Quando acordou aquela manhã estava sozinho, os fracos raios surgiam pela cortina entreaberta iluminando um pouco o quarto semi arrumado. Não havia nem rastro do paradeiro de Sakura. Ele já sabia que seria assim, a moleza pelo qual tinham passado havia acabado, a essa hora, ela já deveria estar atendendo algum paciente, gritando com alguém ou se descabelando por todas as mudanças que teria ocorrido em sua ausência.

Coçou a cabeça, não estava com a menor vontade de sair da cama, mas acabou fazendo-o, desceu as escadas preparou seu próprio café e sem pressa o tomou. A papelada na ANBU não seria triturada pela demora dele, continuariam lá, até que ele chegasse.

Depois do café, subiu para fazer sua higiene pessoal, escovou os dentes, tomou um bom banho e por último foi pegar a roupa para vestir. Acendeu a luz do closet e assim que o ambiente clareou, ele estancou. A sua frente um amontoado de roupas se espalhava por todas as partes, algumas gavetas tinham sido soltas, uma mala parecia ter caído das prateleiras superiores onde ficavam, mas o mais impressionante eram as roupas espalhadas.

Por alguma razão que ele não conseguia explicar (nunca conseguiria) as roupas de Sakura estavam por toda parte, menos onde deveriam estar. Como se uma luta tivesse ocorrido dentro daquele pequeno cômodo e tudo tivesse sido jogado para cima, tudo virgula, suas coisas continuavam em perfeita ordem.

Com cautela entrou, abrindo espaço entre as roupas, abriu a primeira gaveta de sua parte do closet e junto com as suas cuecas havia um único par de sapato de salto. Soltou o junto a pilha, ainda embasbacado com aquela visão. Como, em sete dias, Sakura tinha sido capaz de criar um apocalipse naquele pequeno e quase não utilizado espaço?

Respirou fundo, ignorou as roupas dela, com toda a força que pode e se vestiu, saindo de casa às pressas. Cruzou o Centro da Vila, até o escritório da ANBU. Ninguém se importou com seu atraso, foi até a parte de planejamento e como presumiu, já havia uma pilha de pedidos de espionagem a sua frente, a serem analisadas.

Estalou o pescoço, esticou as pernas, puxou a primeira pasta e começou a ler o pedido do País da Cachoeira. Focou toda a sua atenção nas informações contidas naquele material, analisando-o com cautela e buscando o que seria necessário ele pesquisar.

Golpe de Estado. Militância. Nukenins ativos naquela região. Calcinhas junto com as camisas de linho... Não, não. Deveria esquecer o closet. Aquilo não era da sua conta, quando fosse buscar Sakura para almoçarem juntos, ele a questionaria, de forma casual, o que tinha ocorrido.

Pontos estratégicos da Cachoeira. Entradas secretas. Principal Mão de Obra. Sutiãs pendurados juntos com as gravatas.

Largou a pasta, massageando a nuca. Foco. Ele nunca tinha sido alguém de perder o foco, essa era uma das suas principais qualidades. Fechou os olhos tentando buscar um pouco de calma, mas isso apenas piorou, imagens da zona que tinha na sua casa, a metros da sua cama voltaram a sua cabeça.

Por Deus, tinha um sapato dentro da sua gaveta de cuecas. Onde tinha parado o outro par? Como ele chegou até lá dentro para começo de conversa?

Sem conseguir se segurar mais, ele se foi, tomando o caminho de volta para a sua residência.

Abriu a porta e em passos largos correu até o quarto.

Ao entrar no closet sua mente esqueceu o resto do mundo, só conseguia pensar em organizar toda aquela bagunça, pois nada em sua vida poderia ficar fora de ordem.

As gavetas foram postas de volta no lugar, prateleiras arrumadas, sapatos enfileirados pelo tamanho do salto e cor, as blusas arrumadas por tipo, material e cor.

Calcinhas e sutiãs em suas devidas gavetas, o que tinha que ser pendurado foi pendurado e até criou uma gaveta para aquelas coisas que ele não sabia onde por. Grande parte da sua manhã foi perdida na organização das coisas de sua esposa, na verdade quando terminou já tinha passado da hora do almoço.

Torcia para que ela tivesse ido comer com alguém, ou iria ouvir bastante.

Com a certeza de que nada em sua residência estava fora do lugar ele voltou para o trabalho, dando como desculpa uma leve indisposição, ninguém o cobrou, ninguém o questionou. Seu trabalho fluiu naturalmente e até o final do dia, cinco casos não estavam mais em sua mesa e as devidas providencias para cada um já tinham sido resignadas para os órgãos competentes.

Comprou dois lamens no Ichiraku e voltou para o seu lar.

Sakura ainda não tinha chegado, não apareceria até as 09h00 da noite, tinha certeza disso. Tomou um bom banhou, arrumou a comida deles em duas tigelas e levou para a mesa, ela chegou na hora prevista, com um semblante cansado. Jogou-se na cadeira e pegou sua porção.

— Estou morta, hoje foi um dia exaustivo... Mas revigorante, já estavam com saudade da rotina do Hospital... — Meneou com a cabeça, as vezes era bom deixar que Sakura falasse, ela conseguia fazer isso pelos dois e o melhor é que nem precisava ser um participante ativo, apenas elaborar um comentário esporádico já estava de bom tamanho. — Mudaram toda a grade de atendimento, não estava nada funcional, questionei a Shizune, mas ela disse que não tinha como lidar com a emergência, por isso permitiu a mudança. Tive muito trabalho para arrumar aquilo e minimizar o tempo de espera...

— Gastou muito do seu chakra? Seria melhor tirar o dia de amanhã para repor.

— Não, foi só um pouco. Nenhuma emergência muito grave apareceu. De qualquer forma estou escalada para o plantão da tarde. — Os hachis foram largados e dedos finos tocaram as costas de suas mãos. — Esperei por você hoje no almoço, não apareceu... Acabei indo comer sozinha. Ino não tinha sido escalada.

— Eu tive algumas coisas para fazer. — Um sorriso discreto surgiu nos lábios convidativos. — Eu tenho uma surpresa para você.

— Serio? Sabe que eu fico muito ansiosa com surpresas. — Em um pulo ela já estava de pé. —Vou subir, tomar um banho e você vai ter que me contar que surpresa é essa.

Sem esperar por uma resposta ela partiu, sem pressa, terminou de comer sua refeição. Recolheu a louça e a lavou. Geralmente os banhos de Sakura costumavam demorar uma eternidade, ainda mais quando ela tinha um dia corrido ou muito exaustivo. Não precisava fazer nada correndo.

Desligou tudo no primeiro andar e resolveu subir, ele também estava cansado, não pelo serviço em si, arrumar as coisas dela tinha tomado muito do seu tempo e da sua disposição.

Antes que terminasse de subir as escadas para o seu quarto o som do grito de Sakura o alarmou, com passos ligeiros, invadiu o quarto, pronto para derrubar o que estivesse atormentando-a.

Esbaforida a ex-Haruno saiu de dentro do closet, com a toalha enrolado no corpo e os cabelos rosados pingando.

— O que você fez com as minhas coisas? Está tudo fora do lugar.

Na hora ele ficou sem reação. Como assim o que ele tinha feito? Ele tinha arrumado, ora essa. Mas para Sakura, ele tinha bagunçado, já que ela conseguia se encontrar em sua própria desordem, naquele momento ver todas as suas roupas dobradas e organizadas quase fez com que sua cabeça entrasse em colapso.

— Eu arrumei...

— Você dividiu por cores, meus sapatos estão alinhados. Ai meu deus! Minhas calcinhas estão setorizadas!

Suspirou, a única coisa que faltava era ela pedir que ele bagunçasse tudo, porque isso não dava. Ele não ia aguentar, que ela o obrigasse a aguentar o Naruto todo santo dia, mas desordem em seu lar, não!