Num dia ensolarado, Bristol não passava de uma cidade qualquer do interior, as ruas um tanto vazias e o vento soprando os cabelos das crianças que brincavam no parquinho. Agatha as olhava, com inveja da sua liberdade em uma tarde de segunda feira. Queria estar em qualquer outro lugar, menos aquele. Preferia até estar estudando.

Se bem que, a música Drive my car do beatles que ecoava nos alto falantes da oficina acalmava um pouco seus nervos. Ela prendeu o cabelo preto muito liso num rabo de cavalo alto, e quando voltava ao trabalho foi surpreendida por Carl.

—Tha! - Gritou, assustando-a.

—Carl! Já disse pra você não me surpreender assim. - Ela disse, com a mão no peito. - O que foi afinal?

Carl era um homem baixinho e rosado mas que já fora bonito na juventude. Era seu padrasto desde que ela se conhecia por gente e num jeito de ganhar uma graninha extra, permitiu que ela trabalhasse em sua oficina de concerto para carros e motos. No inicio, ela sequer suportava aquele cheiro de óleo de motor e pneu que impregnava o lugar mas agora ela já havia aprendido tudo que era preciso sobre mecânica e tornara-se melhor até do que o próprio chefe.

—Desculpe. - Ele passou a mão pelos cabelos acinzentados e depois as colocou no macacão cinza sujo de graxa. - Eu ia te avisar... Vou ir ao banco resolver umas coisas. Volto em uma ou duas horas.

—E se algum cliente aparecer? - Ela perguntou, meio desesperada. Certo, sabia muito sobre mecânica mas o fato de o responsável não estar ali a deixava um tanto nervosa. Na maioria das vezes era Carl que cuidava de tudo enquanto ela ficava no balcão, cuidando do pagamento.

—Você sabe o que fazer, Tha. - Ele sorriu confiante. - Volto o mais rápido possível. Você dá conta. - Ele agarrou uma maleta atrás do balcão. - Até mais!

Ela esfregou as mãos, nervosa. Essa era uma das manias que tinha, além de falar sozinha sem perceber.

—Ah... tudo bem, então. - Resmungou. Olhou o padrasto indo embora e então começou a resmungar consigo mesma. - Vai me deixar sozinha aqui numa tarde de segunda... Ninguém vai vir, isso parece uma cidade deserta. Podíamos até fechar, mas nãããão, temos que ficar abertos, pois temos milhares de clientes, é claro! Ninguém merece...

—Falando sozinha? - Uma voz falou, distante, surpreendendo-a.

—Quem está aí? - Ela ergueu a cabeça olhando em volta com uma sobrancelha erguida. Na porta da oficina um garoto pálido da sua idade a encarava com um misto de curiosidade e surpresa. - Ah. O que você quer?

Ele se aproximou em passos tranquilos até o balcão. A primeira coisa que ela notou era que ele era bem mais alto que ela. Ela se encolheu meio que instintivamente, intimidada, e o encarou com olhos desconfiados.

—Primeiramente, boa tarde. - Falou, com uma voz melodiosa. - Que ótimo jeito de se atender um cliente.

Agatha o olhou de cima a baixo. Vestia umas roupas estranhas pra se usar durante um dia quente como aquele: Camisa, calça social e gravata, listrada de vermelho e dourado. Quando ergueu um pouco mais os olhos, avaliando-o, reparou no seu cabelo preto e rebelde e sua barba rala antes que seus olhos se prendessem aos dele, de um cinza escuros e tempestuoso.

Ele a encarava de volta e, por mais que estivesse sorrindo, seu olhar era um tanto intimidador.

—Ahh... Certo, desculpe. - Murmurou ela, desviando o olhar pra baixo. - Boa tarde. Sou Agatha. Em que posso ajudar?

Ele apoiou um cotovelo no balcão, abaixando-se para olhá-la nos olhos.

—Eu sou Sirius Black. Hum, será que você pode dar uma olhada na minha moto?