Muito Mais Que o Amor escrita por Jessi de Paula


Capítulo 2
Sempre que estou lá


Notas iniciais do capítulo

"tranquei o meu quarto e fui
nunca mais estive ali
um só segundo e eu soube de tudo
— aquelas eram as tuas mãos"
https://www.youtube.com/watch?v=YZhcJ79Ye0w



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/574823/chapter/2

Chego à pousada perto do meio dia, não há ninguém na recepção como costumava não ter há anos atrás então me pergunto se Brittany ainda é a recepcionista. Brittany era uma loira belíssima que, ao terminar o ensino médio, entrou em crise existencial e não sabia o que fazer da vida dali em diante então ganhou um emprego de recepcionista na pousada até que pudesse decidir o que faria para o resto da vida. O problema é que a garota nunca parava na recepção, estava sempre transando com algum hóspede, mas nunca quis dedurá-la para meus pais, afinal, alguém propenso a se prender nessa cidade para o resto da vida merece no mínimo uma boa transa, ou algumas, com algum bonitão de passagem.

Eu poderia simplesmente entrar, mas tudo me soa tão estranho e ao mesmo tempo familiar. Aperto a campainha no balcão diversas vezes até que alguém apareça, não é Brittany, a antiga recepcionista, nem uma nova aparentemente.

– Essa menina, nunca está no balcão que é onde deveria. - ouço aquela voz tão intima se aproximando. Tenho escutado essa voz a quilômetros de distância nos últimos anos e assim, pessoalmente, soa tão diferente, mais doce. - Pois nã... - ela para em meio à frase ao me olhar. Seu rosto é o mesmo de sete anos atrás, com mais rugas, com certeza, mas o mesmo rosto, os mesmos olhos castanhos como os meus, os cabelos já tingidos para esconder os fios brancos que começavam a querer aparecer. Mesmo em tantos anos ainda reconheço seu olhar acolhedor de mãe que só ela pode me oferecer.

– Rachel – ela diz emocionada enquanto me abraça de modo sufocante e, ao mesmo tempo, acolhedor.

– Oi, mãe. – é só o que digo emocionada e confusa com a situação.

– Por que não disse que viria? – ela me olha de cima a baixo. – Oh, Deus, minha menina está deslumbrante. Veio para o casamento da Quinn? Ei, isso é uma tatuagem? – fala tudo num fôlego só.

– Calma, mãe. – peço escondendo o pulso com a estrela tatuada. – Sim, eu vim para o casamento da Quinn e do...

– Cheguei. – uma garota baixa e loira quase grita ao chegar à recepção arrumando as roupas – Desculpe, Shelby, estava atendendo um telefonema da minha mãe. – a garota diz para minha mãe e, em seguida, vira-se para mim com um grande sorriso. – No que posso ajudá-la?

– Esta é a Rachel, Kitty. – responde minha mãe impaciente. – Ela veio para o casamento da sua prima.

– Ah, ok. Olá, Rachel, quanto tempo, não é? Lembra-se de mim?

É impossível não me lembrar da versão em miniatura de Quinn Fabray. Kitty sempre foi uma fã da Quinn na minha época do colegial. Vivia atrás de nós querendo ir aos mesmos lugares e participar das mesmas festas o que nunca foi possível, pois é oito anos mais nova, ou seja, na época era só uma criança.

– Claro, Kitty, não tem como esquecer a mini Barbie que nos perseguia na adolescência.

– Bom, - diz ficando um pouco vermelha – essa época passou. Não sou mais aquela pirralha, imitação da Quinn. Agora sou só a Kitty.

Na verdade não acho que Kitty tenha mudado tanto assim, continua parecendo muito com a Quinn adolescente da qual me despedi há sete anos.

– Vou ser uma das madrinhas, sabia? – exibe-se a garota.

– Por favor, Kitty – interrompe minha mãe. – Pare de importuná-la agora, peça para que arrumem o antigo quarto de Rachel para que ela possa descansar. Mais tarde terá tempo o suficiente para contar tudo que aconteceu na cidade nos últimos anos.

Um pouco a contragosto, Kitty faz o que lhe é mandado e logo estou novamente em meu quarto. Dentro de uma semana será o casamento, portanto, já estão organizando a pousada para a festa. Da varanda do meu quarto vejo a movimentação no jardim e, mais distante, observo o mar calmo batendo na areia da praia. Não lembrava que essa vista era assim tão linda.

********* *******

Acordo com um barulho que vem da janela. Lá fora já está escuro, não percebi que dormi assim tanto tempo. Novamente ouço alguma coisa bater no vidro e decido levantar para ver o que é. Ao abrir a janela e ir até a varanda quase sou atingida por uma pedra que voa para dentro do quarto.

– Opa, desculpe.

Quando procuro o dono da voz vejo Finn, parado na grama embaixo de minha varanda, sorrindo docemente.

– Finn? – meu coração acelera como não fazia há anos. – O que faz aqui?

– Estava com saudades. Queria muito te ver.

Meus olhos se enchem de lágrimas. Isso simplesmente não pode ser real, sei que não. Mas tudo o que mais quero é encostar em seu rosto, beijá-lo por horas e não deixá-lo partir.

Ouço batidas na porta.

– Não vá. – pede Finn sem parar de sorrir – fica comigo.

Novamente as batidas me distraem.

– Rachel. – uma voz conhecida me chama no corredor.

– Rachel. – acordo com a voz familiar chamando-me do lado de fora do quarto.

Demoro um tempo para perceber que fora um sonho, ainda assim levanto-me não em direção à porta, mas sim à procura de Finn na grama lá embaixo como ele costumava fazer quando éramos mais jovens. Mas, claro, ele não está lá, não há ninguém ali embaixo e o sol ainda está alto no céu.

– Rachel, sou eu, a Quinn.

Corro para a porta atendê-la e, assim que abro, Quinn me envolve num abraço caloroso. Tenho a impressão que sinto lágrimas em meus ombros, mas não consigo ver seu rosto para ter certeza.

– Que bom que veio, senti saudades. – fala tentando disfarçar o choro.

– Sim, eu também. – percebo que é verdade, senti saudades. Saudades de Quinn, da minha família, da pousada, senti saudade dessa cidade e de ver a praia da janela do quarto. Mas isso nunca me pareceu tão forte enquanto estava fora.

Como antigamente, eu e Quinn nos esparramamos em minha cama para colocar a conversa em dia. Nem parece que passamos tanto tempo separadas até que chegamos ao assunto de seu casamento.

– Não se ofenda. – digo com tato – mas é estranho, isso tudo, seu casamento com ele.

– Sim, eu sei. – ela responde parecendo um pouco sem jeito com a situação. – Muita coisa mudou quando você e Puck foram embora.

– Então, você e Jesse...? – começo sem saber exatamente o que perguntar. Então, você e Jesse descobriram um grande amor escondido? Passaram a dormir juntos quando Puck partiu? Decidiram seguir suas vidas juntos? Que tipo de pergunta se faz quando sua velha melhor amiga envia-lhe um convite de casamento com seu antigo ex-namorado? Eu e Jesse éramos só namoradinhos de infância até eu conhecer Finn, mas também foi Jesse quem me consolou e ouviu quando tudo aconteceu. Todos achavam que voltaríamos depois de tudo aquilo, mas, não, eu parti, assim como fez Puck. Sabe-se lá o que tem acontecido desde que nós dois fomos embora, mas com certeza muita coisa mudou.

– Rachel, nada mais está como há sete anos. – explica desculpando-se.

– Eu sei. – garanto cabisbaixa. – Só não sei até que ponto vou conseguir lidar com isso.

– Toc toc. – quando ouço esta voz não consigo me controlar, pulo da cama em um salto e abro a porta já me jogando nos braços de Kurt.

– Ai meu Deus, você está aqui também. – grito de emoção.

– Onde mais estaria? Teremos o grande casamento de Quinn Fabray, quem acha que está preparando um evento desse porte? – Kurt explica com um ar arrogante, como se contasse que irá realizar a cerimônia de um casamento Real.

– Não acredito, Kurt. Senti tanta, tanta, tanta saudade. – falo em meio a risos de empolgação.

– Acredite, eu também. – ele diz retribuindo os risos. – Você está fabulosa, Rachel Berry. – olha-me com uma espécie de melancolia nos olhos.

– Você não fica atrás, Kurt Hummel.

– Ok, obrigada por me deixarem de fora. – Quinn finge decepção.

– Não sinta-se excluída, Fabray. – fala Kurt – Você será a noiva mais linda que esse lugar já viu.

Kurt deu a maravilhosa ideia para fazer uma festa do pijama como costumávamos fazer no colegial, afinal, nunca estaremos velhos demais para pipoca, refrigerante, chocolate e comédias românticas.

É engraçado como tudo parece voltar ao passado com coisas tão simples, mas o vazio que sinto no coração parece estar muito maior, talvez sete vezes maior que no ano em que parti. Tudo parece estar de volta, tudo antes do acidente, quando a vida era simples e mais feliz. Mas nada pode me fazer esquecer a ausência dele, voltar só me fez ter a certeza que não posso esquecê-lo, Finn ainda está aqui, não na cidade, mas em mim. Sete anos longe não foram o suficiente para esta dor passar.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Muito Mais Que o Amor" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.