Marinwaal: besties forever escrita por Miss Vanderwaal


Capítulo 12
Inacreditável


Notas iniciais do capítulo

Bem, não, este ainda não é o último :)



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Era uma segunda-feira no começo de novembro, e quente como início de primavera. De fato, se havia algo imprevisível em Rosewood, era o clima. Raramente nevava, e quando acontecia, era mais para o meio de janeiro, uma camada fina de gelo que mal cobria o capô dos carros. O natal nunca era tão mágico para nós como para o resto dos americanos.

Fazia mais de duas semanas desde que eu visitara Mona no Radley pela última vez. Eddie me mandara algumas mensagens dizendo que ela estava progredindo novamente, e eu ficava genuinamente feliz ao saber disso, mas eu não as respondia. Em um primeiro momento eu não sabia me dizer porquê.

E tudo piorou quando Leona me mandou uma mensagem, no sábado, dizendo que Mona tinha recebido alta. Alta! Isso significava que ela tinha sido liberada de vez. Deixei a mensagem de lado por algumas horas antes de responder, alegando que havia toneladas e mais toneladas de provas para as quais eu tinha que estudar antes das férias de inverno, mas que ligaria para Mona ou iria vê-la assim que tivesse uma folga.

Leona pareceu acreditar e eu me senti um lixo, pois passaram-se o sábado e o domingo e eu ainda não havia entrado em contato com Mona. A verdade era que eu não sabia se iria ser capaz de ficar diante da “versão sóbria” dela, da versão “mentalmente estável”. Seria doloroso olhar nos olhos dela depois de tudo o que havia acontecido. Seria doloroso olhá-la atravessar os corredores daquela escola mais uma vez, sem pensar na maior traição de minha vida, embora grande parte de mim já a houvesse perdoado.

Estávamos Aria, Emily, Spencer e eu em uma das mesas de piquenique na entrada de Rosewood High, esperando o sinal para a primeira aula. Tinha minhas costas apoiadas nas de Aria e escutava You’re Still the One no modo repetir e não pensava em absolutamente nada.

Assim que Shania Twain chegou ao refrão, meus olhos foram ao encontro de uma figura conhecida que caminhava para dentro do colégio, encolhida e aparentemente nervosa, olhando para baixo e não para as pessoas em volta, que pareciam estar olhando para ela.

Senti meu coração parando por alguns instantes. Isso não pode estar acontecendo, eu queria dizer, mas, no momento, meus pulmões pareciam desprovidos de ar.

Mona estava um pouco como sua versão nerd do primeiro ano. Tinha os braços em torno de alguns livros e o figurino não consistia em brincos enormes ou blusas com estampas de oncinha. Se fosse comparada a última vez que pisara na escola, diriam que era outra pessoa.

Sem me mover, agarrei o pulso de Aria no intuito de perguntá-la se ela estava vendo o mesmo que eu, mas minha voz não saía.

– Você disse que ela tinha sido liberada quando mesmo? – indagou ela, cautelosamente.

Limpei a garganta. Os fones de ouvido caíram de minhas orelhas.

– Neste final de semana – segui Mona com o olhar enquanto ela subia as escadas da frente até desaparecer dentro do prédio.

– Inacreditável – balbuciou Spencer, separando as sílabas.

O sinal para a primeira aula soou pouco depois, mas eu me sentia incapaz de me mover. Foi necessário dar os dois braços a Aria e Emily para que eu finalmente começasse a caminhar.

Eu estava consciente da promessa que havia feito a Mona na última vez em que fora visitá-lá, a de que estaria com ela e que sempre ignorara as opiniões dos outros sobre nossa amizade. Eu havia selado os lábios dela com os meus enquanto ela dormia como um argumento final, por Deus!

Mas agora as coisas pareciam diferentes. Se ela estava voltando a escola, significava que ela queria... recomeçar a vida? Que tudo voltasse a ser como antes? Antes de –A?

Ainda estava enganchada a Aria e Emily quando a vi remexendo em seu armário. E soube de repente do que eu tinha medo: de que nada houvesse mudado. De que ela estivesse voltando com uma carta na manga. De que ela fosse me trair como da última vez. Eu não ia conseguir suportar.

Mas então ela ajeitou um último livro dentro do armário e olhou para mim. As garotas e eu havíamos parado e elas também estavam olhando para Mona, tão incertas quanto eu. Mas os olhos de Mona estavam em mim apenas. Parecia que ela queria me mandar uma mensagem telepática. Ela aparentava estar nervosa, amedrontada.

E eu baixei o olhar, não me sentindo em condições de lidar com aquilo no momento.

– Está tudo bem? – Emily perguntou rente ao meu ouvido.

Eu apenas balancei a cabeça em confirmação, embora quisesse dizer que não estava tudo bem. A verdade era que aquilo tudo estava mexendo comigo. Ver Mona ali era surreal, o que fez parecer que se passaram décadas desde a última vez que havíamos cruzado, eu e ela, aqueles corredores de braços dados.

Não havíamos cruzado com ela até o fim da aula, e eu praticamente implorara às garotas para que fôssemos almoçar na biblioteca ou em qualquer lugar igualmente isolado, assim evitaríamos contato desnecessário. Mas eu sabia que seria inevitável.

Estava, depois da aula, à mesma mesa de piquenique que estivera antes do início. Mexia no celular impacientemente, como se estivesse esperando por ela.

– Hanna? – aquela voz conhecida me chamou por trás, séria e um tanto distante – Posso sentar com você?

Agora ela estava em pé, ao meu lado, sorrindo. Tentei forçar eu um sorriso, porém não me atrevi a olhar diretamente para ela.

– É claro.

Ficamos em silêncio por um tempo.

– Então, Mona – comecei, tentando soar despreocupada – , como foi seu primeiro dia?

– Estranho – disse ela, sem jeito – Alguns olhavam para mim como se... soubessem da verdade.

– Bem, eu te garanto que ninguém soube por mim – disse, tendo certeza que minha voz soou um tanto magoada.

– Eu sei – respondeu ela prontamente – Eu confio em você.

Senti algo próximo a lisonja me dominar. Quis agradecer, mas me contive.

– E nem por nenhuma das garotas.

– Sei disso também – ela ainda tinha um sorriso doce no rosto – Sei que elas são leais – fez uma pausa e adquiriu um ar decepcionado - a você.

Ficamos em silêncio por mais algum tempo. Parecia que ela esperava que eu falasse algo, ou que eu a bombardeasse de perguntas, mas eu não sabia o que dizer.

– Eu senti sua falta – admitiu ela.

Eu fingia estar muito interessada em observar a tinta descascada da mesa de madeira. A verdade era que eu também havia sentido muita falta dela, mais até do que seria o recomendável. Sentira falta de quando conversávamos sobre coisas banais, de quando fazíamos as unhas uma da outra. De tudo antes de –A. Eu havia dito a ela, no Radley, que eu não iria desistir até que a tivesse de volta, e ali estava ela. E eu estava, acima de tudo (do medo e da insegurança) feliz com aquilo.

– Eu também – consegui sorrir francamente, e nós entrelaçamos ternamente as mãos.

Aquilo era bom. Fazia eu me sentir em paz.

– Posso perguntar uma coisa?

Eu assenti e ela engoliu em seco.

– Minha mãe me contou que você falou com ela, que pediu para que ela não deixasse que me mandassem para Nova York. Ela disse que você é meu anjo da guarda. E... – ela parecia estar a ponto de chorar – eu achei que, quando saísse do Radley, a primeira coisa que iria ver quando pisasse na calçada outra vez seria você com um cartaz de boas-vindas nas mãos.

Ela respirou com dificuldade e meu coração de contorceu devido a culpa. Apertei mais a mão dela junto a minha, como num pedido de desculpas.

– Eu estaria mentindo se dissesse que isso não doeu – ela continuou – Por que não foi me ver?

– Acredite, Mona, eu quis – minha voz era quase um sussurro.

– Então por quê?

– Porque... era diferente quando você estava frágil e praticamente dopada naquela cama de hospital. Eu sentia que era capaz de inventar qualquer verdade para justificar o que você fez. Mas eu não sabia se seria capaz de olhar para você, curada e se equilibrando sobre seus próprios pés.

– Você está fazendo isso agora.

– E como acha que estou me sentindo? – disparei, lágrimas já em meus olhos.

Um longo silêncio se fez. Mona parecia não saber o que dizer.

– O jogo não é mais meu – alegou abruptamente, a voz mais uma vez séria.

– Do que está falando? – perguntei, por um momento não fazendo ideia do que aquilo queria dizer.

– Eu não faço mais parte da equipe – explicou, a voz no mesmo tom – Fui “despedida” no mesmo dia em que entrei para o Radley.

Lancei-a mais um olhar de quem não estava entendendo porcaria nenhuma. Mona respirou fundo, agia como se falar sobre aquilo fosse extremamente difícil.

– Eu recebi uma visita. Tenho quase certeza de que era ela.

Soltei a mão de Mona e fite-a com mais atenção.

– “Ela”?

– A que está no comando.

Meu coração pulou.

Quem?

– Eu não sei quem ela é – disse Mona, os olhos também cheios de lágrimas – Ela usava um sobretudo vermelho e uma máscara preta (parecida com a que várias pessoas usavam durante o baile de máscaras) atravessava o rosto dela. Ela tinha um cabelo loiro e... por um momento eu achei que fosse Ali.

Mona olhava para frente, como se vasculhasse as memórias daquele momento. Ela sorriu ao pronunciar o apelido de Alison, como se ansiasse por vê-la.

– Mas aí eu concluí que isso era impossível em vários sentidos – enxugou uma lágrima – Me lembro de quando ela se aproximou de mim lentamente. Eu estava bastante grogue por causa das medicações. Ela soava como aquela voz calma e baixinha que se manifesta dentro da nossa cabeça quando lemos. Não me lembro de som algum vindo dos lábios dela. Apenas lembro dela dizendo que eu falhara, que ela conhecia meu ponto fraco e que não podia mais confiar em mim por causa disso.

Mais um longo silêncio se fez.

– Como espera que eu acredite em você? – perguntei, com a voz cansada.

Ela pareceu analisar a pergunta. Pescou uma folha de papel dobrada de forma descuidada da bolsa e me entregou.

– Eu realmente não sei se prova algo, mas... achei isto em meu armário hoje.

Desdobrei o papel e, em giz de cera preto – numa caligrafia irreconhecível – , lia-se:

Pobre Mona! Pior do que ser louca, é ser louca e solitária. Torça para que suas amiguinhas te aceitem de volta, senão pode ser perigoso para você.

–A

Assim que li a primeira linha, tive a sensação que não era exatamente uma ameaça. Me parecia mais um aviso, e instantaneamente um nome em especial me veio a cabeça.

– Mona, e quanto ao Lucas? Soube que ele foi visitar você também.

Ela sorriu ternamente, na certa detectando a desconfiança em minha voz.

– Lucas daria a vida dele a você, Hanna – ela respondeu, como se não houvesse uma descrição mais doce a se fazer – Ele te ama. Não sei se do mesmo jeito que o Caleb, mas ele com certeza te ama. Eu já sabia disso antes, mas pude comprovar quando ele foi ao Radley te defender. Disse que me mataria se eu ousasse a machucar você mais uma vez.

Meu coração enterneceu. Eu conseguia imaginar Lucas dizendo isso.

– Eu não tinha o direito de ficar brava com ele – continuou Mona – Ele estava coberto de razão. Eu mereci tudo o que ele me disse. E, se eu estivesse no lugar dele, teria feito a mesma coisa.

Mona se encolheu, parecia frágil e eu tinha medo de admitir que estava começando a sentir pena. E ela me fitou com seus grandes olhos castanho-claros.

– Mas a questão é que eu não quero – ela se interrompeu – Eu não vou mais machucar você. Está bem?

Toquei o ombro dela, querendo, na verdade, abraçá-la. Porém algo pulsou em minha mente ao ouvi-la dizer “machucar” pela última vez. Eu precisava tirar aquilo a limpo, se não nunca seria capaz de tocar no assunto novamente.

– Mona, na sua festa de aniversário do ano passado, foi você que me atropelou?

Eu já esperava ouvir um “não” estridente seguido de um “eu nunca seria capaz de fazer isso com você”, mas ela estremeceu e baixou a cabeça sem dizer uma única palavra. Meu coração já martelava contra o peito e parecia que alguém havia aberto um buraco no solo, e eu estava simplesmente... caindo.

– Mona... – meus olhos já estavam cheios de lágrimas – Foi você?

Ela tremia ao meu lado e tinha os olhos e os lábios cerrados.

– Ela estava de olho em mim – Mona já chorava – Eu precisei.

– Deus! – uma lágrima caiu sem que eu sentisse – Eu queria saber o que eu fiz para você me odiar tanto!

– Eu nunca odiei você – ela parecia desesperada em me fazer entender e procurou por minhas mãos – Se ao menos soubesse o quanto eu te amo!

– Não parece que você me ama – eu me afastei.

– Hanna, por favor, você precisa me ouvir!

Mas eu já havia levantado.

– Desculpe – eu disse, com a voz ainda quase nula – , mas eu preciso não olhar para você por um tempo.


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Notas finais do capítulo

PS: Alguns trechos da música You're Still the One que acho que descrevem fielmente a relação entre Hanna e Mona.

"Parece que conseguimos
Veja a distância que percorremos, meu bem
Fico feliz que não tenhamos escutado os outros
Veja só o que estaríamos perdendo.


Eles disseram 'aposto que não vão conseguir'
Mas olhe para nós agora
Continuamos juntos
Estamos crescendo e amadurecendo".

PS²: Isso vai fazer mais sentido no próximo capítulo, prometo! :3