A brutalidade com que o Thawik puxava Jade para fora assustava aos presentes e os tornava incapazes de tentar parar o que estava acontecendo. Quem poderia imaginar que, em questão de segundos, um belíssimo show como aquele poderia se transformar em um filme de terror.

A dançarina se debatia e gritava por socorro, mas ninguém parecia ouvi-la. Quando chegaram na rua, Thawik a levou para o centro da praça, onde podia ser visto e escutado por todos. Jade procurava desesperadamente por Cobra, até que o viu saindo da Fábrica, trombando com as pessoas para conseguir chegar até os dois. Quando chegou um pouco mais perto, ele estava tão descontrolado que Gael teve que segurá-lo, impedindo sua passagem, de tanto medo que o Mestre tinha que ele fizesse algo errado.

Thawik, enquanto agarrava Jade pelo braço, começou o seu discurso:

– E aí Cobreloa? Tô aqui por você, sabia? Tô aqui para dizer que tu é um traidor! Duas caras! Se fazia de amigo nosso e ferrou com a gente! E essa vadiazinha aqui? É o que para você? - Cobra tentava se soltar a todo custo, e Gael pediu que Duca o ajudasse a segurar o rapaz. Sabe Deus o que ele é capaz de fazer!, pensava o Mestre.

Cobra estava fora de si. Quem aquele cara pensava que era para encostar na Jade daquele jeito? O lutador se debatia com força enquanto ouvia Thawik gritar:

– Pois essa garota não passa disso: uma vadiazinha de quinta. Ela passava se encontrando com o Cobra nos fundos do QG, escondida da mãe... Até que ela levou um pé na bunda! - Ele gargalhou, ao mesmo tempo que Jade chorava em desespero, com medo do que ele podia fazer. - E quem estava lá para consolar? Euzinho aqui... Mas ela ficou me enrolando, me provocando... Aí eu perdi a paciência!

Nisso, segurou Jade com mais força ainda e lhe forçou um beijo. Gael percebeu a cena e largou um pouco o Cobra e este conseguiu se soltar. O lutador correu o mais rápido que pode na direção dos dois e praticamente arrancou Jade do Thawik. Ela rapidamente se aninhou no abraço que Ed oferecia e viu Cobra chamar Thawik para uma briga.

Cobra parecia estar levando a melhor, já que tinha imobilizado Thawik no chão. Quando todos pensaram que o espetáculo tinha terminado, Cobra segurou a cabeça do lutador e passou a empurrá-la com força contra o chão. Completamente fora de si, praguejava:

– Ninguém! Ouviu bem? Ninguém faz isso com a Jade na minha frente! - Com medo que Cobra matasse o garoto, Gael tratou de tirá-lo de cima do Thawik.

– Calma, Cobra! Lembre-se: força e honra. Sempre. - Enquanto Cobra se acalmava, Thawik tentava se levantar, ainda um pouco tonto. Até tentou fugir, mas logo foi cercado pelos lutadores da Academia do Gael.

– Quem te mandou aqui? - Perguntou Cobra.

– Por que eu diria? - Provocou Thawik, mas Cobra não estava para brincadeira.

– Porque caso contrário, eu e essa tropa aqui fazemos você contar na marra. - Mesmo sem admitir, Thawik ficou com medo e decidiu abrir o jogo:

– O Lobão. Ele disse que era para te dar um susto, e como a Jade já vinha me irritando a um tempo... Uni os dois.

– O Lobão tá preso. Não ia conseguir te mandar fazer porcaria nenhuma. - Lembrou Cobra.

– Como se nesses presídios por aí, não entrasse celular. Duvidando, o sinal é até melhor do que aqui fora. - Thawik debochou. - Já posso ir agora?

– Não. - Respondeu Cobra, simplesmente. - A polícia tá chegando. Aí tu não vai mais precisar de celular para falar com o Lobão! - Assim que ele terminou de falar, as sirenes foram ouvidas. Poucos minutos depois, Thawik já estava dentro da viatura e Cobra pôde, então, se virar.

Encontrou Jade ainda abraçada em Edgard, mas ela não chorava mais. Assim que percebeu que tinha a atenção do vagabundo toda para si novamente, Jade andou até ele.

– Obrigada... - Jade chegou perto o suficiente para acariciar o rosto do rapaz. - Por cuidar de mim. De novo.

– Isso foi só uma amostra grátis do que podia ter acontecido contigo... Se o Lobão descobrisse antes. Mas em todo caso, entenda esse cuidado como um agradecimento pelo show que você deu lá dentro. - Jade sorriu e seu coração ameaçou sair pela boca. Várias pessoas ainda estavam ali, acompanhando o desfecho da história, mas Jade não enxergava mais ninguém. Apenas ele. Provocante, chegou ao lado do ouvido do rapaz e confessou, aos sussurros:

– Quer saber? O beijo dele não chega nem aos pés do teu. - Um arrepio correu o corpo do Cobra e ele não conseguiu mais se controlar. Puxou-a para um beijo ali mesmo, na frente de todo mundo.

– Esses dois... Parece que vão se engolir... - Comentou Karina.

– Tá com ciúmes, esquentadinha? - Perguntou Pedro.

– Não viaja, Pê!

– Eu acho bom... - Concluiu o guitarrista, abraçando e cobrindo a namorada com beijinhos.

Quando o ar já lhes faltava, Cobra e Jade se separaram. A bailarina pegou o lutador pela mão, anunciando baixinho:

– Vem! Vamos para o QG, vagabundo! - Mas Cobra nem se mexeu. - O que foi?

– Você esqueceu? - Jade parecia não ter entendido. - Você tem que pedir.

Jade sorriu. Nem titubeou e suplicou:

– Me leva para o QG... Por favor! - Cobra apertou mais firme a mão da garota e eles foram em direção a loja. Ed gritava, ordenando que Jade voltasse imediatamente para perto dele. Como resposta da dançarina, ele teve apenas um tchauzinho por cima do ombro.

Tão logo chegaram na loja, Jade beijou-o mais uma vez, o empurrando contra a parede. Cobra revidou e colocou a garota contra a parede oposta. Continuaram nessa brincadeira e acabaram ligando o rádio sem querer.

Ah, ela sabe o poder que tem e não tem medo de usá-lo...

Ela só quer viajar, ela só quer viajar
Da night pra praia, da praia pra casa, da casa pro lar
No drop alucinante constante da onda eterna
Quem reina é ela no reino do mar

Ela só quer viajar, ela só quer viajar
Ela só quer viajar daqui pra qualquer lugar

A gata arrisca e dropa
Linda louca e mimada
Bendito seja o homem que possa conquistá-la
Quem tem ninety nine percent, é quente, tem que vê de perto
Ela é doce, sal, bala
Embalada ela dança, uma criança na madrugada
Sua maquiagem, suas tatuagens
São proteção, chamam atenção que seu pai não pode dá-la
Olha dentro dos meus olhos, joga o cabelo
Bota o óculos fica ainda mais charmosa
No caminho de volta pra casa
Ela vê que vai pra praia, joga altinha
Bebe água tem uma vida agitada mas a pele bem tratada
Como pode ser... Tão gata?
E ao mesmo tempo tão louca?
O homem que já teve sua companhia jamais se satisfaz com outra
Troca de roupa mil vezes até decidir a melhor
Já foi muito magoada, por isso magoa sem dó
Pra ter sua companhia só se ela simpatizar
Tem seu carro, tem sua casa, seu dinheiro pra pagar
Tem uma frase que repete segue que a faz flutuar
"Não importa onde estamos nossa mente é nosso lar"

Ela só quer viajar, ela só quer viajar
Da night pra praia, da praia pra casa, da casa pro lar
No drop alucinante constante da onda eterna
Quem reina é ela no reino do mar

Rapidamente, como em uma explosão, os beijos se tornaram mais intensos e as carícias mais urgentes. Em meio a tudo isso, Cobra juntou o resto que lhe sobrava de oxigênio e perguntou, inocentemente:

– Você não tem que ir para casa, minha dama?

– Eu acho que não tem ninguém me esperando... Dá para ficar mais um pouquinho... - Constatando que ela não parecia triste ao dizer aquilo, ele voltou a beijá-la. Então, o vagabundo conduziu sua dama até os fundos do QG.

Ela só quer viajar, ela só quer viajar
Ela só quer viajar daqui pra qualquer lugar

E ela escapa de cada furada
E ela chega a hora que ela quer
Tudo brilha onde ela passa
Ela sai a hora que ela quer
Um vaso de cristal com flores mortas
Um drink forte em uma boate qualquer
Sua vontade incontrolável lhe fecha e abre portas
Ela chega e sai a hora que ela quer
O seu batom mata mais que uma pistola
Inspirada em "Natasha" do Capital
Pistoleira de antigos carnavais e coisa e tal
Todos os homens tão afim de algo a mais no final
Com 17 anos fugiu de casa, mas já conhece incontáveis canções
Ela tem alma de pipa avoada
Mas na sua estante imaginária coleciona corações

Ela só quer viajar, ela só quer viajar
Quem reina é ela no reino do mar
Ela só quer viajar, ela só quer viajar
Ela só quer viajar daqui pra qualquer lugar

***

No dia seguinte, Jade estava deitada sobre o peito do Cobra e percebeu que ele já estava acordado, provavelmente observando-a.

– O que foi? - Perguntou, meio sonolenta.

– Eu tava pensando... Você não me respondeu ainda...

– Do que você tá falando, vagabundo?

– Da pergunta que eu te fiz... Se você aceitava namorar comigo... Então, você aceita?