Were you really surprised? - Cobrade escrita por HJ


Capítulo 46
Capítulo 46


Notas iniciais do capítulo

Meu amores!! Capítulo novo saindo, especialmente para essas duas lindas que recomendaram a fic: Lena e Kauane, esse é pra vocês! Muito obrigada (pela centésima vez, porque vocês merecem todos os agradecimentos do mundo) pelo carinho!



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Cobra concordou com a cabeça, puxando a noiva para um abraço apertado.

Se fosse por ele, não a soltaria nunca mais.

***

– Oi, pequena! – Cumprimentou Jade, assim que alcançou Alice no pátio da Casa.

Fazia tempo que a brasileira queria falar com a menina, contar-lhe que estava para viajar, mas ainda não tinha tomado coragem. Naquele dia porém, era necessário. Véspera de viagem, tudo pronto para a volta ao Brasil e a Jade resolveu tirar um tempo para conversar com a Alice, explicar tudo o que estava para acontecer, mesmo com o coração apertado.

A menina estava sentada no chão, aparentemente brincando com uma boneca antiga, um provável fruto de alguma doação. Bastou a morena chegar mais perto para perceber que a cabeça da criança estava muito longe. Alice se assustou quando ouviu a voz da Jade e levantou seu rosto, revelando um olhar com menos brilho que o normal.

– Oi, tia Jade... – Murmurou a criança, forçando um sorriso.

– Preciso te contar uma novida... – Iniciou Jade, mas deteu-se assim que viu que a situação era séria. Incrível como o bem-estar da menininha afetava o seu. Perguntou, já triste também: - Que foi, pequena?

– Nada não, tia Jade. Bobagem. – Respondeu ela. – Fala a novidade aí...

– Não precisa mentir pra mim, Alice. Eu sei que tem alguma coisa errada e você pode desabafar comigo, sem problemas. Somos melhores amigas, lembra? – Jade viu um sorriso iluminar o rosto da criança e já se sentiu melhor.

Infelizmente, o sorriso durou pouco e foi substituído por semblante triste novamente. Cabisbaixa, a menina começou:

– Ah, é que eu tava aqui pensando...

– Alice, quer um conselho? Não pensa. – Interrompeu Jade, aproveitando para se sentar no chão junto com a menina. – Criança foi feita pra correr, brincar, dançar. Deixa pra pensar quando estiver mais velha, que nem a tia Jade!

– Você não é velha, tia! – Revidou Alice, pulando para o colo da ‘tia’ com a boneca em mãos. – Mas eu preciso pensar mesmo. Minha vida tá mudando de novo, sabia?

– Não... O que aconteceu? – Indagou a ex-bailarina, já preocupada.

– Um casal veio aqui. Eles queriam uma filha já crescidinha... – O coração da Jade apertou. – E a tia Susane...

– Quem é a tia Susane? – A brasileira não estava reconhecendo o nome.

– É, ela é a... Como é que é o nome mesmo...? – Alice parou uns instantes, pensativa. – Assistente de enxoval! Isso! Ela é a assistente de enxoval!

Mesmo preocupada, Jade não conseguiu conter uma gargalhada. Alice não entendeu nada e logo perguntou, irritada:

– Tá rindo do que, tia Jade?!

– Social, Alice! – Disse a morena, entre gargalhadas. – A tia Susane é a assistente social, não de enxoval!

– Ah, eu errei... Desculpa. – Encolheu-se a criança, envergonhada.

– Isso acontece, Alice. A tia Jade que é uma besta e ri de tudo. – Acalmou Jade, apertando mais a menina no seu colo. – Pode continuar.

– Ah, é verdade... O casal queria uma filha crescidinha e a tia Susane achou que era eu era ‘ideal’. Pode parecer bobinho, mas eu me senti um produto, que eles vieram aqui e escolheram. E também... Eu não quero outra mãe. – Confessou a menina, com um fiapo de voz, antes da Jade sentir uma lágrima molhar a sua mão.

– Ei, calma, Alice... – Tentou Jade, mas não funcionou.

A menina parecia ter trancado aquele choro por muito tempo, pois abraçou a Jade forte e soluçou em seu ombro. Sem saber o que fazer, a brasileira retribuiu o abraço e passou a mão pelo cabelo da criança.

– Ô, pequena... Ninguém vai roubar o lugar da sua mãe.

– Mas querem! E eu não quero! – Gritou a menina. Ainda bem que não havia ninguém por perto. – A minha mãe tá no céu, mas ainda é a minha mãe! Não vai ser uma estranha que vai mudar isso!

– Não vai, pequena, fica calma...

– Eu não gosto deles, tia Jade! Eles vieram aqui, olharam todos os meus colegas, me ‘escolheram’ como quem escolhe uma fruta na feira e nem conversaram comigo, só viraram e saíram! Sem falar que, quando a tia Susane não tava olhando, eles ficaram discutindo e falando mal da Casa! – Desabafou, entre lágrimas. Jade se segurava para não chorar junto, já que a cena era de cortar o coração. – Eles não são legais, tia Jade, e eu não quero ser a filha deles.

A morena não sabia o que dizer, então não disse. Puxou a criança mais para perto de si e vez cafuné até que ela se acalmasse. Quando a respiração estava mais calma, Alice ergueu o rosto para poder olhar nos olhos da ex-bailarina e falou uma frase que Jade jamais pensou em ouvir:

– Sabe, tia Jade... Se eu tivesse que escolher outra mãe, eu acho que seria você. – Ela pausou ao ver a surpresa da mulher. – Porque mãe... É tipo melhor amiga, não é? – Jade mordeu o lábio, controlando o choro. – E você é a minha melhor amiga. Eu te amo muito, tia Jade...

– Eu também te amo, pequena... – Disse Jade, completamente surpresa e emocionada. Puxou a criança para mais um abraço, dessa vez mais apertado ainda.

Naquele abraço, Jade sentiu algo único. Era como se aquela menininha delicada, respondona e machucada fizesse parte dela de alguma forma. Pensar que talvez jamais se vissem e que a Alice estaria sendo infeliz na casa daqueles malditos pais adotivos doía na morena de uma forma inexplicável. Desde quando criava laços tão profundos com crianças? Para Jade, todos os seres com menos de doze anos eram extremamente irritantes e desnecessários, mas bastou a Alice entrar na sua vida e tudo mudou. Sem nenhum motivo lógico, a Jade não conseguia se imaginar distante da sua pequena.

– Agora conta a novidade, tia Jade! – Pediu Alice, mais alegre, soltando-se do abraço e voltando a se sentar no chão, em frente a ex-bailarina.

– Nada não, Alice. Bobagem.

– Não precisa mentir pra mim, tia Jade. – Ela sorriu. – Agora para de me imitar e me diz qual é a novidade.

– É que... – Pensa rápido, Jade! Pensa! – É que eu tô saindo em turnê de novo e queria avisar você. Dessa vez vai ser um pouco mais longa e...

– Mas peraí... – Alice franziu o cenho, confusa. – E o seu acidente? Saiu na revista que os médicos proibiram você de dançar.

– Ah, os médicos erram, Alice... – Jade começou a ficar preocupada. Só faltava a Alice começar a fazer um monte de perguntas. Já estava nervosa por mentir para a menina, logo se atrapalharia em suas invenções. – Foi só eu fazer uma fisioterapia e meus movimentos voltaram a ser o que eram antes!

– Mas e a coreografia? Você saiu do hospital outro dia... Deu tempo de montar?

– Na verdade... – Ok, essa menina é mais inteligente do que eu pensava. – Na verdade, a gente já vinha trabalhando em cima dessas apresentações há um tempo e a coreografa tava praticamente montada quando eu me acidentei. Depois que eu voltei a dançar, só precisei pegar o ritmo de novo. – Jade sorriu, nervosa.

– Ah, que bom que deu tempo, não é? Você é uma dançarina muito boa, tia, a Companhia ia sair perdendo se você não fosse na turnê... Onde é?

– Onde é...? – A morena quis ganhar tempo, mesmo sabendo que estava parecendo uma idiota.

– A turnê, tia Jade. – Alice se surpreendeu. – Onde é a turnê?

– Ah, claro! A turnê... – Jade forçou uma risada. Tentando mudar de assunto, ela se desculpou: – Ai Alice, não dá bola para as minhas loucuras. Minha cabeça tá uma bagunça nesses últimos dias!

– Eu imagino... Mas fala, tia Jade! Pra onde você vai?

– Ásia. – Foi a primeira coisa que lhe veio na cabeça. – Não lembro os países direito, mas é na Ásia.

– Hum... O povo lá é meio estranho, né? – Comentou Alice, meio assustada.

– Não, Alice, fica tranquila! – Jade riu, mais relaxada.

– Tá, quando você voltar, eu quero saber de tudo, tá? Tira um monte de foto pra me mostrar, pode ser? Vai demorar muito? Se eu não estiver aqui, pede pra tia Susane o endereço do casal que vai me adotar e vai me visitar, por favor, tia Jade! Eu não quero ficar longe de você.

– Claro, Alice. – Jade engoliu em seco. – A gente nunca vai se separar, pequena. Bom, agora eu preciso ir. – Jade se levantou, tirou as sujeiras da sua roupa e deu um beijo na testa da menina: – Fica com Deus, tá pequena? A gente se vê!

– Obrigada, tia Jade, por tudo. Boa turnê! Mal posso esperar por quando você voltar! E não esquece das fotos!

Jade sorriu e afirmou que sim, voltaria para mostrar as fotos. Virou as costas e se sentiu a pior pessoa do mundo.

***

– Eu nem acredito que você vai voltar mesmo, Jade... – Lamentou Karina, na mesa do café, no dia seguinte. – O Cobra vai ficar insuportável agora!

– Ah, vocês vão sobreviver! Não tô dizendo que vai ser fácil, mas não é impossível. – Fez graça a morena, fazendo os outros sorrirem. Ela porém, desde o dia anterior, carregava consigo um olhar triste. – Vocês vão ficar bem.

– Quem não tá bem é você, minha dama. Fala aí, é saudade antecipada de mim, não é? – Cobra levantou-se e se pôs atrás da cadeira da noiva, aproveitando para depositar alguns beijos em seu pescoço.

– Também, vagabundo...

– Também? O que tá rolando, Jade? – Perguntou Cobra, preocupado.

– No caminho eu te falo, Cobra. Agora a gente precisa ir, se não eu perco o avião. – Jade levantou-se e pegou sua bolsa. Sorrindo, voltou-se para Karina: - Se cuida, viu loirinha? E cuida do meu vagabundo por mim.

– Vou sentir saudade, sua maluquinha! – Confessou Karina, milagrosamente demonstrando seus sentimentos. – Eu pretendo ir no Brasil em seguida, então a gente se vê.

– Claro que sim. Vou ficar esperando. – Sem saber direito o que dizer, Jade puxou Karina para um abraço. Quando sentiu que ia chorar, a morena se desprendeu e piscou repetidas vezes. – O meu lema hoje é: sem despedida, sem choro, sem drama. Eu vou continuar com vocês em pensamento, mas agora a gente precisa mesmo ir, Cobra, por favor!

– E vê se não demora, moleque! O Mike já tá furioso com os seus atrasos e o seu campeonato tá chegando, cara! Não vai dar mole, pelo amor de Deus!

– Eu não vou dar nada, Karina, fica tranquila. – Afirmou Cobra, sério, arrancando gargalhadas. Vamos lá, minha dama.

Jade deu um último abraço na Karina e se dirigiu para o carro novo do lutador junto com ele. Depois de algum tempo economizando, Cobra finalmente comprou o carro que queria, recém saído da fábrica.

O caminho correu em silêncio, pois o Cobra esperava que a Jade tomasse a iniciativa e lhe contasse o que a estava deixando triste. Como isso não aconteceu, o lutador ficava cada vez mais preocupado.

A situação se agravou quando os dois chegaram na sala de espera do aeroporto e o silêncio começou a ficar mais ensurdecedor. Jade começou a balançar o pé, nervosa, e o Cobra não aguentou mais fingir que estava tudo bem.

– Será que agora você vai me contar o que tá acontecendo?

– Eu não contei. – Respondeu Jade, baixinho.

– Não contou o que?

– Que eu tava voltando para o Brasil. – Concluiu a ex-bailarina, como se aquilo explicasse tudo.

– Pra quem? Do que você tá falando, Jade? – O lutador estava completamente perdido.

– Pra Alice, Cobra. Eu não contei pra Alice que eu tava voltando de vez para o Brasil. – Esclareceu a morena, mas o Cobra entendia cada vez menos.

– Mas por que? Você não foi lá só pra isso?

– Fui, mas aí eu cheguei lá e... E eu não consegui, Cobra. Na verdade, foi isso: eu não tive coragem. – Jade fitou o rosto do noivo e encontrou um olhar questionador. – Cobra, a Alice já perdeu tudo na vida. Eu não tive coragem de dizer que ela tava me perdendo também, entende?

– Entendo... – Cobra balançou a cabeça, afirmando. – Mas você não acha que vai ser muito pior quando ela perceber que você simplesmente... sumiu?

– É aí que você entra! – O lutador se perdeu de vez. – Agora você faz o seguinte: deixa passar um tempo, vai lá na Casa e dá um desculpa. Não é perfeito? – Ela sorria, crente de que tinha um plano perfeito.

– Ah, claro... Só tem um detalhe. – Ele fez suspense. – Que droga de desculpa eu vou dar para aquela criança?!

– Não sei, Cobra! – A morena passou a mão pelos cabelos e lutou contra a vontade de arrancar alguns fios. – Diz pra ela que eu gostei tanto da Ásia que resolvi ficar por lá, ou que a turnê foi estendida, ou que eu morri, sei lá! Dá seu jeito, Cobra!

– Como é que eu vou dizer pra Alice que você morreu, Jade?! Tá maluca?! – Cobra se segurava para não rir da imaginação da noiva. – Espera aí, deixa eu ver se entendi bem... Você inventou pra ela que tava indo numa turnê pela Ásia, é isso mesmo?! Por acaso ela não sabe que você não pode mais dançar?

– Ah, os médicos erram, Cobra. Foi só eu fazer uma fisioterapia e meus movimentos voltaram a ser o que eram antes! Não é incrível?

– Você é completamente pirada, Jade! – Cobra sorriu, mas percebeu que a morena estava bastante triste. – Esse negócio de mentir pra Alice não tá te fazendo bem, né? – Jade concordou. – Olha, se serve de consolo, eu prometo tentar contar pra ela da forma mais delicada possível que você me trocou por um japonês e resolveu ficar por lá. – Quando finalmente conseguiu arrancar um sorriso da noiva, Cobra ouviu o chamado do voo para o Brasil. – Ah, droga!

– Chegou a hora... – Comentou Jade, pondo-se em pé.

– Chegou a hora... – Concordou Cobra, levantando-se também e ficando frente a frente com a morena. Ao encarar aqueles olhos, não conteve: - Eu realmente não sei como eu vou ficar aqui sem você, minha dama.

– Para, vagabundo! Lembra do que a gente combinou? Sem despedida, sem choro, sem drama. – Recriminou Jade. Sem a mínima moral, já que seu olho estava marejado. – Afinal, nós somos um casal adulto, maduro e responsável, que vai conseguir lidar perfeitamente com a distância entre Las Vegas e Rio de Janeiro.

– A gente? Casal adulto, maduro e responsável? – O Cobra fez uma cara desconfiada, mas que logo se desfez em um sorriso quando viu que Jade também sorria.

– Não começa, Cobra! Eu preciso acreditar que a gente evoluiu um pouquinho depois de tudo que a gente passou junto. – Ela envolveu os braços no pescoço do lutador, que suavemente segurou em sua cintura.

– A gente evoluiu demais, minha dama. – Concordou Cobra. Ele a abraçou, de modo a sentir o seu cheiro. Ah, esse cheiro! – Eu te amo, Jade.

– Eu te amo, Cobra. – Ela respirou fundo. – Fica bem, tá? E juízo, mocinho!

– Juízo você! Ainda não acredito que tô deixando você, toda linda, toda gostosa, voltar pro Rio sozinha! Eu sou um burro mesmo, não é possível! – Ele brincou, soltando um pouco a morena para que pudesse ver seu rosto.

– Confia em mim, porque eu tô fazendo um esforço danado pra confiar em você, Cobreloa! – Ela sorriu, até ouvir o segundo chamado do voo.

– Eu confio. – Cobra afirmou. - Vai lá, minha enfermeira... Mas antes, me dá um beijo aqui...

Um pedido daqueles a dama não recusava. Só pararam quando não tinham mais forças para continuar. Não falaram mais nada, pois só no olhar já se entendiam. Ela sorriu fraco e começou a passos lentos sua caminha na direção da fila do embarque.

De longe, Cobra observou quando ela entregou sua passagem. Acenou quando ela olhou para trás pela última vez antes de sumir no túnel que ligava ao avião. Com o peito apertado, o lutador seguiu para uma janela de vidro ali perto, com visão para a pista de decolagem. Mesmo em meio a muitas pessoas, ele a reconheceu enquanto subia as escadas do avião. Sempre a reconheceria.

Começou a pensar no quanto sentiria falta daquele sorriso que iluminava tudo, daquela voz que animava o apartamento, daquele corpo que o enlouquecia. Como tinha se deixado envolver tanto assim? Estava completamente nas mãos dela. Já não eram dois, eram um só.

Sofreu quando uma parte de si decolou ali, bem em frente aos seus olhos, para outro país, em busca de seu sonho, sem previsão de voltar. Não pode evitar que uma lágrima rebelde descesse seu rosto naquele momento.

Nem imaginava ele que a morena também chorava baixinho, na poltrona do avião, na medida que via a cidade diminuir de tamanho.

O sentimento dos dois passaria por sua maior prova a partir dali. E os dois estavam dispostos a lutarem com todas as forças para mantê-lo vivo.


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Notas finais do capítulo

Muito obrigada pelos comentários! Vocês são simplesmente incríveis e aos poucos eu vou respondendo! Aliás, não tenho muito tempo agora, então as notas finais ficam por aqui. Conversamos pelos reviews. Beijinhos!



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