O sábado chegou. Sam estava mais ansiosa que a filha. Acordou a menina cedo e repassava tudo no café da manhã, enquanto a menina bocejava.

– Vestido, ok. Já repassamos a música várias vezes, você está cantando direitinho, então ok. Entrevista, ok? Acho que podemos repassar mais uma vez só para garantir.

– Já fizemos isso várias vezes mamãe – falou Isabelle.

– Não custa garantir, era nessa parte que eu me ferrava. Lembre-se que eles não querem sinceridade.

– Eu não gosto de mentir.

– Conta outra. Vamos lá. Isabelle, o que você acha do colégio?

– Legal.

– Assim não!

– Eu menti, disse que acho legal, quando eu detesto.

– Tem que falar com mais empolgação, com mais detalhes.

– Não consigo me empolgar tão cedo, tenho sono. Por que tive que acordar tão cedo no sábado? O concurso só começa às 17h.

– Mas temos que chegar lá às 15h, vai demorar até você ficar pronta, porque você tem que se trocar, fazer cabelo e maquiagem.

– E você me tirou da cama às 7h. Nem você gosta de acordar essa hora.

Freddie observou:

– Sua mãe nem dormiu essa noite Belinha. Ficou se mexendo tanto na cama que acabou não me deixando dormir também.

– Eu disse pra você ir dormir no sofá se estava incomodado – rebateu Sam.

Às 14h, Sam já estava de saída com Isabelle.

– Não vai se atrasar amor. Quero ver você e os meninos lá pontualmente às 17h – pediu Sam, despedindo-se de Freddie com um beijo nos lábios.

– Não vou me esquecer. Eu não perderia esse momento da minha princesinha por nada – disse ele, dando um beijo na face da filha – Fica calma querida, lembre-se que é tudo uma grande diversão e que o papai já tem muito orgulho de você.

– Assim vai desestimular a menina. Belinha, você vai disputar para ganhar – falou Sam, segurando a filha pelos ombros, que arregalou os olhos.

Eddie falou:

– Boa sorte mana.

– Valeu fofo – disse a menina, dando um beijo no rosto do irmão.

Nick disse em tom de zombaria:

– Toma cuidado pra não cair. Se não todo mundo vai rir da sua cara, inclusive eu.

Isabelle deu uma rasteira em Nick, derrubando o menino no chão, e riu:

– Quem está rindo agora?

– Belinha! - falaram Sam e Freddie ao mesmo tempo em tom de repreensão.

– Ele provocou – defendeu-se a menina.

– Tá, não temos tempo pra isso, vamos logo – disse Sam, pegando a mão da filha e saindo apressada do apartamento.

Assim que chegaram ao local do concurso, Isabelle foi para a parte reservada ao salão de beleza, onde começaram a arrumar seu cabelo.

A menina já estava cansada de tanto puxões para fazer a escova com cachinhos.

Na sequência, veio a maquiagem. Ao final, Sam colocou um vestido azul longo na filha e olhou para a pequena orgulhosa:

– Você está linda meu amor. Uma verdadeira boneca. A boneca da mamãe. Não vou te dar um abraço e um beijo agora pra não estragar a sua produção.

Isabelle olhava em volta assustada, comentando com a mãe:

– Por que essas garotas lembram a noiva do Chuck, o boneco assassino?

– Que história é essa Belinha?

– Elas parecem bonecas, não parecem meninas de verdade, mas são assustadoras. Eu também estou assim? Ai meu Deus! - desesperou-se a pequena.

– É claro que não! Você é muito mais bonita que as garotas com massa corrida na cara por aqui, por isso vai ganhar. Agora respira fundo.

Isabelle obedeceu a mãe, respirando fundo, ainda nervosa com a situação.

O show começou. Na plateia estavam Freddie, Eddie, Nick, Carly, Gibby, Cris, Mabel, Pamela, Marissa, Charles, Claire e Alisson.

As meninas entraram no palco, iniciando o desfile, depois se enfileiraram para a apresentação. Chegou a vez de Belinha, que se apresentou:

– Eu sou a Isabelle Puckett Benson, de Los Angeles, tenho 8 anos e adoro hambúrguer.

Todos aplaudiram. Pamela era a mais empolgada. Ela se levantou na plateia e disse bem alto:

– Essa é a minha neta! É uma Puckett!

Freddie puxou a sogra, dizendo:

– Melhor se sentar Sra. Puckett.

Sam acompanhava tudo de perto, atrás do palco, sentindo seu coração disparar.

Depois do desfile, começou a entrevista. O apresentador chamou Isabelle e começou a fazer as perguntas:

– Isabelle, o que acha da escola?

– Eu acho muito legal e importante para o meu futuro, por isso vou sempre à aula e faço todos os meus deveres.

– E você gosta da sua professora?

– Muito. A senhorita Arckeman é um amor de pessoa, como eu poderia não gostar de alguém tão especial?

Na plateia, Cris comentou com Carly:

– Credo, a Belinha sabe mesmo mentir.

A entrevista prosseguiu:

– Qual o seu sonho Isabelle?

– A paz mundial.

Sam já batia os pés de nervoso, mas se acalmou quando a menina completou:

– Na verdade, eu sonho com o fim da fome no mundo, pelas crianças. Até porque eu gosto de comer!

Todos riram ao final da fala da pequena e a aplaudiram assim que saiu do palco.

Sam já esperava a filha:

– Foi muito bom querida. Lembra a letra da música que vai cantar né?

– Claro que sim.

– Ótimo, agora temos que trocar sua roupa, rápido.

Pouco depois, Isabelle estava voltando ao palco, vestida de Elsa do filme Frozen e soltou a voz, cantando “Let it go”.

A apresentação foi muito boa e todos aplaudiram a menina de pé. Isabelle era realmente afinada e caprichou na apresentação.

As meninas voltaram ao palco e o apresentador começou a anunciar as desclassificadas.

Cada menina que perdia saía correndo chorando. Isabelle viu a hora que uma delas foi desclassificada, correu pedindo colo à mãe ao lado do palco, mas esta a recebeu com um tapa na bunda, virou-se e saiu andando, sem olhar para a pequena em prantos.

Sam sorria para Isabelle, certa de que a filha tinha arrasado e que a coroa seria dela.

Sobraram 3 candidatas. Isabelle e mais duas meninas. Sam já dava pulos de alegria.

Isabelle interrompeu o apresentador, que fazia suspense quanto à vencedora.

– Eu desisto!

O apresentar se calou e todos olharam admirados para a pequena, que começou um discurso:

– Não é justo o que fazem aqui com essas pobres meninas! Passam tanta maquiagem nelas que parecem bonecas medonhas! São só crianças que deveriam estar se divertindo e não sendo cobradas para vencer a qualquer custo! Essas meninas não precisam chorar, não precisam ser recriminadas pelas mães e não precisam se sentir menos bonitas só porque não levaram uma droga de coroa e uma droga de faixa pra casa, que não vão mudar nada na vida delas, só deixar a família e a sociedade orgulhosa para exibi-las como troféus. Vivemos numa sociedade machista onde padrões de beleza imperam causando disputa e sofrimento entre as mulheres. Todas as meninas aqui são lindas e merecem o respeito da família e da sociedade e todas que não estão aqui também. Na verdade, todas as mulheres são lindas, cada uma do seu jeito. Não é justo que se sintam melhor ou pior que as outras por estar dentro ou fora dos padrões. Esse concurso representa a derrota de toda a luta das feministas para que as mulheres sejam tratadas com respeito e igualdade na sociedade. Por tudo isso, eu desisto! - decretou Isabelle, saindo do palco.

Sam estava perplexa:

– O que foi isso Isabelle?

– Você ouviu, não quero falar sobre isso, vamos embora logo.

No apartamento 13-B, Isabelle estava sentada no chão do seu quarto, brincando com uma Barbie, não tinha esse costume, mas, naquele momento, sentiu vontade fitar a boneca demoradamente, pensando em quantas meninas sonhavam em ser igual a ela, inclusive Isabelle.

Sam entrou e a filha disse:

– Sei que está decepcionada comigo. Espero que possa me perdoar.

A loira sentou-se no chão ao lado da pequena:

– Não estou decepcionada com você, na verdade, estou muito orgulhosa.

– Tá falando sério? Por que?

– Eu tenho a filha mais inteligente e corajosa do mundo. Eu acho que a minha mistura com o Benson acabou sendo muito bem sucedida.

– Como assim?

– Sabe Belinha, quando eu descobri que estava grávida de você, não foi fácil. Eu era muito jovem e não podia esperar por isso, fiquei muito assustada. Não sabia se daria conta do recado de ser mãe. Eu me julgava uma pessoa toda errada e temia não saber criar você do jeito certo para que fosse uma pessoa melhor que eu.

– Você é a melhor mãe do mundo e eu te amo.

– Posso não ser a melhor mãe do mundo. Agora mesmo, não me orgulho do que fiz com você no concurso de beleza. Eu acabei repetindo tudo o que a minha fez comigo e eu detestava. Quando cheguei em casa e me olhei no espelho podia ver Pam Puckett refletida e isso me deixou triste e com vergonha.

– Eu já te perdoei mamãe, não se preocupe.

– Você tem um coração tão generoso, é linda por dentro e por fora, é inteligente, decidida e corajosa, muito mais do que eu. Eu tive medo de não conseguir fazer de você um ser humano melhor e acabou que foi você que fez de mim um ser humano melhor. Desde que nasceu, você só me traz lições de vida valiosas. Você é um anjinho que Deus mandou pra mim, porque ele ainda acreditava em Sam Puckett.

As duas se abraçaram. Sam puxou Isabelle para o seu colo e a embalou, como fazia quando ela era pequena.

Freddie foi chamá-las para jantar, mas saiu de mansinho quando viu a cena, não queria atrapalhar o momento.

No dia seguinte, no colégio, todos apontavam para Isabelle e cochichavam.

– Pelo visto a fofoca do concurso já correu – comentou Isabelle, despreocupada, enquanto caminhava para a sala de aula na companhia de Cris e Alisson.

– O que você fez foi incrível Belinha – elogiou Alisson.

– Valeu.

– Eu acho que você iria ganhar o concurso se não fizesse aquilo – comentou Cris.

– Nem ligo, não queria mesmo.

Na sala de aula, Senhorita Arckeman olhou para Isabelle e disse:

– Senhorita Benson, venha cá, precisamos conversar.

Isabelle levantou-se, resignada, e perguntou:

– Qual o meu castigo dessa vez?

Para a surpresa da menina, a professora deu um abraço e um beijo no rosto da pequena:

– Estou muito orgulhosa de você. É uma verdadeira guerreira na luta feminista, apesar de ser pequena ainda. Você tem um futuro brilhante pela frente menina. Vai brilhar nessa sociedade machista, mostrando a todos a que veio, levantando a nossa bandeira.

– Como soube do concurso?

– O seu vídeo está entre os mais acessados na internet. Assisti hoje cedo. Meus parabéns! Só por isso vou te dar um ponto na média.

– Em que matéria?

– Em todas. Sei que é capaz de você nem precisar, pois é muito inteligente, mas, de qualquer forma, se faltar um pouquinho para o seu boletim vir recheado de dez dou uma forcinha.

– Não quero ponto na média, prefiro que me faça outro favor.

– E qual seria?

– Para de incomodar o Cris. Ele é legal e é o meu melhor amigo.

– Claro. Se uma feminista diz que um garoto merece uma chance, é porque ele merece.

– Muito obrigada.

Isabelle voltou a se sentar, olhou para Cris ao seu lado e disse:

– Não precisa mais se preocupar com a Senhorita Arckeman, ela vai te deixar em paz.

– Tem certeza? Como conseguiu isso?

– Não importa, apenas saiba que me deve uma.

– Vai me cobrar de que jeito?

– Que tal você pagar meu lanche por uma semana?

Senhorita Arckeman interrompeu:

– Vou começar a aula, quietos.

– Eu estava falando, mereço um castigo? - perguntou Cris à professora.

– Claro que não, apenas fique quieto a partir de agora.

Cris olhou para Isabelle sorrindo e disse:

– Você merece que eu pague os seus lanches por um mês.