Surrender escrita por Maryse Ashryver, Leah Walsh


Capítulo 2
Calmaria antes da tempestade


Notas iniciais do capítulo

Finalmente eu tomei vergonha na cara para postar o primeiro capítulo! Peço desculpas pela demora. Prometo que agora tentarei ser mais presente, postando pelo menos um capítulo por semana. :)



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3 SEMANAS ATRÁS

Através da janela, a tarde está nublada. E mesmo estando dentro da sala de aula, eu posso sentir que a temperatura baixou alguns graus. É a última aula da quinta, mas ainda assim ela passa se arrastando e eu já estou ficando impaciente. Quando parei de prestar atenção na aula, o sr. Lawrence falava de como o nosso país é capitalista e opressor. Maldito dia que esqueço de trazer uma revista ou algum livro para me distrair.

Meus pensamentos são interrompidos quando uma bolinha de papel cai em meu colo. Olho em volta e vejo minha amiga Chelsea piscando seus olhos cor de avelã para mim, e indicando com a cabeça para que eu pegue o papel, o que fez com que uma mecha loira dos seus cabelos caísse em seu rosto. Ao desembrulhá-lo, vejo que é um bilhete escrito com sua sempre caprichosa caligrafia, que diz:

"O que está rolando, gata? Está me dando nos nervos você ficar olhando fixamente para a janela desse jeito durante toda a aula. É algum problema com seus pais de novo?"

Suspiro. Eu realmente não estou com forças para falar sobre meus problemas agora. Apenas escrevo no verso do bilhete um "Estou bem!" e o jogo discretamente de volta para Chelsea. Conhecendo-a do jeito que conheço, sei que ela não vai cair nessa. Somos amigas desde o jardim de infância e não nos desgrudamos mais desde então. Temos gostos bastantes diferentes. E mesmo Chelsea sendo da equipe de animadoras de torcida da escola enquanto eu odeio esportes e prefiro fotografia, não deixamos nada abalar a nossa amizade.

Estou tão distraída com meus pensamentos que, quando o sinal indicando o fim das aulas toca, eu me assusto. Mas logo pego meus pertences e saio da sala a passos largos e rápidos.

– Diana! Espere por mim! – Chelsea grita em meio a multidão que ainda tenta sair da sala, ultrapassando as dezenas de pessoas que estavam no corredor.

Apesar de não parar, desacelero o passo para ela me alcançar. Assim que ela me alcança, já dispara a falar.

– Nossa, como é que não demitiram o sr. Lawrence ainda? O trabalho dele é ensinar história, mas ele só faz falar de como o comunismo é a solução de tudo e de que nós americanos somos os culpados pelo comunismo não ter triunfado. Ah, tá bom! George me falou que viu ele xingando o Papai Noel do shopping de porco capitalista! – Chelsea ri consigo mesma e eu apenas coloco um sorriso amarelo no rosto.

Quando saímos para o estacionamento, uma brisa gélida chicoteia meu rosto e eu estremeço. Não vejo a hora para que o período de transição entre inverno e primavera acabe logo. Apesar de ter que reconhecer que o inverno é uma estação bastante fotogênica. É fascinante o modo como as árvores, nuas de suas folhagens, mostram que nada dura para sempre.

Me dou conta que me perdi em meus pensamentos novamente e me sinto um pouco culpada, porque Chelsea está falando toda animada sobre uma festa que seu namorado – George – vai dar amanhã. Apesar de ser a milésima vez que a escuto falar dele, não posso deixar de notar como seus olhos brilham cada vez que ela menciona seu nome. E de como parece que ela vai sair voando, tonta de felicidade toda vez que ele aparece ao seu lado. Queria poder me sentir assim. Mas até agora, nunca senti nada parecido. Nem mesmo com Josh, com quem estou saindo há algumas semanas. Mesmo ele sendo um amor e de todos na minha casa gostarem dele – principalmente por ser o melhor amigo do meu irmão David –, sei que o que a gente tem nunca vai virar nada sério. Pelo menos não se depender de mim.

Depois de algum tempo conversando com Chelsea e algumas líderes de torcida, eu escuto a buzina do Corolla do meu irmão. Com isso, me despeço delas e agradeço mentalmente a Chelsea por não ter insistido no lance dos meus pais. Corro para o carro antes que David saia sem mim. Assim como Josh, meu irmão faz parte do time de futebol e geralmente fica todos os dias após as aulas para treinar. Por isso, nos dias em que eu não tenho que ficar para ajudar na redação do jornal da escola, eu volto para casa a pé ou pego carona com alguém. Hoje, porém, o treino foi suspenso porque o técnico estava doente. Ao me aproximar do carro, percebo que uma figura com cabelos cor de areia e não muito alta, porém musculosa, falava com meu irmão. É Josh. Ele olha pra mim com seus adoráveis olhos castanhos e sorri.

– Está fugindo de mim? Só a vi nas aulas que temos juntos – diz ele em um tom brincalhão.

– Acredite, não é só de você que ela está fugindo – murmura David, e eu reviro os olhos para ele.

Me viro para Josh e digo:

– Eu apenas tenho estado bastante distraída ultimamente. Tantas coisas para fazer... Escolher faculdade. Trabalhar no jornal. Dever de casa. É exaustivo. Mas eu supero. Vejo você depois – me inclino em sua direção, dou um selinho nele e em seguida entro no carro.

Assim que fecho a porta, meu irmão dispara em direção à nossa casa. Pelo retrovisor, posso ver que Josh fica parado onde está, vendo nosso carro se afastar. Eu realmente vinha evitado ele desde manhã. Na verdade, venho evitado todo mundo. Eu poderia contá-lo sobre o motivo para eu estar agindo assim, só que ele não entenderia. Ele nunca entende, é um péssimo ouvinte. Toda vez que preciso desabafar algo, ele consegue desviar o assunto para ficar no centro das atenções. Logo, paro de me preocupar com ele.

– Mamãe está surtando, Di. Por favor, pare de fugir e deixe-a expor seu lado – fala meu irmão, quebrando o silêncio repentinamente.

Mordo meu lábio inferior e não falamos mais nada até chegarmos em casa. No momento em que abro a porta, minha mãe aparece na sala e nem espera que eu a cumprimente. Já vai logo falando:

– Filha, por favor, precisamos conversar. Você não pode simplesmente fazer o que quiser sem antes nós discutirmos sobre isso. Vamos, sente-se e fale comigo – ela diz isso tudo com uma expressão triste no rosto e eu sei que o que eu falei hoje antes de sair para a escola a magoou, mas eu realmente preciso pensar um pouco antes de discutir isso com ela.

– Mãe, depois a gente conversa. Eu estou muito cansada e realmente preciso tomar um banho. Mas prometo que nós vamos conversar.

Sem esperar uma resposta, corro em direção ao meu quarto. Quando entro nele, tranco a porta só para que mamãe não possa vir atrás de mim. Vou para minha cama e desabo nas várias almofadas que estão nela. Me sinto péssima por tratar minha mãe assim. Mas eu já sei o que ela vai dizer: que o sonho dela desde criança era ser mãe, e que ficou péssima quando descobriu que tinha problemas de fertilidade. Que apesar de contar com a possibilidade de inseminação artificial, ela decidiu proporcionar um lar para mim e para David – crianças que foram abandonadas pelos pais. Afinal, para que colocar mais crianças no mundo se existem várias delas jogadas sem carinho ou amor em orfanatos?

Não que eu não ache isso lindo. Na verdade, isso me faz admirar minha mãe mais ainda. Mas por toda minha vida eu senti que parte de mim estava faltando. Quero saber quem eu sou, de onde eu vim. Quero saber coisas sobre meus pais biológicos. E minha mãe não entende e não consegue enxergar uma razão para isso. Acho que ela tem medo que eu troque ela e o papai pelas pessoas que me abandonaram. O que nunca aconteceria, claro. David também não me compreende e diz que quer distância dos progenitores dele. Por isso, depois de passar quase um mês implorando para minha família me ajudar com esse grande passo que eu estava tomando, decidi agir sozinha. E digamos que mamãe não ficou nada feliz hoje de manhã, quando, em uma discussão, comentei que tinha contatado o orfanato onde eu fui deixada e que tinha pedido informações sobre meu passado. A funcionária garantira que iria dar um olhada nos antigos arquivos. Espero que ela ache algo.

Me assustando, meu alarme toca, anunciando que é hora de fazer o dever de casa. Gemo e me levanto da cama, e antes de fazer minhas tarefas, resolvo tomar um banho. Agradeço por meu quarto ser uma suíte, assim não corro o risco de encontrar minha mãe no corredor.

De banho tomado, sento-me em minha escrivaninha para fazer meu dever. E então percebo que algo está faltando. Meus olhos varrem a mesa e param em meus porta-retratos. Um calafrio percorre minha pele, ao ver que uma das fotos não está aqui. E segundos depois eu me repreendo mentalmente. Ora, que bobagem a minha! Provavelmente alguém de casa pegou a fotografia. Quem mais iria pegar, afinal? Era uma foto minha e de David, sorridentes na nossa viagem para Malibu, onde meus cabelos alaranjados e olhos verdes cintilavam. Minha pele pálida fazia contraste com a pele escura de meu irmão, cujos olhos eram profundos e negros como breu. Como papai e David não ligam muito para fotos, concluo que foi mamãe. Relaxo, e logo minha atenção se volta para minhas tarefas.

Permaneço ocupada por um bom tempo. Na hora do jantar, papai bate em minha porta e pede para eu descer. Destranco a porta e falo que estou meio enjoada e que vou dormir porque estou com muito sono. O que não é mentira. Tenho me sentido assim frequentemente. Também tenho ficado ainda mais distraída.

Estou quase dormindo, quando ouço a porta do meu quarto se abrir. Tentando fingir que estava dormindo, permaneço parada e com os olhos fechados. Passos se aproximam da minha cama, e ouço um suspiro da minha mãe. Ela se inclina e beija minha têmpora.

– Oh, Diana, o que é que vamos fazer com você? – sussurra para si mesma.


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Notas finais do capítulo

Esse "flashback" de 3 semanas não vai durar muito. Até o próximo capítulo, no máximo. Senti necessidade de fazer isso para explicar melhor a história. Enfim, espero que gostem! Não sejam leitores fantasmas, comentem!



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