Burning Red escrita por Nymeria


Capítulo 3
Mayumi Suzukaze




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Hikaku acordou com uma dor pulsante em sua bochecha, entre outras partes do corpo. Com os olhos ainda fechados, virou com a barriga para cima e respirou fundo, sentindo o Sol em suas pernas. Estava dolorido, muito dolorido e pensou ter dormido de mal jeito. "Minha cama está mais dura do que o normal", pensou ele. Esse pensamento veio junto com a imagem de um monstro com a boca costurada derrubando-o no chão e acertando-lhe o rosto com um soco certeiro. Um pesadelo, com certeza. Tentou se mexer novamente, mas as pernas estavam imobilizadas por alguma coisa pesada. Devagar, abriu os olhos apenas para encarar o teto de sua sala de estar. Hikaku dormira no chão.

Tentou se mexer novamente, mas percebeu que seus pés estavam sendo usados de travesseiro por uma figura de cabelos pretos e sono pesado. Hideki. Hikaku suspirou.

– Puta que pariu...

Não foi um sonho. Hideki e Hikaku realmente entraram na casa abandonada na noite anterior e realmente viram uma figura com a boca costurada lá dentro. O pensamento lhe deu calafrios.

Olhou para o relógio da parede. Oito da manhã.

– Hideki - murmurou Hikaku para o amigo no chão - Hideki! Oe, Hideki!

O menino de cabelos pretos nem mesmo se mexeu. Hikaku, impaciente, levantou as pernas com violência, fazendo com que a parte de cima do corpo do colega se levantasse e depois fosse jogada no chão com violência. No baque da queda, Hideki abriu os olhos com piscadas fortes e esfregou a parte da cabeça que havia acertado o chão.

– Ahn... - murmurou ele - Hikaku? O que... Hum...Ahn...

E deitou-se novamente. Hikaku, que havia esgotado seu limite de paciência pela manhã, levantou o colega pela gola da camiseta e gritou:

– ACORDA CACETE!

Com isso, Hideki deu um pulo e manteve-se de pé quando o colega o soltou. O menino mais baixo cambaleou um pouco tentando andar, até que parou de frente ao relógio. "Oito horas", constatou. "Puta que pariu...".

– Anda logo! - disse Hikaku que, em algum momento, havia migrado para a cozinha - Temos que levar comida pra meninas, lembra?

Hideki despertou quase que instantaneamente e pôs-se a ajudar Hikaku com a mochila que ele preparava. Algumas barras de cereais, frutas, sucos, água... Eles não sabiam do que elas gostavam. Além do mais, os dois comiam como dois selvagens, nenhuma comida era demais.

Preparada a mochila, os dois abriram a porta da casa de Hikaku e olharam em volta. Ninguém poderia ver os dois entrando na casa abandonada, era proibido por lá. Nem mesmo vender aquela casa, nem mesmo passar por lá sem um pedaço de madeira pra dar três socos. A casa era culpada por coisas ruins que aconteciam por lá. Mas não por causa dos gritos (gritos estes que Hideki e Hikaku não sabiam se a vizinhança escutava também), por causa da história.

Ninguém nunca mencionou a história desde que ela aconteceu.

Hideki botou a mochila nas costas e os dois saíram andando, enquanto poucas pessoas ainda estavam na rua, e seguiram em direção a casa abandonada. Correram. Assim que adentraram o gramado da casa, se abaixaram como se fossem agentes secretos (e, convenhamos, era exatamente assim que Hideki se sentia). Entraram pela mesma janela da noite passada e andaram abaixados pelo corredor, para não serem vistos pelas janelas. Agora estava claro, precisavam tomar precauções.

Rapidamente chegaram a sala de estar e Hikaku, que andava na frente, foi atingido por uma almofada no rosto. A força foi tanta que ele vacilou e caiu para trás, em cima de Hideki, que foi de encontro ao chão.

– Porra Mayumi! - Hikaku gritou - Trouxemos comida, mas se não quiser, tudo bem! To indo embora!

Ele se levantou, mostrou a mochila e se virou para o corredor, deixando Hideki no chão. Só então, o mais baixo conseguiu ver a irmã de Amaya de pé, segurando uma almofada carcomida, com uma expressão culpada. Ela estendeu a mão e soltou um grunhido. Hideki segurou o colega pela perna para que Mayumi o alcançasse. Ele se virou e ela se curvou, fazendo uma reverencia. Um pedido de desculpas. Depois levantou-se, apontou para si mesma, fez um sinal de não com as mãos, apontou para a própria cabeça e apontou para os dois meninos.

– Mas que merda... - começou Hikaku.

– Ela não sabia que era a gente - traduziu Hideki - Ela só estava se defendendo.

Hikaku suspirou e fiz que sim com a cabeça. Depois tirou a mochila de seu ombro e estendeu-a a Mayumi, que a pegou com cuidado.

– Onde está Amaya? - perguntou Hideki.

Mayumi levantou os olhos e juntou as duas mãos, colocando-as ao lado da orelha. Dormindo, deduziu o mais baixo. Ele se levantou e encarou Hikaku. Os dois se olharam por um tempo e seguiram Mayumi quando a garota começou a andar. Ela subiu as escadas e foi pelo lado direito, dando em outro corredor com várias portas. Ela abriu a primeira a direita e entrou, sendo seguida pelos dois meninos. Era uma cozinha improvisada.

Mayumi tirou todos os alimentos que ela achou que seriam úteis e botou numa mesa de madeira. Duas bananas, uma lata de leite em pó, e chocolate em pó. Descartou o resto sem nem mesmo olhar para o que mais tinha dentro da mochila e pegou um liquidificador. Os dois meninos observavam enquanto Mayumi se movimentava com velocidade pelo recinto, ligando o liquidificador, pegando um pote de açúcar, cortando as bananas...

– Bom dia... - disse Amaya da porta. Estava com os cabelos embaraçados e já estava com os óculos - Oh, já estão aqui! O que trouxeram?

Ela andou até a mochila e olhou durante algum tempo. Pegou um suco de morango industrializado e uma caixa de cereais. Depois, olhou para o rosto faminto dos dois meninos e estendeu a mochila.

– Sirvam-se, oras...

Sem nem pensar, os dois atacaram as frutas, os chocolates e as barras de cereais como dois animais selvagens que veem comida pela primeira vez em semanas. Mayumi colocara as bananas no liquidificador e jogava leite, açúcar, chocolate e água na mistura. Depois de alguns segundos sendo batida, a mistura tomou uma forma gosmenta e marrom, nada agradável visualmente, mas com um cheiro doce.

Mayumi colocou a mistura num copo e bebeu através de um espaço na costura de sua boca, encaixando um dos canudos que estava em seu bolso. "Ah! Pra isso que servem os canudos", pensou Hikaku enquanto devorava mais uma barra de cereal.

Amaya comia com calma seu cereal em um canto do recinto e Mayumi se juntou a irmã com seu copo.

– Então - disse Amaya - Podem perguntar. Sabemos que é isso que vocês querem. Vão em frente.

Hikaku fez as perguntas.

– As historias são verdadeiras? As histórias dessa casa, do por que ela foi abandonada?

Mayumi e Amaya se olharam.

– Depende.

– Diziam que um louco morava aqui. Ele era casado, mas tinha uma amante que era tão louca quanto ele, e ela gostava de fetos. Não de bebes, fetos. Então o cara fazia aborto em mulheres aleatórias e acabava botando os fetos num pote e entregava pra essa amante. Um dia a mulher descobriu, matou o homem e a amante e depois se matou de desgosto.

Amaya fez uma cara engraçada, como uma criança que pensa a respeito de algo muito complicado.

– Parte da história é verdade - ela respondeu, por fim.

– Então como vocês vieram morar aqui?

– É! E os gritos? - perguntou Hideki.

– Gritos? - perguntou Amaya, com uma expressão confusa. Mayumi também se mostrou preocupada.

– É! - continuou Hideki - Bom, escutamos três gritos femininos, mas, obviamente, só existem duas mulheres morando aqui e apenas uma pode gritar. Então... Bom, qual é a dos gritos?

– Vocês escutam os gritos? - perguntou Amaya - Ah não...

Mayumi bateu os dois pés no chão e Amaya fez que sim com a cabeça.

– O que isso significa? - perguntou Amaya a Mayumi.

A costurada mexeu as mãos e bateu os pés no chão duas vezes enquanto se comunicava com a irmã. As expressões de preocupação eram evidentes e deixaram os dois meninos desconfortáveis. Chegou ao ponto de as duas irmãs começarem a discutir contra-medidas como: preparar as peixeiras, cavar mais buracos no jardim, abrir buracos no assoalho...

– Ahn... O que está acontecendo? - perguntou Hikaku.

– Precisamos de vocês - disse Amaya - Coisas ruins estão para acontecer e temos muita sorte de termos vocês aqui conosco. Por favor, precisamos muito da ajuda de vocês.

– Hum.. Claro - disse Hideki - Pro que vocês precisarem.

– Só pedir - concordou Hikaku.

– Ah... Muito obrigada! - disse Amaya, dando uma abraço nos dois meninos.

Maruim fez um sinal como quem diz "Não vou dar porra de abraço nenhum" e virou de costas para os dois. Amaya apertou os dois meninos com muita força e depois soltou-os.

– Explicamos tudo mais tarde. Voltem aqui de noite e tragam mais comida.

~#~#~

Hidaki e Hikaku andavam pela rua mais uma vez.

– Devemos confiar nelas? Quer dizer, acabamos de conhecer essas duas e, bom, a Mayumi tem uma cara de psicopata inegável! - disse Hikaku.

Hideki riu.

– Sim, mas não sei... Elas precisam de ajuda e estão num estado decadente. Não nos custa muito, custa?

Hikaku suspirou.

– Não... E passamos a vida inteira atrás de um mistério. Não custa tentar, não é?

– É... Voltamos as oito? - Perguntou Hideki.

– Voltamos as oito - concordou Hikaku,

E cada um foi para sua casa, contando os milésimos de segundos restantes para as oito da noite.


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Notas finais do capítulo

A receita da Mayumi foi testada e aprovada por mim antes de ser escrita nessa história.



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