vi que ela ergueu a mão aberta pra mim, pedindo pra eu me silenciar. Confuso, a encarei.

– Dylan, o que é aquilo? – A menina apontou e eu segui com o olhar, até focar em algo que boiava na piscina. Corri até lá, com Amy em meu alcanço, apenas para confirmar o que eu já suspeitava. Um corpo. – Ai meu Deus! – A ouvi exclamar atrás de mim, enquanto puxava o corpo que boiava perto da borda pelos braços. Ao colocá-lo no chão, percebi que não havia pulsação.

– Está morto. – Garanti, reconhecendo o homem como um dos seguranças do Presidente. Eu tinha certeza que essa morte não havia sido um acidente.

– Espera, o que é isso? – Novamente, a menina apontou para um papel que escapava do bolso do paletó do homem. Pegando-o, rapidamente identifiquei a mensagem através do borrado causado pela água:

Um meu, um seu, Dylan. É assim que funciona o jogo. Vamos ver quem fica sem cartas primeiro?


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