–Estão prontos para a chamada? –Alex perguntou, arrancando um papel do bolso interno de seu sobretudo bege.

–Me sinto de volta ao primário. –Resmungou Cole, que já havia se erguido do chão e estava tentando se enxugar.

–Eu acho que se eu tivesse acabado de cair em um porto molhado porque não sei usar os meus pés direito até hoje, eu também me sentiria no primário. –Will retrucou de volta, arrancando risadas do grupo.

Helena distribuía alguns kits de navegação para cada um dos exploradores, que incluíam bússolas, mapas, coletes salva-vidas dentre outros. Ela havia recém prendido seus cabelos escuros e lisos em um rabo-de-cavalo alto, como a maioria das outras garotas havia feito devido ao calor no porto.

–Ei, quem é? –A técnica alta e ruiva chamada Ella indicou um ponto na orla da praia, um pouco afastado do porto.

A silhueta de uma garota está recortada contra a areia clara, embora seus cabelos pareçam se misturar bem a tonalidade da mesma. Suas mãos longas e elegantes seguram uma câmera fotográfica que aponta para o mar, um pelicano especialmente.

–Ela está carregando uma mala. –Observa Alex.

Sim, de fato a garota está levando uma mala verde que poderia muito bem ter o tamanho de uma mochila. Não parece exatamente o apropriado para uma viagem daquele porte, mas ainda assim é uma mala.

–Acha que ela está com a gente? –Ella pergunta, a voz falhando em uma nota de preocupação.

–Só tem um jeito de saber. –E, dizendo isso, Alex pula sobre a cerca de proteção do porto, caindo por um pouco mais de meio metro antes de pousar trêmulo, embora ainda em pé, sobre a areia fofa.

–Ei! –Grita.

A garota se vira, ainda longe, um vestido florido esvoaçando pouco acima de seus pés com a brisa do oceano.

–Oi! –Sua voz é cheia de uma alegria infantil e ela tomba o rosto enquanto abaixa a câmera.

–Você está na excursão?

–Ilha Undone. –Ela diz, sorridente. –É.

–Ah, ótimo. –Ele também sorriu, mas então mordeu o lábio, se contendo. –Mas você tem que ficar mais atenta. Nós já estamos saindo. E... Você só trouxe essa mala?

A garota encarou a mala/mochila por meio segundo antes de balançar a cabeça na negativa.

–Meu irmão Sancha vai trazer mais malas. –Ela dá uma piscadela.

–Ah, -claro. Sancha está no meu grupo de exploradores. –Alex olha além da menina, como se procurando alguém.

–Ah, não. Ele não está por aqui ainda e, na verdade, eu estava o esperando antes de ir para o porto. –Confessou, franzindo um pouco a testa.

–Bom, eu acho que nós já deveríamos ir. Eles já estão distribuindo os kits de navegação e é bom já ir se adiantando. –A garota continuava determinada, balançando de leve a cabeça. –Você pode pegar logo as coisas de Sancha também. –Alex acrescentou como última investida.

Ela ficou parada por algum tempo, segurando a mala em uma das mãos e a câmera em outra enquanto olhava para trás.

–Ok. –Falou, sem encarar Alex. –Tudo bem.

–Ah, qual o seu nome mesmo?

–Natalya. Mas você pode me chamar de Talya. –Ela dá de ombros, sorridente e voltando seu olhar para o homem.

No porto, Ella e Helena conversavam animadamente após terem distribuído os kits.

–Você não acha isso incrível? –Helena diz enquanto mordisca o canudinho da sua Coca-Cola. –Eu acho que, desde que descobri sobre essa ilha, é tipo o meu sonho incrivelmente nerd visitá-la.

–É, e agora parece tão perto. –Ella sorri olhando para o mar, que apresenta ondas altas e elaboradas em um tom claro de azul.

–Sim. E quanto aos pestinhas? –A outra dá uma risada baixa. –Eles são mais imaturos do que pensei que seriam. –Confessa tombando a cabeça.

–Eles são uma gracinha. Os garotos ali –Ela indicou com o queixo Will, Henry e Cole –Parecem cachorrinhos no cio perto das garotas.

No local indicado, Will ainda fazia investidas para se aproximar de Mulberry. Os dois estão sentados, as malas aos seus pés, de frente para o mar e praticamente encostando seus joelhos na grade de proteção do porto.

–Então, você curte... –Ele dá uma rápida conferida na blusa da garota, com o logo de uma banda punk rock –My Chemical Romance?

–Sim, eu sou fanática por eles. –Ela está chupando um pirulito e, quando fala, não encara o garoto, mas o oceano.

–Sério? Eu simplesmente amo as músicas dele. –Will comentou, animado. Bem, ele de fato conhecia duas músicas da banda, mas não era como se ele as amasse.

–Ah, eu pensei que ninguém mais os conhecesse. Você curte a Panic? –Ela pergunta, finalmente se virando para o garoto e cravando seus olhos escuros nos dele.

Will sente as palmas das mãos suarem um pouco, mas as limpa no jeans surrado.

–É claro. Quem não gostaria, é uma das mais animadas deles, não é? –Ele chutou. Na verdade, as únicas duas músicas que ele havia escutado não incluíam esta, mas elas eram bastante animadas e Will desejou que todas as outras fossem também.

–Sim, ela é animada. Mas infelizmente não é deles. –Mulberry esboçou um biquinho forçado e o desfez com um sorriso compreensivo. –Essa música é de The Smiths. Uma banda maravilhosa, se quer saber. –Ela tirou o pirulito da boca para falar e gesticulava com ele em uma das mãos, o balançando em círculos despreocupados.

Afastados desse diálogo, Henry, Catherine e Cole haviam armado um semicírculo com cadeiras de praia e jogavam conversa fora.

–Então quer dizer que você não é nerd? –Cole franziu o cenho para Catherine, que riu alto.

–Na verdade, não. Sinto muito decepcionar. –Ela deu um sorriso sem-graça forçado. –Eu acho que o tempo que passei planejando essa viagem foi o período mais longo pelo qual passei sem festas.

–Eu não sei porque você ficaria surpreso. –Henry revirou os olhos para Cole. –Garotas bonitas nunca são nerds. –Ele crava os olhos de um azul-claro na ruiva, que sorri torto.

Ela então ergue uma sobrancelha delineada e tão vermelha quanto o cabelo, fitando Henry.

–Eu acho que é um elogio, mas você por acaso me chamou de burra?

Henry tossiu no mesmo momento, visivelmente constrangido. Sua mente trabalhava rápido em busca de uma resposta apropriada.

–Não quer dizer que você seja burra, você só não parece o tipo de garota que vira a noite estudando. –Ele não tinha certeza se isso tinha consertado tudo, mas era o que tinha pra hoje.

–Relaxa, ok? –Ela riu alto. –Obrigada pelo elogio. –Deu uma piscadela.

Henry sorriu de um jeito meio bobo.

–Me desculpem por me intrometer no papo fofinho e tudo mais, mas eu acho que talvez queiram saber que o navio acabou de zarpar aqui ao lado. Só uma curiosidade. –Cole falou, olhando por cima do ombro, para o oceano.

Eles haviam jogado conversa fora por tanto tempo que o navio, que uns vinte minutos atrás era apenas um vulto no horizonte, agora havia se materializado próximo do local onde as ondas quebravam, bem em frente ao banco onde Mulberry e Will ainda conversavam.

Seu casco preto se erguia rapidamente para tornar a descer meio segundo depois, as escotilhas sendo lambidas ocasionalmente pela água salgada e azul do mar. Ele se erguia em média por trinta metros, mas não era muito grande horizontalmente. O corpo era feito de modo a enfrentar qualquer adversidade, tudo financiado pelo Fundo Nacional do Meio Ambiente dos EUA.

Um homem alto e forte dentro do navio baixou a âncora se utilizando de um sistema de cordas baseado em manivelas.

–Esperem! –Natalya grita. –Sancha ainda não chegou. –Uma nota de preocupação brinca com sua voz, lhe conferindo um aspecto trêmulo.

–Me desculpe, querida. –Ella se aproxima da garota. –Não há muito que possamos fazer, este navio tem uma hora marcada e estamos sendo monitorados pelo governo. É um projeto muito sério. –Ela acrescenta a última frase em tom de desculpas.

–Então eu não vou poder ir...