Sempre te amei. escrita por AnaClaudiia


Capítulo 71
Boate


Notas iniciais do capítulo

Esse foi o capítulo mais longo da fic, mais de 5,000 palavras... Ual, me descontrolei! haha
Espero que a leitura não seja entediante.
Depois me digam o que vocês acharam, a Du se arriscou demais?



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Por Eduarda.

Lucas já está detido a dois dias, nessas 48 horas que se passaram desde a sua prisão, meu sogro e eu descobrimos muitas coisas.

O bom de ter dinheiro é que podemos comprar quase tudo, inclusive informações. Após meu pai revelar que Fabiano devia para traficantes perigosos, logo contei a José Alfredo. Ele contratou alguns detetives e esses rapidamente descobriram muita coisa: O filho do Merival estava aqui no Brasil a três meses, sempre foi acostumado com luxo e de repente se viu sem grana, desse modo decidiu se meter no meio das drogas! Em menos de 90 dias ele já estava todo enrolado... O escritório de advocacia de seu pai está defendendo alguns traficantes que andavam com Carlão, certamente foi assim que Fa conheceu o Monstro.

Ontem a noite eu estava em casa com insônia e fiquei pensando em toda essa situação. Merival nunca havia defendido bandidos desse tipo, sempre trabalhou para grandes empresários, só chegou a fazer isso porque seu escritório está falindo... Se ele não tivesse tentado acabar com meu sogro, nada disso teria acontecido. Seu filho provavelmente estaria vivo agora.

“Antes de embarcar numa vingança cave duas covas, uma para seu inimigo e outra pra você" Essa frase nunca fez tanto sentido.

Nesse exato momento estou dentro de um carro preto na frente de uma das boates mais luxuosas e caras do Rio de Janeiro. O Comendador está sentado a meu lado, tentando me convencer mais uma vez de não fazer isso. Ele tenta desde ontem....
JA: Lucas nunca deixaria você se arriscar desse jeito, por favor. Deixa a polícia agir sozinha...
Du: Nem pensar, eu ofereci ajuda e eles aceitaram, vou fazer isso!
JA: Mas é muito arriscado!
Du: Tem policiais à paisana por toda boate, eles vão ficar me vigiando...
JA: Mesmo assim, e se não der certo?
Du: Vai dar! - Digo, dando um ultimo retoque no batom. - Eu vou fazer ele confessar tudo!

Quando eu contei ao delegado o que sabia, ele começou a considerar que podia ser verdade. Sempre ouve boatos de que Carlão matava assim, com três tiros no peito e, como isso ocorreu com Fabiano, começaram a investigar... Na verdade fazia tempo que a polícia queria prender o Monstro, mas nunca conseguiam provas suficientes. Sempre souberam que era ele, mas nunca tinham como provar. Me ofereci para ajuda-los, e logo formaram um plano.

O assassino de Fabiano está dentro daquela boate, sei que ali tem muitas garotas de programa e que quase todas se jogam em cima dele, afinal o cara é cheio da grana... Dinheiro sujo de sangue, mas ainda assim dinheiro. O plano é seduzi-lo, e faze-lo confessar.

Colocaram uma escuta em mim, ela é uma pequena bolinha e disfarçaram para parecer um pingente do meu colar... Também estou com um ponto eletrônico no ouvido direito. Me avisaram para em hipótese alguma colocar o cabelo atrás da orelha, ele poderia ver.

O plano quase furou, não queriam mais me deixar ir, falaram em por outra pessoa, uma policial... Mas eu insisti, quero fazer isso! Meu rosto saiu em muitos jornais, eles tem medo de que Carlão me reconheça. Além disso, o próprio já me viu uma vez, lá no barzinho... Espero que ele seja burro o suficiente para não ligar os pontos. Se perceber que eu, a esposa do homem que foi acusado pela morte de Fabiano, está ali jogando charme pra ele, vai entender que tem algo errado nessa história... Isso não seria nada bom para mim!
P: Eduarda, o Carlão já entrou no recinto, foi pra área vip. Nós conseguimos uma pulseira de acesso pra você! - Diz, um dos policiais. Ele falará comigo o tempo todo no ponto eletrônico.
Du: Ok, acho que é hora de entrar em ação...
P: Ainda dá tempo de desistir!
Du: Nem morta, é hoje que eu acabo com essa história e tiro meu marido da cadeia...
P: Você sabe, se der alguma coisa errada é só erguer o dedo indicador acima de sua cabeça! Esse é o sinal para nós entrarmos em ação!
Du: Eu sei, ta tranquilo!
JA: Tome cuidado minha nora, por favor! - Sorriu para meu sogro e lhe dou um abraço. Ele também trouxe alguns de seus homens pra cá, sinto que nunca fui tão vigiada e protegida assim. - O pessoal contratado por mim tem licença para matar, se algo der errado tente sair correndo de perto do Carlão, se abaixe e...
Du: Eu já sei, obrigada!
JL: Não há de quê... Meu filho escolheu certo, você não podia ser uma esposa melhor!

Desço do carro e vou andando até a entrada da boate. Há algumas pessoas na porta esperando para entrar, eu deveria encarar uma fila, mas a polícia já cuidou disso, eu sou cliente vip agora...

Por onde passo todos me olham, principalmente os homens. Estou com uma mini saia curtíssima, uma meia calça por baixo e uma blusa preta que deixa a mostra minha barriga. Além disso, meu decote é generosissímo... Não tem como não chamar atenção.

A maquiagem que uso está mais pesada, tentei ficar diferente de como estava no desfile, não quero que ninguém me reconheça.

Assim que entro na boate, encontro um lugar que chega a dar medo. Homens com cara de poderosos ao lado de mulheres usando praticamente biquínis, suas roupas são curtíssimas, fazem as minhas parecerem uma burca. As luzes piscando, a música alta tocando, o cheiro de drogas e bebidas no ar... Tudo isso me enoja. Não estou mais acostumada, parece que o tempo da minha adolescência, quando ia a esses lugares com Lucas, foi a mil anos atrás.

Subo as escadas que dá acesso a parte reservada aos "vips" e escuto alguém dizendo em meu ouvido:

"O Carlão está sentado em uma mesa com alguns amigos e várias mulheres, vocês tem que conversar sozinhos. Tente o tirar de lá, puxa-lo pra um canto..."

"Ok, mas como eu faço isso?" Pergunto.

"Regra número 1 da espionagem: Eu falo, você escuta e fica quieta. Quer que alguém desconfie que tu está usando um ponto eletrônico?" Levo bronca.

Vejo a mesa do Monstro e enquanto caminho até lá penso em um jeito de tira-lo dali. Ao me aproximar, recebo olhares quase famintos dos homens e olhadelas de cima a baixo das garotas. Acho que elas me analisam...
Du: Ola, eu posso me sentar aqui? - Pergunto a Carlão.
C: Pode sentar onde tu quiser Princesa... Aliais, senta aqui ó, pertinho do papai. - Ele faz uma menina que estava a seu lado se levantar, e eu me sento no lugar dela.

O Monstro passa seu braço por cima de meu pescoço e me puxa para mais perto. Pelo jeito gostou de mim... Seu cheiro me dá enjoou, é uma mistura de perfume importado com suor. Queria sair de perto dele e correr até a saída, mas não faço isso, apenas sorriu e finjo que gostei de seu gesto. As pessoas da mesa começam a conversar e pedem para que ele peça mais uma garrafa de champagne, já tem três em cima da mesa...

Preciso puxar assunto, falar com Carlão, mas as pessoas não me deixam, tem sempre alguém conversando com ele...

Assim que consigo minutos de silêncio, não totalmente porque a música na boate é extremamente alta, pergunto:
Du: Por que te chamam de Monstro?
C: Por causa da minha tatuagem... Você não viu? - Ele responde, falando justamente perto de onde está a escuta.

"A música ta muito alta, não está dando pra ouvir direito... Dá um jeito dele falar mais alto!" Não posso pedir para ele gritar perto do meu colar, mas já tenho uma ideia para acabar com o barulho...
Du: E você é um monstro mesmo? Em que sentido... Na cama? - Falo, me insinuando.

"Tu enlouqueceu? Desse jeito ele vai querer te leva para outro lugar! Um motel sei lá" Ele grita em meu ouvido.
C: Em todos os sentidos gatinha... - Ele tenta me beijar, mas eu viro o rosto. Sinto seus lábios molhados entrando em contado com a pele de minha bochecha e uma vontade louca de limpar o local me consome, porém resisto.
Du: Não vamos tão rápido assim... Você nem sabe meu nome!
C: Você é difícil? Gosto assim boneca... E então, qual é a sua graça?
Du: É Beatriz... - Minto. - Muito prazer! - Estendo minha mão.

Ele a beija e sorri dizendo:
C: O prazer eu dou depois...

"Eduarda, ele vai querer te levar daí, isso é perigoso. A polícia só está aí dentro, nem pense em se arriscar de outro jeito."
Du: Aqui está muito barulhento, não conseguimos manter uma conversa, não vou poder descobrir nada sobre você... - Digo a Carlão, mas pensando no policial que me ouve.
C: E o que cê quer saber de mim gata?
Du: Tudo que puder me contar... Você faz o que?
C: Eu? - Ele sorri. - Eu sou o chefe! O fodão do pedaço...
Du: Adoro homens poderosos...
C: Então tu vai gostar muito de mim... - Carlão se levanta da cadeira, joga algumas notas de cem sobre a mesa e me diz. - Vamos procurar um lugar menos barulhento Beatriz...

Todos que estavam na mesa se levantam para acompanha-lo, mas ele faz sinal para que fiquem. Monstro pega na minha mão e me guia até a saída. Depois de hoje, vou precisar me desinfetar inteira.

Saímos da boate e a música alta fica para trás, sei que estou me arriscando horrores, mas lá dentro uma conversa seria quase impossível, e eu ainda correria o risco do barulho atrapalhar sua confissão...
C: Vamos até meu carro?
Du: Não, agora não... Eu sou um pouco romântica, você não podia me pagar um sorvete antes? - Digo isso pois lembrei de um sorveteria a alguns metros daqui. Podemos ir lá a pé.

Ele ri, e fala.
C: Gostei de tu, tem um rosto angelical mas um corpo maravilhoso... Ainda por cima não é tão puta. Você é uma Princesa, eu sou um rei, quem sabe não te transformo na minha rainha.
Du: Só depende de você.

Enquanto caminhamos, não só o policial como José Alfredo brigam comigo.

"JA: Menina doida, irresponsável. Ele é um psicopata, tu não pode ficar sozinha com ele."

"Eduarda, nós vamos mandar alguns dos policiais irem atrás de você, mas por enquanto tenha muito cuidado, não tem ninguém pra te defender aí."

Estou em silêncio, apenas ouvindo todas as recomendações dadas pela polícia, eles estão preocupados, mas eu não sinto medo.

Claro que não sou a pessoa mais corajosa do mundo, só que pior que isso é viver sem Lucas. Uma policial podia estar no meu lugar o seduzindo e se arriscando, mas eu quis estar aqui, provar a mim mesma que sou capaz... Meu marido me defenderia e protegeria de tudo, também posso fazer isso.
C: Ta pensando no que? - Ele pergunta, me fazendo voltar a realidade.

Já estamos na sorveteria, Carlão puxa uma cadeira pra mim e eu me sento.
Du: Nada, só no que você me disse, eu ser sua rainha... Como é ser o rei do tráfico? - Pergunto e logo escuto alguém reclamando no meu ouvido: "Não seja tão direta assim!"
C: Do que você ta falando? Eu não sou nada di...
Du: Eu sei que é, todos sabem que sim, você é famoso... - Puxo minha cadeira para mais perto dele. - Eu gosto disso! Já te disse que amo gente poderosa!
C: As garotas gostam mesmo do cara que manda...
Du: Aham... E me diz, como é ser o todo poderoso?
C: É maneiro, eu posso ter o que quiser, fazer o que eu quiser...
Du: Mas tu não fica com medo?
C: Medo de que?
Du: Não sei, talvez de ser preso...

Ele me olha e começa a rir.
C: Eu preso? Até parece... Tenho metade da polícia comprada! Não vou pra cadeia nunca Princesa, pode ficar tranquila!

Ele aproxima sua boca da minha e eu me esquivo mais uma vez dizendo:
Du: Vamos pedir os sorvetes?

"Ainda bem que essa operação foi sigilosa, só os policiais mais confiáveis ficaram sabendo, por isso ele não descobriu desse plano... Infelizmente muitos que deveriam proteger a população, fazem justo o contrário." Escuto o policial se lamentando.

Pedimos um sorvete e ele insistiu para dividir um gigantesco pote comigo, acho que Carlão acha isso romântico... Até seria, se eu ainda não quisesse vomitar em cima dele. Esse cara fede, em todos os sentidos.
C: Agora te vendo sem aquele monte de luzes piscando e debaixo da luz normal, acho que já te vi em alguma quebrada!

Droga, era só o que me faltava.
Du: Eu tenho um rosto comum... - Respondo.
C: Não, tem não... A gente já se trombou por aí?
Du: Nunca... - Minto. - Já sei, dizem que sou parecida com uma atriz aí... Uma tal de Josie Pessoa, ela tem até o cabelo vermelho igual o meu!
C: Ah, uma que trabalha na novela das nove? Já vi... Ela nem se compara a sua beleza, mas até que parece um pouco! Você copiou o cabelo dela? - Ele diz passando a mãos por meus fios vermelhos.
Du: Não, ela que me copiou...

Preciso mudar de assunto, antes que ele perceba ou lembre de algo. Olho em sua cintura e vejo uma arma, acho que já sei como o induzirei a falar sobre o caso de Fabiano.
Du: Se tu não tem medo de nada, por que anda armado?
C: A gente nunca sabe quando vai precisar eliminar alguém né?
Du: E você já eliminou muita gente?
C: Pra que tu quer saber?
Du: Sei lá, acho excitante... Mas se não quiser falar tudo bem!
C: Excitante é? - Ele ri. - Quantos você acha que já matei? - Ele se aproxima de mim.
Du: Não sei... Uns 5?
C: Mais, bem mais... - Carlão sorri e coloca um pouco de sorvete na boca.
Du: Ual! - Ele está falando, idiota... - Talvez uns 10, 15?
C: 30! Todos com essa arma... Ela é meu xodó! Sexta mesmo eu completei esse número redondo!
Du: Sério? E quem foi o infeliz? O que ele fez pra você?
C: Como tu é curiosa mano...
Du: Conta vai, ta me dando até um calor de saber o quão másculo você é! Cabra macho de verdade, que tira todo mundo do seu caminho... - Lhe lanço o olhar mais sedutor que consigo.

Ele cai, seu ego é maior que o cérebro, que na verdade não deve ser muito grande.
C: Eu matei um tal de Fabiano, ele era fotógrafo... O pai dele é advogado de um amigo meu, o conheci no escritório de advocacia e ele quis se meter nesse meio...
Du: Que idiota... - Digo, me referindo a Fabiano e também a Carlão.
C: Ele começou a usar as drogas ou invés de vender. Ficou me devendo pra caralho, não tinha como pagar... - Ele olha pra mim, ergue seu dedo polegar e estica o indicador, fazendo-os parecer uma arma e fala: - Pum, pum, pum! Três tiros bem no meio peito! E o melhor de tudo é que a culpa foi pra um playboy aí!

"Você conseguiu, ele confessou!" Ele vibra. "Agora sai dai, inventa uma desculpa, diz que precisa ir ao banheiro e foge!"

Não me movo, não quero sair daqui, minha vontade é pular no pescoço dele.
Du: Tu não se sente mal por alguém estar pagando por um crime que você cometeu? - Digo, sem conseguir controlar minha raiva. - Como você pode ser tão ruim?
C: Qual é? Não foi tu que disse que gostava...
Du: Gostar de um ser humano como você é impossível, as pessoas só chegam perto de ti por interesse, pra ter bebidas grátis... Todo mundo tem nojo de tu! Você é cruel, mata e não tem um pingo de remorso... Eu to com ânsia de vômito só por estar perto da sua pessoa! - Grito.

"JA: Pelo amor de Deus, o que você está fazendo?" Não sei, só quero por pra fora toda minha raiva dele.

Carlão pega no meu braço, e me encara com ódio.
C: Não é porque tu é gostosa que pode falar assim comigo entendeu? Eu vou te ensinar como se comportar! - Ele me puxa e beija minha boca. Eu o empurro com todas as minhas forças e quando ele se afasta dou um chute no meio de suas pernas.

Saiu correndo, procurando um lugar seguro, mas logo percebo que o Monstro, esse apelido combina muito com ele, se recuperou do chute e corre atrás de mim.

Preciso alcançar o carro estacionado perto da boate, a polícia está lá.

Ele está me alcançando, tento correr mais rápido mas não consigo, Carlão pega meu cabelo e o puxa para trás com força. Sinto uma forte dor no couro cabeludo e caiu no chão. Ele me levanta e, literalmente me arrasta até seu carro.

Sou jogada nos bancos traseiros e o Monstro logo fica por cima de mim, começo a gritar por socorro e os policiais dizem na escuta que já estão a caminho.

"Eles estão aí perto, tente se afastar, fugir... Ganhe tempo!" Enquanto ele fala, escuto os gritos de meu sogro.

Carlão beija meu pescoço e eu não paro de berrar por ajuda, o sinto rasgando minha blusa e passando a mão por meu corpo. Minhas lágrimas não param de descer, começo a achar que estava errada, eu não poderia fazer isso... Não devia ter vindo aqui.
C: Chora não, você vai gostar! - Fala, abrindo o zíper de sua calça.

Ele coloca meu cabelos atrás de minha orelha e vai com a boca até ela. Penso que vou sentir seus nojentos e asquerosos lábios ali, mas no final nada acontece. O carro fica em silêncio.
C: Você está com um ponto eletrônico? - Ele arranca o objeto de meus ouvidos e joga longe. - Filha da puta, tu é da polícia né? Eu vou te matar desgraçada!

Carlão sai de cima de mim e pega sua arma que estava jogada no chão. Me afasto dele o máximo que posso e penso em abrir a porta e correr... Não, ele atiraria nas minhas costas!
C: Pronta pra morrer? Quer se arrepender de seus pecados antes? - Ele diz, apontando a arma para meu peito e rindo. - Sabe por que sempre é três tiros aí?
Du: Não, mas acho que você vai me explicar... - Vejo pela janela do carro que os policiais se aproximam. Preciso distrair Carlão, ele não pode perceber.
C: Quando eu era pequeno meu velho dizia que o coração é o órgão mais importante, não só pro funcionamento do corpo, mas porque nele podíamos atribuir sentimentos... Dizia que se alguma coisa ruim acontecesse, o coração ia doer...
Du: Seu pai era sábio! - Enrolo, a polícia já está próxima do automóvel.
C: Sim, mas sabe quantas vezes ele machucou meu coração? Muitas! Eu era uma criança solitária, vivia trancado em casa, ele não gostava que eu me misturasse com os demais, falava que elas seriam mal exemplo pra mim... Me mandava rezar! - Ele está com os olhos arregalados, há lágrimas escorrendo. Um doido, psicopata, traumatizado... Isso é o que ele é. - Eu sou um assassino, mas mato pensando nele. - Ele ergue a cabeça para cima, olhando pro céu. - 3 tiros, trindade... Um para cada um deles: Pai, filho e espirito. Eu só matei pecadores e você também é uma!
Du: Você precisa de um psiquiatra, tu é doente... Acha isso certo?

Ele sorri.
C: Acho!

Nesse momento os policiais fazem sinal para que eu me abaixe, me jogo pra fora do banco e caiu sobre o carpete do carro. Em seguida escuto tiros, vários deles.

Há alguns segundos de silêncio e ouço alguém abrindo a porta.
JA: Você está bem Eduarda? - É a voz de José Alfredo.

Olho pra cima e o vejo me encarando. Balanço a cabeça indicando que sim e com sua ajuda me levando. Dou alguns passos para longe do automóvel, e não olho para trás... Mas imagino como Carlão esteja: Morto e todo ensanguentado.

Uma infância traumática pode transformar alguém num monstro? Sim, aprendi hoje que sim...

Talvez ele só precisasse de atenção, do amor do seu pai, de amigos... E claro, de um bom psicólogo!
P: Você conseguiu... O seu marido vai ser solto, parabéns Eduarda! - O policial sorri, e coloca a mão sobre meus ombros.- Se desistir da carreira de modelo, já tem um trabalho garantido!
Du: Não obrigada, um dia trabalhando com isso já foi demais pra mim... - Sorriu de volta.

Estou sentada em uma mureta com um cobertor nas costas e tentando esquecer as cenas que vive hoje... Porém, apesar de tudo, sinto orgulho de mim. Eu consegui! O livrei de ficar preso... Existem muitas formas de prisão, Lucas já me tirou de várias delas: Da do medo, do orgulho, da insegurança... Nós mesmos somos capazes de nos prender! De nos fechar num mundo em que nada é possível, acreditar que somos incapazes... Meu marido sempre me fez acreditar que eu posso fazer tudo e, eu agora sei que sim! Me sinto uma heroína...

( 1 dia depois.)

Ele vai sair hoje, os advogados foram rápidos. Assim que eu consegui as provas, eles logo entraram em ação.

Lucas iria para um presídio, mas isso não vai mais acontecer.

Estou esperando na porta da delegacia, prometi que não entraria mais lá. Será que alguém já contou a ele o eu que fiz? Nem imagino sua reação...

Fico encarando a saída, até que vejo Merival saindo desesperado. Acho que já soube quem matou seu filho... Eu me sentiria culpada, e acho que ele se sente assim nesse momento.

Minha sogra está a meu lado, esperando aqui fora. Marta se recusou a entrar: "Não é lugar para uma Imperatriz.." Ela disse.
MM: Estão demorando...

Nem tanto, estamos aqui há alguns minutos apenas, mas parece uma eternidade... Meu coração bate acelerado, sinto que a partir de hoje tudo será diferente. Acreditei no que meu marido me disse!

O que fiz passou até no Jornal Nacional, se eu já não estivesse famosa, estaria agora. As pessoas ainda desconfiam de meu marido, mas os xingamentos nas redes sociais já diminuíram...

Mais alguns minutos se passam, até que vejo Lucas saindo.

Estou parada em frente ao carro, do outro lado da rua. Ele ia atravessar, mas um caminhão passa bem no momento... Pro nosso azar, era um daqueles bem grandes, que carregam cargas gigantescas. Uns 10 segundos esperando, que mais pareceram anos. Foram três dias sem poder o abraçar, beijar e sentir seu corpo perto do meu... Milésimos de segundos fazem diferença agora!

Assim que ele pode, atravessa a rua. Lucas corre a meu encontro e eu faço o mesmo. Meu marido me abraça apertado, me ergue do chão e fica me rodando... Isso também acontece por segundos, mas foram tão bons que pareceram durar uma piscada de olho.

Ele me coloca no chão e começa a distribuir beijos por meu rosto.
JL: Você é louca! Não devia ter feito aquilo, já me contaram... - Lucas me abraça apertado, e ficamos assim por um tempo. - Ta tudo bem?
Du: Melhor agora... - Respondo.
JL: Ele não fez nada contigo né?
Du: Não, ta tudo bem!

Nós saímos do abraço, mas não nos afastamos, ficamos de frente um pro outro, só escutando nossas respirações.
JL: Obrigada por arriscar sua vida por mim! Se tivessem perguntado a minha opinião eu nunca deixaria, mas foi uma prova de amor gigantesca... Deveria estar bravo, mas só consigo me sentir o homem mais amado do mundo...
Du: E você é, pode ter certeza!
JL: Não tenho dúvidas...

Lucas coloca a mão em minha nuca e me beija. Estava com tanta saudades do seu gosto, do seu calor... Pareceu ser a primeira vez, meu corpo tremeu inteiro.
MM: Ei, eu estou aqui! - Minha sogra grita. - Também quero atenção... Estava com saudades de você meu filho!

Nós nos afastamos e Lucas vai sorrindo abraçar sua mãe.

Depois disso, vamos para nossa residência e todos da família de Lucas aparecem lá. Nunca tinha visto minha casa tão cheia, com tantas pessoas falando ao mesmo tempo, rindo ao mesmo tempo... Pelo menos o fim dessa história toda foi bom.

Assim que meu marido chegou, foi ver os gêmeos. Chorou ao pega-los no colo, ele estava morrendo de saudades, e depois tomou um banho bem demorado, para tirar qualquer vestígio de prisão.

Agora ele está ali, no canto da sala, cochichando com seu pai.

O que estão falando? Parece ser uma conversa séria...

Vejo os dois se abraçando e então Lucas volta para perto de mim.
Du: Posso saber o que você e seu pai falavam? - Pergunto.

Ele me abraça e responde:
JL: Agora não, mais tarde...

As horas passam e meus sogros e cunhados vão embora. Nos despedimos deles e assim que fecho a porta Lucas me propõe algo:
JL: Vamos sair?
Du: Pra quê? Pensei que podíamos nos curtir um pouco...
JL: Essa proposta é tentadora, mas eu tenho que fazer outra pra você!
Du: Faz então!
JL: Não, aqui não... - Ele vai pegar as chaves, e quando volta me diz: - Vou te sequestrar hoje!

Ele pega minha mão e me leva até o carro, quer fazer alguma surpresa, só não faço a miníma ideia do que seja...
Du: Não quer me dar uma dica? - Digo, observando as ruas que passamos. Já estou nesse carro a minutos e não sei para onde vou.
JL: Hm... Vou ser bonzinho! O lugar que a gente vai começa com p.

Penso um pouco...
Du: Praia? - Pergunto.
JL: Garota experta!
Du: Por que isso Lucas? Daqui a pouco ta anoitecendo...
JL: Eu sei, fica tranquila a gente não vai mergulhar... Só se você quiser!

Ele dirige por mais alguns minutos e quando chegamos reconheço o lugar. Não é uma simples praia, é onde ele me pediu em casamento.
Du: Vai pedir a minha mão de novo? - Brinco.
JL: Quase isso Du...

Ele desce do carro e corre para abrir a porta pra mim, saiu do automóvel e meu marido me dá a mão, nós nos olhamos, entendemos o pensamento um do outro e, corremos juntos até a areia.

Não está de noite, mas o sol já ta indo embora, o céu está meio laranjado, roxo,rosa, não sei... Quase não tem nuvens.
JL: Sabe o que eu estava falando com meu pai?
Du: Não, o que?
JL: Tem uma linha de maquiagens te querendo como garota propaganda deles...
Du: Sério? - Digo, abrindo um sorriso.
JL: E sabe como eles passaram a conhecer seu trabalho?
Du: Pelo desfile? - Pergunto.
JL: Não... Assim que a campanha das jóias começou a ser divulgada, o Fabiano mandou fotos suas pra lá. Parece que ele já tinha fotografo algumas coisas pra essa linha de maquiagens!
Du: Mas não faz sentido nenhum... Ele me ajudou?
JL: É, eu também não entendi na hora... O ser humano é um bicho estranho Du! Talvez ele tenha gostado, achado que você merecia fazer sucesso.
Du: No fundo ele era apenas um fantoche nas mãos do pai, um viciado... Só precisava de ajuda! - Me lembro de uma coisa, acho que não contei isso para Lucas. - Adivinha quem me contou do Carlão? - Falar seu nome me dá até calafrios. - O meu pai!
JL: Ele? Ual... Nunca pensei!
Du: É, eu também não! Agora você diz que o Fabiano mandou minhas fotos pra uma empresa, que de alguma forma me ajudou... Isso me faz pensar muita coisa... Ter esperança na humanidade! A parte boa de cada pessoa existe, as vezes não tão evidente, mas existe!
JL: Ta bom, mas não te trouxe aqui para falar disso!
Du: Trouxe pra que então?
JL: Eu falei pro meu pai, ele relutou um pouco mas já concordou, não vai me impedir disso... - Lucas se ajoelha sobre a areia. - Essa praia pra mim é especial, pedi sua mão em casamento aqui... Esse lugar é o marco inicial da vida que vivemos hoje! Queria que ele também fosse o da nova fase... - Estou boiando, do que ele fala? Meu marido respira fundo e continua: - Du, a campanha de maquiagens não é no Brasil, é em Portugal!
Du: O que? Mas eu não quero viajar, ficar longe dos meus filhos e...
JL: Eduarda, o que eu to te pedindo é mudança. Vamos sair daqui, ir pra outro lugar, outro país, viver outra vida... Mas juntos! - Ele se levanda. - Se parar pra pensar, todos nossos problemas foram relacionados a família, gravides, e a empresa! Eu não trabalho mais na Império, não vou insistir para ter outro filho, e minha família vai ficar no Brasil... Quero construir tudo de novo, do zero! Abrir uma agência de modelos, comprar uma casinha lá... Viver só a gente! Eu, você e os Lekinhos!
Du: Meu amor, isso é um salto no escuro! E se não der certo? Que garantia teremos que minha carreira vai pra frente? Que sua agencia dará futuro?
JL: Nenhuma... Não temos nenhuma garantia! Isso é um salto em queda livre, podemos quebrar a cara no chão, mas eu quero tentar! Pula comigo?
Du: Se você estiver do meu lado eu encaro qualquer coisa! Bora ser tipo a campanha publicitária do guaraná...
JL: Hã?
Du: Se joga no escuro! - Grito.

Ele ri e puxa minha cintura. Temos muitas coisas a resolver no Brasil, Lucas ainda responde a um processo de agressão, não sei como ficará agora que o acusado foi morto... Talvez demore até podermos dar esse salto, mas mesmo assim o faremos. Eu confio em meu marido e, mesmo que pareça arriscado, eu topo.

Ele aproxima sua boca da minha e me dá um beijo. Começamos lentamente, mas logo a intensidade vai aumentando. Nossas línguas dançam dentro da boca um do doutro, sinto meu corpo se derretendo por ele.

Sei que as coisas vão mudar, mas até gosto disso. Nada permanece igual para sempre...


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, segunda feira tem mais e já com a vida nova.
O que acham que vai acontecer? Adianto que terá passagem de tempo, uns 4 anos! :)