How to Be Free escrita por Mia Miatzo


Capítulo 3
Lesson #1


Notas iniciais do capítulo

Oi gentem! Como vocês estão? Como tem passado as férias (pra quem está de férias)?
Bom como prometido aqui está o próximo capítulo: Lesson #1. É o primeiro dia de treinamento dos vikings. Veja o que se passa na mente da Astrid nessa parte do filme.
Espero que gostem. Boa leitura.



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– Acho que isso é tudo. – diz meu pai, colocando o último cesto de armas no navio.

Está frio nas docas. Mas eu já me acostumei com o frio de Berk. Quando se mora em uma ilha na qual neva nove meses por ano e chove granizo nos outros três, você não se importa muito com o vento que vem do mar.

– Tenho que ir. – digo triste, e estou mesmo. Mas não quero causar muita emoção na hora da despedida, porque meu treinamento já vai começar e tenho que estar forte – O treino começa daqui à meia hora.

– Tudo bem. – diz papai. Ele se inclina para me abraçar – Seja forte. E treine firme.

– Adeus, querida. – diz minha mãe quando toma o lugar de meu pai para me abraçar – Nós vamos voltar. Espero.

– E eu vou vencer. Espero.

Minha mãe sorri com minha confiança. Ou pelo menos, o que deixo transparecer. Ela e meu pai sobem no navio quando Stoico avisa que irão sair.

Assim que o barco sai das docas aceno para meus pais, tentando parecer forte o suficiente para aguentar a viagem deles. Quando os barcos não estão mais à vista, meu sorriso se desfaz e pego meu machado do chão.

Dou um último suspiro antes de virar para a estrada de madeira e seguir para a arena.

*****

– Bem vindos ao treino com dragões! – anuncia Bocão enquanto abre a grade da arena para nós.

– Agora é pra valer. – digo com convicção.

Caminho para dentro do círculo ladeado de correntes onde matamos nossos inimigos reptilianos. Meus amigos seguem atrás de mim, assim como eu, com suas armas em mãos.

– Quero ficar com queimaduras alucinantes. – diz Cabeçadura, adorando a ideia de lutar contra as pestes.

– E eu com umas dentadas. Tipo no ombro, nas costas. – diz sua irmã.

Rio com a futilidade deles, mas completo:

– É. Só tem graça se rolar cicatriz.

– É, falou e disse. – nos viramos para ver Soluço entrando, segurando um machado nas mãos débeis – Dor. Me amarro.

– Ah, ótimo. Quem convidou ele? – pergunta Cabeçadura, provavelmente colocando em palavras a pergunta que estava na cabeça de todos.

– Então vamos começar! – interrompe Bocão, desviando nossa atenção – O recruta que se sair melhor vai ter a honra de matar o seu primeiro dragão na frente de toda a nossa aldeia.

– O Soluço já matou um Fúria da Noite. Isso não desclassifica ele não? – diz Melequento, sarcástico. Os outros riem, enquanto eu foco em meu objetivo.

Não me importo que Soluço esteja aqui. De alguma forma a presença dele me acalma da viagem dos meus pais. Mas cruze o meu caminho e quebro ele em dois.

Formamos uma fila lado a lado enquanto Bocão diz algo para Soluço que não compreendo. Depois que o coloca no final da fila, empurrando-nos um pouco, grita:

– Atrás desses portões estão algumas espécies que irão aprender a combater. – ouvimos um grasnido – O Nadder Mortal.

– Velocidade: 8. Força: 3. – diz Perna-de-Peixe, recitando seus atributos.

– O Ziperarrepiante.

– Fortividade: mais 11 vezes 12.

– O Pesadelo Monstruoso.

– Poder de fogo: 15.

– O Terror Terrível.

– Ataque: 8. Veneno: 12.

– Cala a boca moleque! – grita Bocão para Perna-de-Peixe. Ouvimos outro rugido – E... o Gronckle. – Bocão coloca a mão na alavanca de abertura.

Perna-de-Peixe resmunga mais alguma informação para Soluço. Como se fôssemos precisar saber tudo isso pra matar um demônio.

– Ô Bocão. Você não vai treinar a gente primeiro? – pergunta Melequento e só então percebo que Bocão vai soltar a fera.

– Eu acredito que só se aprende fazendo. – responde Bocão e baixa a alavanca.

*****

A arena vira um caos quando o Gronckle raivoso é solto de sua jaula. Cada um de nós corre para um lado enquanto Bocão diz:

– Hoje a aula é de sobrevivência. Quem for atingido está fora.

O dragão acerta uma parede e come pedaços de rocha que estão no chão.

– Rápido! Qual é a primeira coisa que vão precisar?

– De um médico? – grita Soluço.

– Velocidade: 5? – tenta Perna-de-Peixe. Mas eu já sei o que é.

– De um escudo. – respondo.

– Isso! Peguem logo.

Todos, incluindo eu corremos atrás de um escudo para nos defender. Eu pego o primeiro que vejo, um verde com detalhes laranja.

– A peça mais importante do seu equipamento é o escudo. – instrui Bocão – Se tiver que escolher entre uma espada e um escudo peque o escudo.

Corro na direção oposta à fera e vejo o que acontece ao redor. Soluço está tendo dificuldades com o escudo (novidade). Os gêmeos, como sempre, brigam por um deles. O ar de batalha está entre nós. Adrenalina pulsa em minhas veias.

Enquanto os gêmeos ainda brigam, o Gronckle resolve usar sua distração para atacar e atira uma bola de lava neles, atingindo seu escudo e os jogando girando no chão. Corro mais um pouco para uma nova posição.

– Cabeçadura, Cabeçaquente, estão fora. – adverte Bocão – Seus escudos servem para mais uma coisa. Barulho. Façam bastante barulho para confundir o dragão.

Nesse momento eu e os que restaram começamos a bater nossas armas nas bordas do escudo. Dá para ver que Bocão tem razão. O barulho entorpece os sentidos do dragão e nos dá vantagem.

– Todo dragão tem um número limitado de tiros. – diz Bocão enquanto corremos para direções opostas novamente, parando de fazer barulho – Digam quantos tem um Gronckle.

– Cinco? – tenta Melequento.

– Não. Seis. – corrige Perna-de-Peixe.

– Acertou. Seis. Um para cada um de vocês.

Bom, quatro agora. O segundo tiro acerta Perna-de-Peixe que corre da criatura enquanto Bocão anuncia que está fora.

– Vai lá, Soluço! – grita nosso suposto “instrutor” enquanto Soluço sai de trás de um pedaço de madeira. Ele logo volta para trás do objeto quando o Gronckle acerta o terceiro tiro na parede a seu lado. Inútil.

O Gronckle nos procura enquanto eu e Melequento nos aproximamos do lado oposto da arena. Respiro rápido tentando inalar o máximo de ar que consigo de uma vez só. Então é isso que chamam de “fulgor de batalha”. Mas se isso é só nosso treinamento, imagine uma batalha de verdade.

– Aí, eu tô mudando pro porão dos meus pais. – diz Melequento, só então percebo que ele está falando comigo. Mas não dou a mínima, tenho mais interesse de sobreviver e calculo o ângulo do próximo tiro – Aparece lá pra malhar. – é agora – Cê tem jeito de quem malha.

Rolo pra longe exatamente no momento em que o quarto tiro acerta o escudo de Melequento.

– Melequento, tá fora. – anuncia Bocão.

Acabo indo parar na frente de Soluço. Ele insiste em dirigir a palavra pra mim.

– É, parece que agora é só você e eu. – o dragão está vindo de novo.

– Não. Só você. – corro pra esquerda quando o quinto tiro acerta o escudo de Soluço.

– Só resta um tiro. – avisa Bocão.

O Gronckle passa acima de mim tentando pegar Soluço que, ordinariamente, está tentando pegar seu escudo que rolou pra longe. Sai daí estúpido!

– Soluço! – grita o instrutor.

Soluço se encolhe na parede esperando pelo que está por vir. Meu coração dispara na hora em que o Gronckle prepara o último tiro para ser acertado bem no menino. Não consigo pensar direito no que estou fazendo, ou pensando, só sei que quero me jogar na frente e impedir de atingi-lo. Também não sei por quê.

O dragão abre a bocarra para expelir a substância mortífera e... o gancho de Bocão o faz atingir a parede acima.

– E com esse... seis. – diz ele. Suspiro de alívio, embora não saiba por que estou fazendo isso. – Volta pra cama, seu salsichão metido a besta. – diz Bocão enquanto tranca a jaula do bicho e diz – Você vai ter outra chance. Não se preocupe.

Todos respiram profundamente tentando recuperar o ar perdido durante o treino. Sou a única que ainda está com a arma e o escudo. Soluço ainda está contra a parede quando Bocão começa a falar:

– Lembrem-se, os dragões sempre – ele dá ênfase – sempre, atacam pra matar.

*****

Volto para casa pouco antes do entardecer. É estranho chegar lá e não sentir o cheiro familiar de carne assando e o som de lâminas sendo afiadas. É claro que já fiquei sozinha antes, mas sei lá. Dessa vez parece... diferente.

Tomo um banho antes de comer. A banheira é um bom lugar pra pensar. Enquanto esfrego meu cabelo para tirar a poeira das pedras da arena um pensamento me vem à cabeça. Durante o treino meu coração disparou toda vez que o dragão ameaçou atacar o Soluço. Talvez eu estivesse apenas me preocupando que, diferente de mim e dos outros, ele não tenha o treinamento adequado para combater dragões (ou qualquer outra coisa).

Mas e se não for isso? Será que... não. Não pode ser. Não, não, não, não, não. Põe a cabeça no lugar Astrid. Isso foi há seis anos. Você não pode estar gostando dele de novo. Ou pode?

Não. Definitivamente não posso. Posso?

Não, não pode sua idiota. Você é Astrid Hofferson. Você é a maior guerreira adolescente viking que a tribo já teve. O Soluço é só um zero a esquerda que nunca sabe onde enfiar a cabeça.

Você é uma mancha. Ele é uma listra. Manchas e listras não podem se misturar, não é?

Não sei. Não tenho certeza de mais nada. A única certeza de que tenho é que tenho que ganhar a honra de matar o Pesadelo Monstruoso. Pelos meus pais. Pela minha família.

Não esquento a cabeça em cozinhar alguma coisa. Nunca fui boa na cozinha mesmo. Então sigo até o Grande Salão para jantar, mesmo chovendo lá fora.

*****

– Muito bem. Qual foi o erro da Astrid hoje? – pergunta Bocão enquanto jantamos.

– A minha cambalhota foi mal feita. – admito – Atrapalhou meu salto pra trás.

– É deu pra ver. – diz Cabeçaquente.

Vejo Soluço encharcado dos pés à cabeça entrando no Salão. Não pense nele Astrid. Não pense.

– Não, não. Foi radical. Foi tão você. – bajula Melequento.

– Ela está certa. Devem ser honestos com vocês mesmos. – adverte Bocão.

Meus olhos seguem Soluço enquanto ele pega comida em nossa mesa.

– E onde foi que o Soluço errou?

– Duh, ele apareceu. – diz Cabeçaquente.

– Ele não foi comido. – fala Cabeçadura.

– Ele nunca está onde deveria. – acaba saindo de minha boca. Pego-me olhando para ele. Sei que não devo pedir desculpas, mas sinto como se devesse. Ele se senta na mesa ao lado.

– Obrigado, Astrid. – agradece Bocão. – Vocês tem que viver e respirar isto aqui. O Manual do Dragão. Tudo o que sabemos sobre todo dragão que conhecemos. – ele olha para o teto quando ouve um trovão e resume – Não vão atacar hoje. Estudem.

Cabeçadura se espanta, derrubando a faca com que estava brincando.

– Peraí. É pra gente ler?

– Mesmo estando vivos? – completa sua irmã.

– Pra que ler baboseiras se você pode matar as coisas do que as baboseiras falam? – Melequento irrita-se.

– Ah, eu já li umas sete vezes. – orgulha-se Perna-de-Peixe – Tem um dragão aquático que esguicha água fervendo na sua cara. E tem um outro que se enterra e...

– Tá. Fala com a minha mão. – interrompe-o Cabeçadura, obrigada – Eu até ia ler esse livro.

– Mas não vai dar. – completa Cabeçaquente.

Começam a se levantar, deixando o livro de lado. Eu ainda fico na mesa.

– Cês podem ler. Eu vou matar coisas. – diz Melequento, convicto.

Assim que percebo Soluço já está ao meu lado.

– Então vamos ler juntos? – ele pergunta.

– Já li. – respondo quase instantaneamente, empurrando o livro pra ele e levantando-me.

– Ah, ele é todo meu... – não termino de escutar o que ele fala.

Começo minha caminhada pra casa no meio da chuva de novo. Não me leve a mal, mas a última coisa da qual queria era ficar ali sozinha com o Soluço enquanto meus sentimentos entram em conflito desse jeito. Não sabia o que poderia fazer, mesmo que não devesse.

Chego ensopada em casa e vou pra cama sem me preocupar na possibilidade de pegar um resfriado. Qualquer coisa é melhor do que o que estou sentindo agora. Fecho meus olhos e caio em sono profundo, esperando não ter mais nenhum pesadelo.


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Notas finais do capítulo

Então, o que estão achando? Esse capítulo ficou um pouquinho mais longo do que eu pretendia e admito, terminei de escrevê-lo de madrugada. Mas era preciso.
Por favor. Favoritem, mandem reviews, comentem, sigam. No primeiro dia, em que postei o primeiro capítulo, recebi dois comentários que me agradaram muito da Dama Misteriosa e Jana. Fiquei muito feliz que correspondi à expectativa delas e espero que tenha acontecido o mesmo com o resto de vocês. Vocês são a razão de eu escrever e fico muito feliz em ouvir que estão gostando. Muito obrigada mesmo e até a semana que vem.
Mia