Sabo não viu a amiga pelo resto do dia. Bunny Joe trouxe seu almoço ao meio dia e rapidamente se foi, sendo esse o único momento em que ouviu outra voz a não ser a sua por toda a tarde. A única companhia que tivera pelo restante do período de aulas dos amigos fora Açucar. O fiel coala de pelúcia havia ficado apoiado na parte de dentro da cartola do loiro, obedientemente vigiando para que o humano não fugisse.

O revolucionário ignorava que horas eram. Uma eternidade parecia ter se passado desde o momento em que Koala correra porta afora, e Sabo havia ocupado seu tempo em encarar o teto, tomar banho, planejar mil e uma maneira de matar uma pessoa chamada James e jogar cartas com o boneco de pelúcia, coisa que ainda estava tentando fazer:

–-Você tem um três?- Sabo encarava as próprias cartas, esperando a jogada do coala.

Açúcar não respondeu.

–-Ou um cinco?

Novamente o silêncio.

–-Talvez um nove?

Felizmente o ser inanimado não respondeu.

–-ISSO É RIDÍCULO!-Sabo se irritou, atirando as cartas para cima e se deitando de costas, estirado na cama –Koala realmente faz falta...

Ouvindo o som da porta se abrir, o revolucionário levantou rapidamente a o corpo, esperançoso.

–-Ah,é você Hack-Ele se jogou de volta na cama, soltando um gemido pelas costelas

–-Não fique tão desapontado. Sabe que é contra as regras Koala ficar na ala masculina a esse horário sem a permissão especial.

Sabo grunhiu. Sabia que a garota seguia a risca todas as regras impostas (na maioria das vezes...), mas não podia deixar de ter a falsa esperança de que ela viria lhe dar boa noite.

–-Além disso, eu me esqueci de te trazer o jantar. Vai ter que passar fome.

–-Uhun. -Sabo nem mesmo prestava atenção no amigo.

–-A quanto tempo não toma o remédio?

–-Sim.- o loiro continuava divagando sob a interessante vista do teto.

–-Com quem estava jogando cartas?

–-Ahan.

–-Ganhou ou perdeu?

–-Sim.

–-Pediu Koala em casamento?

–-Cla...Espera, o que?

–-Nada. Boa noite Sabo-kun.

–-Já vai? Não vai me fazer companhia?

–- Acho que já está grandinho o bastante para se defender do bicho papão.- Hack tinha um tom irônico. –Além disso, Koala é um travesseiro melhor do que eu não?

Sabo corou violentamente.

–-Você viu?

–-Na verdade não. Mas quando perguntei pra ela onde tinha estado a noite ela desconversou. - Um sorriso cheio de dentes apareceu no rosto do tritão.

–-Vá embora logo.- o humano atirou o travesseiro contra a porta já fechada.- Hack idiota!

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Koala também não apareceu na manhã seguinte. Nem na hora do almoço. Com isso, Sabo contava mais de 24 horas longe da melhor amiga, o que era MUITO tempo aos olhos do revolucionário entediado e sem nada para fazer. Claro, ele tinha a papelada burocrática para mover, mas conversar com Açúcar parecia mais interessante.

Depois que o subordinado-que-ele-não-sabia-o-nome-mas-que-devia-ser-legal-porque-trouxe-comida veio lhe entregar mais documentos pelo final da tarde, o segundo em comando já havia perdido as esperanças de que Koala ainda iria aparecer naquele dia.

Não culpava a garota, claro. Sabia que, além das aulas ela dera cabo de metade da pilha acumulada de papéis, sozinha e sem ele ter pedido. Fora que era normal ela estar ocupada fazendo “coisas de garota”, como ele costumava dizer. Mas mesmo assim, ter apenas o pequeno coala para fazer companhia não era uma coisa que ele considerava interessante.

–-Você esta conversando com um bicho de pelúcia. Isso é idiotice!-Sabo tentava dar voz ao bichinho que segurava afinando a própria.

–-Estou muito sozinho. Seja mais gentil.

–-Me obrigue! Mamãe é bem mais legal que você!-Sabo movimentou a patinha peluda para o si mesmo.

–-Desde quando Koala é “mamãe”?

–-Desde que você me deu pra ela!–Ele cruzou os bracinhos fofos e cheios de algodão.

–-E porque eu nunca fui “papai”?- Sabo ignorava o fato de nunca ter conversado com o boneco antes.

–-Porque eu não gosto de você! Me deixou no meio da poeira por meses! E é um grande bobão apaixonado!

–-Eu não sou um bobão apaixonado!

–-É sim! Só um bobão apaixonado ficaria desesperado de saudade a ponto de começar a falar com bonecos depois de um dia longe da namorada!

–-Koala não é minha namorada!

–-Mas você queria que fosse!

–-TÁ LEGAL, JÁ CHEGA!-Sabo enterrou o monte de pelos dentro da cartola, tentando entender como chegara ao ponto de se irritar com um boneco de pelúcia que ele mesmo controlava- Isso é muito idiota!-Ele se levantou, indo em direção ao banheiro na intenção de tomar um banho.

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Não se importava em sair de toalha pelo quarto. Geralmente, ninguém o procurava no ali, exceto, é claro, os companheiros de equipe (as vezes Bunny Joe), e eventualmente alguém enviado a mando de Dragon. Mas, julgando pelo horário de 7 e meia da noite, todos deveriam estar no refeitório, jantando (ah, jura que não era café da manhã?). O maior problema seria, é claro, Koala. Não queria estar envolvido em outro acidente constrangedor como o do dia em que quebrara as costelas, mas ela sempre batia antes de entrar, então não seria problema.

Ou pelo menos era o que esperava.

Sua distração ao sair do banheiro logo foi quebrada pelo som de algo se quebrando contra o chão, onde uma Koala em choque ainda segurava a maçaneta da porta e o encarava com os olhos arregalados.

–-Éééé... oi?-Sabo tentou tirar a garota do choque

–-DESCULPA!-E a porta se fechou com força.

Naquelas circunstâncias, um garoto normal se apressaria em vestir rapidamente alguma roupa e ir atrás da amiga ou simplesmente ficaria parado, tentando raciocinar sobre o que acontecera. Mas Sabo não era um garoto normal. Era um garoto extremamente IDIOTA. E nessas circunstancias, um garoto completamente só teria uma reação: Rir de uma forma retardada e extremamente alta.

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–-Hey desesperada, pode sair daí.- Um Sabo já vestido e ignorando totalmente as ordens médicas olhava pela janela do quarto da amiga, ainda dando risada.

–-Vo... volta pro seu quarto! Não devia sair de lá!- Um calombo no meio das cobertas respondeu fracamente.

–-Não me obrigue a entrar aí.

–-A porta tá trancada.

–-“Então eu vou soprar, e soprar, até a porta derrubar!”

–-Isso é da história dos três porquinhos!

–-Já disse que com javalis é mais legal!-Ele ouviu uma leve risada

–-Idiota!-A porta foi aberta- Como passou pela guarda?

–-Pulei do andar de cima.- Ele falava num tom calmo como se dissesse “pedi por favor”.

–-É O QUE?-Claro, o tom de voz não funcionou. -O SENHOR ESTÁ COM 11 COSTELAS EM RECUPERAÇÃO! NÃO DEVIA SAIR FAZENDO ESTRIPULIAS POR AÍ!

–-Opa, fica calma mulher! Só vim pedir desculpas por ter me visto daquele jeito.- Essa frase fez a garota abaixar a cabeça, com vergonha.

–- Me... Me desculpe...quando bati ninguém atendeu, então achei que tinha dormido e...-Aquele era um péssimo momento para se ter um ataque de risos.

–-BWAAHAHAHAHA- Mas Sabo era um garoto extremamente idiota (vide parágrafo 51.)

–- Do que está rindo idiota?!- A vergonha tinha sido substituída por irritação.

–-Nada. Só que “a sua cara ta muito engraçada”. HAHAAHAHAH- Ele adorava usar as falas da garota contra ela mesma.

–-Hunf!-Ela emburrou- Crie suas próprias frases as vezes.

–-Bom, de qualquer forma, estamos quase quites agora-Ele estendeu a mão.

–-Porque quase?-Ela não respondeu ao cumprimento- Você me viu de... De roupa de baixo!

–-Mas você detonou o meu jantar. E eu estou morrendo de fome. O que tem na geladeira?- Ele já se dirigia ao eletrodoméstico.

Koala suspirou. Se Não conseguiria faze-lo voltar ao quarto e obedecer ao médico, iria pelo menos tentar salvar o que restara de seus doces.

–-SOLTA MEUS BOLINHOS AGORA!-Seria um loooongo jantar.