Havia dormido (ou desmaiado) no quarto do hotel no dia anterior e acordei com Mathew jogando água gelada em meu rosto. Levantei-me rapidamente, com uma expressão irritada, fuzilando-o com os olhos.

—É melhor você correr...—Falei erguendo minhas mãos em punho, movimento que o fez cair na própria cama e colocar o travesseiro no rosto.

—No rosto não!—Riu ele enquanto eu dava socos fracos em sua barriga—É meio dia e o idiota ligou.

—Meio dia?! Por que não me acordou antes?—Falei pegando seu travesseiro e batendo em seu corpo com ele.

Parei de bater nele e corri até o banheiro, onde havia deixado minhas roupas, e entrei no chuveiro. Tomei banho enquanto escovava os dentes e troquei de roupas rapidamente logo depois. Peguei meu cinto sobre a cama e o coloquei por baixo da blusa. Peguei meu telefone sobre a cômoda e disquei o número de Nicholas, que atendeu no segundo toque.

—Hey, bela adormecida de olhos azuis—Revirei os olhos ao ouví-lo—Sabia que já é meio dia?

—Sim. Eu sabia, garoto idiota. Mathew só me acordou agora—Falei revirando os olhos ao ver Mathew mostrando a língua para mim.

—Claro... Mathew. Queria saber se você gosta de filmes de terror, para podermos assisti-lo hoje a noite—Falou ele e suspirei.

—Sim. Gosto de filmes de terror. Mas só assisto se você não ficar se agarrando de medo em mim, igual a Mathew—Ri ao ver Mathew me olhando de cara feia.

—Não vou te agarrar de medo, mas quem sabe te agarro por outras coisas—Disse ele em um tom malicioso.

—Faça isso e eu te jogo na Austrália—Falei em um tom irritado.

—Calma, olhos azuis—Falou ele sorrindo do outro lado da linha—Vou te encontrar no cinema as oito horas, pode ser?

—Okay. Nem pense em se atrasar, garoto idiota—Falei desligando o celular e jogando-o em minha cama.

—E então, "olhos azuis"—Começou ele fazendo uma voz falsa—Que horas você vai se encontrar com o senhor idiota?

—As oito. Espero que não me siga como daquela vez que encontrei um lobisomem—Falei me lembrando de dois anos atrás, quando estava caçando um lobisomem—Markus tinha dito muito bem para você ficar no QG e você tinha que me seguir...

—Ele estava quase te atacando—Falou ele sentando-se na cama.

—Eu ia atirar no coração dele. Não precisava atirar por trás—Falei irritada.

—Tudo bem... Não vou te seguir, mas ainda desconfio dele—Disse ele me fazendo revirar os olhos e sentar ao lado dele.

—Você é tão ciumento...—Falei dando um leve beijo na bochecha dele, o que o fez corar.

—É tão estranho te ver "fofa"—Falou ele me fazendo dar um tapa em seu braço—Você é bipolar...

—Eu sei—Falei me levantando e puxando-o—Vamos almoçar. Estou morrendo de fome.

—Você pode ser menos bipolar?—Falou ele fechando a porta do quarto, enquanto eu o puxava até o elevador.

—Hm... Acho que não—Falei entrando no elevador e apertando o botão do térreo.

—Vou ter que viver com uma garota bipolar e violenta pelo resto de minha vida... Demais!—Exclamou Mathew ao saírmos do elevador.

—Provavelmente um pouco mais—Falei saindo do hotel, indo na direção de um pequeno restaurante próximo—Posso te irritar muito quando você morrer. Sabe que posso fazer isso.

—Infelizmente eu sei...—Riu ele entrando no restaurante atrás de mim.

Sentei-me em uma das mesas vazias, esperando enquanto Mathew ia ao banheiro. Impressionante como aquele garoto consegue ficar mais tempo no banheiro do que eu ajeitando meu cinto de armas.

Após algum tempo ele chegou e pedimos o almoço. Observei todas as mesas, pensando com uma expressão séria ou dura demais, pois atraí a atenção de Mahew, que estralou os dedos em frente a meu rosto.

—Hey, esquentadinha. Está tudo bem?—Perguntou ele me olhando com uma sobrancelha arqueada, curvando os lábios em um sorriso.

—C-Claro. Está... Está tudo bem. Só estava pensando em algumas coisas—Murmurei olhando o prato em minha frente, que havia chegado sem eu ver.

—Parece que estava pensando demais, não é?—Falou ele me olhando com um olhar levemente preocupado—Não foi outra visão, não é?

—N-Não...—Falei o olhando, após comer um pouco de minha comida—Eram apenas pensamentos insignificantes... Não precisa se preocupar.

—Okay... Só não me preocupo porque confio em você...—Falou ele comendo e me olhando.

Após algum tempo comendo silenciosamente, terminamos de almoçar e pagamos, saindo logo depois. Andei de modo lento até o hotel, pensando um pouco sobre os anos anteriores. Ao chegar no quarto do hotel, me sentei em minha cama, com as pernas cruzadas e minha visão ficando turva. Alguns segundos depois, senti-me apagar totalmente.

"Dois homens estavam no balcão de um bar, bebendo um líquido vermelho, que com certeza não era uma bebida comum. Algum tempo depois, um deles se levanta e pega o calendário preso na parede por um prego. Após analisar um pouco a data, ele chama os outros presentes no bar e começa a falar.

—O sol vermelho de sangue acontecerá daqui a uma semana. Ficaremos mais fortes, mas precisamos nos preparar. Não atacaremos até esse dia. Precisaremos nos esconder muito bem nesse dia, já que várias pessoas andam por Nova York. Ajeitaremos os locais em nosso próximo encontro—Ele falava isso em um tom superior, liderando os outros, que mostraram suas presas, o que significava apenas uma coisa: Vampiros.

O calendário era atual e mostrava a próxima quarta-feira. Eles se levantaram e guardaram o calendário, saindo pela porta do bar, deixando apenas o balconista no bar."

—A-Alicia...—Falou Mathew em meu ouvido. Ele dava leves tapas em meu rosto, o que me fez pensar em quanto tempo havia ficado apagada—O-O que você...?

—Vampiros... Na quarta-feira que vem... Durante...—Falei levemente atordoada, ainda pensando no que vi—Durante o dia... Eles vão atacar—Sussurrei com o olhar na parede do quarto.

—V-Vampiros? Mas durante o dia eles se queimam—Falou ele com os olhos arregalados.

—É algo chamado de sol vermelho de sangue—Expliquei com a voz baixa—Eles ficam mais fortes nesse dia... E será quarta-feira—Me levantei e retirei meu cinto, colocando-o sobre a cama—Vamos precisar nos preparar até lá. Eles estarão por todas as partes de Nova York, por isso temos que tomar cuidado.

—Alicia, acalme-se—Pediu Mathew segurando levemente meu braço—Ainda temos tempo... Relaxe um pouco, hoje você tem um encontro com o idiota—Falou ele em um tom que me fez rir levemente.

—Pelo que vi, eles não atacarão até lá, assim vamos ter tempo para nos preparar. Parece que não são tantos vampiros. Podemos dar conta se cada um ficar em um lugar diferente—Falei colocando meu cinto novamente e cobrindo-o com minha camiseta.

Me sentei na cama observando Mathew, que se sentou a meu lado segurando minha mão. Dobrei minhas pernas em frente a minha barriga e as abracei com uma das mãos, apoiando meu queixo nos joelhos.

Mathew ficou em silêncio, olhando para algum ponto na parede, enquanto eu o olhava. Aós algum tempo, tomei coragem e parei de abraçar minhas pernas, envolvendo meus braços no pescoço de Mathew, que ficou surpreso por um tempo e sorriu.

—O que foi, esquentadinha?—Perguntou ele sorrindo—Calma... Vou estar sempre com você—Falou ele me abraçando.

Ficamos por mais alguns segundos daquela forma, até meu telefone tocar. Mathew o pegou e entregou-o para mim, com uma careta. Atendi, sem nem precisar ver quem era.

—Hey, garoto idiota—Falei olhando para Mathew, que revirava os olhos—Você ainda tem... Duas horas pra se arrepender.

—Como me arrependeria de me encontrar com você, olhos azuis?—Falou ele sorrindo do outro lado da linha—Só queria te perguntar se você não quer ir ás sete para o cinema.

—Claro. Agora você tem cinquenta minutos para se arrepender—Falei rindo levemente—Só vou repetir: Nem pense em se agarrar em mim se estiver com medo.

—Só não me jogue na Austrália se eu fizer algo—Falou ele rindo—Ainda tenho várias coisas para fazer em Nova York, incluindo tentar sair novamente com você, olhos azuis.

—Se eu estiver em Nova York você tenta—Falei tamborilando com os dedos em minha perna—Agora deixe-me desligar. Tenho algumas coisas para fazer. Tchau.

—Tchau, olhos azuis. Agora eu paro de te ligar—Desligou ele.

Coloquei o telefone na cômoda e fui até o banheiro, deixando Mathew sentado na cama com o olhar distante. Entrei no chuveiro após entrar no banheiro. Fiquei sob a água por algum tempo, pensando em minha visão. Após algum tempo desliguei o chuveiro e troquei de roupas, já colocando a roupa que usaria no cinema: Um casaco de moletom e uma calça jeans preta, com meus tênis all star.

Saí do banheiro e vi Mathew me olhando com um sorriso. Sentei-me ao lado dele e coloquei meu cinto sob o casaco, olhando-o. Após alguns minutos de silêncio, ele começa a falar.

—Se quiser ir agora, chegaremos no cinema bem na hora—Disse ele olhando o relógio e se levantando-se.

—Vamos. Tenho que ver se o idiota vai chegar na hora—Falei me levantando e colocando o celular no bolso do casaco.

Saímos do hotel e andamos pelas ruas cheias. Como sempre, as pessoas nos olhavam, mas principalmente para mim, por causa de meus cabelos roxos e desarrumados. Ainda não havia conseguido entender o porque de Nicholas não inventar um apelido baseado em meus cabelos.

Após vinte minutos ou mais, chegamos no cinema, onde Mathew esperou por um tempo, até ver que eram sete horas.

—Então, esquentadinha. Vou indo para não precisar encontrar o idiota—Murmurou ele—Se ele fizer algo, não deixe de dar bons socos na barriga dele.

—Com certeza. Te encontro mais tarde no hotel—Falei sorrindo levemente.

Dez minutos depois, vi Nicholas se aproximando do cinema. Tentei manter meu rosto em uma cor normal. Ele estava vestido com uma camiseta azul, uma jaqueta preta, calças jeans e tênis vans. Os cabelos loiros dele estavam levemente bagunçados. Ele se aproximou e me olhou.

—Está atrasado—Reclamei tentando não olhá-lo por muito tempo.

—Calma, olhos azuis—Chamou ele sorrindo—Vamos? Já comprei os ingressos—Falou ele me entregando um dos ingressos.

Entramos na sala de cinema após verificarem os ingressos e nos sentamos em duas das poltronas do canto. O filme era sobre o Drácula, e aquilo me fez apenas pensar mais sobre a visão.

Nicholas apertava minha mão a cada parte assustadora, o que me deixava pensar cada vez mais. Após o filme saímos do cinema e Nicholas resolveu me levar até um parque de diversões. Ficamos lá por pelo menos uma hora, até o parque fechar.

Após sairmos, Nicholas andou comigo por algumas ruas, mostrando-me as "partes mais bonitas de Nova York". Paramos dentro do Central Park, onde ele se ajoelhou em frente ao lago.

—Sempre venho aqui. É um bom lugar para relaxar—Sorriu ele me olhando.

—Aqui é bonito...—Falei observando ao redor, principalmente os casais ali presentes

—É normal ter tantos casais aqui?

—Sim... Aqui é o lugar perfeito para encontros—Murmurou ele se levantando e segurando minha cintura.

Pensei em pegar alguma coisa em meu cinto, mas não consegui. Nicholas olhou em meus olhos e aproximou seu rosto do meu. Recuei um pouco, mas ele foi mais rápido. Aproximou seus lábios dos meus e me beijou, um beijo que eu cedi, da forma que havia imaginado meu primeiro beijo.

Ficamos nos beijando por alguns minutos, até o ar faltar. Olhei em seus olhos e respirei um pouco ofegante. Ele me olhava com um pouco de medo do que eu faria, até que abriu a boca para falar.

—D-Desculpe. Foi um... Foi um impulso—Sussurrou ele com o olhar baixo—Eu não quis...

Interrompi Nicholas com um leve abraço, correspondido por ele. Encostei minha cabeça no ombro dele e sorri. Pela primeira vez me desliguei de minhas obrigações. Senti-me uma garota normal, com afazeres normais. Não precisei lutar contra criaturas sobrenaturais, muito menos tocar em minhas armas.

Soltei Nicholas e sorri levemente, até ele segurar minha mão e sair do central park comigo em silêncio, levando-me até o hotel. Subi até o quarto sorrindo e entrei, deparando-me com Mathew sentado, lendo.

—Hey, esquentadinha. Está bem alegre. O que houve?—Perguntou ele colocando o livro na cômoda e me olhando.

—Nada. É que a noite foi legal—Falei me deitando em minha cama após tirar o cinto—Vou dormir. Até amanhã—Falei cobrindo-me e fechando os olhos, pensando no beijo de Nicholas.