–-Eu entendo muito bem que tenha ciúme, Sabo.- Koala apoiava as costas na amurada do navio e olhava para baixo, séria.- Mas também não pode me impedir de seguir em frente com a minha vida, me obrigar a ficar parada no tempo!-Ela levantou a cabeça para encara-lo- Faz cinco anos desde que eu entrei para os revolucionários, Sabo. Já vou fazer 22 anos e você, 23.Mas ainda agimos como se tivéssemos 16! Isso não está certo.

Sabo estava estático, encarando a amiga no fundo dos olhos azuis, paralisado pelas palavras da mesma.

–-Você é o meu melhor amigo, e eu adoro você! Acho fofo que tente me proteger. Mas eu não preciso ser protegida por alguém que me vê como uma irmã mais nova!-Ela deu um sorriso triste- Eu preciso de alguém que vá ficar do meu lado, me ajudando a proteger a Shiro e as outras crianças que por ventura eu vier a criar!- Ele nunca tinha visto a amiga tão séria. –Ah, chega! Estou cansada disso! Boa noite Sabo-kun.

E ele simplesmente a deixou ir.

__________________________________________________________________________________

Koala entrou sem fazer barulho no quarto, fechando aporta atrás de si e se sentando na beirada da cama. Ela não sabia porque resolvera desabafar tudo naquele momento. Devia estar na TPM.

Sabo era o mais próximo de um primeiro amor que ela já tivera. Não sabia ao certo se o que sentia era realmente amor ou apenas uma gratidão significativa por todos os anos de amizade entre os dois. Era certo que nunca ninguém a fez ou faria feliz como Sabo fazia. O jeito super protetor, ciumento e infantil do rapaz a divertiam, fazia com que ela se sentisse viva e completa com ele do lado. Mas Koala estava cansada de esperar. Por cinco anos, ela estivera congelada em sua idade mental esperando que o amigo conseguisse responsabilidade o suficiente para não precisar mais de alguém que agisse como babá.

Não sabia o que aconteceria na manhã seguinte. O mais provável seria que Sabo já tivesse esquecido tudo o que ela dissera ou pelo menos fingiria isso, como sempre fazia. Mas uma pequena parte dentro dela esperava que realmente tivesse aberto os olhos do garoto. Esperava que isso o fizesse crescer e se libertar dela. E isso doía. A ideia de se ver longe do melhor amigo, que convivera quase que diariamente por cinco anos, apertava o coração da garota. E a dor era pior que qualquer outra que já sentira.

–-Mas o que diabos eu fui fazer?-Koala enterrava o rosto entre as mãos, falando consigo mesma.

–-Nee...Tá tudo bem?-Shiro esfregava os olhinhos encarando a mais velha

–-Está sim, Shiro-chan—Uma pequena lágrima escorreu pela bochecha da revolucionária- São coisas do coração.

–-Dói?- Koala abriu um sorriso triste em resposta- Eu te ajudo...- A pequena abraçou sua cintura- Melhoro?

–-Muito. Pode voltar a dormir agora. -Mas a menor já tinha adormecido no colo da amiga.

Se recostando na cabeceira da cama, Koala observava o jovem rostinho respirar tranquilo em seus braços. A garotinha realmente a confortava, e Sabo tinha razão. Muitas vezes, Koala acabava agindo mais como uma mãe do que como uma irmã mais velha, e se sentia bem com isso. O carinho que sentia pela menina era maternal, e sorria pensando que um dia realmente viria a conviver com esse papel em tempo integral.

–-Boa noite Shiro...- e depositou um pequeno beijo no topo da pequena cabeça, caindo no sono logo em seguida, ainda segurando a criança

_____________________________________________________________________________________

Sabo se jogou estirado na cama, se segurando para não soltar dúzias de palavrões para as costelas que reclamaram. Não tinha cabeça para nada daquilo no momento.

–-“Eu não posso, não vou esperar pra sempre”... o que você acha que ela quis dizer com isso?-Ele se virou para o canto onde geralmente Açúcar o estaria vigiando.- Ah, é, eu te dei pra ela né. Droga.

Ele então se deu conta de que só havia duas pessoas com quem gostaria de falar sobre Koala. Uma delas seria Açúcar, mas agora o irritante coala de pelúcia provavelmente estaria nos braços de uma Shiro adormecida, bem no quarto de Koala. E a outra pessoa com que gostaria de falar sobre Koala era exatamente Koala. Mas falar de Koala com a própria Koala não parecia certo. Além disso, Koala...

Koala.Koala.Koala.

–-AH CARAMBA! JÁ CHEGA DE KOALA!-o loiro enterrou a cara no travesseiro. Havia conseguido se irritar ainda mais, e nem sabia com o que ou quem estava irritado.

Irmã...mais nova? Era isso o que ele passava? Que ele a protegia por vê-la como uma irmãzinha, e não como uma mulher? Claro, ele nunca explicara a ela o porque de protege-la, visto que nem mesmo ele entendia o instinto que o levava a fazer isso, mas esperava que ela fosse esperta o suficiente para perceber melhor o que ele realmente sentia.

—Mulheres...-Ele não se preocupava em colocar pijama ou escovar os dentes. Não tinha vontade de se levantar.- Quem consegue entender? Numa hora estão felizes da vida, te dando doces e tudo mais. Daí numa hora vão lá e simplesmente soltam uma frase dessas! Qual é problema delas? Ou melhor, qual é o meu problema! Eu to falando sozinho de novo AAAAARRRRRGGGHHHHH

Ele refletia sobre o que se passara. Porque simplesmente havia deixado que ela passasse e entrasse no quarto? Deveria ter pegado sua mão, impedindo que fosse! Olhado bem no fundo dos olhos azuis tão reconfortantes e depois...Roubado um beijo talvez? Não. Isso era muito clichê. E a proposta revolucionária era exatamente o contrário: inovar.

Tinha vontade de pedir uma chance a garota. E tinha certeza que o pedido seria atendido. Mas, se sobrepondo a vontade, estava o MEDO. Era irônico pensar que ele tivera coragem de enfrentar o coliseu Corrida com peixes assassinos maiores que elefantes e sedentos por sangue mas não conseguia simplesmente se declarar para a melhor amiga.

Pior que admitir que tinha medo de alguma coisa, seria admitir ter medo de uma coisa tão besta. Ou nem tanto assim. Via em Dragon seu mestre e em Hack um mentor, enquanto Koala... Koala era o mais próximo de uma família que ele tinha por perto. E a ideia de acabar cometendo alguma burrada e afasta-la... era insuportável. Entrava em desespero quando pensava na garota sem falar com ele.

Preferindo deixar para pensar em tudo isso mais tarde, ele puxou do bolso o saquinho de balas coloridas que ganhara, pegando uma aleatoriamente e olhando contra a luz.

–-Essa é de cereja... a favorita da Koala....AH MAIS QUE %$#@&!