Akai Ito escrita por Samazing, Delvith


Capítulo 4
Surpresas.


Notas iniciais do capítulo

Olá, espero que gostem desse novo capítulo. Tivemos que parar por conta do Natal, mas já estamos de volta.



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Na semana em que os estudantes do segundo ano receberam o boletim, o terceiro ano não teve aulas, para que pudesse estudar em casa. Por conta disso, Natsu não tivera a oportunidade de agradecer Mirajane pela ajuda. Entretanto, assim que a platinada entrou na escola na segunda-feira seguinte, foi recebida aos berros pelo Salamander. O menino animadamente a ergueu do chão e começou a girar, anunciando aos gritos que conseguira passar em tudo. Ao longe, Mira viu que Lucy estava correndo na direção dos dois, provavelmente preparada para repreender Natsu pela afobação. Strauss sorriu para ela e acenou indicando que estava tudo bem. Ao longe, a loira parou e suspirou, mudando de direção.

— Eu sabia que você conseguiria. Parabéns, Natsu-kun. — Mirajane retribuiu seu abraço e acariciou sua cabeça. O menino estava radiante.

Mira se afastou do menino e pegou sua mão, acompanhando-o até a sala de aula dele. Levy, que chegou no momento que Salamander colocava a platinada no chão, riu com a cena. Mas assim que viu a mais velha pegar a mão de Dragneel, as feições da azulada mudaram. Em seu rosto, havia um sorriso fofo e uma expressão carinhosa, enquanto suspirava alegremente. Strauss era uma menina muito carinhosa, e Levy sempre ficava encantada com a generosidade e bondade da menina. Ela tratava todos com cuidado extremo e estava sempre tentando ajudar. Era simplesmente... fofo.

Sua ideia inicial era correr para alcança-los, mas resolveu ficar para trás. Natsu se sentia bem com Mirajane e ela não queria atrapalhar o momento.

Enquanto pensava sobre o assunto, a azulada se tocou que quem não soubesse a história toda poderia acabar confundindo as coisas, achando que Natsu estava apaixonado pela garota. Mas não era bem assim. Os dois tornaram-se muito próximos porque a irmã mais nova de Mirajane, Lisanna, era a melhor amiga do Salamander quando ele era pequeno. Levy até mesmo acreditava que Natsu gostasse dela, mas não tinha como ter certeza. O menino não gostava de falar sobre isso, assim como Mirajane.

O fato era que Lisanna estava desaparecida há anos. Buscas foram feitas por semanas e nada da menina. Parecia que ela tinha simplesmente evaporado.

Por conta do desaparecimento, Natsu e Mira acabaram ainda mais próximos, pois eram as duas pessoas mais importantes na vida de Lisanna, além de Elfman, irmão das meninas. De qualquer modo, Dragneel e Strauss estavam sempre ali um para o outro. Provavelmente Mira era a pessoa que melhor conhecia o garoto.

Assim que a estudante do terceiro foi embora, Levy cumprimentou Natsu e, juntos, entraram na sala. Lá encontraram Lucy, Erza e Gray já sentados, assim como o resto da turma. O professor estava na frente da sala, em uma pose que indicava que ele estava explicando algo, mas foi interrompido. Os três amigos que estavam sentados fizeram uma expressão como se dissessem “ferrou”, e Lucy olhou para Levy, solidária.

A azulada não estava entendendo nada. Ela nunca chegava atrasada, mas parecia que a aula já estava na metade. Assustada, olhou para seu relógio sem acreditar. O aparelho marcava exatamente sete horas, o horário que a aula deveria começar. Continuava a olhar para o aparelho, sem entender. Até que percebeu que o ponteiro dos segundos não se movia.

Um calafrio percorreu sua espinha. Aquele era o único relógio que a menina tinha. Se havia parado, ela realmente estava atrasada. Ergueu o olhar do objeto em seu pulso e se deparou com todos os olhares em cima dela, surpresos. Percebeu que enquanto estava tentando entender o que acontecia, Natsu havia, sorrateiramente, ido para o seu lugar. Portanto, ela se encontrava sozinha, na porta da sala. Rapidamente, abaixou a cabeça e inclinou o corpo, proferindo um tímido “desculpe-me pelo atraso”, dirigindo-se a sua carteira. Quando ergueu o rosto novamente, as maçãs de seu rosto estavam coradas com um vermelho rubro, fazendo com que Lucy, solidária, lhe desse um tapinha no ombro enquanto murmurava que estava tudo bem, que era normal chegar atrasada ao menos uma vez na vida. A azulada agradeceu, pegou seu material e começou a copiar a matéria atrasada.

✰✰✰

Quando o sinal tocou, indicando que a hora do intervalo finalmente chegara, a sala do segundo ano se encheu com os sons dos suspiros de alívio. Lucy se perguntava como podia estar tão cansada se o ano não estava nem na metade.

Erza puxou Gray e Levy pela mão e os levou para outra mesa, para que pudessem começar o planejamento para o grupo de estudos. Como eles só foram avisados que teriam que atuar como professores particulares gratuitamente na sexta-feira, os três conseguiram convencer o professor de que era injusto terem de fazer aquilo, ainda mais sem planejamento. Portanto, a primeira aula foi adiada para a semana seguinte. Natsu não sabia como aproveitar aquelas aulas, pois já estudara com Erza para as provas, mas Lucy via naquilo tudo uma oportunidade para tentar subir suas médias.

Gray era o mais revoltado com aquela situação. O menino estava feliz porque a notícia não havia se espalhado pela escola como ele imaginava, mas só o fato de ter que dar essas aulas já não o permitia que se sentisse muito aliviado. Levy e Erza já haviam aceitado suas missões e estavam dispostas a fazer o possível, mas o garoto ainda queria matar o professor que dera a notícia. Tudo o que Lucy sabia era que se Gray continuasse a reclamar, era possível que Erza acabasse com ele. Portanto, a loira torcia para que ele aceitasse isso logo.

Enquanto os três discutiam o que fariam para as aulas, Lucy e Natsu conversavam. Internamente, todos sabiam que não era muito inteligente mencionar o ocorrido naquela manhã perto de Levy, portanto, tomaram cuidado para não falarem nada que remetesse aquele assunto. Mesmo assim, Lucy aproveitou a oportunidade para alertar Dragneel sobre isso.

Natsu estava cada vez mais ansioso para a competição, ansiedade que seus amigos viam cada vez mais dificuldade em controlar. Agora que o menino sabia que havia passado direto, ele não estava nem ligando para as aulas de recuperação. Secretamente, o róseo pretendia aproveitar a situação para estudar para as provas intelectuais do torneio. O menino queria dar o seu melhor para ajudar a Fairy Tail.

Sem que ninguém percebesse, um vulto aproximou-se da mesa, puxou Lucy e a levou embora. Quando se tocou do ocorrido, um Natsu preocupado saiu correndo pela escola, gritando o nome da garota, tentando achá-la.

Entretanto, mesmo que o menino não pudesse saber disso, não havia motivo para a preocupação. Puxada para o canto do refeitório, Lucy se viu frente a frente com Cana Alberona, uma menina de longos cabelos castanhos que parecia estar sempre jogando cartas. Cana e Lucy estudavam na mesma sala, mesmo que as meninas não tivessem se falado muitas vezes. E foi devido a essa falta de aproximação que Lucy se assustou com a situação, não esperava que a menina a viesse procurar, ainda mais desse jeito estranho.

— Preciso muito da sua ajuda, Lucy. — Com o tom de voz carregado de certo desespero, Cana começou indo direto ao ponto, o que impressionou Lucy um pouco. Esperava algum pedido de desculpas ou qualquer introdução ao que estava acontecendo. — Eu fiquei de recuperação em algumas matérias e não sei o que fazer.

— Mas você ainda vai ter as aulas de recuperação. Qual é o problema? — A loira se surpreendeu com aquilo. As aulas serviam exatamente para que os reprovados não entrassem em desespero.

— Você não entende, Lucy — A morena recomeçou — Eu tenho dificuldade de atenção quando estou em uma turma. O professor está lá na frente, falando, eu tento prestar atenção, mas não consigo. Ou eu fico ouvindo achando que estou entendendo ou eu começo a fazer outra coisa. — Nesse ponto da conversa, Lucy já começara a suspeitar para onde aquela conversa a levaria — Eu preciso de ajuda, bem, particular. Sei que é pedir demais, mas Erza e Levy já estarão ocupadas com as aulas de sexta-feira. Por favor, Lucy, preciso de você. Pode me ajudar a estudar?

— Mas... mas eu nem sou tão inteligente como as outras.

— Lucy, você se cobra demais. Suas médias foram excelentes e você é inteligente. Não sei de onde tira essas coisas.

— Bem, — a loira ficou feliz ao ouvir aquilo. A verdade era que Heartfilia se sentia inútil e dependente, e ela odiava tudo isso — está bem, Cana, vou tentar te ajudar. Vou dar o meu máximo. — A loira sorriu, erguendo o braço e posicionando o punho fechado a frente de seu tronco, piscando para a menina.

Cana teve certa dificuldade para agradecer porque foi interrompida por Natsu. O menino havia visto os fios loiros da menina ao longe e saiu correndo, agarrando Alberona pelo colarinho, completamente encolerizado. O róseo começou a gritar, achando que ela era um tipo de sequestradora ou algo assim. Vendo que Salamander ainda não tinha se tocado que aquela era uma companheira deles, Lucy abraçou o menino, que estava a frente dela, puxando-o para trás, com esforço. Salamander ainda tentava atacar a morena, até que percebeu a loira segurando-o. Por um momento, olhou para trás, assustado, sem entender porque Lucy o estava segurando. Quando voltou seus olhos para a “sequestradora”, percebera que era Cana. A morena estava caída no chão, massageando a região por onde Natsu a agarrara.

Dragneel colocou sua mão por cima da de Lucy, indicando que estava tudo bem. A loira o soltou e ele ajudou a garota caída a se erguer. Assustada, Alberona percebeu que podia sentir a região das costelas latejar por conta da força que o menino a lançara no chão quando Heartfilia o segurou, mas mesmo assim pediu desculpas ao menino, pelo modo como havia tirado Lucy da mesa, explicando para ele toda a sua situação. Salamander assentiu e os três sorriram, felizes pela situação resolvida.

Mas, em algum momento daquela cena, — provavelmente quando Natsu chegara — o refeitório inteirou encheu-se com o silêncio, acompanhando tudo o que acontecia. Quando se tocou dos olhares sobre eles, o garoto de cabelos espetados virou-se e encarou todos no ambiente. Seu olhar era tão hostil que Lucy, depois, percebeu que a melhor forma de definir Natsu naquele momento era “pegando fogo”. De raiva.

Os espectadores, percebendo a hostilidade do menino, voltaram para suas próprias conversas e refeições.

Os três voltaram para a mesa onde o grupo estava no início, mas agora, os lugares habituais de Erza, Gray e Levy estavam ocupados pelos mesmos. Os professores mirins haviam terminado sua reunião e retornaram para seus lugares, esperando os amigos. Pelas expressões em seus rostos, eles aparentavam acreditar que Natsu e Lucy haviam saído sozinhos, por isso ficaram visualmente desapontados quando viram Cana. Internamente, a menina loira não pode evitar rir. O refeitório inteiro havia parado para ver o que acontecia e mesmo assim aqueles três não perceberam nada.

Juntos, os seis voltaram para a sala de aula. Estranhamente, Gray foi o único que percebeu que Natsu não estava bem. O menino continuava com suas palhaçadas e tentava agir normalmente, mas o moreno percebeu que tinha algo errado. Sua amizade com Natsu não se baseava em palavras bonitas ou momentos de apoio, então não soube muito bem o que fazer. Mesmo que adorasse implicar com o róseo, Fullbuster percebeu que Dragneel talvez precisasse de uma ajuda. Mas no fim, o jeito que o garoto encontrou de ajudar o amigo foi irritá-lo mais ainda, para que esquecesse os problemas. Surpreendentemente, isso ajudou bastante.ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤ

✰✰✰

Lucy e Cana combinaram de se encontrar todos os dias depois da escola, na casa da loira, portanto, Alberona acompanharia a loira e o róseo no trajeto diário que os dois faziam. Entretanto, a morena pediu para que as aulas começassem só no dia seguinte, porque ela tinha um compromisso com as meninas da escola. O fato era que Lucy era uma das poucas alunas que tinha uma casa. A maior parte dos estudantes da Fairy Tail não tinham família, ou moravam muito longe. Por conta disso, a escola tinha dois prédios para que eles pudessem morar, um para meninos e outro para meninas. Lucy tinha família, mas era emancipada, portanto, vivia de aluguel. Natsu também tinha a própria casa, mas a loira não sabia se ele morava com a família ou se também era emancipado. Seja como fosse, Lucy e Natsu despediram-se de Cana e começaram seu trajeto habitual.

Somente nesse momento sozinhos que a garota percebeu que Salamander estava estranho. O menino andava calado, com o olhar voltado para o chão. Mas quando Lucy olhou para o menino, sua visão estava desfocada. Seu corpo estava ali, mas seus pensamentos estavam em um lugar completamente diferente. E distante.

A menina adiantou seus passos e parou a sua frente. Distraído, Natsu acabou esbarrando nela, o que o fez voltar a realidade. Olhou para ela surpreso, sem entender o que estava acontecendo. Quando as palavras estavam se preparando para sair da garganta do menino, Lucy se adiantou e o abraçou. Surpreso, Natsu ficou com as mãos no ar, sem saber o que fazer, com os olhos arregalados, encarando a garota.

— Não sei o que aconteceu com você — Lucy começou, sem se afastar do menino, o que fez com que sua voz fosse um pouco abafada. Lucy era um pouco mais baixa que Natsu, então seu rosto ficava na altura do tronco dele. — Mas eu sei que tem alguma coisa. Não espero que me conte, porém queria que você ficasse bem. Me desculpe não poder ajudar — A menina parecia ter terminado, mas ainda não havia soltado o garoto.

Os braços de Salamander se deixaram cair, repousando próximos ao próprio corpo. Por alguns minutos, ele não conseguiu dizer nada.

Quando Lucy começava a se perguntar se aquilo fora uma boa ideia e se deveria soltar seu amigo, finalmente conseguiu ouvir, baixinho, as palavras que o menino já havia tentado proferir algumas vezes, naqueles minutos que ficara calado.

— Eu só tive medo de perder você.

Assustada, afastou o rosto do menino, para poder olhá-lo nos olhos. Lágrimas escorriam pelo seu rosto e ele a abraçou forte, puxando-a de volta para si.

— Eu não posso perder você também, Lucy.

Sem palavras, a menina retribuiu o abraço. Sentiu Natsu escorregando e o seguiu, terminando os dois ajoelhados no chão. O rosto do menino estava virado para o chão, e suas mãos ficavam encharcadas com as lágrimas que escorriam. Lucy puxou-o para si e envolveu seu pescoço com seus braços.

— Eu sei que você deve ter se assustado, mas está tudo bem. Você não vai me perder. Era só a Cana...

O que mais surpreendia a menina era que ele estivesse mal desde aquela hora. Ela realmente não havia suspeitado, e mesmo se tivesse, não teria acreditado. Não conseguia imaginar Natsu tão assustado por causa dela. Mas agora, ela estava com medo do que ele quisera dizer com o “também”. Não sabia se era adequado perguntar, então só continuou abraçando o menino. Se ele quisesse contar, com certeza o faria em algum momento.

Tudo o que Lucy percebia eram as lágrimas em sua pele e os próprios batimentos cardíacos. Ver Dragneel daquele jeito causava uma dor insuportável, ela sentia seu coração cada vez mais apertado. Aquele menino que conseguia animá-la e fazê-la sorrir só com um olhar estava ali, sofrendo. E ela nem sabia o por que.

Depois de se acalmar um pouco, Natsu secou as lágrimas e se ergueu, puxando a menina pela mão. Ela o acompanhou em silêncio, mas o fato é que ela não queria ter se soltado daquele abraço. E também não queria ter se soltado de sua mão, quando ele a deixou em sua casa, sem mais nenhuma palavra além de um agradecimento. Quando o fez, Natsu sorriu, e Lucy viu que um pouco de sua animação retornara. Apesar de que não queria deixa-lo ir. Queria ajuda-lo, de algum jeito, descobrir o que o afligia e resolver a situação. Ela sabia que ele estaria ali sempre para ela e ela queria poder fazer o mesmo. Quando o menino soltou sua mão e virou suas costas para ela, tudo o que ela sentiu foi vontade de chorar.

Heartfilia acompanhou o menino com o olhar até que não fosse mais possível. Finalmente, entrou em sua casa e ligou para Levy. A azulada ficou surpresa de receber uma ligação aquela hora, mas Lucy se desculpou e disse que era urgente. A loira sabia que Levy estudava na FT há muitos anos, junto com Natsu, então talvez ela soubesse o que o menino quis dizer com “não posso te perder também”. Havia até levado em consideração ligar para Erza, que era um pouco mais próxima do menino, mas não sabia como a garota reagiria. Levy era mais neutra, então achou melhor falar com ela.

A explicação durou alguns minutos. Lucy falava sem parar e Levy permanecia quieta, escutando com total atenção. Quando a loira terminou de falar tudo o que havia acontecido mais cedo, tudo o que a azulada conseguiu fazer foi suspirar. Não imaginava que Natsu sofresse tanto assim pelo acontecido.

— Levy, você está aí? — A loira estava nervosa demais para perceber que o telefone não estava mudo, então perguntou para confirmar que a amiga ainda estava ali.

— Sim, Lucy, estou. — Levy queria que a amiga não tivesse ligado para ela. A azulada simplesmente não queria ser a pessoa que explicaria tudo o que Natsu passou, apesar de acreditar que o menino não teria forças para o fazer. De um jeito ou de outro, ela achava que estava se metendo demais.

— Então...

— Lucy, eu não acho que seja uma boa ideia eu ser a pessoa que vai te explicar tudo isso. Sim, eu sei o que Natsu quis dizer. Mas acho melhor você esperar que ele mesmo te conte.

— Mas Levy...

— Sei que você está preocupada, Lucy. Mas Natsu vai ficar bem. Foi só um momento. Ele é muito forte.

A loira suspirou. Sabia que a amiga estava certa, portanto, não insistiu mais. Despediu-se e desligou o telefone, cansada. Não conseguia parar de pensar naquilo, mas achou melhor fazer um esforço. Quanto mais ela pensava, mais ela queria ir a casa de Natsu para vê-lo.

Tomou banho e vestiu-se, indo para a cama sem nem ao menos jantar. Não encontrava apetite. Foi para a cama, onde se jogou e ficou olhando para o teto. Suas mãos repousaram na região onde ficava o seu coração e, assim, a menina fechou os olhos e adormeceu.

✰✰✰

Quando Heartfilia acordou no dia seguinte, já não dava mais tempo de ir para a escola. Seu relógio-despertador marcava 1h34min, portanto, havia parado no meio da madrugada. Pegou o relógio de pulso e este marcava dez horas. Suspirando, a menina se jogou de volta na cama. Os estudantes já estariam quase no horário de recreio e ali estava ela, em casa. Tudo o que sabia é que teria uma quantidade tremenda de matéria para copiar.

Como não teria nada para fazer o dia inteiro, ela aproveitou para estudar as matérias que mais tinha problema. Ficou sentada em sua cadeira horas e horas a fio, fazendo resumos e explicando para si mesma, até como um treino para quando fosse dar aulas para Cana. Teria que se desculpar com a menina no dia seguinte, afinal, ela não sabia onde Lucy morava nem seu telefone. A aula teria que ocorrer só no dia seguinte.

As horas passaram e Lucy nem se tocou. Quando o relógio já consertado estava para marcar sete horas, a campainha da menina tocou, tirando-a de seu transe em meio aos livros. Estava na sala de estar, para onde a porta de entrada dava. Depois de se tocar que a campainha realmente havia tocado, deu uma corrida para dar uma arrumada nas coisas e dirigiu-se a porta. Seus dedos já estavam na maçaneta e a chave na fechadura quando a garota se tocou que poderia ser Natsu, e se surpreendeu ao perceber que passara o dia inteiro sem pensar no assunto.

Respirou fundo e abriu a porta, encontrando a sua frente a morena Cana. Por um momento ficou confusa.

— Oi, Lucy. Não sabia o que tinha acontecido com você e nem o seu telefone, então Natsu me trouxe até aqui. — Terminando de falar, a garota estendeu-lhe uma pilha de folhas. — Nos meu horários livres, copiei a matéria para você se adiantar. Se estiver doente, é só dar uma lida, depois você estuda de verdade. Agora estou indo, até mais, Lucy.

— Ah, Cana, espera. Vamos estudar hoje. — Alberona falava tão rápido que Lucy levou uns segundos para absorver tudo o que ela falou e então se tocar que a garota já estava indo embora. — Eu estou bem, meu despertador que não tocou hoje.

— Caramba, acho que os despertadores estão ficando bolados com os humanos — Cana brincou, rindo. – Ontem foi Levy e agora você. Acho que vou comprar um reserva.

Juntas, as meninas entraram na casa, rindo. Lucy foi até a cozinha preparar um chocolate quente para as duas enquanto Cana espalhava os livros sobre a mesa. Decidiram começar pela matéria mais antiga e depois Cana explicaria para Lucy a matéria que a menina havia perdido, para que a morena treinasse a estudar de outras formas.

As duas estudaram até tarde da noite. Quando deu onze horas, Lucy começou a ficar preocupada com Cana voltar sozinha para casa, mas logo foi tranquilizada pela amiga, que disse que sabia se cuidar bem sozinha. Depois de ter encarado Natsu como Cana encarou, Lucy acreditou que fosse verdade. Então, às onze e meia, as duas recolheram seus materiais e se despediram.

Heartfilia guardou tudo no quarto e foi tomar um banho. Quando saiu de lá, com um pijama de short e camiseta e toalha na cabeça, se assustou ao ver Natsu sentado no seu sofá.

A menina gritou, tirou a toalha da cabeça e cobriu seu corpo com ela. Mesmo estando de roupa, não queria que o menino a visse daquele jeito.

O róseo ergueu seu olhar para a amiga e percebeu a situação que se encontrava. Colocou uma mão em frente aos seus olhos e Lucy correu para o quarto. Trocou o pijama por um vestido, que era a vestimenta mais rápida de se colocar.

Voltou para a sala e quando se viu frente a frente com o menino, deu-lhe um soco na cabeça, fazendo o menino cair sentado no chão.

— O que pensa que está fazendo, idiota? Não saia invadindo a casa dos outros desse jeito. — A garota estava furiosa, mas quando Natsu se ergueu, estava rindo, o que fez Lucy abaixar a guarda.

— Desculpe. Eu bati na porta, mas você não atendeu, então eu entrei. Queria ver se estava tudo bem com você. Não esperava que você fosse faltar hoje. — A expressão do menino transformou, ficando mais triste e distante. Lucy não entendeu imediatamente, mas depois entendeu a mudança repentina de comportamento.

— A culpa não foi sua, Natsu. — O garoto ergueu o olhar para ela, esperando que continuasse, ansioso. — A bateria do meu relógio acabou no meio da noite, então acabei não acordando.— A menina não pode deixar de sorrir, apesar de não saber bem o motivo.

— Ah, ufa! — O sorriso habitual retornou aos lábios do menino. — Quando Levy falou comigo mais cedo, achei que você estava me evitando. Quase saí da escola pra vir te procurar, mas ela. — o menino teve que parar de falar, porque Lucy colocara sua mão na boca dele, para que ele se calasse.

— Espera, Levy falou com você?

— Sim, ela me disse que você ligou para ela depois do que aconteceu.
Lucy abaixou a mão e fez um “tsch” irritado. Não esperava que a azulada falasse com Natsu. Começou a sentir o rosto meio quente, então supôs que estava ficando vermelha. O que a deixou ainda mais constrangida.

— Desculpe por ter ligado para ela. Sei que era assunto só seu, mas eu estava preocupada com você. — Sem entender o porquê e muito menos conseguir segurar, lágrimas começaram a escorrer pelo rosto da loira. – Eu só queria poder te ajudar.

Natsu a abraçou até que se acalmasse. Quando as lágrimas pararam de escorrer, ele a fez se sentar no sofá, fazendo o mesmo logo em seguida.

— Quando eu era pequeno, vivia bem longe daqui com o meu pai, Igneel. — Lucy dirigiu seu olhar para ele e percebeu que o rosto do menino estava virado para a frente, e os olhos de Natsu estavam desfocados novamente. Então era sobre isso que ele estava pensando. — Ele me ensinou tudo o que eu sei. Falar, ler, escrever, desenhar. Mas quando eu tinha uns sete anos, ele simplesmente sumiu. Não tenho ideia do que aconteceu. Simplesmente desapareceu, como se tivesse evaporado. Comecei a procura-lo por todos os lugares até que cheguei aqui, em Magnólia. Makarov me encontrou e me inscreveu na Fairy Tail. Foi assim que entrei. Eu tentava escapar para procurar meu pai, mas Erza e Gray sempre me achavam. E eu também não conseguia deixar Lisanna para trás.

Antes que Lucy pudesse perguntar, Dragneel continuou.

— Lisanna é a irmã de Mirajane Strauss, do terceiro ano. Ela era minha melhor amiga. Você não o conhece ainda, mas o vice diretor da Fairy Tail é Gildarts. Ele era como um pai para mim e para Lisanna. Ele nos levava para brincar e ficava com a gente quase o dia inteiro. Até que ela desapareceu também. Do nada, que nem Igneel. Gildarts acabou ficando mais distante e eu não podia procurar nenhum dos dois. — As lágrimas voltaram aos olhos do menino, mas, dessa vez, não escorreram. — Só sei que há anos eu procuro pelos dois, mas nunca achei nada. E eu não posso ir muito longe. Por isso eu não podia perder você também, Lucy. Você já é minha companheira.

A garota simplesmente não sabia o que falar. Seu coração se apertara ainda mais e lágrimas continuaram a escorrer. Ela não tinha ideia de que o pai de Natsu havia desaparecido e também não sabia sobre Lisanna. Além disso, o menino parecia sentir uma tristeza diferente quando falou da irmã mais nova de Mira. Talvez ele gostasse dela, o que faria seu sofrimento ainda maior.
Salamander estendeu a mão e secou as lágrimas da amiga.

— Qual é, Lucy? — Começou, sorrindo, como se acalmasse uma criancinha. — Não há motivos para ficar assim. Eu estou bem, porque eu sei que vou encontra-los. Desculpe por ontem.

A menina sorriu e assentiu, terminando de secar as lágrimas. Os dois abandonaram esse assunto e ficaram lá, conversando e rindo até tarde. Quando deu uma da manhã, a loira quase teve um treco. Natsu acabou dormindo no seu sofá, então os dois foram juntos para a escola no dia seguinte.

✰✰✰

O resto da semana passou bem rápido. Todos os dias, Lucy e Cana estudavam nas horas vagas e na casa da menina quando voltavam da escola. Cana começou a dormir na casa dela para que pudessem estudar mais.

Quando a sexta feira finalmente chegou, Cana já se sentia bem mais preparada. Pedia a ajuda de Levy e Erza quando sentia o mínimo de dúvida, já que não queria deixar passar nada. Já Lucy não conseguia realmente se concentrar. Ela não conseguia parar de rir com Gray. Quando as meninas estavam ocupadas, Fullbuster se via obrigado a ajudar as pessoas, mas ele não era um professor muito bom. Pelo que Lucy via, ele ia ao quadro, escrevia fórmulas e falava “Grave isto. Para as outras matérias, é só ler o livro e marcar o que é importante. Acabamos”.

Era particularmente mais engraçado quando ele fazia isso com Natsu. Os dois simplesmente começavam a se bater. Além de tudo, a loira não sabia muito bem as razões, mas Gray tinha uma mania meio estranha de tirar a camisa do nada. Ele passou praticamente a aula de reforço inteira vestindo somente as calças da escola e seus sapatos. Para surpresa da menina, ninguém parecia ligar muito para isso além de Erza, talvez já estivessem acostumados.

A aula de reforço finalmente acabou, marcando o fim de mais uma semana. Faltava pouco para o torneio contra a Phantom e todos estavam ficando cada vez mais animados. Além disso, as provas de recuperação começavam na quarta seguinte, então o nervosismo começava a se espalhar junto com a ansiedade. As semanas seguintes seriam bem agitadas.


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Notas finais do capítulo

Eu sei o que vocês devem estar pensando. “Natsu não é tão frágil, ele não choraria assim”, ou algo do tipo. Pois bem, achei válido explicar minhas razões com Natsu nesse capítulo. No mangá, Natsu é sim muito forte e fraqueja, e assim ele é aqui. Entretanto, eu o coloquei com uma carga emocional extra nessa fic. Na obra de Mashima, Natsu tem o seu poder de Dragon Slayer e a ajuda de seus amigos de guilda para procurar por Lisanna e por seu pai, Igneel. Entretanto, nessa minha história com a Samazing, Natsu é só um estudante. Não tem magia, não tem poderes. Sua força de vontade e determinação foram mantidos, mas o fato é que ele aqui não tem a capacidade de procurar Igneel e Lisanna como ele tem na história original. Por conta disso, coloquei essa carga emocional extra. Ele se sente inútil em não fazer nada para encontra-los, mas ao mesmo tempo, ele não pode fazer nada. E a possibilidade de perder Lucy quase o fez “pirar”. Simplesmente isso. Achei que vocês mereciam uma explicaçãozinha, caso achassem estranho ou qualquer coisa.
Enfim, esperamos que estejam curtindo :3
Beijinhos da Delvith



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