A Culpa é dos Gatos escrita por Kaori


Capítulo 1
Capítulo 1




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Seria uma grande mentira dizer que senti a falta dela.
Desde o término do namoro, estive bastante ocupado em festas e baladas, fodendo intensamente com qualquer uma que aceitasse uma bebida e, depois, um quarto de motel. Acreditem, isso distraí o suficiente para não sentir falta de ex-namorada nenhuma.

Mas depois de alguns meses nessa vida intensa, de ir embora antes que ela te peça para dormir de conchinha com você, antes de deixar que qualquer possibilidade de algo além do sexo surja, chegou um momento em que comecei a me perguntar que porra eu estava fazendo. Não, eu não liguei pra ela de novo. Existem coisas que simplesmente não existem volta.

Mas aconteceu coisas que me fizeram pensar em que tipo de pessoa eu estava tentando ser. No que eu queria e o que eu estava fazendo para conseguir.
A gente julga que as pessoas são interesseiras. Que não se acha mulheres interessantes, que levam as coisas à sério. Claro... eu não encontraria essa mulher nos lugares que eu estava frequentando. Roupas de marca, drinks caros, que tipo de mulher eu estava querendo atrair?

Acontece que eu conheci uma garota. Num desses cafés, de manhã tentando matar a ressaca. E eu não sei em qual momento entre um “Bom dia”, o incrível bom humor dela em contraste com o meu mau humor, seu interesse divertido na minha desgraça de estar ali acabado diante de uma xícara de café, curtindo uma dor de cabeça desgraçada da noite passada e ela e seu livro que eu nem lembro o nome, ajeitando os óculos enormes e sorrindo pra mim que foi que alguma coisa finalmente aconteceu comigo.

Troca de telefones, ligações descontraídas no horário de almoço e, com o tempo, no fim da tarde para combinar algo para o final de semana à noite. Pelo tom da voz dela, dava pra notar que ela conversava sorrindo. E sem querer, eu me pegava lembrando disso. E sem querer, me peguei sentindo medo.

— Acho que isso não está certo.
— Por que? A comida não está boa?
— Não, não é isso. O que a gente está fazendo?
— Saindo pra jantar?
— Não foi o que eu quis dizer...

E ela apontava para os artistas de rua, fazendo mímica no sinal fechado pela janela de vidro do restaurante e tentava imitá-los depois, esticando as mãos como se apoiasse em um vidro imaginário e fazendo uma careta engraçada. Dei risada daquilo. Aquela garota... era uma menina em forma de mulher. Era o tipo de pessoa que qualquer homem sério gostaria de estar saindo. E eu não era um homem sério.

— Eu não sou o tipo de cara que você vai querer sair mais vezes.

Ela me olhou com um sorriso de quem não está entendendo nada.

— Não vou?
— Eu não sei aonde a gente está levando essa situação. Você me liga no meio da noite pra contar que não consegue dormir com os gatos trepando na sua janela. E a gente ri disso e fica horas conversando até você apagar. Droga, você começa a me olhar desse jeito e... eu não sei o que fazer!
— Tudo bem, sem ligações na madrugada então. — ela riu sem graça.
— Não é isso. Eu não quero te magoar. E nisso eu tenho diploma.

Ela pegou o suco e bebeu. Nada de álcool. Canudinho na taça. Só ela mesmo.
Me encarou com uma expressão que nunca consegui definir, talvez ela entendesse meu receio, meu medo de tentar algo novo ou começar tudo outra vez e acabar no mesmo ponto que eu sempre acabava. Mas com a pessoa errada. Com a pessoa que não merecia nada menos que um cara decente.

— As pessoas sempre querem sinceridade uma das outras. Querem mais verdades, mais cara limpa. Acho que você não está sendo sincero com você mesmo. Por que não se dá uma chance de aprender com todas as suas experiências e não tenta algo novo? Às vezes a gente quer algo, mas não se permite ter ou não faz por onde. Eu estou dizendo, sinceramente, que quero continuar te vendo. Porque gosto de você.

E isso não saiu mais da minha cabeça, desde a última vez que a vi. Agora estou aqui, derrubado no sofá, incapaz de me concentrar na TV, os olhos vidrados na luz que a tela do celular projeta no escuro da madrugada, encarando o nome dela na agenda do celular e me perguntando porque diabos ainda não liguei para ela. Pra falar qualquer bobagem. Pra convidar para sair mais vezes... Ou quem sabe, trazê-la até aqui...
É estranho saber que alguém gosta de você. Alguém que realmente vale à pena. Mais estranho ainda se dar conta que você também sente isso. E aqui vai um ‘foda-se’ para todas as dúvidas, vadias comidas, orgias e os relacionamentos fracassados.

Eu quero aquela menina.
E dessa vez é pra valer.

— ... Alô...?
— Oi. Te acordei?
— Não... — um bocejo — Está tarde, mas os gatos não me deixam dormir. — riso.
— Se quiser, eu não tenho gatos pra te perturbar por aqui. Mas talvez queira perder mais uma noite de sono comigo...


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