Printemps escrita por Hanna Martins


Capítulo 4
Velhos hábitos


Notas iniciais do capítulo

Eu sei que demorei bastante para atualizar a fic. Peço mil desculpas, eu amo escrever essa fic e fico muito triste por não conseguir atualizá-la com mais frequência. Espero que não tenham desistido da fic...



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/577238/chapter/4

Faço Peeta engolir alguns remédios para baixar sua febre, embora ele insista que está bem.

― Não é nada ― afirma, porém seus lábios estão tremendo. Aliás, todo seu corpo treme.

Não lhe dou caso e faço com que tome os remédios.

― Vou fazer uma sopa.

― Não precisa, não estou com fome.

Olho para ele. Algumas coisas não mudam. Peeta ainda continua igualzinho quando fica doente.

― Você precisa comer! ― falo sem permitir réplicas.

Vou até a cozinha. Pego tudo o que acho de comestível na cozinha e preparo uma sopa. Ela não ficou de todo mau. Diria que até que está boa.

Subo com o prato de sopa até o quarto de Peeta. Ele faz uma careta quando vê o prato.

― Garanto que não tem xarope aqui! ― digo fazendo referência ao episódio que precisei dar xarope de sono para fazê-lo dormir e eu poder ir até ao ágape, buscar o remédio que o curaria.

Um pequeno sorriso surge no rosto dele. Sorrisos não são muito frequentes em nossas vidas atualmente. Parece que não há espaço para coisas assim. Depois de tudo que vivemos, esquecemos algumas coisas e sorrir foi uma delas. Mas precisamos aprender novamente. Dr. Aurelius diz que as crianças não aprendem a andar sem cair, posso levar várias quedas, mas um dia conseguirei andar.

Esboço um pequeno sorriso e coloco a bandeja com o prato de sopa em seu colo. Peeta continua a me olhar, seu sorriso aumenta.

― A sopa vai esfriar ― advirto, me sentando na cama.

Peeta começa a comer um tanto relutante. Depois de me certificar que ele está tomando a sopa, pego uma das folhas de papel que está na mesinha de cabeceira. É um esboço de Finnick. O desenho reproduz com perfeição o olhar, a expressão decidida de Finnick, tudo está ali. Ele sorri, enquanto lança seu tridente.

― Annie... como ela consegue viver sem ele? ― indago mais para mim mesma do que para Peeta.

― Ela sabe que Finnick gostaria que ela vivesse ― diz Peeta. ― E ela vivera por ele, aproveitara cada dia. Assim como nos precisamos viver nossas vidas por aqueles que morreram.

Assinto. Mas não posso impedir que uma lágrima caia. Peeta coloca a bandeja na mesinha de cabeceira e abre uma gaveta.

― Ontem, chegou isso para Haymitch. Ele me deu... ― diz retirando da gaveta uma foto e estendendo-a para mim.

Pego a foto. É o filho de Annie e Finnick, impossível não reconhecer os olhos verdes.

― Se chama Kai ― diz Peeta. ― Significa oceano.

― Combina com ele ― comento, analisando a foto do recém-nascido. ― É um belo nome, Kai. Assim como os pais, acredito que também irá amar o mar.

Annie voltou a viver em seu distrito. Assim como Johanna. Não há lugar para nós na Capital, não pertencemos àquele local. Beetee continua a trabalhar para a Capital, seus inventos são muito úteis para eles.

― É melhor você dormir um pouco.

Peeta assente e se deita na cama. Cuidadosamente coloco a foto de Kai junto com as folhas de papel. Essa recordação, assim como as tristes, deve ser lembrada.

Deixo Peeta dormindo no quarto. A chuva ainda não parou de cair. Pego a folha de papel com o desenho de Finnick, com minha letra mais bonita começo a escrever.

Finnick Odair era o mais belo dos tributos. Um dos tributos mais valentes que conheci. Mas sua verdadeira beleza não estava em seu exterior, estava em seu coração. Sua valentia vinha do desejo de proteger aqueles que amava. Pelas pessoas que amava era capaz de sacrificar tudo. E somente pelas pessoas que amava poderia viver. Finnick morreu jovem, porém, antes de sua morte, por algumas semanas, encontrou sua felicidade, e aquele momento foi eterno enquanto durou. Por Finnick devemos viver eternamente, enquanto durar nossas vidas. Por Finnick devemos proteger aqueles que amamos.

Uma pequena lágrima cai sobre a página quando termino de escrever. A lágrima é salgada, assim como o mar que Finnick tanto amava.

Noto que já anoiteceu há muito tempo, quando termino de escrever. Preparo uma refeição rápida para mim. Depois de comer, vou ver como Peeta está. Ele continua dormindo. Sua febre baixou um pouco constato ao colocar minha mão em sua testa.

Me sento na poltrona laranja que fica perto da janela. A chuva agora é fina, posso até voltar para a casa sem me molhar. No entanto, não me atrevo a deixar Peeta sozinho.

Acabo dormindo sem perceber, estou tão cansada.

A explosão. Prim vai em direção ao fogo. Tento gritar, mas não consigo, resta apenas a sensação sufocante na garganta da palavra que não foi dita. Tento alcançá-la, o fogo me queima. Prim escapa de minhas mãos. Não consigo me mover, não consigo ir atrás dela. O fogo me consome.

― Katniss, acorda! Katniss!

A voz de Peeta me desperta do pesadelo. Estou toda suada e assustada, todo meu corpo treme. Me atiro nos braços dele com toda a força que consigo.

― Já passou ― sussurra, enquanto acaricia delicadamente minha cabeça.

Peeta aos poucos consegue me acalmar um pouco e diminuo a pressão dos meus braços sobre ele, mas não o solto. Escondo minha cabeça em seu peito.

― Quer falar sobre seu pesadelo?

Nego com minha cabeça. Peeta me pega nos braços e me leva até a sua cama. Não consigo soltá-lo, não quero soltá-lo, porque a presença de Peeta é a única que coisa que me permite não sucumbir aos meus pesadelos. Peeta e eu compartilhamos da mesma dor, talvez seja a única pessoa que possa realmente me compreender.

― Fica comigo ― peço, meu pedido é quase uma súplica.

― Sempre ― responde me aconchegando em seus braços.

Não trocamos mais nenhuma palavra. Apenas permanecemos juntos e isso basta. O calor de Peeta e seus braços são familiares. Seus braços já me protegeram tantas e vezes que não me recordo mais. Só eles tem o poder espantar meus pesadelos para longe de mim.

Passamos o resto da noite assim. Aos poucos pego no sono e pela primeira vez, em muito tempo, tenho um sono sem qualquer tipo de pesadelos.

Acordo com os olhos de Peeta me observando. Noto que o sol, já há bastante tempo saiu, pois o quarto está todo iluminado.

― Que horas são?

― Já passou das dez da manhã, não quis te acordar, você dormia tão bem...

― Sua febre passou? ― digo tocando sua testa. Sua pele já não está mais quente.

― Eu estou bem. E você teve mais algum pesadelo?

― Não, dormi bem. Obrigada por ficar comigo...

Ele sorri.

― Vou preparar o café da manhã... ― diz levantando-se da cama.

Peeta prepara um café da manhã para nós com ovos, bacon e pão.

― Tenho que levar um pão para Haymitch ― fala me olhando.

― Nosso antigo mentor ainda não aprendeu a se cuidar sozinho... ― digo comendo uma fatia de pão.

― Quer... vir comigo? ― pergunta casualmente. ― Haymitch já começou com sua criação de gansos...

Visitar meu antigo mentor, a ideia me parece um tanto precipitada, não sei se consigo vê-lo agora. Passamos por tantas coisas. Porém, acabo concordando.

Peeta pega um pão quentinho e fazemos uma pequena caminhada até a casa de Haymitch. Desde que voltei, não mais o vi em lugar algum. Haymitch parece ter se trancado em casa com suas bebidas para nunca mais sair de lá.

Peeta bate na porta, ninguém responde, mas entramos na casa assim mesmo. Ela parece inabitável. Ninguém diria que alguém mora aqui. Hazelle foi com Gale e os filhos para o Distrito 2, por isso não há ninguém para limpar e manter a casa habitável.

Encontrarmos Haymitch na cozinha, dormindo com a cabeça apoiada na mesa. Ele ronca alto. O cheiro de álcool, suor e comida estragada envolve todo o recinto. Me questiono como alguém pode respirar esse ar. Também parece que Haymitch não toma um banho há semanas. No fundo, eu compreendo meu antigo mentor, eu também já fiquei assim por um tempo. Se não fosse pela chegada de Peeta, quem sabe como eu estaria agora.

― Devemos acordá-lo com um balde se água? ― sugiro após as tentativas frustradas de Peeta acordá-lo.

― Só se você quiser ser atacada por um Haymitch raivoso e com uma faca na mão, eu não me arriscaria.

É verdade, alguns hábitos não mudam, como o fato de Haymitch dormir agarrado a uma faca. Podemos ter deixado a arena, mas a arena não nos deixou. E ela nunca nos deixará. Paira sobre nós como uma sombra, enquanto vivemos.

Peeta consegue, após alguns esforços, acordar Haymitch, que desperta resmungando e praguejando. Ele apenas para de falar palavras obscenas quando seus olhos me localizam.

― Docinho? ― indaga incrédulo.

― Haymitch — o cumprimento, cruzando meus braços.

― Realmente, é a docinho! Resolveu me fazer uma visitinha, queridinha?

― Vim ver se precisava pedir para Thom te levar na carroça dele ― retruco.

Como resposta, recebo uma estridente gargalhada de Haymitch. Antes que eu lhe dê alguma outra resposta malcriada, Peeta intervêm, pegando em meus ombros.

― Vem, vou te levar para ver os gansos ― Peeta olha para Haymitch. ― Trouxe um pão para você... Coma alguma coisa, isso vai melhorar um pouco sua bebedeira.

Ele não contesta Peeta. Sabe que ele tem razão.

Os gansos ficam soltos no fundo do quintal. Peeta me explica um pouco sobre eles e como é vantajoso que Haymitch tenha escolhido criar gansos como animais de estimação, já que eles podem se cuidar sozinhos. Se cuidar sozinho é algo muito valioso, quando se está sob a tutela de meu antigo mentor. Gansos foi uma boa escolha, duvido um pouco se outros animais se dariam bem com ele.

Haymitch se junta a nós. Parece mais apresentável, lavou o rosto e trocou a camisa. Um ganso negro ao avistá-lo avança sobre ele. Haymitch tenta se esquivar do ganso, porém ele é persistente. Ele acaba caindo de bunda bem no bebedouro dos animais, molhando completamente suas calças.

Eu e Peeta rimos. Essa imagem é tão familiar.

Haymitch levanta resmungando do bebedouro.

― Esse ai, se chama Katniss.

― O quê? ― digo.

― Uma homenagem a docinho.

Olho para o ganso negro que agora lança olhares assassinos para Haymitch. Pelo menos o ganso é esperto.

― Ouvi dizer que está criando um livro de memórias....

Olho para Peeta que apenas dá os ombros.

― É, algo assim... acredito que há coisas que não podem e não devem ser esquecidas. Não quero me esquecer de nada, são memórias que fazem parte da minha vida.

Ele nada fala, apenas assente e olha para os gansos.

― Você poderia colaborar com a gente ― diz Peeta repentinamente. ― Você foi mentor por mais de vinte anos. Eles também precisam ser lembrados.

Haymitch olha para Peeta e depois para mim, parece ponderar sobre o assunto.

― Você está certo, Peeta ― diz finalmente. ― Eu ajudarei com minhas recordações.

Peeta e eu deixamos Haymitch, que promete se juntar a nós esta tarde.

― Será que ele vem? ― pergunto, enquanto andamos de volta até nossas casas.

― Ele virá ― responde Peeta, que possui uma incrível capacidade de confiar nas pessoas, mesmo que se trate de nosso antigo mentor.

E ele vem. Às três da tarde, Haymitch aparece em minha porta.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

O que acharam do capítulo? Velhos hábitos são difíceis de serem mudados, Haymitch ainda continua o mesmo, não?



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Printemps" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.