Patronwood - Entre luz e trevas escrita por Violet Fairhy


Capítulo 2
Capítulo II - Violet


Notas iniciais do capítulo

Olá meus leitores lindos! Se você está aqui é porque gostou do começo, não é? Bem, espero que sim! Este capítulo está maior, dará para entender um pouquinho de Patronwood, ou ficarão tão confuso quanto Violet... Enfim, deixem REVIEWS, dicas, observações, etc, para mim, por favor, isto me impulsiona bastante a escrever. Beijo



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Quando acordei não conseguia me lembrar de muita coisa, mas aos poucos minha memória começou a voltar...

Eu estava em frente à mansão. Aaron e Zara disseram-me para entrar. Em minha cabeça algo gritava informando que tudo aquilo estava errado, que eu não devia estar ali, em Patronwood.

Apesar da grande lua que se ergueu no céu, estava escuro, eu podia enxergar somente o imóvel com luzes acessas que clareavam meus tios, o carro e a mim. Das árvores, eu via apenas vultos que se balançavam por causa do vento, o chão era gelado sob meus pés. Não entendi muito bem o porquê, mas meu coração começou a bater forte, eu tinha que ir embora, tinha que fugir e então comecei a correr, sem aviso, sem pensar, apenas por intuição. Disparei para a primeira direção à minha frente.

Aaron gritou meu nome alto e disse para eu parar, mas minha mente fez com que minhas pernas trabalhassem ainda mais. Eu corri a toda velocidade, ouvi passos atrás de mim e em poucos segundos estava diminuindo o ritmo e a escuridão ficava pior... Depois disso eu visualizava apenas uma página em branco. Minhas memórias sobre a noite de ontem pararam por ai.

Quando despertei, estava em um quarto estranho e escuro, minha cabeça doía. A cama duas vezes maior do que a que eu dormia na Casa Auxilium, fez eu me sentir pequena, me encolhi imaginando que isso talvez pudesse fazer com que eu sumisse daquele lugar esquisito, o que obviamente não aconteceu.

No criado mudo havia um bule ainda fumegante, joguei o cobertor de lado e me aproximei, vi uma xícara e um bilhete que com letras cursivas e elegantes dizia: Bom dia querida, este chá será bom para a sua dor de cabeça e tem um gosto maravilhoso. Tia Zara.

Se o nome de Aaron estivesse naquele bilhete eu nem provaria o chá, mas diferentemente dele, Zara havia deixado uma impressão melhor. Coloquei a bebida na xícara, tinha um cheiro bom e uma coloração escura, tomei um gole e o sabor era adocicado, parecido com morango, mas ainda sim diferente. Tomei tudo me perguntando como ela sabia da minha dor de cabeça. Concluí que eu devia ter me entregado enquanto dormia porque já me disseram que eu falo durante o sono, mas só às vezes.

A dor de cabeça estava realmente melhorando, aproveitei para andar pelo quarto. Ele era enorme e tinha móveis antigos, porém com cara de que haviam sido construídos, sei lá, na semana passada? De frente para minha cama estava uma penteadeira, a moldura branca do espelho retangular era adornada por flores num tom azulado com as raízes enroladas na madeira. Toquei nas flores que pareciam reais, mas não tinha como ser.

O chão do quarto era amadeirado e escuro, o que o deixava ainda mais com ares de noite. No canto da parede contrária à janela, situava-se um guarda-roupa em mogno, abri uma das portas e lá estavam minhas poucas roupas perfeitamente dobradas ou penduradas em cabides, na próxima porta outras roupas que eu nunca tinha visto: jeans, camisetas, blusas, vestidos, moletons e casacos pesados; todos eles em tons escuros, porque tudo ali era tão pesado? Ver cores escuras lembrava-me a guerra... As imagens nos livros que mostravam enormes explosões, fumaça cinza no céu, corpos caídos, robôs matando, pessoas matando, robôs destroçados... Em relação aos últimos, não poderiam mais existir, o governo baniu este tipo de tecnologia de qualquer uma das Colônias para evitar uma nova guerra humano-tecnológica. Resultado, de sociedade mais avançada passamos praticamente a seres sem tecnologia, pelo menos sem tecnologia acessível. Apertei os olhos e abracei a mim mesma. Não queria mais pensar sobre aquilo.

– Minha mochila! – quase gritei ao recordar. Abri a outra porta do guarda-roupa e lá estava meu par de tênis , minha sapatilha e minha bota para o frio. Tudo o que eles nos davam na Auxilium, mas havia também muitas caixas de sapato, as quais nem me dei ao trabalho de abrir, eu precisava muito da minha mochila!

Corri para olhar embaixo da cama, não estava; na gaveta do criado mudo, não estava; abri uma porta descobrindo um banheiro e olhei rapidamente, não estava. Sai dele lá desesperada e então visualizei um pequeno monte do braço da poltrona ao lado da janela. Finalmente, minha mochila. Apressei-me para pegá-la.

Sentei-me da poltrona grande e confortável abraçando-a. Puxei seu zíper e lá estava. O porta-retratos simples, desbotado, protegendo minha fotografia, a única que eu tinha deles. Minha mãe estava sorrindo, seu cabelo castanho esvoaçando por conta do vento, ela tinha um braço em volta do meu ombro, meu pai também sorria largamente, ele usava o suéter azul que mamãe costurou para ele, em todo o seu tamanho, ele abraçava a nós duas; era meu décimo segundo aniversário, exatamente um ano antes deles serem afetados pela febre. O dia em que posamos para aquela foto havia sido o mais feliz para minha vida, estávamos passeando em um dos poucos parques do sul da Colônia Central. Fizemos um piquenique e papai derrubou geleia em sua camisa, mamãe eu rimos muito de sua falta de jeito. Na foto dava para notar uma parte da mancha aparecendo. Sorri com a lembrança, deixei a mochila com os livros de lado e passei a abraçar a fotografia. Logo lágrimas apareceram em meus olhos, permiti que elas escorressem por um bom tempo. Eu sentia tanta falta deles, sentia falta de estar segura ao lado deles, das broncas do meu pai quando eu queria deixar o dever de casa para mais tarde, da minha mãe me acordando com cócegas, das nossas faxinas na garagem que sempre se transformavam em espuma e risadas. Éramos uma família tão feliz, mas infelizmente eles se foram. Eu nunca entendi o porquê de também não ter pegado a gripe, queria ter partido junto com eles, quem sabe estaríamos no céu agora, fazendo um piquenique... Ri e chorei ao mesmo tempo.

Puxei um pouco a cortina e imediatamente coloquei o rosto contra o vidro da janela, estava nevando! Eu nunca tinha visto neve! A frente da mansão era tomada pela cor branca, o descampado era imenso, logo atrás dele grãos de neve prendiam-se no topo das árvores robustas, marcas de um carro percorriam o caminho da frente do imóvel até que sumia numa curva. Afastei-me, minha testa estava gelada, lá fora devia estar fazendo um frio extremo. Será que ontem já estava assim? Não me lembro de sentir a neve caindo em mim. Contudo, minha memória não estava em seus melhores momentos, então eu não podia confiar muito nela.

Deitei a cabeça na poltrona e pela primeira vez vi o teto no quarto, um desenho que parecia ser de galhos saia de trás das cortinas, fiquei intrigada, afastei o tecido azul escuro e vi que os galhos vinham de um tronco desenhado na parede. Era bonito, uma verdadeira arte na cor negra... Só não entendi direito o propósito. Voltei a me sentar e olhar para os flocos brancos que caíam.

Nessa hora bateram na porta. Eu fiquei um pouco paralisada. Na verdade queria ficar sozinha. Sozinha para sempre e podia ser nesse quarto, olhando a neve. Como não respondi, Zara apareceu no batente.

– Está tudo bem? – ela perguntou entrando e fechando a porta atrás de si. Estava com um vestido de mangas compridas, longo e simples, porém elegante, num tom verde musgo.

Assenti com a cabeça e coloquei a fotografia dentro da mochila de maneira que ela não visse.

– Pensei que iria descer para comer. Há muito tempo você não come nada. – Ela tinha um olhar de repreensão.

– Estou sem fome. – disse voltando meu rosto para a janela. – Eu tomei o chá.

– Fico feliz que tenha tomado, mas ele não a satisfaz. Vamos descer, sim? Seu tio logo chega para almoçarmos. – senti sua mão tocar em meu ombro e me encolhi, ela retirou a mão.

– O que houve ontem? Porque eu não me lembro de ter vindo parar neste quarto? – perguntei finalmente olhando para ela.

– Ora, você desmaiou depois de ter saído correndo daquele jeito. Surto de adrenalina e provavelmente falta de uma boa alimentação. – ela explicou calmamente. – Seu tio a trouxe para cá. Este será seu quarto. Espero que tenha gostado das compras que lhe fiz. – ela sorriu olhando para o guarda-roupa.

– Onde exatamente é aqui? – perguntei erguendo as palmas da mão e ignorando seu comentário sobre compras.

– Patronwood. – Zara me olhava como se estivesse procurando por algo, era estranho.

– Eu sei o nome, mas apenas isso. Aqui não é uma das Colônias. – afirmei - Estamos fora das margens?

Foi a vez dela de olhar pela janela, parecia pensar. Eu queria muito aquela resposta.

– Tome um banho e venha almoçar, sim? – ao dizer isso, minha tia saiu rapidamente do quarto.

Acabei de pensar “tia”? Foi isso mesmo? Pelo visto sim, meu subconsciente já admitia aquela realidade.

Deixei os ombros caírem, inconformada com minha falta de respostas. A pergunta havia sido tão simples e Zara fugira dela, o que me deixara ainda mais intrigada. Eu iria descobrir mais de Patronwood a qualquer custo. Prometi a mim mesma.

Resolvi ir mesmo tomar um banho, isso sempre me fazia relaxar, a água funcionava como um calmante no meu caso.

Dado que ao entrar antes no banheiro, eu estava desesperada à procura da mochila, não havia reparado, mas ele era requintado e espaçoso, seguindo o mesmo modelo antigo. Fiquei surpresa quando vi que dispunha de tudo o que eu precisava. Zara havia sido atenciosa.

Senti muito frio mesmo estando com o roupão felpudo que encontrei no armário e percebi que meus simples moletons não seriam suficientes, então me vali das roupas novas, pegando um casaco dos mais simples, porém bastante quente e uma calça com jeans grosso. Penteei meus cabelos e os deixei soltos. Calcei minhas botas velhas e me olhei no espelho um instante. Meus olhos azuis estavam um pouco inchados, eles e meus cabelos claros demais contrastavam com a roupa escura. Mas não era apenas isto, esta Violet estava diferente. Só não conseguia explicar o porquê.

Saindo do quarto pela primeira vez, me deparei com um corredor à minha frente, o piso continuava amadeirado, porém em um tom mais pálido que o do quarto, em compensação, as paredes eram mais escuras e cortinas cobriam as janelas. Alguns quadros estavam pendurados ao longo do corredor, todos retratando pessoas com expressões sérias e formais que pareciam pertencer a outra época.

Olhando mais de perto encontrei traços do papai e do meu tio em um homem alto e com barba, ele estava apoiado em uma bengala e usava uma espécie de cartola que combinava com seu casaco longo. Seria meu antepassado?

Fiquei alguns minutos entretida, procurando alguma assinatura ou data no quadro e não encontrei nada. Desisti e continuei andando pelo corredor até chegar à escada larga e alta, o corredor continuava, assim, a escada era localizada no centro de uma imensa sala onde vi meus tios olhando para mim, ambos esperando-me para o almoço, presumi, numa mesa ao lado direito da escada. Desci devagar segurando no corrimão lustroso e prestando atenção no tapete vinho que forrava os degraus sob meus pés.

Aproximei-me da mesa e me sentei numa cadeira mais distante dos dois, olhei-os por um instante. Aaron estava sério como na última vez em que o vi e Zara transbordava afeição pelos olhos, como ela conseguia ser assim e ficar sem me dar respostas? Achei um absurdo. Suspirei e encarei as três refeições cobertas sobre a mesa.

– Posso servir o jantar, Senhor Gardien? – assustei-me ao ouvir a voz que vinha da ponta da mesa. Era um senhor de cabelos grisalhos usando um terno que devia ter acabado de chegar. Ele tinha uma toalha branca pendurada do braço esquerdo e o posicionava na frente do tronco. Ele era o que chamavam de mordomo, eu acho. Nunca havia visto um de perto.

– Por favor, Peterson. – respondeu meu tio brevemente, então notei que ele lia algo, não identifiquei se era uma revista ou livro.

O homem colocou as bandejas á nossa frente e descobriu cada uma delas, um cheiro bom invadiu minhas narinas e só assim me dei conta do quanto estava com fome. Logo depois Peterson surgiu com taças de água e um litro do que imaginei ser vinho apenas para meus tios. Quando terminei de comer, para minha surpresa ele trouxe algo para mim.

– Isso é uma sobremesa que eu mesma preparei Violet, penso que irá gostar. – disse Zara.

– Obrigada. – disse e experimentei o creme rosa com pedaços de biscoito de chocolate. Era delicioso. Nas Casas Auxilium eu comia sobremesa apenas no Natal e no dia do meu aniversário, eles evitavam gastos e qualquer tipo de doença relacionada ao açúcar, entre outras coisas.

– Amanhã você irá para o Liceu de Ensinamentos Patronwood. – falou meu tio ainda imerso na leitura, enquanto eu terminava de saborear minha sobremesa. – Esteja aqui embaixo às 7:00 da manhã. Sem atrasos, Devo acrescentar. – adicionou ele, erguendo sua cabeça para me olhar, sempre sério.

– Eu vou para onde? – perguntei confusa com a primeira parte da informação.

– Um lugar onde aprenderá tudo o que precisa. – Aaron limitou-se apenas a este esclarecimento.

– O que eu preciso aprender? Porque diabos eu tenho que ir para esse lugar? Só eu estarei lá? Para que eu... – tinha pelo menos dez perguntas em mente, mas fui interrompida.

– Não seja impertinente Violet! Saberá o que for necessário e quando for. Agora suba e vá para seu quarto! – Aaron exclamou em um tom mais alto e autoritário.

Uma parte racional de minha mente gritava para eu me acalmar. Okay, aquela casa era dele, mas ele escolhera me trazer para cá, porém se estava imaginando que eu iria viver sobre um regime despótico, estava enganado. Queria discutir, pois sabia que tinha direito a respostas, mas sabia que não iria adiantar. Suspirei, larguei o guardanapo do meu colo sobre a mesa e subi a escada a passos pesados.

Ao chegar ao topo da escada, propositalmente segui pela esquerda no corredor, ao invés da direita onde ficava o meu quarto. Pelo caminho encontravam-se mais janelas com cortinas escuras e quadros portando imagens de pessoas velhas, algumas nem tanto, que eu não conhecia. Havia também cinco portas das quais três estavam trancadas. Um das outras tratava-se de um quarto escuro e que parecia estar sem uso, imaginei que fosse para hóspedes, a outra por sua vez dava para o quarto de Aaron e Zara, só podia ser. A cama era larga e parecia confortável demais, estava forrada com uma colcha branca que tinha as barras enfeitadas com pedras semelhantes a pérolas, o guarda-roupa cobria uma parede inteira e a porta do que parecia um banheiro ficava no meio dele. Havia também uma estante cheia de livros que ficava ao lado de um balcão com alguns bebidas e taças lustrosas. Então eles faziam festinhas à noite, hein? Cobri a boca para que minha risada não saísse alta demais.

Caminhei sobre o tapete macio ao pé da cama e só então vi duas pequenas maçanetas misturando-se com a parede contrária. Aproximei-me de uma delas e estava quase alcançando-a quando passos ecoaram do lado de fora do quarto imenso e primoroso. Respirei fundo e a passos largos saí de la fechando a porta atrás de mim, quem quer que fosse estava subindo as escadas como eu subira alguns minutos antes, pesadamente. Segui o corredor e me dei de cara com meu tio

– O que estava fazendo Violet? - perguntou severamente.

– Nada. - minha resposta rápida demais não representava um bom sinal, pigarreei e concluí - Eu apenas me confundi. Tudo ainda é muito novo para mim… - desconversei estalando os dedos - Mas agora já memorizei que meu quarto fica do lado direito.

– Espero que se lembre da próxima vez. - ele respondeu me olhando e então segurou minhas mão de repente de forma dura, assustando-me. - E pare com esse barulho, é irritante e uma péssima mania, parece seu pai. - Aaron olhou-me por mais um momento e então largou minhas mãos seguindo pelo corredor.

Não perdi tempo e corri para meu quarto, trancando a porta atrás de mim e seguindo direto para a poltrona da janela onde me joguei e juntei os joelhos ao corpo abraçando as pernas.

Ouvi-lo falar do meu pai fez com que eu quisesse escutar mais. Eu nunca soube nada do passado dos meus pais, eles evitavam conversar sobre este assunto comigo e então, estava ali, no final do corredor, alguém que pudesse me contar como era a vida do meu pai na infância, como ele conheceu minha mãe... No entanto, meu tio se recusava a ser condescendente. Desde que cheguei ele não se dirigiu a mim com se quer uma palavra gentil. Ele estava longe de ser um tio que expressasse compaixão por uma sobrinha que perdera os pais.

Qual era o problema de Aaron Gardien, afinal? Eu não sabia a reposta para aquela pergunta, mas cheguei a uma conclusão, não precisava de sua compaixão. Vivi praticamente sozinha pelos últimos cinco anos, não era agora que essa condição precisava mudar.

O dia passou comigo ali, vendo os flocos de neve caírem devagar, até cessarem. Cobri-me com o cobertor e abri a janela apenas para sentir o frio bater sobre meu rosto. Eu gostava do frio. Acabei adormecendo e acordando apenas na hora do jantar com Zara batendo em minha porta. Cambaleei até lá e abri para ela que ficou extremamente alarmada ao ver a janela aberta.

– Violet! - disse colocando a bandeja sobre o criado mudo e indo depressa fechar descer a vidraça.

– O que há? - perguntei confusa.

– Você… Você irá ficar resfriada. - minha tia pareceu hesitar em sua fala.

– Eu me cobri. - aleguei.

– Não importa. Não faça mais isso, está bem?

– Porque? - perguntei séria.

– Apenas me escute Violet, por favor. Eu desejo somente o seu bem, acredite. - Zara então me abraçou pela primeira vez. Fiquei paralisada e também surpresa devido a não mais estar habituada com demostrações afetivas e ao toque de outras pessoas. O toque... Retribui o abraço da maneira que pude, depois ela saiu me desejando uma boa noite.

***

No dia seguinte, acordei super cedo para ir ao tal Liceu de Ensinamentos Patronwood.

Zara me dera um uniforme. Uma calça de cintura alta na cor preta e uma camisa branca de mangas com um símbolo na frente: uma árvore com cinco galhos secos dentro de um círculo e as iniciais L.E.P. logo abaixo. Havia também uma saia, roupas esportivas e um casaco, todas com aquele mesmo logo e sigla e nas cores preto, branco ou cinza.

Coloquei sapatos pretos e quentes que estavam no guarda-roupa e desci. Tomei o café da manhã em silêncio com meus tios.

Na saída Zara arrumou meus cabelos longos atrás das minhas orelhas e sorriu.

– Boa sorte. - ela disse acenando para mim enquanto eu entrava no banco do passageiro e Aaron no do motorista.

Apertei o casaco contra mim, fazia muito frio naquela manhã branca, a neve tinha parado de cair, mas a paisagem era a mesma de ontem.

Passamos pelo que imaginei ser o centro de Patronwood. Não parecia uma cidade em si, nem uma Colônia. Era mais um espécie de vila. As ruas eram estreitas, a maioria de pedra e as casas tinham uma arquitetura inglesa e antiga, com telhados pontiagudos e altos. Poucos e organizados estabelecimentos haviam ali. Não pude deixar de notar que as pessoas nas calçadas encaravam o carro do meu tio, aquilo me deixou desconfortável, mesmo sabendo que os vidros eram escuros demais para que eles enxergassem dentro do veículo. Aquelas pessoas eram tão taciturnas quanto meu tio e seus vestuários também tinham tons anuviados. Aquele lugar parecia estar vivendo em muitos séculos atrás, mas como? Tudo isso deixava-me nervosa e desconexa, e o pior era que ninguém me dava respostas.

Aaron dirigiu até sair da vila e então pegou uma estrada no meio de uma floresta, literalmente, a neve ali era mais esparsa. Mais ou menos quinze minutos depois de estarmos naquele caminho eu pude ver um enorme construção à nossa frente, parecia um castelo, só que menor. Fiquei boquiaberta. Onde é que eu havia ido parar?

– Aaron… Quer dizer, Tio Aaron? - ousei chamá-lo.

– Diga. - ele respondeu com os olhos fixos na direção.

– Que lugar é esse? - apontei para frente.

– O Liceu, Violet. -respondeu fazendo parecer o quanto era óbvio.

Foi uma pergunta geral, eu queria saber o que era tudo aquilo por onde andei desde que coloquei os pés naquela localidade, todavia, decidi ficar quieta.

Logo estacionamos e fomos recebidos por dois guardas no portão que me olharam de forma insistente, joguei a mochila sobre o ombro e me aproximei do meu tio seguindo-o para a entrada e por um corredor monótono e vazio. Ele parecia conhecer bem aquele lugar.

Passamos por um pátio grande com mesas expostas e para minha surpresa, vi diversos adolescentes, conversando baixo. Meninos em grupos, meninas em rodas, todos com as vestimentas iguais às minhas. Notei que uns e outros paravam de falar ao notar nossa presença, cochichavam e depois olhavam para mim. Fingi que não notei, mas aquilo me deixou preocupada. Seguimos por outro corredor e no fim tinha uma grande porta de madeira esculpida com aquela mesma árvore do símbolo, perguntei-me o que ela de fato significava.

A porta se abriu quando meu tio bateu apenas uma vez e atrás de uma mesa localizada no centro da sala, estava uma mulher de meia idade com uma enorme presença. Seus olhos e cabelos eram escuros, porém sua pele era tão clara quanto as nuvens. Ela ergueu as sobrancelhas ao me ver e me olhou como se parasse no tempo. Aaron pigarreou, tirando a ela e a mim daquele passageiro transe.

– Violet Gardien. - pronunciou ela com uma estranha solenidade.

– Eu. - disse em tom baixo. - Estamos em desvantagem.

– Como? - perguntou a mulher franzindo a testa.

– Eu não sei quem é a senhora. - respondi olhando de lado para meu tio.

– Ah, claro. Sou Valentina Laurier. A diretora desta instituição. Muito prazer. - ela contornou a mesa e caminhou em direção a nós, estendeu a mão convidando-me a cumprimentá-la.

Aproximei-me dela e lhe dei a mão, prontamente ela envolveu-a com as dela e fechou os olhos. Seu rosto assumiu uma expressão esquisita e enigmática. Olhei para o meu tio, mas ele observava Laurier. Minha respiração começou a ficar mais rápida, meus pensamentos desordenados. Senti uma tontura repentina e então tudo ao meu redor ficou escuro e vazio.

***

– Violet… Violet… Violet… - sussurros tomaram conta dos meus ouvidos e iam ficando mais alto, até transformarem-se em um só, misturado com palavras que eu não conhecia. Ainda assim, eu não conseguia sair do escuro.

– Todos nós pensávamos que era apenas uma lenda, mas não. Se trata dela Aaron e… - pude ouvir uma voz ao fundo com frases cortadas - Só não entendo como demorou tanto tempo para encontrá-la.

De que estavam falando? Tentei encontrar uma luz, correr para ela, mas não havia nada.

– Não não, está errado. Eu pude ver...

Pode ver o que? A luz? Eu quero sair daqui! Socorro!

– Ela está acordando, você deve...

Respirei o mais profundo que podia, como se fosse roubar todo o ar da atmosfera apenas com aquela aspiração. Abri os olhos aturdida.

– Onde estou? - perguntei me erguendo, percebi que estava deitada em um sofá aconchegante.

– No Liceu Violet, acalme-se. - disse a mulher. Valentina Laurier. Lembrei-me. Meu tio estava atrás dela, observando-me.

– O que houve? - passei a mão na testa, estava úmida.

– Você desmaiou. Mas agora está tudo bem. - falou a mulher num tom calmo.

– Respire, Violet. - disse Aaron.

Só então notei que estava prendendo a respiração. Obriguei meus pulmões a funcionarem.

– Preciso ir agora. Volto para buscar-lhe. A Senhora Laurier lhe dará as devias instruções. - Aaron olhou-me ainda por um tempo, depois simplesmente saiu da sala.

– Você acha que pode se levantar já? - perguntou a senhora enquanto ia até sua mesa e juntava alguns papéis.

– Hmmm, acho que sim. - fiquei de pé, me sentindo bem melhor. Eu já não estava entendendo nada. Porque esses meus desmaios agora, sempre fui uma pessoa saudável.

– Siga-me. - Laurier saiu da sala e eu fui imediatamente atrás dela, abraçada com minha mochila.

Não havia mais ninguém no pátio pelo qual passei com meu tio e muito menos nos corredores. Laurier parou em frente a uma porta e bateu nela antes de abri-la e olhar lá dentro. Após dois segundos fez um sinal para que eu entrasse junto com ela.

Os alunos estavam em carteiras organizadas em poucas fileiras e a professora ao lado de uma mesa à frente de todos, foi onde a diretora e eu paramos.

– Bom dia jovens. Esta é… - iniciou Laurier, mas hesitou me olhando profundamente, depois continuou. - Violet Gardien. Ela aprenderá aqui de agora em diante.

Olhei para a professora que possuía uma expressão surpresa e de admiração ao mesmo tempo. Em seguida, olhei para aqueles que seriam meus colegas e eles também me fitavam. Alguns apenas encarando sem expressão, outros admirados, havia os céticos e havia também aqueles dos quais não gostei nada do que vi no olhar, era raiva. Um deles em particular me chamou atenção, ele me olhava e sussurrava algo apenas movendo minimamente os lábios, seus rosto entregava sua fúria. Encolhi-me. Eu não queria ficar ali.

Todos aqueles olhares estavam me sufocando, me oprimindo, atormentando. Quem eles eram para se comportar daquele jeito sendo que nem me conheciam? Ninguém devia olhar para os outros daquela maneira invasiva! Afastei-me a passos pequenos e então alcancei a porta, saindo correndo daquela sala.


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Notas finais do capítulo

REVIEWS, REVIEWS, REVIEWS, preciso deles e de vocês! hahahaha
Estou ansiosa para saber se gostaram do capítulo! Digam, por favor... Beijo



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