Were you really surprised? - Cobrade escrita por HJ


Capítulo 47
Capítulo 47


Notas iniciais do capítulo

Keth, sua linda!! Muito obrigada pela recomendação e por todo o carinho!! Capítulo para você!



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O sentimento dos dois passaria por sua maior prova a partir dali. E os dois estavam dispostos a lutarem com todas as forças para mantê-lo vivo.

***

Um mês depois...

– E aí, minha dama? Como estão as coisas no Brasil? – Perguntou Cobra, no intervalo de uma sessão de fotos, ao receber uma chamada de vídeo da Jade.

Deste que ela partira, as coisas andavam complicadas. O namoro passou a ser via web, porém isso nem sempre dava certo. Com a proximidade do próximo campeonato, os treinos do Cobra ficaram mais intensos, ao passo que os estudos da futura enfermeira para o Enem também ocupavam a maior parte do tempo. Passaram a conversar assim, nos intervalos, nas pausas. Quando estavam cansados da rotina e das responsabilidades, recorriam um ao outro.

Tudo tranquilo, vagabundo, o mesmo de sempre. E por aí?

Nada tranquilo. Tudo virado de cabeça para baixo desde que você foi embora. – Ele confessou. - Eu preciso da minha mulher por perto para que a minha vida tome jeito.

Olha, Cobra, não tem a tua mulher, mas tem a Karina. Não adianta, não? – Indagou a morena, já gargalhando, pois sabia a resposta.

– A Karina é mais bagunçada que eu! – Gargalhou o lutador. Ele era tido como sério e frio por muitos, mas essa imagem seria desconstruída em dois segundos se o visse naquele momento. Era incrível como o riso vinha fácil aos lábios dele quando falava com a sua dama.

Cobra olhou para aquele rosto que ainda sorria, provavelmente imaginando o estado do apartamento. Observou os olhos, o cabelo, a pele (estava mais morena ou era impressão dele?), a boca. Ficou sério por um instante, perdido nas próprias lembranças.

– Cobra! Cobra, aconteceu alguma coisa?! – Jade gritava do outro lado da tela, desesperada com o silêncio repentino do noivo.

– Eu tô com saudade pra caramba, minha dama. – Ele finalmente se manifestou.

Ah, droga!, pensou Jade. Por que ele sempre tinha que confessar essas coisas e a deixar ainda mais culpada por ter voltado para o Brasil?

Por estratégia, a ex-bailarina procurava ao máximo evitar os pensamentos sobre o noivo. Procurava ficar a maior parte do tempo focada nos cadernos para não se abalar. Precisava estar forte, estar inteira. Obviamente, essa postura causou certa indignação no Cobra a princípio, que chegou até a insinuar traição. A ideia não foi adiante, mas mesmo assim ela queria demonstrar mais carinho, para acabar com todas as dúvidas. Porém, como expor amor sem se expor?

Eu também tô com saudades, meu vagabundo... Você não tem noção da falta que faz. - Ao sentir o peito doer e algumas lágrimas ameaçarem rolar, Jade tratou de mudar de assunto. – E a Alice, Cobra? Já conseguiu falar com ela?

– Pois é, Jade... Eu não cheguei a ir até a Casa, mas liguei pra lá duas vezes, eu acho, pra agendar a visita. Não deu certo até agora porque sempre dizem que a Alice tá indisposta, ou descansando, ou sei lá.

Que estranho... Ela é tão elétrica...

– Pois é, eu também achei bem estranho, mas tudo bem. Qualquer dia desses eu vou lá, sem avisar mesmo. Quero ver alguém barrar Ricardo Snake Cobreloa! – Afirmou Cobra, convicto e fazendo cara de mau, o que resultou em mais gargalhadas da morena.

Ah Cobra! Voc...– Ao começar a reconhecer o local onde o noivo estava, Jade começou a ficar incomodada. – Cobra, esse por acaso não é o estúdio daquela fotógrafa assanhada que ficou dando em cima de você aquele dia, não é?

– Calma, Jad...

É ou não é, Ricardo Cobreloa?

É... – A resposta saiu num sussurro apagado.

Como assim?! COBRA, ESSA VADIA PRATICAMENTE TE AGARROU! – Gritava Jade, enquanto Cobra se apressava em baixar o volume antes que a fotógrafa ouvisse. - E você ainda vai tirar foto com ela?!

– Dá pra falar baixo, Jade? – Implorou Cobra. – Ela é brasileira, lembra? E se ela escuta você falando essas coisas? Adeus, fotos! E se isso chega aos patrocinadores? Adeus, dinheiro! Pensa, só um pouquinho. - Quando viu que tinha acalmado a fera, ele resolveu encerrar o assunto por ali mesmo. – Fica tranquila, que eu sou muito mais você, minha dama. Agora eu preciso voltar para a tortura aqui. Beijos!

Espera aí, Cobra! Pelo menos me diz se a Karina tá aí com vo... Cobra?! Cobra?! – Ao ver que a chamada havia sido encerrada, Jade perdeu o controle. Jogou o celular longe e quase acertou Bianca, que havia se oferecido para ajudar com os estudos naquela tarde. – Ai que ódio!

– Ih! Que foi, Jade? Qual o problema dessa vez? – Perguntou Bianca, realmente preocupada.

Com a volta da ex-bailarina para o Brasil, as duas acabaram por se aproximar bastante. Joaquina tinha ido morar em São Paulo com o Lírio, que acabara por deslanchar sua carreira de modelo, portanto Jade estava carente de amigos, enquanto a Bianca morria de saudades da irmã. As duas se uniram em suas faltas e acabaram formando uma das amizades mais improváveis do mundo.

– O problema é o Cobra, solto nos Estados Unidos, rodeado de Maria-Tatame, Bianca! – Na medida que Jade falava, seu desespero ficava mais evidente. – Ele tem a carne fraca, Bianca! É só uma delas insistir um pouco e ele vai acabar cedendo, eu sei!

– Jade! Ei, parou o drama! O Cobra te ama, garota! Até parece que ele faria um negócio desses. – A atriz tratou acalmar a situação. – Vai ficar tudo bem, relaxa.

– É muito fácil dizer isso, exceto quando não é você que não tem nem previsão de ficar junto com o cara que você ama de novo. – Jade desabafou. – Isso é o que mais me angustia, entende? Não saber. Pensa comigo, Bianca: eu vou me formar um dia. Se tudo der certo, o Cobra não vai ter encerrado sua carreira ainda. E aí, como fica? Eu vou ter que procurar um emprego nos Estados Unidos? Acho difícil, até porque eu já sai de lá pra não ter que passar por isso. Então o Cobra vai vir para cá? Aí ele teria de abandonar a Academia. – Jade suspirou. – Ah, é tudo tão complicado!

– É... Que droga, Jade. – Foi tudo o que Bianca conseguiu dizer.

– “Que droga”? “Que droga”, Bianca?! Sério isso?! Você já foi melhor com as palavras pra consolo, sinceramente!

– Desculpa, é que eu fiquei surpresa. Desde quando você se tornou essa pessoa preocupada com o futuro, cheia de incertezas e de medos?

– Eu sempre fui, Bianca. Mas diziam que eu costumava ser uma boa atriz... – Ela sorriu. – A melhor da Ribalta.

– Pode ir parando por aí, porque esse posto é meu e ninguém tira! – Bianca entrou na brincadeira e acabou por rir também.

– Pode até ser, mas na dança ninguém me superava não, Bianquinha. Aceita!

– Isso eu não posso negar, Jade. Mas agora, que tal a gente voltar para o estudo, hein mocinha? O Enem tá chegando. – A atriz juntou algumas folhas, rindo da cara de tédio da amiga.

***

Como prometido, Cobra partiu rumo a Casa na semana seguinte. Resolveu não ligar para avisar, pois se lembrava bem das ligações anteriores.

“- Instituição de Caridade para Crianças, bom dia, quem gostaria?

– Bom dia, aqui é Ricardo. Gostaria de informar que essa tarde vou aí, visitar uma das crianças. O nome dela é Alice e eu...

– Alice? Lamentamos informar, senhor, mas a menina se encontra em repouso devido a uma indisposição. Se possível, venha outro dia. Ficaríamos realmente felizes em recebê-lo, porém hoje não será adequado.

Ao ouvir aquilo, o lutador começou a ficar preocupado.

– Mas como ela tá? O que aconteceu?

– Nada sério, senhor, fique tranquilo. Amanhã certamente ela já estará melhor.”

No outro dia, Cobra tinha vários compromissos e acabou esquecendo completamente da menina. Passado algumas semanas, o lutador decidiu tentar novamente.

“- Instituição de Caridade Para Crianças, bom dia, quem gostaria?

– Bom dia, aqui é o Ricardo. Liguei alguns dias atrás, avisando que iria visitar a Alice e me informaram que ela estava doente. Ela melhorou?

– Melhorou, mas apenas durante algum tempo. De uns dias pra cá, ela vem demonstrando muito cansaço, muita fadiga, coisa que não acontecia antes. A Alice sempre foi muito ativa e nunca teve esse tipo de problema.

– Mas eu posso ir ver ela, pelo menos?

– Creio que não seja possível, afinal ela permanece em repouso. Ela está sendo tratada por nossa equipe de enfermagem, então provavelmente daqui a alguns dias ela já vai estar melhor de novo.

Apesar da sensação de já ter ouvido aquilo antes, Cobra acreditou na mulher.”

Agora as coisas seriam diferentes. O lutador iria ver a Alice de qualquer jeito. Não mais apenas para dar a notícia da permanência da Jade na “turnê”, mas porque ele queria. Ou melhor, precisava.

Até o próprio rapaz ficou surpreso com toda a sua preocupação pela pequena. O simples fato de não saber o que estava acontecendo com ela já lhe tirava o sono e pensar que poderia ser algo sério o enlouquecia.

Chegando ao local, Cobra estava ficou perdido. Resolveu pedir informações para um senhor ali perto:

– Com licença, o senhor pode me informar onde é o quarto da Alice? - Procurando por alguma outra característica que fosse útil ao reconhecimento, Cobra acrescentou: - É uma menininha falante, simpática, que ficou doente esses dias...

– Ah, claro! A Alice! – O homem exclamou. – Sinto muito, meu rapaz. Ela não está mais na Casa.

Foi adotada, pensou o lutador, imediatamente. Jade havia comentado com ela sobre o interesse de um casal em adotar a criança, mas desde então não soube de mais nada sobre o assunto. Relembrar esse assunto vez o coração do lutador apertar, ao pensar que poderia não encontrar mais a menina.

– Acho melhor você falar com a nossa assistente social. A sala dela é por ali. – Ele apontou um corredor, onde Cobra pode ver uma porta com a placa sinalizando que a sala era ali.

Ele agradeceu o senhor e seguiu na direção da sala. Chegando lá, viu que a mulher estava se despedindo de outro homem. Sem querer, Cobra acabou ouvindo o final da conversa:

– ... Espero que entenda. Não seria humano da nossa parte permitir a adoção de uma criança que em seguida pode ir embora.

– Claro, claro. É até bom, quero que a minha mulher tire essa ideia de adoção da cabeça de uma vez. Vai ser um problema a menos na minha vida.

Quem poderia falar desse jeito? Feliz da criança por se livrar de um pai desses.

Cobra nunca havia se imaginado com filhos. Aliás, houve uma vez sim. Adolescente com 17 anos, o lutador pensou ter engravidado uma menina de Goiânia. Tudo não passara de um alarme falso, mas serviu para deixar Cobra assustado. Desde então, ele passou a acreditar que seu destino seria viver livre, sem família e muito menos filhos. Mulheres sim, para satisfazer suas vontades, mas nada sério. Ao conhecer a sua dama, as coisas mudaram de figura. Passou a desejar viver um pouco mais sossegado, construir uma casa, montar uma família. Os filhos, apesar de em um futuro distante, já estavam nos planos do lutador. Poderia ter os defeitos que tivesse, e não eram poucos, mas teve certeza que jamais trataria uma criança da forma como aquele homem tratou.

Ao ver a sala livre, Cobra bateu na porta.

– Com licença, meu nome é Ricardo. – Apresentou-se ele, tímido.

– Diga, Ricardo, como posse te ajudar? – A mulher, apesar de cansada, se mostrava bem disposta.

– Eu vim visitar a Alice, mas disseram que ela não tá mais na Casa...

– Ah, sim! Era exatamente sobre isso que eu estava falando com esse senhor que acabou de sair. Ele estava disposto a adotar a Alice... – Explicou ela, triste, e Cobra ficou confuso.

Espero que entenda. Não seria humano da nossa parte permitir a adoção de uma criança que em seguida pode ir embora.

Se a Alice não estava na Casa e não tinha sido adotada, onde ela estava? E mais, por que ela ia embora? Para onde?

[...] a menina se encontra em repouso devido a uma indisposição.

[...] ela vem demonstrando muito cansaço, muita fadiga, coisa que não acontecia antes.

– Cadê a Alice?! – Indagou Cobra, perdendo a paciência.

– Ela está no hospital, Ricardo.

Ficou tonto, a respiração falhou. Isso não tá acontecendo, foi o primeiro pensamento dele.

– Como... Como assim?

Atordoado, Cobra não sabia o que pensar. As poucas vezes com que encontrara a criança serviram para perceber como ela era especial, sem contar a afinidade entre a Jade e a Alice. Lembrou-se de uma das apresentações da Jade, sua estreia, que ele assistiu ao lado da pequena. Lembrou do seu encanto com a dança, da sua irreverência, das suas caretas. Mal conseguia acreditar que ela poderia ir embora. [...] permitir a adoção de uma criança que em seguida pode ir embora.

– Algum tempo atrás, a Alice foi visitar uma ex-vizinha, a qual ela sempre foi muito apegada. Não sabemos ao certo o que aconteceu por lá, porém acreditamos que tenha sido nessa visita que a menina tenha contraído tuberculose.

– Tuberculose?! – Cobra não se lembrava muito das aulas de biologia, mas sabia que aquilo não era nada bom. – Mas isso é sério, não é?

– Infelizmente. Ainda mais no caso da Alice, que é apenas uma criança e o sistema imunológico não é tão eficiente. Completando a situação, nós descobrimos tarde, o que dificulta o tratamento.

– Como assim “tarde”? VOCÊ ME DISSE QUE TINHA UMA EQUIPE DE ENFERMAGEM CUIDANDO DELA! – Descontrolou-se Cobra. – Que porcaria de equipe é essa que não consegue identificar uma doença?!

– A nossa equipe é composta por técnicos de enfermagem, não por médicos. Os sintomas apareceram de leve, com um cansaço excessivo, falta de apetite, mal-estar. Um médico a examinou e disse que era apenas uma virose. Com o passar dos dias, os sintomas também aumentaram, mas aos poucos. Vieram a febre, a tosse, a palidez, a perda de peso. Tudo de forma muito lenta. – A assistente parecia frustrada ao contar a história. – Quando ela passou a ter mais dificuldade em respirar e começou a cuspir sangue, percebemos que alguma coisa realmente não estava indo bem. Era tarde demais, segundo os médicos. Ao chegar nesse estágio, o caso já é grave.

– Isso quer dizer que ela vai... morrer?


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Notas finais do capítulo

Oi, meus amores! :) Superado o luto pelo fim de Malhação e superada a minhas provas, capítulo saindo. Aproveitem e digam o que acharam! Nos vemos nos reviews! ;) Beijinhooos!



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