A Filha do Presidente escrita por Jess Gomes


Capítulo 8
Tête-à-Tête




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POR ELA

A Casa Branca estava simplesmente insuportável. Os corredores estavam lotados de gente, todos correndo para que tudo ficasse pronto pro Baile de 4 de julho que aconteceria a noite. O caminho até o gabinete do meu pai estava muito mais complicado do que geralmente é, e acabei esbarrando com ele em um dos corredores que levavam a sala vermelha. Afinal, era meio difícil não reconhecer o Presidente, com seu terno preto e uma dezena de seguranças atrás.

– Amellie, bom dia! – Ele me cumprimentou e eu sorri amarelo.

– Pai, preciso falar com você. – Respondi.

– Querida, agora eu não posso. Tenho que fazer uma declaração aos Estados Unidos daqui há pouco. – Explicou entrando na sala e eu o segui, junto com os seguranças e os assessores.

– Eu não vou demorar, eu juro. – Segurei em seu braço, fazendo com que ele prestasse atenção em mim.

– Tudo bem, talvez eu tenha uns minutos. – Suspirou, sentando-se no pequeno sofá vermelho, um pouco distante da onde eram preparadas as coisas para o anúncio. Eu sentei ao seu lado.

– Na verdade, eu só queria te mostrar umas coisas que eu achei na internet. – Falei, lhe entregando algumas folhas impressas. – É sobre a Universidade George Washington, uma das melhores do país. Ela fica a quatro quarteirões daqui, e o campus de Direito, a George Washington University Law School, é frequentemente citada entre as mais prestigiadas dos Estados Unidos.

– Han, tudo bem, tudo bem. Mas quando eu permiti você a fazer faculdade? Porque eu não me lembro. – Adam me interrompeu, com um sorrisinho no rosto. Eu cocei a garganta antes de argumentar.

– Eu tenho dezoito anos, não preciso da sua permissão pra fazer faculdade. – Retruquei e ele riu, como se eu fosse uma criança dizendo que o México não fica na América do Norte.

– Acho que precisa, Amy, afinal essa faculdade é privada. Você precisaria de um doador.

– De qualquer forma, pai, qual o problema em fazer faculdade? Estamos no século XXI, sabia? – Aumentei o tom, chamando a atenção de algumas pessoas ao redor.

– Amellie, por favor, nós falamos sobre isso depois, ok? – Ele massageou as temporadas, me devolvendo as folhas de qualquer jeito. Eu levantei de supetão.

– Não, Adam, eu não vou falar sobre isso depois! Por que é sempre assim? Por que sempre que eu te peço alguma coisa, você pede pra falarmos sobre isso depois, como se eu fosse uma criança irritante? A questão é que nós nunca falamos sobre isso depois, você sempre abandona o assunto como se nada ao meu respeito te importasse! – Exclamei furiosa, mas meu pai continuava olhando pra mim como quem olha pra uma TV muda.

– Acabou? – Levantou uma sobrancelha.

– Ainda não. – Sorri falsa, pegando as folhas que ele havia me devolvido e colocando delicadamente ao seu lado. – Eu vou fazer essa faculdade, pai, nem que para isso eu tenha que gritar pra Deus e o mundo que Adam Joseph Lockwood é um machista egocêntrico que não deixa a filha ir pra universidade, e então você se verá obrigado a fazer minha vontade, caso queira se reeleger na próxima eleição. – Dito isso, abandonei a sala, com um sorriso vitorioso no rosto. Estava perto do meu quarto quando uma moça de óculos se aproximou.

– Senhorita Lockwood? – Chamou com a voz falha e eu assenti, impaciente. – O Valentino que a senhorita encomendou pro baile acabou de chegar.

– Pro inferno com o Valentino e com essa merda de baile! – Empurrei-a ligeiramente, apenas para abrir a porta do meu quarto e dar de cara com Parkes sentado em minha cama com as sobrancelhas arqueadas.

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POR ELE

– Parece que alguém acordou de mau humor hoje. – Zombei, após ouvir Amellie gritar com quem quer que fosse a pobre coitada que entrou no seu caminho. A menina apenas revirou os olhos verdes pro meu comentário.

– Tive uma conversa ruim com meu pai. – Ela deu de ombros, e eu me segurei pra não perguntar o que havia acontecido. Não tinha visto o Presidente desde que ele havia chegado de viagem, e ainda não havia lhe contado sobre Christopher. – O que você está fazendo aqui?

– Tenho novidades sobre a carta. – Anunciei e Amy se aproximou, curiosa. – De alguma forma, um maníaco que tínhamos deixado na sala de interrogatório conseguiu entrar aqui e deixar aquilo.

– O quê? Mas como ele conseguiu entrar aqui? Como assim maníaco? E o que ele tem a ver com a minha mãe? – Ela disparou, sentando-se ao meu lado. Eu fiz sinal para que ela se aproximasse.

– Provavelmente era só um antipatriota querendo brincar com você, Amellie. Não acho que ele tenha realmente algo a ver com a sua mãe. – Respondi e a garota assentiu, chateada. – E a respeito dele ter entrado aqui, ainda não sabemos como... mas assim que descobrirmos vamos reparar o erro e isso nunca mais vai acontecer.

– Então era só uma brincadeira? – Ela riu sem humor, os olhos verdes cheios de água. Concordei meio sem graça. – Tudo bem, não era como se fosse a minha mãe querendo falar comigo do mundo dos mortos. Eu sou uma idiota por achar que isso poderia ser sério.

– Amy, você não é uma idiota. – Retruquei, a puxando pra um abraço. Enquanto eu afagava seus cabelos, ela se permitiu chorar. – Você é só uma menina que sente saudades da mãe, só isso.

– Por que alguém acharia graça de uma coisa dessas? O que eu fiz pra esse homem querer brincar comigo desse jeito? – A garota choramingou, me apertando mais forte. Eu respirei fundo, controlando a raiva que estava sentindo de Christopher. Ele não tinha o direito de deixar Amellie desse jeito.

– Esse tipo de gente não precisa de um motivo, baby. Eles só precisam de 10% do cérebro. – Comentei e ela riu fraco contra meu terno. Ficamos um bom tempo daquele jeito, abraçados, até Amy se recuperar e se afastar.

– Tudo bem. – Ela suspirou, limpando os resquícios de lágrimas que havia nos cantos de seus olhos. – Já passou. Vá fazer o que você tiver que fazer, já que eu tenho certeza que você não tirou o dia pra ficar me consolando.

– Tem certeza que você está bem? – Questionei e Amellie assentiu. – Hm, ok, eu realmente tenho uma coisa pra fazer. Você vai sair hoje?

– Não. Daqui a pouco a Cam vai chegar pra gente se arrumar pro baile. – Ela fez uma careta e eu ri, me levantando.

– Tudo bem então. Nos vemos no baile. – Despedi-me dela com um beijo em sua testa, a qual ela respondeu com um sorriso. Um pouco mais leve do que quando entrei, sai do quarto de Amy, indo em direção ao gabinete do Presidente. Ao chegar, descobri que o mesmo não havia chegado e que eu poderia esperá-lo na sala. Minutos depois, Adam entrou, sorrindo ao me ver.

– Dylan Parkes, como você está? – Ele se aproximou e eu me levantei para cumprimentá-lo.

– Estou ótimo, senhor. – Respondi e Ele sorriu, se sentando na famosa cadeira de couro. Ofereceu-me uísque enquanto se servia e pela primeira vez, eu aceitei. – Na verdade, eu só vim te contar as novidades desses dias que você passou fora.

– E então? – O Presidente balançou a cabeça, me incentivando a falar. E foi exatamente isso que eu fiz. Contei do parque, do suspeito, do fato dele só aceitar falar comigo depois de horas e de descobrirmos que na verdade ele era só um antipatriota maníaco. Ocultei a parte da carta, como Amellie havia pedido, mas de qualquer forma, Adam se interessou mais na parte do cara de ter sido apagado.

– Mas senhor, mesmo o homem não sendo um terrorista, ele era perigoso pra sociedade. Ele era perigoso até mesmo pra você! – Exclamei, tentando convencê-lo de que havíamos feito o certo.

– Não sei, Dylan, não sei. Se a mídia descobre que sumimos com um “vendedor de algodão doce”, vai ser dor de cabeça pelos próximos dois meses. – Retrucou, coçando a barba escassa. De repente, Ele balançou a cabeça, como se quisesse esquecer o assunto. – De qualquer forma, o que foi feito, foi feito. Mas da próxima vez, me comunique antes de tomar uma decisão.

– Sim senhor. – Concordei com a cabeça. – Já posso ir?

– Claro, vá pra casa e se arrume pro baile desta noite. Ele vai estar cheio desses mauricinhos filhos de deputados e eu quero que você fique de olho em Amellie. – Falou em tom de brincadeira, mas com a expressão séria. Eu assenti, sorrindo.

– Pode ficar tranquilo, Presidente. Eu vou cuidar muito bem da sua filha.


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