Human World Observation escrita por Lady Pompom


Capítulo 9
Capítulo 08: Pais


Notas iniciais do capítulo

Essa história não tem qualquer relação com pessoas, fatos ou lugares da vida real. É uma obra de ficção com puros fins de entretenimento.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/575707/chapter/9

Eileen bocejou , espreguiçando-se em frente à janela de seu quarto. Era uma bela e calma manhã de sábado. Os raios de sol adentravam o quarto dela que, sonolenta, tropeçava até chegar ao banheiro.

Lavou o rosto, escovou os dentes, tudo isto em frente ao espelho, no qual via seu rosto com olheiras. Abriu a porta do armário, que tinha o espelho embutido, e guardou a pasta de dente, fechou o armário, olhou no espelho, viu suas olheiras e alguém atrás dela.

_...

Alguém atrás dela.

O grito estridente que ela deu fez os pássaros no jardim voarem para longe. E a cena se transfere para a mulher, apoiada na pia do banheiro, encarando o alien em forma humana que sorria falsamente, como sempre.

_Siv... –ela pôs a mão no coração com taquicardia- Me deu um susto... Não te disse pra não entrar no meu quarto sem permissão?

_Sim. –respondeu sem interesse-

_E qual parte do “não entre no meu quarto” você não entendeu? –expressava certa indignação na voz-

_Você tem visitas.

_...?! Sábado de manhã? –estranhou- Quem é?

_Dizem ser seus pais... –deu de ombros- Não importa, estão lhe esperando na sala, estavam me fazendo perguntas sem nexo.

_Ah...

Espera que tipo de perguntas?! Não, não... Pensando bem, não quero saber a resposta... Melhor eu resolver isso sozinha...

A mulher desceu, ainda de pijamas para a sala de estar, e sentados no sofá, um Senhor e uma Senhora, que aparentavam entre 50-55 anos, sorrindo e conversando.

O senhor, alto, apesar de estar sentado, pele pouco enrugada, cabelos começando a ficar grisalhos, ainda que a maior parte dos fios fosse de cor preta. Um sorriso amistoso e olhos zuis-acinzentados. Devia ter uns 55 anos.

A senhora, mais baixa que o marido, de cabelos castanhos e olhos mel, também com um belo sorriso no rosto, que lembrava muito o de Eileen. Parecia ser um pouco mais nova que o homem.

_Mãe, Pai! –disse alto, atraindo a atenção deles-

_Oh! É ela! –a mãe se levantou- Há quanto tempo! –abraçou a filha-

_Estamos muito felizes em te ver tão bem Eileen! –O Senhor se levantou, aproximando-se das duas mulheres-

_Querida, ainda está de pijama? –olhou-a de cima a baixo-

_Oh, sim, gostaríamos de perguntar algumas coisas... –o pai começou-

Não, por favor, não faça essa cara pai... Sei exatamente o que quer perguntar. Não... Por favor.

_Quem é aquele rapaz simpático que está morando aqui? Eileen, não acredito que tenha arranjado um noivo e não tenha nos dito! –a mãe dizia com um sorriso maravilhado no rosto-

_Isso, tinha que apresentar o rapaz para nós! Queremos saber quem vai ser o pai de nossos netos! –o pai falava um tanto indignado-

Netos? Que tipo de pai fala sobre netos quando nem conhece a pessoa que está com a filha?! Eles estão mesmo tão desesperados assim por netos? As filhas do George não bastam?! E, por favor, me digam que não mencionaram nada sobre netos àquele alien...!

_Esperem um momento... Há um GRANDE mal entendido aqui... –suspirou-

Ele zombará de mim pelo resto de sua estadia aqui... “Perguntas sem nexo”... Por que isso só acontece comigo?

E após longas explicações e esclarecimento de dúvidas, a mulher aliviou-se.

_Hum... Mas nunca nos disse sobre esse programa, minha filha... –a mãe, Grey Sanders disse-

_Pensei que George havia falado com vocês sobre isso...

_Não, nunca mais o vimos também... –o pai, Edwin Sanders disse- Bem, acho que devemos parabenizá-la!

_Onde está o rapaz? Nem perguntamos o nome dele... –Grey buscava o homem com os olhos -

_O nome dele é Siv Borghild, e eu não faço ideia de onde esteja. Só estou abrigando ele por um curto espaço de tempo, uma vez que ele tenha habilidade pra ingressar no mercado, o governo providenciará o resto. –forçou um sorriso-

E já providencia... Ele adora abusar do governo...

_Mas... Deixando isso de lado... Você parece cansada... Tem comido direito? Está tão pálida... –a mãe conferia o estado da filha-

_Mãe... –encolheu os ombros, envergonhada- Eu estou bem! Mas por que vieram aqui?

_Ora, viemos vê-la, é claro! – o pai respondeu simplista- E pretendemos passar esse fim de semana aqui!

_O QUÊ?! –levantou-se abruptamente do sofá-

Não, não... Esta casa está sendo vigiada pelo governo e aquele alienígena esquisito está aqui... Esse é o PIOR momento possível!

_Eileen Sanders, não te carreguei nove meses na barriga para ser expulsa de sua casa depois de quase um ano inteiro sem vê-la! –bronqueou-

_Filhinha, só serão dois dias, deveria estar feliz por sermos pais preocupados! Vamos nos divertir, prometo! –Edwin falava num tom carinhoso-

_Não é isso... É que... –tentava achar palavras, mas fracassou- T-tudo bem... –suspiro-

...

[O que disse?!]

_Sinto muito Sr. Gilbert... –a mulher se desculpou arrependida- Não consegui detê-los... São meus pais afinal... Não queria envolvê-los nisso, mas não posso simplesmente explicar uma situação tão complicada...

[...]

[Tudo bem... Só tome cuidado... Redobraremos nossa vigia aqui e farei o possível para por mais soldados de prontidão... Tente mantê-los afastados do invasor espacial]

_Isso será difícil... –olhou para sala, pela brecha da porta da cozinha- Estão sentados no sofá tomando café com bolo e conversando com ele agora mesmo...

[...!]

[Desculpe... Não posso ajudá-la muito... Espero que tudo corra bem...] –desliga-

Ela suspirou profundamente, refletindo sobre sua situação complexa.

Desta vez nem mesmo o Gilbert pode se mover... Meus pais não podem descobrir o que eu esta acontecendo nesta casa... Ainda bem que as câmeras de vigilância e as escutas ficam bem escondidas...

_O que um rapaz bonito da Noruega como você faz neste país? –Grey perguntava simpática-

_Busco um emprego, e claro, devo contar que uma experiência no exterior do meu lugar de origem é certamente edificante. –explicava com um fraco sorriso e seus olhos opacos-

_Um homem educado! –cumprimentou o pai de Eileen- Viu só querida? A realidade é outra nos países bons!

Siv você está ouvindo? Não fale muito da Noruega para os meus pais, ou irão enchê-lo de perguntas como antes! Apenas confirme com a cabeça e escute o que eles dizem.

Eu sei como me portar, humana.

_Arrogante como sempre... –a mulher resmungou baixinho enquanto levava uma bandeja com chá para as visitas- Aqui... –serviu-os-

_Então, Siv... –Grey iniciou a conversa- E a sua família? Tem pais, irmãos? Foi criado na casa de um tio ou avô?

_Não, estive com meus pais e meu irmão mais velho. –disse com a mesma expressão sorridente-

_E seus pais e seu irmão não sentem falta de você? O que acharam sobre vir até aqui, num país distante? –Edwin perguntou curioso-

_Não imagino o que eles devem pensar, mas não acredito que estejam preocupados com minha estadia aqui.

_Oh, eles depositam muita confiança! Que lindo! –a mãe comentou, maravilhada-

Não mãe... Não acho que seja isso... Vindo de uma raça alienígena frívola acho que ele quis dizer que não se importam mesmo...

_É mesmo? –indagou com seu leve sorriso sem emoção-

_Claro, claro! Nos fale sobre eles! Não é justo que você conheça os pais da proprietária da casa e não fale sobre os seus, não é? –a mãe falava simpática e energética-

Mãe... Espero que não seja mais um de seus planos com segundas intenções...

_...

Ele está decidindo se fala ou não? Sério? Não Siv, não faça isso... Uma vez que contar a eles vão espalhar para o resto do universo sobre você, e provavelmente vão distorcer parte da história como, por exemplo, o motivo de você estar na minha casa. Não caia nessa! É uma armadilha!

_Meus pais me educaram apenas até a segunda infância, após isso, como eles... eram “ocupados”, meu irmão mais velho ficou a cargo da minha “orientação”.

_Oh! –a mulher pôs a mão na boca, surpresa- Me perdoe...

_Você tem um irmão exemplar! –o pai disse impressionado- George odiava ter que cuidar da Eili quando eram menores.

O alienígena simplesmente encarou o pai de Eileen por alguns segundos, com seus olhos vítreos e desprovidos de sentimento, que conseguiam ter uma profundidade tão misteriosa em alguns momentos...

_Ah! Vamos mudar de assunto, quer ver algumas fotos da Eili quando era pequena? Temos algumas aqui! –a mãe ofereceu alegre-

Mãe... Não acredito nisso...

A mais jovem dos Sanders se remoía por dentro, não acreditava na ingenuidade de seus pais. Imagina quantas pessoas não estavam rindo dela vendo aquelas imagens. E acreditava ainda menos que seus pais mal sabiam quem era aquele homem educado com quem falavam.

E novamente, Siv pareceu distante, ele escutava ao que os pais dela falavam e respondia, mas de alguma forma, seus olhos e mente pareciam estar em outro lugar, num mundo diferente, interior.

Será que ele estava falando sério sobre os pais dele não darem muita atenção e ele ser criado pelo irmão? Uh... Primeiro com meu irmão... Agora com meus pais... Esse cara fica assim toda vez que se trata de família?

Não tente sondar meus pensamentos, humana.

A mulher quase derrubou a bandeja que tinha em mãos quando ouviu aquela voz em sua cabeça. Assustada, lançou um olhar sobre o alien que sorriu, brilhantemente como sempre, dando um ar ameaçador ao pensamento que lhe enviara por telepatia.

Digo o mesmo... E eu não posso ler mentes como você. Me deixe em paz, seu E.T. maligno!

Saiu da sala, indo à cozinha. Suspirou desmotivada. Sentou à mesa, jogando a bandeja lá mesmo. Começou a olhar pela janela o jardim da frente de sua casa.

Em apenas três meses sua vida havera mudado tanto... Era estranho acreditar que um alien morava agora em sua residência. Conheceu tantos membros do governo, e soldados do exército e forças especiais. Participou de reuniões importantes, e tentava defender o país. Surreal. Ainda mais surreal era o fato de seus pais estarem sentados na sala conversando e tomando chá com a criatura que ela deveria estar vigiando e que, supostamente, pode destruir o planeta.

_Ah~-suspirou- Fico só imaginando quando é que isso vai acabar...

_Eileen! –a mãe gritou da sala- Venha cá querida, vamos mostrar fotos suas!

Ah... Eu agradeceria tanto se ela mostrasse as fotos para pessoas de verdade...

E o resto da manhã, a mulher sorria por educação, para disfarçar os pensamentos que assombravam sua mente. Foi cansativo, mentir o tempo todo, criar história sobre o cidadão imaginário Siv Borghild, que existia apenas, de certa forma, como pessoa física, no entanto, sua personalidade não passava de máscaras que o faziam parecer humano e um monte de documentos falsos.

_Eu vou cozinhar algo- a filha se levantou, mas sua mãe a fez sentar no sofá-

_De jeito nenhum! Hoje eu estou aqui e vou cuidar disso!-sorriu andando feliz para a cozinha-

_Ah, eu vou pegar nossos pertences no carro, volto em um minuto, querida! –o pai saiu apressado da sala-

Um silêncio se instalou no local, deixando o clima pesado, uma Eileen desolada e um alienígena que continuava com sua expressão sorridente.

_Ah, isso é de fato uma oportunidade única de observar as relações familiares em seu planeta~

_É... Me sinto lisonjeada por estar incluída com minha família nos humanos observados... –disse sarcástica-

...

Durante o almoço...

...

_Precisava ter visto quando a Eili, com 5 aninhos apresentou uma peça! Ah! Uma do dia das mães, foi tão fofo! -

Grey contava ao alien que estava impassível e escutava sem comentar, até que a filha interrompeu com um sorriso forçado no rosto:

_Mãe... Acho que já chega de histórias... Está perturbando-o...

_Ah~-disse desanimada- Bem, eu vou recolher os pratos... E acho que seu pai tem algo pra lhe propor... –sorriu-

_Hã? –a filha encarou o parente-

_Bem, porque não vamos ao parque central hoje? –Edwin disse simpático-

_Não, pode ir... Eu fico por aqui, afinal tem o Siv... Não podemos deixar um visitante sozinho, não é...?

_Não estava falando em deixá-lo, vamos deixar sua mãe, ela cuida da casa e vamos nós três, eu você e o rapaz.

_...? –suou frio- Acho que el-

_Há muitas pessoas nessa “praça central”?-o alienígena se adiantou-

_Claro! Num final de semana principalmente! – o pai respondeu animado- Viu só Eileen? Ele quer ir, não quer, Siv?

_Certamente. –respondeu sorridente, vitorioso sobre a humana-

Ahhhhh!!! PAI! Eu estava tentando mantê-lo ao alcance das câmeras de vigilância, mas você tinha que tirá-lo de casa! Eu não mereço isso!!

...

_Sr. Gilbert –dizia a mulher ao telefone, com voz chorosa- Me ajude! Não quero ficar de babá!

[... Eu enviarei alguns de meus homens à paisana para observá-los... Mas é o máximo que posso fazer... Um movimento errado e aquela criatura mostrará suas presas para nós...]

_... Certo...

...

No parque...

...

Era um local organizado e com um clima bucólico. As diversas árvores acompanhadas de belas flores e da grama bem cortada. As estradinhas de pedrinhas todas bem encaixadas, com bancos de praça feitos de madeira, tudo bem simples.

O lago, com alguns barquinhos de pesca era também uma atração, as águas escuras escondiam a profundidade e o que havia em seu interior, dando um clima de mistério.

Algumas pessoas corriam, outras andavam de bicicleta, e havia ainda algumas pescando na calmaria do lago.

_Então pessoas se socializam aqui...? –o alien observava com seu costumeiro sorriso impecável-

_Sim, sim, veja, não parece divertido? –o pai dizia animado- Vamos sentar e conversar!

_O que exatamente buscam aqui?

_Hum? –o homem estranhou a pergunta do E.T.- Bem, acho que a maioria vem aqui para relaxar, ou talvez pratica algum esporte, hobby. Depende da intenção de cada pessoa, não é mesmo?

Edwin sorriu, mas Siv não estava sorrindo, ele estava sério, e até incomodado com algo, como se tentasse achar algum tipo de resposta em seu interior.

_Gosta de olhar as pessoas tanto assim? –Edwin questionou, sorrindo um pouco sem jeito-

_Perdoe-me pelas minhas tendências indelicadas. Eu sou amante da sociologia, como pode ver, e isto acabou se tornando um hábito.

Mentiroso! Aposto que está pensando em coisas ruins pra escrever no seu relatório!

_Então, no seu país há praças assim também?

_Não. Geralmente as “pessoas” estão ocupadas trabalhando ou realizando pesquisas científicas...

_Nossa... Não sabia que a Noruega era um país tão sério... Deve ser bem desenvolvido... Outro mundo, não é? –Edwin maravilhava-se com a imagem intelectual que o outro passava do país-

Não pai... Não existe um país assim! Ele com certeza está falando daquela sociedade fria que ele vive!

_No lugar onde vivo todas as atividades são realizadas em prol da sociedade, não há uma atividade se quer que não seja feita pensando no bem maior dos moradores. –explicava num tom calmo e com uma seriedade e rigidez no semblante-

_Interessante. Aposto que não tem muitos crimes lá, para ter um povo tão unido e organizado para o bem comum... –admirava-

O alien o encarou o outro por alguns segundos como se refletisse e depois respondeu num tom seco:

_Na verdade há criminosos, contudo, estão todos no devido lugar...

_Então até o sistema prisional funciona bem...–ele gargalhou- Não está tentando fazer propaganda enganosa, está? Falando assim até parece um país perfeito!

_Hahahah... –riu discretamente, sem muita emoção- Claro que não~ Não existe algo “perfeito” neste mundo, existe?

Eileen, que estava completamente deslocada da conversa saiu a andar pela praça, parando perto do lago, olhando seu próprio reflexo nas águas marrons.

Ah~ No quê eu me meti? Se meus pais souberem da verdade vão ter um ataque cardíaco... Por que é que eu estou me prestando ao papel de babá afinal...? Ah é, só porque a humanidade está em perigo Eileen Sanders! SERÁ QUE É POR ISSO! –ironizou a si mesma internamente-

E a tarde passou, com seu pai dialogando com Siv, que era questionado sobre o país onde vivia, tendo que dar respostas inventadas.

...

De volta à residência...

...

_Se divertiram? –a mãe perguntou em seu tom eufórico de sempre-

_Sim... –disse a filha desanimada-

_Não fale assim, querida. Vai sentir nossa falta depois!

_Mãe...!

_Falando em atividades de pai e filha, não quer me mostrar como anda seu jardim, Eili? -o pai interrompeu a conversa- Trouxe alguns brotos e sementes de flores para plantar aqui.

_Ah~-animou-se- Que bom! Vamos lá no quintal...

E assim, pai e filha saíram dali, deixando Siv e Grey na sala.

_Parece que te abandonaram. –a mulher sorriu-

Siv manteve o meio sorriso calmo, sem muito interesse naquela conversa.

_Venha cá...

_...?

Ela o levou até a cozinha, e parou lá, dando um risinho.

_Sente-se. –ofereceu a cadeira-

_...? –obedeceu-

_Ah, eu ouvi da Eileen que ela não fez nenhuma recepção para você quando veio para cá. É terrível que minha filha seja tão desleixada. –suspirou e voltou a falar em seu tom de ânimo- No nosso país, temos o costume de receber bem as pessoas, ficaríamos felizes em recebê-lo agora, rapaz.

_...

O alien continuava fitando a mulher, ainda confuso sobre as intenções dela.

_Então, pode me contar... O que lhe incomoda?

O alienígena a encarou, ainda sem entender, o que ela buscava fazendo tais perguntas? Pior, como ela havia notado que ele estava estranho se mal o conhecia?

_Vamos, não tenha medo de falar! –ela deu um risinho- A Eileen disse algo maldoso à você? Ou talvez eu ou Edwin tenhamos dito algo ruim...?

_Por que me pergunta isto? –ele disse num tom incerto- Eu pareço estar incomodado?

_Sim, está estampado na sua face!

Siv ficou ainda mais perplexo com a afirmação da mulher, ele podia jurar que manteve sua face impecável para que não deixasse suas emoções transparecessem.

_Não há nada que me incomode aqui... –sua voz soou preocupada-

_Mesmo? –ela pareceu decepcionada por não conseguir fazê-lo falar- Talvez a Eili não tenha te recebido bem? Ela não fez uma festa de boas vindas, fez?

_ Festa de boas vindas? Isso é realmente necessário neste país?

_Ora, não precisa, mas temos o costume de receber bem as pessoas, para que se sintam acolhidas, não?

_Por quê?

_Bem, acho que você fica mais feliz quando se sente acolhido... -disse sem entender a dúvida dele-

_Tem alguma comprovação de que isto funciona? –questionou sério-

_Claro! Todo mundo dá um belo sorriso quando é bem acolhido! –sorriu-

_Seu argumento... Não tem lógica... –ele torceu os lábios para baixo-

­_ Quem precisa de lógica numa hora dessas? Não seja tão rígido! Relaxe um pouco!

_...

_ Espero do fundo do meu coração, que aproveite sua estadia. Será uma ótima experiência, garanto. O mundo está cheio de pessoas maravilhosas, e te oferecerá bons momentos. Quero que saiba que nós somos sua família também! Pode pedir ajuda e apoio a hora que precisar! –disse sorrindo de uma forma carinhosa-

E ele encarou a mulher sério e pensativo, se perguntando quais propósitos ela tinha por trás daquele sorriso gracioso.

...

Era noite, os pais de Eileen haviam acabado de ir dormir, e ela, cansada falava com Gilbert sobre o que havia ocorrido naquele dia. Depois do relato, desceu para sala, onde estava o alien, sentado em seu sofá, com um ar de distância, como se estivesse ponderando sobre algo.

Ela continuou descendo as escadas, tentando não fazer barulho, um tanto confusa sobre o porquê de ele estar tão quieto.

_É muito diferente do que eu pensava. –o alien comentou-

_Hã? –a mulher assustou-se ao ouvir a voz dele, virando-se na direção na qual ele estava – O-o que disse?

_Esta instituição familiar. É muito diferente do que eu pesquisei... –disse reflexivo- Talvez seja uma consequência dessa individualidade humana...? Hum... –refletia-

_Não sei por que está dizendo isso... –teve um insight- Ah! Minha mãe falou com você, não foi?

Será que essa cara séria que o Siv está fazendo é influência dela? Ele ficou irritado com algo que ela disse...? Hum... Não... Acho que irritação não é bem o que ele está sentindo...

O que a minha mãe conversou com ele exatamente? Para arrancar uma expressão assim desse alien sem emoção...

_Não entendo a lógica por trás das ações humanas, ainda sim, vocês insistem em dizer que é simples compreender... –disse ele, apoiando o rosto numa das mãos-

_Hã? Não entendo o que quer dizer, e não quero nem imaginar que tipo de coisas minha mãe andou dizendo para te deixar assim...

_Me deixar “assim”? –encarou-a- O que quer dizer com “assim”?

Mais uma vez, ele sentiu-se perplexo por ter seu estado emocional desenhado nos traços de seu semblante.

_Olha não é que você não pense muito, mas você parece estar com uma grande interrogação na cabeça... Será que foi algo que ela disse... Ou fez?

Eileen arqueou uma das sobrancelhas, em dúvida e ele pensou mais um pouco, de cenho franzido, intrigado pela humanidade.

_Na verdade esse comportamento simplista que me intriga...

_O que quer dizer?

Espera... Ele está mesmo estranho... Será que ele ficou incomodado com algo que ouviu ou viu? Será que aquela história de família realmente o atingiu?

Ele passou a olhar para o chão e ignorando a pergunta mental da mulher, começou sua fala:

_Aqui as famílias são uma estrutura desorganizada, não há padrões estabelecidos sobre quantidade de indivíduos participantes ou sua função como cidadão, isso significa que a variedade de concepções, modos de agir e pensar aumenta, já que cada um educa como desejar... É completamente diferente do planeta onde vivo, ainda assim... Há um elemento esquisito aqui, diferente, porém, interessante e eu nunca havia presenciado antes em nenhuma família da raça a qual pertenço...

_Elemento esquisito? E o que é...?

_É como uma proximidade... Não, não... Penso que seria como um contato... Uma intimidade com o outro... Não, é como uma sensação esquisita... Ainda não é exatamente isto... –franziu o cenho- Não... Consigo explicar...

_Algo do mundo humano que o grande Siv Borghild não consegue explicar? –zombou-

Ele levantou-se, ainda inquieto e saiu do recinto.

Hum... Um elemento “esquisito”? Não sei realmente do que ele fala, mas era de se esperar que uma hora ou outra, as concepções que ele trouxe de seu planeta se chocassem com as nossas. Afinal, pelo que ele diz, teve uma vida muito restrita e baseada numa “linha” programada, ele não está acostumado com a “desordem” e simplicidade deste mundo ainda.

Quem sabe ele não consegue tirar boas conclusões dessa experiência também... E escrever algo bom no relatório, pra variar...

E com um sorriso na face, Eileen Sanders alegrou-se internamente, tentado acreditar, positivamente, num futuro para a humanidade.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Human World Observation" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.