Human World Observation escrita por Lady Pompom


Capítulo 5
Capítulo 04: Contato


Notas iniciais do capítulo

essa história não tem relação alguma com fatos, acontecimentos ou pessoas da vida real. É uma obra de ficção com fins de entretenimento.



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Os raios do sol entravam pela porta da sacada, alcançando até a larga cama de casal com dossel, despertando a mulher que sentava-se lentamente e bocejava ainda sonolenta.

_Aw... Humn... –coçou o olho- Tenho que me arrumar para o trabalho...

Andou cambaleante até o banheiro do quarto, foi lavar o rosto. Olhava seu reflexo no espelho, tentando organizar as ideias.

Tenho que me arrumar e fazer o café da manhã... O que eu comi ontem...?

...

Ontem...?

Cuspiu a pasta de dente e a escova que tinha na boca, arregalando os olhos, despertando completamente.

Não, não me diga isso! Minha memória deve estar me pregando peças, não, não!

Desceu as escadas correndo, ainda de pijamas, e se dirigiu até a sala, nada lá. Correu até a cozinha, tão logo abriu a porta teve a visão de um homem de terno sentado à mesa, tomando café calmamente e lendo um jornal.

_Oh, você acordou. –disse o alienígena encarando-a e depois voltando a ler o jornal-

_G...G...GAH! –bagunçou os cabelos com as mãos e caiu sentada, descrente-

Não acredito! É verdade... Tem mesmo um alien aqui... O que eu faço agora...?

_Aquele comandante humano disse que iríamos ao seu trabalho hoje, de acordo com ele preciso me apresentar como “intercambista da Noruega” para que possa manter as aparências como um cidadão humano.

_C-como assim para o meu trabalho?

_Trabalha em um lugar chamado “empresa”, certo? Lá é um lugar perfeito para observar a interação humana sob a orientação de um chefe, como reagem, se fazem o trabalho ordenado, algo complicado para seu cérebro incapaz.

_... –ela franziu o cenho-

_Vocês humanos seguem horários, não é? Não estava reclamando outro dia que iria chegar atrasada? Se não se aprontar vai se atrasar para seu ‘trabalho’-dizia lendo o jornal- Ou presumo que irá vestida assim? -arqueou o cenho olhando-a dos pés à cabeça-

Tenha calma, tenha calma. Seja educada, coloque um sorriso no rosto, estresse no trabalho irá diminuir seu desempenho e enrolar suas ideias na cabeça...

Subiu as escadas calmamente, enquanto fervia por dentro, paciência não era seu forte, mas estava agora aprendendo de um modo não convencional a exercitá-la.

Vestiu-se e arrumou propriamente, com seu terninho feminino para ir ao trabalho, treinou um sorriso convincente enquanto se maquiava no espelho.

Ouviu o barulho de uma buzina de carro, que parecia vir da porta de sua casa, pegou a bolsa e desceu imediatamente, estranhando. Não esperava ninguém àquela hora e não possuía carro.

Assim que abriu a porta, viu o carro preto do governo, dois homens de terno preto e mais um, de terno areia que ela não reconheceu.

_Bom dia... –disse insegura-

_Desculpe o incômodo tão cedo, -disse o de terno areia- Sou Allen Garchovsky, Secretário do Ministério de Relações Exteriores. –estendeu a mão-

_Ah, sim... –cumprimentou-o- É você que irá falar sobre o programa de intercâmbio...

_Se importa em nos informar onde está a criatura com a qual vamos lidar?

_L-lá dentro... –convidou-os para entrar-

O alienígena estava na sala, de pé, esperando por a mulher para guiá-lo ao local onde trabalhava.

_Então... –Allen se pronunciou- O Sr. É o...

_Sim, porém devo salientar que neste planeta serei conhecido como Siv Borghild. –cumprimentou-o cordialmente respondendo aos pensamentos do outro-

Allen Garchovsky, o homem de terno areia, era quase da mesma altura que o extraterrestre; possuía cabelos castanho matizando para ruivos, arrumados com gel, deixando apenas a franja dividida ao meio cobrindo parte do rosto; os olhos eram também um castanho escuro. Usava óculos de grau o que lhe dava um ar de inteligência, e sua postura era impecável.

_Providenciamos seus documentos... Sr. Borghild... –disse fazendo um gesto-

Um dos homens de preto abriu uma maleta que continha diversos papéis, documentações.

_Incluímos um currículo falso, para que possa mostrá-lo na empresa sem que seja algo suspeito. Esperamos sua cooperação.

_Bom. Espero sua cooperação da mesma forma. –o outro mantinha um sorriso-

_Iremos introduzi-lo à empresa de publicidade que a Srtª Sanders trabalha, tente portar-se com esta aparência e não negue as informações que colocamos nestes papéis, pode comprometer seu disfarce.

_Eu sei disto, Sr. Agradeço a preocupação, eu saberei me portar.

Apesar de o alien estar sorrindo, um clima de tensão envolveu a sala, como se algum tipo de rivalidade acabasse de nascer.

_Bem... Podemos ir, então? –o secretário ajeitou os óculos, ocultando as emoções-

_S-sim... –a mulher engoliu seco-

E todos se acomodaram no carro do governo assim: Allen dirigia, ao lado dele Eileen, e no banco de trás, sentado no meio Siv com os dois homens de preto dos lados.

Eles estão claramente organizados de forma que o impeça de fugir, tenho certeza que aqueles caras de preto têm armas, embora eu não ache que adiante... Aquela criatura com cauda continua com um sorriso no rosto!

Indo a pé até o emprego, a mulher geralmente gastaria 40 minutos, por isso sempre ia de metrô, mas especialmente hoje, estava indo de carro com alguns agentes do governo e o peculiar hóspede de sua casa.

...

Quando chegou à empresa, sentiu-se deslocada. Após uma semana longe do trabalho um turbilhão de fatos aconteceu em sua vida e já não era mais a mesma. Como poderia voltar a ter uma vida normal depois de ter vivido tantas situações inacreditáveis?

_Eileen! – a amiga, Halley, cumprimentou-a feliz- Você finalmente voltou, o chefe deve estar uma fera! –comentou lançando um olhar de estranheza para os agentes e o estrangeiro que a seguiam-

_Ah... Sim... –disse sem jeito, nervosa-

_Espero que tenha uma boa explicação!

_E tenho. –finalizou, deixando a sala-

...

No escritório do chefe,

...

Fora os olhares que recebiam por chamar a atenção, o caminho até o escritório foi relativamente tranquilo. Siv, o extraterrestre parecia estar calmo, com seu leve sorriso habitual na face, prestando atenção a todos e tudo ao seu redor.

Entraram no escritório do chefe. A primeira reação dele foi ficar irritado e quase gritou em voz alta que demitiria a mulher até perceber a presença dos quatro homens na sala.

_Quem...? –olhou indignado-

_Sou Allen Garchovsky, secretário do Ministério de Relações Exteriores, infelizmente o Sr. Ministro não pôde vir pessoalmente, mas eu irei lhe informar sobre o programa...

Iniciou uma longa explicação sobre como Eileen havia sido selecionada pelo programa, e sua ausência se devia a alguns testes e exames pelos quais teria que passar para saber se estava apta a receber um estrangeiro em sua casa.

Detalhou os objetivos do programa e como isso seria benéfico para a economia e fortalecer laços com outros países, por isso necessitava desta colaboração.

_S-sim! Será um prazer ajudá-los, e fico feliz que minha subordinada faça parte disto! –cumprimentou o chefe da empresa-

Tch! Esse velho só está pensando no dinheiro e na fama, se não fossem pessoas importantes do governo, eu estaria na rua agora.

_Siv Borghild é o estrangeiro que trouxemos desta vez, ele é da Noruega, mas fala fluentemente nossa língua, no entanto ele não se acostumou com o modo de vida aqui, perdoe quaisquer mal entendidos... –disse o secretário seriamente-

_Sem problemas...

_Ele estará observando esta empresa e o modo de trabalho que utilizam aqui, para poder se habituar melhor e ingressar no mercado, portanto trate-o bem, por favor.

_Perfeito. Ele só irá olhar, certo?

O extraterrestre fez um gesto afirmativo com a cabeça.

_Desculpe o incômodo, estamos indo agora. –fez reverência e saiu, lançando um breve olhar para Eileen-

Sabia... Então eu vou ter mesmo que ser babá dele e assumir a responsabilidade por qualquer besteira que ele fizer?!

_Quando pod...-o superior foi interrompido-

_Ah! Desculpe chefe, o levarei para conhecer a empresa toda agora mesmo! Tchau! –disse para o homem que ficou perplexo e ela puxou o alien pelo braço, arrastando-o para fora da sala-

...

_Tem alguns itens importantes que deve saber: não fale sobre ser um alien, não responda aos pensamentos das pessoas, não as machuque, não as ameace, não chegue nem perto delas! Pode observar o quanto quiser, mas tente não falar muito e bancar o inteligente, ou irá chamar a atenção. –dizia sem fôlego-

_Acalme-se humana, eu entendo. –disse tranquilo- Não vou interromper suas atividades, e obviamente não direi nada suspeito.

_Começando por não me chamar de “humana”, se os outros ouvirem isso, será suspeito!

_Não cometerei o erro de trocar seu nome pelo nome da sua raça, não careço de inteligência.

Então está tentando dizer que vai me chamar pelo nome só na frente dos outros enquanto por trás me despreza?!

_Exato. –respondeu sério- Todavia, desprezo é um termo forte para descrever minhas intenções. Estou apenas tratando-os como um espécime estimável, entenda minha posição. Sou o pesquisador e vocês, o objeto de estudo. Simples assim. –disse com o olhar arrogante e um sorriso cínico-

_...

Eu devia parar de fazer anotações mentais... Ah, que seja! Melhor eu mostrar logo a empresa para ele e me distrair ao invés de dá-lo motivos para subestimar a humanidade.

Enquanto mostrava o andar no qual trabalhava, e explicava como funcionavam os outros andares do prédio, que tipo de tarefas eram designadas para cada um, a mulher finalmente entrava em seu escritório, que dividia com sua amiga Halley.

_Eili! –disse animada- Oh, ele vai ficar por aqui?

_Sim, por hoje... –suspirou cansada-

Pegou uma cadeira e sentou-se à mesinha de canto de seu escritório. Sem vontade de trabalhar, seu cansaço mental estava deixando-a indisposta.

_Bem vindo! – a amiga cumprimentou o homem e depois voltou ao trabalho-

_Pode sentar-se aí, infelizmente o escritório não tem muitas pessoas, não será capaz de ver os outros daqui, terá que andar se quiser observá-los melhor. – Eileen sentou na cadeira pertencente a ela e começou a organizar alguns papéis-

_... Não é necessário. Essa “empresa” dos humanos é basicamente como uma colmeia, certo? Uns se esforçam pelo bem da ‘rainha’, que seria o que chamam de chefe neste caso...

_Não é bem assim... –virou-se para encará-lo- Veja bem, todos tem motivos diferentes para estarem aqui, podemos estar trabalhando no mesmo lugar, mas não com os mesmos objetivos. Muitos querem promoções e estariam dispostos a pisar nos outros para consegui-las, até mesmo matar o chefe... Isto não pode ser considerado uma colmeia. Não trabalham pelo bem comum, só para o próprio bem.

_Por que esse desejo de bem estar? Se todos apenas fizerem seu trabalho a sociedade não seria mais estável?

_Aprenda desde já algo sobre humanos: a maioria é egoísta e individualista, e só se importa consigo mesmo, por isto o mundo chegou a um ponto terrível.

_Hum... –pôs a mão no queixo- Desta forma... Vocês se encaixam no papel de animais selvagens... Estão no topo da cadeia de evolução de seu planeta, ainda assim se portam como seres inferiores, só mesmo os humanos pra se prestarem a tal papel! –riu-

_Como assim animais selvagens?!-a mulher franziu o cenho-

_Trancafiados numa selva de concreto, com seus cérebros minúsculos e instintos animalescos, vocês predam um ao outro, como um canibalismo, apenas pelo simples egoísmo de suas mentes... Devo dizer que é algo bem ridículo de se fazer quando tem o resto das espécies deste planeta aos seus pés... Se fossem mais espertos e educados, poderiam resolver tudo de forma mais civilizada, pena que não são. –risos-

_Não acho nada engraçado ser comparada a um animal selvagem...

_Certamente, porém, você mesma disse que há variados humanos, que as ações variam de acordo com suas mentes, suponho que há alguns poucos humanos mais “evoluídos” que o restante, e os evoluídos caçam os menores, os menos inteligentes, não é assim que funciona?

_Também não é exatamente assim... Você realmente não entende nada desse planeta... –suspiro- Pode ser verdade que alguns psicopatas e criminosos inteligentes cometam barbáries com “humanos menos inteligentes”, e há ainda uns que governam sobre outros pela “inteligência”. Mas, eu particularmente acredito que todos nós temos a mesma capacidade mental, só cabe a nós nos dedicarmos a alguma área para utilizá-la, afinal existem pessoas que usam sua inteligência para o bem também!

_Sua opinião será desconsiderada. Contudo, novamente, essa variedade de humanos, me fale mais sobre isto... –um brilho de curiosidade surgiu nos olhos dele- Eu já li seus pensamentos em diversas ocasiões, mas ainda não entendo como esta “mente humana” funciona... É de fato complexa...

_Bem, acho que pode chamar isto de “alma humana”, se age de acordo com suas crenças, pelo modo como foi ensinado, e pelas emoções que se sente, isto que forma a personalidade única das pessoas. E pare de ler meus pensamentos, por favor, me dê alguma privacidade!

_Agir de acordo com emoções? Que impulsivo!

Olha só quem fala! O alien que ficou irritado conosco há apenas algum tempo atrás...

_Entendo... Seus pensamentos então se baseiam no que chama de “emoção”.

_V-você leu, não foi? –disse envergonhada-

_Mas... Existe uma miríade de emoções humanas... Ainda não as compreendo...

_É claro, cada um age diferente de acordo com cada situação, não tem como agir igual se somos todos diferentes por dentro, não é?

_O nível de “diferença” é absurdamente elevado. Como pode num mesmo mundo existir tanta variedade se são todos a mesma espécie? –indagou confuso-

_Heh~-disse satisfeita com o primeiro sinal de confusão do outro- Acho que nem mesmo um “ser superior” como você pode compreender a alma humana.

_Ainda! –disse convencido-

_Me surpreende que não entenda sobre variação, não faz parte da evolução?

_Minha espécie evolui copiando outras espécies, é assim que aprendemos novas habilidades, mixando e criando uma variabilidade de opções, mas nossa mentalidade é a mesma, temos os mesmos níveis de inteligência e mesmas respostas a situações...

_Não me parece muito evoluído...

_Imparcialidade. Isto é uma característica que minha espécie mantém por gerações, é por isso que somos capazes de observar, entender e assimilar. Já vocês humanos, por serem diferentes, levam a evolução de alguns poucos enquanto outros não evoluem.

_Você só está vendo o lado negativo disso... –franziu o cenho- É por sermos tão únicos que somos capazes de evoluir mentalmente, e que conseguimos superar nossos limites alcançando níveis cada vez maiores. É melhor tomar cuidado, com essa característica, algum dia alguém do governo descobrirá um modo de matá-lo, por ser “diferente” de outros. –disse convicta-

_... –o alien manteve o sorriso sério no rosto- Estão milênios adiantados se puderem realmente me ferir, nunca terão habilidades melhores que as minhas ou conseguirão descobrir como me matar.

_É fácil, se ninguém descobrir, então basta criar um modo, certo? Afinal, é disso que nós humanos somos capazes. –sorriu convencida de sua vitória e se concentrou em seu trabalho-

O controle emocional do homem era admirável, não importa o que ela dissesse, aquele sorriso sério e cínico não saía de sua face, o que o tornava alguém difícil de decifrar.

...

_Então, o que achou de nossa empresa? – o presidente o paparicava-

_É interessante estudar as relações humanas aqui...

_...? –o outro ficou confuso-

_Ele quis dizer que ele gosta de estudar sociologia! Ele tenta entender as interações sociológicas em empresas porque faz parte do doutorado da faculdade que ele faz! –disfarçava Eileen nervosa-

_Que faculdade?

_Ele não contou? Fez gestão empresarial, e pra isso precisa entender como as interações funcionam pra ter um melhor desempenho, não é? –olhou para o alien que confirmou com a cabeça-

_Por que não disse antes? É bom ter um companheiro gestor por perto! –paparicava ainda mais-

_Claro. –disse sem emoção-

_Bem, a nossa empresa fecha às 19h, ainda são 17h, mas pode ficar até fecharmos se quiser.

_Sim eu gostaria.

O quêêêêêêêêêêêêêê???!!! Não, eu quero ir par casa! Não quero ficar aqui esperando todos saírem !

Quieta.

H-hã? Eu acabei de ouvir isso dentro da minha cabeça? Por acaso foi a voz dele dentro da minha cabeça?! Eu falei algo?

Tola, eu nunca disse que podia apenas ler pensamentos...

Não, isso é surreal demais! Estou ouvindo vozes na minha cabeça, só pode ser brincadeira! Ele pode responder pensamentos através da mente?! Telepatia?! Ele tem telepatia?!

Assustada? Hahahahahaha.

Ela olhou para o extraterrestre em forma humana, que lhe encarava com um sorriso, sua expressão habitual e inabalável.

Monstro!

_Bem, Fique o quanto quiser! –o chefe esfregava as mãos e dava um sorriso tentando agradar o novato-

...

À noite, nas ruas do centro da cidade...

_Não acredito que ficamos lá até as sete! Precisa mesmo observar pessoas por tanto tempo?

_Observação é a base para o aprendizado.

_... –ela arqueou o cenho e suspirou, cansada de discutir-

Enquanto caminhavam, ela viu ao longe, em câmera lenta, um homem passando por uma mulher e puxando a bolsa dela, correndo em seguida.

Ele roubou alguém?! Aquele cara roubou alguém?! E está vindo à nossa direção! Tenho que pará-lo!

O ladrão corria enquanto olhava nervoso para trás repetidamente, Eileen não saiu do caminho do assaltante, aproveitando a distração dele para que ele trombasse nela e caísse.

Os dois caíram, tanto a mulher quanto o assaltante. Ela o fez propositalmente para atrasar o bandido.

_S-Siv, segure-o! –disse encarando o alien-

_... –ele olhou sem interesse-

O ladrão se levantou e antes que ela pudesse segurá-lo, fugiu.

_Eu disse para segurá-lo! Ele roubou aquela mulher! –disse indignada-

_Heh~ Vocês humanos subtraem objetos dos outros, isso é de fato algo intrigante, apesar de pessoalmente considerar um ato muito sujo...

_Por que não o impediu?!

_Não estou aqui para intervir no cotidiano da sua raça, estou aqui para observar, lembre-se bem disso, humana. –disse sem um relance de emoção-

_Isso significa que se fosse alguém morrendo, você não ajudaria?! –gesticulava irritada-

_Não atribua a mim a culpa pela conduta da sua espécie.

O clima ficou denso. Ela pegou o celular e saiu andando na frente, deixando o homem para trás, irritada.

Ligaria para a polícia, falaria sobre o ocorrido e ficaria o resto da noite sem ver a cara cínica daquele E.T. inútil.

Enquanto andava, num área mais escura, ouviu passos. Olhou em volta, ninguém. Voltou a andar, e em conjunto com o crepitar de seu salto na areia do beco, ouviu o som de mais alguém ali. Enrijeceu a postura ao sentir algo gelado tocando em sua nuca.

_Shhh. –uma voz soou de trás dela- Não diga nem uma palavra.

A mulher engoliu seco, entendera que o objeto gélido que tocava sua nuca era um metal, especificamente o cano de uma arma. Suou frio.

_Me dê todo seu dinheiro.

_E-eu não tenho muito... Só o s-suficiente para uma passagem de metrô... –tentava dizer calma-

_Calada! –pressionou ainda mais a arma contra o pescoço dela- Apenas me dê...

Ela remexeu na bolsa, suave e controladamente. Alcançou a carteira, tirou todo o dinheiro e cedeu ao criminoso que ocultava o rosto com óculos escuros, boina e cachecol.

_Não grite, ou eu te corto! –ameaçou saindo com a arma sempre apontada na direção dela, que já estava com os braços levantados-

Alguns segundos, quando ele sumiu nos becos dali, ela relaxou a postura, suspirou aliviada por ainda estar viva. Suas pernas tremiam, fraquejavam. Nunca havia sido ameaçada de tal forma (a não ser pelo Alien).

_Isso foi uma demonstração e tanto da natureza humana... –Siv aplaudiu, aparecendo na esquina do beco-

_Você estava vendo tudo? –perguntou boquiaberta-

_Claro! Espetacular! –sorriu- Acabei de visualizar uma cadeia predatória entre humanos, a forma como agem quando se sentem capazes de extrair vidas de seus semelhantes. Desregrados.

_E não fez nada? Viu tudo e não fez nada?!

_Ah, se eu interrompesse, não poderia ter visto tudo de uma forma tão clara!

_Mesmo tendo poderes e ser capaz de fazer algo, não faria porque está aqui apenas pra observar?! –apertou a gola da camisa dele, irritadíssima- Você disse um “ato sujo” quando aquela mulher foi roubada?! O que você está fazendo é ainda pior!

_... –fitou-a com uma expressão vazia-

Ela ficou ínfimos segundos encarando-o com ódio, indignada pelo comportamento frio do homem. A inexpressividade dele era imbatível, ela não tinha forças contra alguém tão vazio quanto ele, sentia que não importava o que dissesse, nenhuma palavra o alcançaria.

_...

Franzindo o cenho e afrouxando a mão que segurava na gola dela, virou-se de costas, enfurecida com ele.

_Por que está tão nervosa? Foi só um objeto, além disto, comentei de antemão que tenho de ser imparcial, é uma das qualidades de minha raça... –“limpava” o lugar onde a mulher segurara-

O silêncio foi perturbador durante todo o caminho, bem como a raiva que acompanhava a mulher.

Não importa que aparência ele tome, ou o que diga, nada pode disfarçar a frieza que tinha nos olhos daquela criatura, não pode ser humano... A imparcialidade que ele fala é algo assustador, é definitivamente uma criatura ameaçadora...

Quando chegaram a casa, os dois foram para seus respectivos quartos, a mulher dirigiu-se à sacada de sua casa, olhando para a paisagem azul-petróleo no alto céu.

Naquele dia, eu entendi que tipo de existência vil, ainda mais egoísta que os humanos ele era... Tenho que descobrir logo uma forma de feri-lo ou matá-lo... O modo negativista como ele analisa, logo dirá aos superiores para destruírem este lugar... Antes que a humanidade sucumba perante a raça dele...

O celular da mulher tocou, era Gilbert. Ela atendeu prontamente.

[Srtª Sanders, boa noite]

_Boa noite...

[Gostaria que fizesse um relatório sobre o que aconteceu hoje, e me enviasse, seja o mais detalhista possível, assim poderemos estudá-lo melhor...]

_Sr. Gilbert... –disse num tom sério- Acha mesmo que seremos capazes de expulsá-lo da terra...?

[...]

[Só seremos capazes de obter essa resposta com o tempo, Srtª... Mas é para isso que estamos trabalhando...]

_...

[Onde ele está agora?]

_Bem, acho que no quarto dele, provavelmente...

[Não... Não estamos conseguindo vê-lo nos monitores das câmeras que instalamos em sua casa... Ele não está em seu quarto...?]

_Não... –olhou em volta, amedrontada com a possibilidade-

[Onde... Onde está ele?!]-a voz do homem saiu trêmula-

Eileen percorreu toda a casa com o celular no ouvido, em busca do alienígena, mas não o encontrou.

_Não... Não sei onde ele foi... C-como ele pode ter sumido assim...? –suava frio-

[Nossas câmeras não captaram nenhum movimento estranho, ele simplesmente não apareceu no monitor...]

_Não tenho um bom pressentimento...

[Acionarei uma equipe de busca imediatamente, eles irão vasculhar as redondezas! Fique aí mesmo, Senhorita!]

Ela desligou o telefone e não moveu um músculo, assustada e apreensiva, tudo referente aquele homem, principalmente onde estava e o que fazia cheirava a perigo, isto não lhe trazia bons presságios.

...

Num campo verdejante, em algum lugar longe da residência Sanders...

...

Sentado sobre a relva, observando o céu estrelado, distante das luzes da cidade, estava o alien em sua forma humana.

Ele pôs a mão no bolso e tirou algo de lá. Uma pulseira preta, que parecia de borracha, com um símbolo azul no centro. Colocou-o no pulso e pressionou o dedo sobre o símbolo. Instantaneamente uma imagem foi projetada da área azul da pulseira, e uma pequena tela holográfica surgiu.

Uma sombra com silhueta não humana e uma barra de áudio surgiram na imagem holográfica. Como numa conferência audiovisual.

[Ahcsar...]–a voz soava do holograma -

_Reportarei o que descobri, Milorde... –disse cordialmente-

A fala do extraterrestre, no entanto, estava em uma língua completamente desconhecida pelos humanos, impossibilitando o entendimento daquela conversa.

[Cumpriste tua missão?]

_Ainda não, meu lorde... –respondeu num tom imutável- A raça humana é extremamente diferente de todas as raças que já vimos...

[A tal ponto que até tu precisas de mais tempo para cumprir esta tarefa?]

_Sim... Ainda não consigo compreender a origem das ações humanas, cada um deles é muito diferente do outro, não há padrões mentais estáveis, é difícil decifrá-los profundamente...

[Mesmo que possas ler os pensamentos?]

_Sim... Mesmo lendo, não os compreendo... Tomará algum tempo para estudar a psique deste espécime...

[Escreva o que descobriu e me envie, eu analisarei pessoalmente... E continue estudando-os e enviando teus relatórios, mas seja breve em cumprir tua tarefa...]

_Manterei isso em mente, Senhor...

[Estaremos esperando por mais relatos, contate-nos o mais rápido possível.]

_Sim, meu Lorde. –o comunicador se desligou automaticamente-

Inspirou profundo o ar puro da natureza e voltou a fitar o céu, ainda com a expressão congelada, vazia.

http://s1281.photobucket.com/user/AisaBellvard/media/HWO/Ahcsar_Angsaw_000_color_02_zps12d415f4.jpg.html?sort=3&o=1

_“Emoções humanas”... Huh, certamente um assunto complicado... Será conseguirei entendê-las algum dia... Irmão...?

Um ser que podia ler pensamentos... Mas e quanto à ele? Por onde os pensamentos do alienígena vagavam?


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