Gotham: Era da extinção. escrita por Miss Silence


Capítulo 1
Capítulo único.


Notas iniciais do capítulo

Aproveitem.



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Tempo. Não temos mais tempo. A frase martela em minha mente como se fosse uma orquestra sinfônica mórbida., aApesar disto, os sons das vozes em minha mente não é o que me irrita. É a frase. Não temos mais tempo. Tempo não podemos ter. Por que hoje em dia é tão difícil ter tempo para ser um digno malfeitor? É como uma pequena irritante cantiga infantil. que Nnão sai da minha cabeça. Reviro os olhos e então volto a encarar o homem magro com uma leve ascendência asiática a minha frente. Engraçado, não sei o que o torna assim, mas ele é engraçado.

Talvez seja o suor iluminando suas têmporas, ou então o tremor constante e visível de suas mãos enquanto tenta encontrar as folhas necessárias para mim, ou os olhos arregalados e marejados enquanto observa o cano metálico da arma em minhas mãos. Consigo sentir a risada borbulhar em meu peito e então solto-a. O som vaga solitariamente pelo recssinto obscurecido pelo céu noturno.

– Diga-me outra vez: se entendeu bem o que estou pedindo para você fazer? – Digo lentamente. O som da minha voz ecoa de maneira grave, pela sala nua. Havia apenas algumas prateleiras feitas do que pareciam ser o tipo mais puído de metal existente. Mas os papéis não estavam em evidência, compactados em pastas grossas dentro das gavetas. Fora aá mesa feita de mogno, onde o homem se encontrava recurvadoa sobre uma pilha de arquivos mortos, havia apenas uma cadeira que tinha pequenos rasgos nos cantos, como unhas afiadas.

Por um segundo senti a curiosidade afundar em minha mente, da mesma forma que uma pedra afunda na água, aquilo me era estranhamente familiar, muito embora eu pouco me importasse com tal fato. A realidade era simples e prática. Gotham precisa de um aviso. E eu, irei dá-lo.

O homem engasgou-se nervoso. Seus cabelos pretos brilhavam com o suor, apesar de seru um homem novo, linhas grossas acentuavam sua expressão aterrorizada o fazendo ficar hilariante se não fosse àa demora empara responder minha pergunta. Depois de mais alguns minutos, pergunto-me se ele sequer a ouviu em meio ao torpor desesperado de ficar vivo. Tão previsível.

– Você quer que eu o encontre. – respondeu o homem tropeçando em suas próprias palavras, um ato que denotava claramente seu nervosismo, mais uma risada borbulha por meu peito, mas limito-me apenas a abrir um sorriso irônico.

Eu assobio distraidamente enquanto observo a lâmpada oscilante da sala.

– E você percebe que não temos tanto tempo, não é? – eu resmungo contendo a irritação. As vozes em minha mente parecem aumentar à medida que vejo o tempo passar. Então acontece. Foi por uma fração de segundo, mas eu vi, os olhos do homem se voltaram para a janela com as persianas abaixadas. Eu sabia. Sinto meu dedo deslizar em direção ao gatilho enquanto o torpor da raiva começa a me cegar. Maldito!

O homem parou de remexer nas folhas espalhadas diante da mesa e então encarou o cano da arma. Vi seu pomo de adão se movimentar para cima e para baixo enquanto ele engolia em seco, visivelmente. O suor que brotava de suas têmporas havia aumentado e seu tremor agora espalhava por todo o seu corpo, quase como se ele estivesse em convulsão. Não me importava. Os olhos escuros do homem fixaram-se em meu rosto, com um desespero gritante. Não senti nada.

– Sa-sa-sabe que não po-po-de encontrá-lo sem mim. – advertiu o homem gaguejando. Os olhos marejados pareciam querer saltar de suas orbitas. A risada explodiu em meu peito, de uma maneira assustadora, fazendo o homem se encolher ainda mais.

Olho para a arma em minha mão, reluzindo com um brilho pálido na luz oscilante da sala e então, lentamente, eu voltou a encarar o homem cujo nome eu nem sei o nome, mas que estou disposto a matar, apenas para tirar esse brilho fajuto de esperança em busca de salvação. Eu tive esperanças uma vez. Á história não acabou bem. Será que ele não percebia o quão ridículo estava sendo naquele momento?

O homem se remexeu impaciente na cadeira e então eu vi. Escondida discretamente em uma pasta escura dentro do lixo eu vi um sobrenome familiar. O único sobrenome que me faria parar no segundo antes de disparar a arma. Wayne. Um misto de sentimentos atingiu-me com um baque, mas não ousei demonstrar. Voltei a encarar o homem a minha frente com um sorriso sádico nos lábios.

– E o que faz pensar assim? – pergunto com sarcasmo.

Não esperei pela resposta dele. Atirei. O homem sufocou um grito e então desabou na mesa, manchando os papeis com um tom vermelho intenso. Sangue tem uma cor estranha, é mais escuro do que imaginamos ser. Guardo a arma em meu cinto novamente e então me levanto, caminhando em direção ao lixo. Definitivamente este era o pior lugar para se esconder um grande segredo como aquele. Gotham era definitivamente uma cidade estúpida.

Antes que eu pudesse sequer cogitar a idéia de folhear o arquivo morto, a porta se abriu com um estrondo. Ergui minha cabeça e vi um de meus comparsas encararem-me com medo e ansiedade ao mesmo tempo em sua expressão. Não precisava ouvir o que ele iria dizer, para saber realmente do que se tratava tal assunto. Ainda assim, esperei.

– Coringa, nós precisamos sair daqui agora. – Aa ansiedade transbordava por seu tom de voz rouco e ameno. Olhou por sobre meus ombros onde o corpo do homem, (o procurador geral do antigo fórum de Gotham,) e então prendeu a respiração. Os olhos azuis fixos em meu rosto, avaliando-me. – Eles chamaram a polícia e ele.

Não pude evitar abrir um sorriso desta vez, . Mmeus dentes ficando a mostra de forma predatória.

– Não se preocupe. Algo me diz que ele não virá.

****

Uma figura indistinta encontrava-se no corredor. Era Selina. Suas roupas pretas feitas de couro estavam molhadas e os cabelos castanhos escuros pendiam por seus ombros emaranhados, a tez pálida tinha um leve brilho perolado destacando seus olhos castanhos dourados. Tinha uma expressão irritadiça.

– Já está com sua parte? – questionou ela. – Os investidores não estão gostando muito da sua demora, Coringa. Axel está cansando-se de bancá-lo.

Reviro meus olhos.

– Convenci o filho dele, antes deste morrer. Acidente lamentável.. – Respondo. Selina me fita com o olhar desconfiado.

– E quanto a minha parte do trato? Ainda não recebi os diamantes.. – Resmunga Selina, seu tom de voz e suave como o ronronar de um gato. Lanço-lhe um olhar pelo canto do olho. Sei exatamente o que ela planeja, e preciso que ela o faça. A contra gosto retiro a pequena bolsa feita de camurça azul escura e entrego-lhe com os diamantes de que ela deseja.

– Aqui está. Agora já sabe o que fazer não? – mMinha voz soa ríspida, muito embora meu olhar esteja fixo em seu rosto feminino. Por um instante vejo seus olhos cintilarem em opostas decisões conflitantes e, ela não me encara. Sei o que significa que irá fazer. Reprimo um grunhido.

– Tiro ele da cidade e você dá o seu recadinho. – ela diz lentamente. Seus olhos continuam baixos, fixos na bolsa. Abro um sorriso largo quando finalmente chegamos à porta. Não chove mais., nNo entanto, ainda assim vejo Selina hesitar. Sei o que ela vai fazer, então finjo não notar.

– Tem dois dias para tirá-lo daqui. – mMeu sorriso se expande por minha face. As vozes em minha mente se calam, todavia. – Este é o início do fim.

****

Houve um estrondo. Não ouso virar-me para encará-lo, embora eu tenha consciência de seus olhos escuros fixos em minha cadeira. Dei dois dias áa Selina para “fazer” o que mandei, e pelo visto, ela me traíra sem pestanejar, apenas para salvá-lo. Que tola garota. Não podia esperar menos do que isso.

– Devo dizer que é uma surpresa? – pergunto ainda encarando a janela do prédio cujo qual me encontrava. O vidro reflete meu sorriso de uma maneira psicótica, mas ignoro a satisfação.

– Eu sei o que você planeja fazer, e acredite em mim, não vai dar certo. – responde uma voz grave atrás de mim.

Viro-me na cadeira rotatória e paro de frente para a mesa de mogno, atrás dela, e observo o homem vestido todo de preto com uma longa capa escondendo seu corpo. Um verdadeiro morcego. Ergo uma sobrancelha inquisidor.

– Ela já lhe contou não? – resmungo com um ar divertido. – Mas acho que houve um pequeno equíivoco na historia. – mMeus dedos envolvem o botão do detonador. – Acho que contei o plano errado.

Batman, que até então parecia imóvel e pétreo, ofegou surpreso. Meu sorriso se alarga ainda mais.

– O que? – Soltou Batman sem conseguir se refrear.

Reviro meus olhos, entediado.

– Tsc, tsc, que previsível. – dDesaprovo. Batman se recompõe rapidamente e então me encara sério. Sem conseguir me refrear, eu solto uma gargalhada alta. – Acha que eu nunca tive a consciência de que Selina estava tendo um caso com o poderoso empreendedor Bruce Wayne? Ofende-me pensar assim. Meu plano nunca foi tirar você da cidade, Bruce, pelo contrário. Eu sabia que você viria na primeira oportunidade para tentar me impedir.

Batman avança em minha direção. Seu rosto é uma máscara indecifrável. Sei que ele está procurando uma saída para isso tudo. Só que desta vez meu plano não tem falhas. Sei como isto irá acabar.

– Por quê? – perguntou Batman cautelosamente – Não vejo sentido algum nesse teatro todo.

– Porque eu quero que você veja sua preciosa cidade resumida a cinzas. – respondo sorrindo. Dou de ombros singelamente. – Porque farei parte da historia dessa cidade, nem que para isso precise destruí-la... Ou desenhar meu rosto nela. – Ergo o detonador e aperto o primeiro botão. Batman congela.

Desperto enfim, ele agarra-me pelo colarinho estreitando os cantos dos olhos. Eu solto uma gargalhada. Sei que ele está pensando, as vozes gritam ao meu redor. Ele quer me tirar daqui.

– Vá em frente, Bruce. Pode bater. – provoco-o. Batman fica tenso. Eu solto mais uma gargalhada. – Não consegue não é? Não pode. Me ama tanto assim? Devo me sentir honrado?

A boca de Batman se contrai. Mas ainda assim eu abro um sorriso. A expectativa das vozes silenciosas é quase palpável.

– Chega de joguinhos Coringa! Agora, diga-me, por que está fazendo isso?. – responde ele, lentamente. Ele solta meu colarinho, afastando-se de mim.

– Ainda não entendeu? – perguntou confuso. Ergo uma sobrancelha desconfiado. – Eu quero acabar com você. Além disso, estou sendo pago para isso – Bruce me encara. – De qualquer modo, muitos disseram que eu não conseguiria acabar com você. Provo o contrario.

– Já chega. Isso acaba aqui, Coringa!. – exclamou Batman cauteloso.

Eu sorrio novamente, desta vez de forma ameaçadora.

– Não. Isto acaba aqui!. – exclamo. Ergo o botão do detonador novamente e aperto o segundo. Disseram que eu não conseguiria destruí-lo. Estavam errados então soltou uma última gargalhada que ecoa na noite como o aviso que daria a esta cidade.

A sala explode.

As chamas envolvem meu corpo, assim como o dele,. Mas eu não sinto dor. Em seu lugar, leva-me a euforia de um plano executado, finalmente bem sucedido. Durante muito tempo imaginei uma maneira de provar do que sou capaz. De contradizer o que todos pensavam. Eu podia vencê-lo. Podia destruí-lo. Destruí. Era esse meu aviso.

****

Sei que não serei perdoado pelas coisas que fiz. Sei qual é meu lugar,. Mas não me arrependo. As vozes se calaram. Meu recado fora dado.


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Notas finais do capítulo

E aí aprovado?