How to Be Free escrita por Mia Miatzo
Notas iniciais do capítulo
Oi gentem! Como vocês estão? Como tem passado as férias (pra quem está de férias)?
Bom como prometido aqui está o próximo capítulo: Lesson #1. É o primeiro dia de treinamento dos vikings. Veja o que se passa na mente da Astrid nessa parte do filme.
Espero que gostem. Boa leitura.
– Acho que isso é tudo. – diz meu pai, colocando o último cesto de armas no navio.
Está frio nas docas. Mas eu já me acostumei com o frio de Berk. Quando se mora em uma ilha na qual neva nove meses por ano e chove granizo nos outros três, você não se importa muito com o vento que vem do mar.
– Tenho que ir. – digo triste, e estou mesmo. Mas não quero causar muita emoção na hora da despedida, porque meu treinamento já vai começar e tenho que estar forte – O treino começa daqui à meia hora.
– Tudo bem. – diz papai. Ele se inclina para me abraçar – Seja forte. E treine firme.
– Adeus, querida. – diz minha mãe quando toma o lugar de meu pai para me abraçar – Nós vamos voltar. Espero.
– E eu vou vencer. Espero.
Minha mãe sorri com minha confiança. Ou pelo menos, o que deixo transparecer. Ela e meu pai sobem no navio quando Stoico avisa que irão sair.
Assim que o barco sai das docas aceno para meus pais, tentando parecer forte o suficiente para aguentar a viagem deles. Quando os barcos não estão mais à vista, meu sorriso se desfaz e pego meu machado do chão.
Dou um último suspiro antes de virar para a estrada de madeira e seguir para a arena.
*****
– Bem vindos ao treino com dragões! – anuncia Bocão enquanto abre a grade da arena para nós.
– Agora é pra valer. – digo com convicção.
Caminho para dentro do círculo ladeado de correntes onde matamos nossos inimigos reptilianos. Meus amigos seguem atrás de mim, assim como eu, com suas armas em mãos.
– Quero ficar com queimaduras alucinantes. – diz Cabeçadura, adorando a ideia de lutar contra as pestes.
– E eu com umas dentadas. Tipo no ombro, nas costas. – diz sua irmã.
Rio com a futilidade deles, mas completo:
– É. Só tem graça se rolar cicatriz.
– É, falou e disse. – nos viramos para ver Soluço entrando, segurando um machado nas mãos débeis – Dor. Me amarro.
– Ah, ótimo. Quem convidou ele? – pergunta Cabeçadura, provavelmente colocando em palavras a pergunta que estava na cabeça de todos.
– Então vamos começar! – interrompe Bocão, desviando nossa atenção – O recruta que se sair melhor vai ter a honra de matar o seu primeiro dragão na frente de toda a nossa aldeia.
– O Soluço já matou um Fúria da Noite. Isso não desclassifica ele não? – diz Melequento, sarcástico. Os outros riem, enquanto eu foco em meu objetivo.
Não me importo que Soluço esteja aqui. De alguma forma a presença dele me acalma da viagem dos meus pais. Mas cruze o meu caminho e quebro ele em dois.
Formamos uma fila lado a lado enquanto Bocão diz algo para Soluço que não compreendo. Depois que o coloca no final da fila, empurrando-nos um pouco, grita:
– Atrás desses portões estão algumas espécies que irão aprender a combater. – ouvimos um grasnido – O Nadder Mortal.
– Velocidade: 8. Força: 3. – diz Perna-de-Peixe, recitando seus atributos.
– O Ziperarrepiante.
– Fortividade: mais 11 vezes 12.
– O Pesadelo Monstruoso.
– Poder de fogo: 15.
– O Terror Terrível.
– Ataque: 8. Veneno: 12.
– Cala a boca moleque! – grita Bocão para Perna-de-Peixe. Ouvimos outro rugido – E... o Gronckle. – Bocão coloca a mão na alavanca de abertura.
Perna-de-Peixe resmunga mais alguma informação para Soluço. Como se fôssemos precisar saber tudo isso pra matar um demônio.
– Ô Bocão. Você não vai treinar a gente primeiro? – pergunta Melequento e só então percebo que Bocão vai soltar a fera.
– Eu acredito que só se aprende fazendo. – responde Bocão e baixa a alavanca.
*****
A arena vira um caos quando o Gronckle raivoso é solto de sua jaula. Cada um de nós corre para um lado enquanto Bocão diz:
– Hoje a aula é de sobrevivência. Quem for atingido está fora.
O dragão acerta uma parede e come pedaços de rocha que estão no chão.
– Rápido! Qual é a primeira coisa que vão precisar?
– De um médico? – grita Soluço.
– Velocidade: 5? – tenta Perna-de-Peixe. Mas eu já sei o que é.
– De um escudo. – respondo.
– Isso! Peguem logo.
Todos, incluindo eu corremos atrás de um escudo para nos defender. Eu pego o primeiro que vejo, um verde com detalhes laranja.
– A peça mais importante do seu equipamento é o escudo. – instrui Bocão – Se tiver que escolher entre uma espada e um escudo peque o escudo.
Corro na direção oposta à fera e vejo o que acontece ao redor. Soluço está tendo dificuldades com o escudo (novidade). Os gêmeos, como sempre, brigam por um deles. O ar de batalha está entre nós. Adrenalina pulsa em minhas veias.
Enquanto os gêmeos ainda brigam, o Gronckle resolve usar sua distração para atacar e atira uma bola de lava neles, atingindo seu escudo e os jogando girando no chão. Corro mais um pouco para uma nova posição.
– Cabeçadura, Cabeçaquente, estão fora. – adverte Bocão – Seus escudos servem para mais uma coisa. Barulho. Façam bastante barulho para confundir o dragão.
Nesse momento eu e os que restaram começamos a bater nossas armas nas bordas do escudo. Dá para ver que Bocão tem razão. O barulho entorpece os sentidos do dragão e nos dá vantagem.
– Todo dragão tem um número limitado de tiros. – diz Bocão enquanto corremos para direções opostas novamente, parando de fazer barulho – Digam quantos tem um Gronckle.
– Cinco? – tenta Melequento.
– Não. Seis. – corrige Perna-de-Peixe.
– Acertou. Seis. Um para cada um de vocês.
Bom, quatro agora. O segundo tiro acerta Perna-de-Peixe que corre da criatura enquanto Bocão anuncia que está fora.
– Vai lá, Soluço! – grita nosso suposto “instrutor” enquanto Soluço sai de trás de um pedaço de madeira. Ele logo volta para trás do objeto quando o Gronckle acerta o terceiro tiro na parede a seu lado. Inútil.
O Gronckle nos procura enquanto eu e Melequento nos aproximamos do lado oposto da arena. Respiro rápido tentando inalar o máximo de ar que consigo de uma vez só. Então é isso que chamam de “fulgor de batalha”. Mas se isso é só nosso treinamento, imagine uma batalha de verdade.
– Aí, eu tô mudando pro porão dos meus pais. – diz Melequento, só então percebo que ele está falando comigo. Mas não dou a mínima, tenho mais interesse de sobreviver e calculo o ângulo do próximo tiro – Aparece lá pra malhar. – é agora – Cê tem jeito de quem malha.
Rolo pra longe exatamente no momento em que o quarto tiro acerta o escudo de Melequento.
– Melequento, tá fora. – anuncia Bocão.
Acabo indo parar na frente de Soluço. Ele insiste em dirigir a palavra pra mim.
– É, parece que agora é só você e eu. – o dragão está vindo de novo.
– Não. Só você. – corro pra esquerda quando o quinto tiro acerta o escudo de Soluço.
– Só resta um tiro. – avisa Bocão.
O Gronckle passa acima de mim tentando pegar Soluço que, ordinariamente, está tentando pegar seu escudo que rolou pra longe. Sai daí estúpido!
– Soluço! – grita o instrutor.
Soluço se encolhe na parede esperando pelo que está por vir. Meu coração dispara na hora em que o Gronckle prepara o último tiro para ser acertado bem no menino. Não consigo pensar direito no que estou fazendo, ou pensando, só sei que quero me jogar na frente e impedir de atingi-lo. Também não sei por quê.
O dragão abre a bocarra para expelir a substância mortífera e... o gancho de Bocão o faz atingir a parede acima.
– E com esse... seis. – diz ele. Suspiro de alívio, embora não saiba por que estou fazendo isso. – Volta pra cama, seu salsichão metido a besta. – diz Bocão enquanto tranca a jaula do bicho e diz – Você vai ter outra chance. Não se preocupe.
Todos respiram profundamente tentando recuperar o ar perdido durante o treino. Sou a única que ainda está com a arma e o escudo. Soluço ainda está contra a parede quando Bocão começa a falar:
– Lembrem-se, os dragões sempre – ele dá ênfase – sempre, atacam pra matar.
*****
Volto para casa pouco antes do entardecer. É estranho chegar lá e não sentir o cheiro familiar de carne assando e o som de lâminas sendo afiadas. É claro que já fiquei sozinha antes, mas sei lá. Dessa vez parece... diferente.
Tomo um banho antes de comer. A banheira é um bom lugar pra pensar. Enquanto esfrego meu cabelo para tirar a poeira das pedras da arena um pensamento me vem à cabeça. Durante o treino meu coração disparou toda vez que o dragão ameaçou atacar o Soluço. Talvez eu estivesse apenas me preocupando que, diferente de mim e dos outros, ele não tenha o treinamento adequado para combater dragões (ou qualquer outra coisa).
Mas e se não for isso? Será que... não. Não pode ser. Não, não, não, não, não. Põe a cabeça no lugar Astrid. Isso foi há seis anos. Você não pode estar gostando dele de novo. Ou pode?
Não. Definitivamente não posso. Posso?
Não, não pode sua idiota. Você é Astrid Hofferson. Você é a maior guerreira adolescente viking que a tribo já teve. O Soluço é só um zero a esquerda que nunca sabe onde enfiar a cabeça.
Você é uma mancha. Ele é uma listra. Manchas e listras não podem se misturar, não é?
Não sei. Não tenho certeza de mais nada. A única certeza de que tenho é que tenho que ganhar a honra de matar o Pesadelo Monstruoso. Pelos meus pais. Pela minha família.
Não esquento a cabeça em cozinhar alguma coisa. Nunca fui boa na cozinha mesmo. Então sigo até o Grande Salão para jantar, mesmo chovendo lá fora.
*****
– Muito bem. Qual foi o erro da Astrid hoje? – pergunta Bocão enquanto jantamos.
– A minha cambalhota foi mal feita. – admito – Atrapalhou meu salto pra trás.
– É deu pra ver. – diz Cabeçaquente.
Vejo Soluço encharcado dos pés à cabeça entrando no Salão. Não pense nele Astrid. Não pense.
– Não, não. Foi radical. Foi tão você. – bajula Melequento.
– Ela está certa. Devem ser honestos com vocês mesmos. – adverte Bocão.
Meus olhos seguem Soluço enquanto ele pega comida em nossa mesa.
– E onde foi que o Soluço errou?
– Duh, ele apareceu. – diz Cabeçaquente.
– Ele não foi comido. – fala Cabeçadura.
– Ele nunca está onde deveria. – acaba saindo de minha boca. Pego-me olhando para ele. Sei que não devo pedir desculpas, mas sinto como se devesse. Ele se senta na mesa ao lado.
– Obrigado, Astrid. – agradece Bocão. – Vocês tem que viver e respirar isto aqui. O Manual do Dragão. Tudo o que sabemos sobre todo dragão que conhecemos. – ele olha para o teto quando ouve um trovão e resume – Não vão atacar hoje. Estudem.
Cabeçadura se espanta, derrubando a faca com que estava brincando.
– Peraí. É pra gente ler?
– Mesmo estando vivos? – completa sua irmã.
– Pra que ler baboseiras se você pode matar as coisas do que as baboseiras falam? – Melequento irrita-se.
– Ah, eu já li umas sete vezes. – orgulha-se Perna-de-Peixe – Tem um dragão aquático que esguicha água fervendo na sua cara. E tem um outro que se enterra e...
– Tá. Fala com a minha mão. – interrompe-o Cabeçadura, obrigada – Eu até ia ler esse livro.
– Mas não vai dar. – completa Cabeçaquente.
Começam a se levantar, deixando o livro de lado. Eu ainda fico na mesa.
– Cês podem ler. Eu vou matar coisas. – diz Melequento, convicto.
Assim que percebo Soluço já está ao meu lado.
– Então vamos ler juntos? – ele pergunta.
– Já li. – respondo quase instantaneamente, empurrando o livro pra ele e levantando-me.
– Ah, ele é todo meu... – não termino de escutar o que ele fala.
Começo minha caminhada pra casa no meio da chuva de novo. Não me leve a mal, mas a última coisa da qual queria era ficar ali sozinha com o Soluço enquanto meus sentimentos entram em conflito desse jeito. Não sabia o que poderia fazer, mesmo que não devesse.
Chego ensopada em casa e vou pra cama sem me preocupar na possibilidade de pegar um resfriado. Qualquer coisa é melhor do que o que estou sentindo agora. Fecho meus olhos e caio em sono profundo, esperando não ter mais nenhum pesadelo.
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Então, o que estão achando? Esse capítulo ficou um pouquinho mais longo do que eu pretendia e admito, terminei de escrevê-lo de madrugada. Mas era preciso.
Por favor. Favoritem, mandem reviews, comentem, sigam. No primeiro dia, em que postei o primeiro capítulo, recebi dois comentários que me agradaram muito da Dama Misteriosa e Jana. Fiquei muito feliz que correspondi à expectativa delas e espero que tenha acontecido o mesmo com o resto de vocês. Vocês são a razão de eu escrever e fico muito feliz em ouvir que estão gostando. Muito obrigada mesmo e até a semana que vem.
Mia