Se o Amor é uma Ilusão, Deixe-me Ser Iludida escrita por snow Steps


Capítulo 30
Capítulo 29




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Marco distribui três taças de cristal borbulhantes de champagne, e nos entrega com um sorriso complacente. Não sei se é uma boa ideia misturar vinho tinto com champagne, mas também não irei fazer uma desfeita de desperdiçar a oportunidade de beber um líquido tão caro à toa.

Sim, eu sei. Pensamento de gente pobre, ou melhor, inferior àquela classe.

Estamos acomodados na sala de estar, assistindo o fogo crepitante da lareira aquecer o ambiente congelado por um ar-condicionado central ajustado em 17 graus. Adivinho que a própria mãe de Marco deva ordenar os empregados a manter aquela temperatura para que a inútil lareira tenha alguma função. O relógio de parede aponta vinte para meia-noite, e um vento forte açoita as janelas do lado de fora, fazendo com que as palmeiras plantadas na fachada do terreno se curvem arduamente.

_ Parece que irá chover – Comenta Marco, caminhando até as altas janelas para dar uma espiada na noite.

_ E eu estou sem carro. – Complementa Tomas engolindo a bebida generosamente, dividindo o sofá comigo. – Talvez seja melhor eu pedir um táxi.

_ Como assim, Tom? A noite mal começou! – Replica Marco, indignado.

_ É verdade. Ela mal começou e veja quanta desgraça já aconteceu, não é? – Ele brinca, com um riso fanho.

_ Depende do ângulo em que você analisa. Talvez a desgraça seja uma benção – Devolve o italiano, encostado no vidro com o olhar perdido para o céu arroxeado. – Não concorda, amor?

Reviro os olhos, divertida. Tomas dá um riso mudo, e sinto que uma onda de gratidão me invade por voltar a compartilhar momentos como esse com ele novamente.

_ Não precisa mais me chamar dessa forma, Lorenzito. – Aviso, lançando um olhar vitorioso para ele. – Tomas já sabe da verdade.

O italiano para de respirar por longos segundos, mantendo-se paralisado. Seu rosto até muda de cor, ganhando um tom mais pálido. Ele volta à realidade e pisca os olhos repetidas vezes, perguntando:

_ Até que ponto da verdade ele sabe?

_ Até o ponto onde você foi muito gentil comigo cedendo a honra de ser sua namorada para resgatar minha reputação de nerd angelical.

Marco solta uma lufada de ar pelas narinas, evidentemente aliviado. Até se apoia sobre o parapeito da janela, esfregando os olhos.

_ Fico contente por você descobrir que a Nora nunca foi violada, Tom. É um tanto injusto, de fato – Ele considera, gerando uma aparente dúvida no semblante do inglês.

_ Então quer dizer que você e Noura nunca... – Sua frase se desvanece no ar frio, enquanto o rapaz raciocina sobre as informações.

_ Espera, até onde você contou a ele? – Marco me questiona, a preocupação o predominando novamente.

_ Apenas isso, só que sem os detalhes sórdidos – Respondo, batendo na testa com a mão.

_ Mas por que planejaram uma situação tão constrangedora na frente de todos? You know, sabiam que as consequências seriam enormes. Principalmente para você, Noura. – Ele exprime com feições perplexas, dirigindo-se a mim.

Mordo meu lábio inferior e me entreolho com Marco, que solta um esbaforido e passa a mão pelos cabelos rebeldes. Ele já está sem o paletó preto e a gravata borboleta se encontra frouxa abaixo do seu pomo de Adão. E agora, o que irei dizer a ele? Tomas não parece ser do tipo X9, que espalha todas as fofocas com a mesma velocidade de um trem bala. Acredito até que ele manteria o segredo de Marco em sigilo até os últimos dias de sua vida. Porém, não tenho autorização para revelar o sentimento mais oculto de Marco Lorenzo Vittorelli sem um consentimento prévio. Talvez se eu disser que ele estava com vergonha de perder a aposta...

_ Ela fez isso para me proteger. – Declara Marco, após um suspiro derrotado. Observo com olhos arregalados ele terminar sua taça numa única tragada, limpando a boca com as costas da mão. – Eu não fui sincero com você, Tomas. Na verdade, com ninguém.

_ Acho que você já bebeu bastante por uma noite – Interfiro, levantando-me do assento.

_ Escutem, seja lá o que estejam escondendo, não precisam me contar. Se vocês julgam o motivo como suficiente para driblar as consequências, me satisfaço com isso. – Resolve Tomas, tranquilamente.

A quietude reina sobre o aposento, e assim podemos notar o som das primeiras gotas de chuva tamborilando sobre a estrutura imponente da casa.

_ Só há uma pessoa nesta sala capaz de julgar este motivo. – Determina Marco, me contemplando com sobriedade.

Retribuo o gesto e assim me aprofundo mais uma vez na admiração por aquela cor verde-oliva, a qual jamais imaginei que pudesse ter a oportunidade de apreciá-la por tanto tempo.

_ Ele é suficiente, Tomas. – Digo, por fim.

Marco abre um largo sorriso, que demonstra seu eterno agradecimento.

_ Sabe Tom, existem poucas pessoas no mundo que fariam por mim o que a Eleonora fez. Eu não tenho palavras para descrever o quanto ela é incrível, acredite em mim. – O italiano confessa, deixando entonar um pouco de emoção na voz.

_ Talvez eu já saiba disso – Tomas completa, arrancando um sorriso tímidos dos meus lábios.

_ Quer saber de uma coisa? – Lança Marco travessamente. – Vocês dariam um ótimo casal. É sério. Tanto que os outros até caçoavam de vocês.

Deixo uma expressão de espanto escapar, e antes que minhas bochechas peguem fogo e eu consiga retrucar alguma coisa, Tomas diz:

_ Talvez eu já saiba disso também.

Neste minuto meu coração congela, a respiração se evapora e minha mente paralisa. Todos os meus sentidos estão voltados para Tom, que me oferece um olhar sincero e intenso. Não sei o que dizer, e muito menos como agir. Um ardor me devasta por dentro, causando um turbilhão que efervesce meu peito e queima minha pele. Eu sei que estou sorrindo. Bobamente. Ridiculamente. Apaixonadamente.

Marcos pigarreia, sentindo-se como uma peça que não se encaixa naquele quebra-cabeça. Mais exatamente como uma peça guardada na caixa errada.

_ Vou verificar como está o sono da minha irmã. Daqui a pouco eu volto. – Ele avisa, e nós consentimos com um balanço de cabeça. Ao passar por mim, ele sussurra – E você dizendo que ele era de São Paulo...

Não pude conter uma gargalhada embaraçosa, a qual se finaliza somente quando o anfitrião está subindo as escadarias para o segundo andar. Volto a sentar ao lado de Tomas no sofá, com as mãos entrelaçadas entre as coxas e o rosto voltado para baixo. Ele está com os cotovelos apoiados nos joelhos, e a cabeleira loura irradia a cor acobreada da lareira. Não sei como prosseguir a conversa, não sei como olhar novamente dentro de seus olhos sem soltar um riso de vergonha aguda. E começo a desconfiar que ele também não sabe, então nós entregamos a mais doses de gargalhadas tímidas.

_ Estou a decepcionando, não estou? – Ele indaga, com o rosto enterrado em uma das mãos lembrando-me uma criança marota.

_ E por que estaria?

_ Por não saber agir como um homem de atitude dos filmes americanos, igual ao... Jack do Titanic?

Nós caímos em risada outra vez.

_ Eu nem gosto de Titanic. Me fez ter pesadelos quando criança – Explico. – O que você acha que um personagem de filme americano faria em seu lugar?

Ele gasta alguns segundos para refletir.

_ Acho que como todo bom roteiro de romance, eu começaria exaltando suas qualidades. Diria a você como é linda. Como sou flagrado várias e várias vezes a admirando, em todos os lugares. Como eu tenho vontade de conversar com você, e quando o faço, sou capaz de desperdiçar horas e nem sentir falta de nada. E depois de arrancar algumas risadas suas, eu iria colocar uma mecha de cabelo atrás da sua orelha – Ele repete o gesto em realidade e coloca minha franja atrás da orelha gentilmente – Sentiria o toque de seu rosto – Seu dedo acaricia levemente a curva do meu queixo – E mergulharia no interior de seus olhos castanhos, que me fazem sentir vivo. E então, seguiria para a próxima etapa do roteiro. Mas esta parte não necessita de descrições...

Nossos lábios se encontram, e sinto como se um choque me despertasse de uma anestesia profunda. Um choque delicado, progressivo, harmonioso. Um choque que atordoa e me tira a noção do que pode ser ilusão ou realidade.

Tomas está certo: este pequeno trecho mágico da minha vida não necessita de descrições.


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Notas finais do capítulo

Espero que desta vez Tomas tenha arrebatado o coração de todas nós.