Marinwaal: besties forever escrita por Miss Vanderwaal


Capítulo 1
Depois do choque




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— Mantenha-se firme – disse Caleb, apertando levemente minha mão contra a sua. – Não importa o que ela te diga, ela é a descontrolada aqui, não você.

Ele tinha um olhar doce e compreensivo no rosto. Eu sabia que ele tinha dirigido trinta quilômetros para fora de Rosewood apenas por mim; porque eu queria respostas. E, como se fosse possível, eu o amava ainda mais por causa disso.

Toquei em uma mecha de seu cabelo liso na altura do queixo. Parte de mim queria apenas se aninhar nos braços dele e voltar para Rosewood, onde poderíamos relaxar sob o ar-condicionado quente do The Brew com um copo de latte morninho nas mãos. Parte de mim também não estava preparada para ouvir certas verdades. Direcionei o olhar vago para o porta-luvas e em seguida dei um selinho demorado em Caleb.

— Prometo que não vou demorar – disse a ele, antes de fechar a porta do carro.

A manhã estava encoberta e irritantemente fria, ainda que não fosse bem inverno. Aquela região afastada do centro da Filadélfia fazia com que eu me sentisse perdida e, se não fosse o carro de Caleb às minhas costas, eu provavelmente já teria fugido dali.

As calçadas eram inusualmente largas e as poucas pessoas que por ali transitavam evitavam passar pelo local, que parecia uma mansão assombrada e não um hospital psiquiátrico.

Nos dois portões de ferro, que davam passagem para um pequeno jardim em frente ao prédio, podia-se ler as iniciais R. S., para Radley Sanitarium.

Achava terrivelmente ofensivo que ainda chamassem aquele lugar de “sanatório”, e era assim desde 1931, de acordo com o que dizia uma pedra polida a alguns metros do prédio – que mais parecia uma lápide.

Subi nervosamente o pequeno conjunto de degraus que dava para a porta de entrada e fui direto à recepção. O barulho de meus próprios saltos curtos contra o chão era a única coisa que conseguia me acalmar ligeiramente.

— Com licença – disse, apoiando delicadamente os antebraços no balcão. – Eu marquei hora ontem à tarde para fazer uma visita a Mona Vanderwaal hoje pela manhã.

Um calafrio percorreu toda a extensão de meu corpo assim que me ouvi pronunciando aquele nome.

Era tão... vago pensar em Mona como “mentalmente instável”. Vago e não familiar, como se não fosse realmente ela a quem eu estivesse indo visitar. Mas, para falar a verdade, tudo naquela última semana havia sido vago e não familiar, como se nada daquilo tivesse sido real.

— Senhorita? – a recepcionista de meia-idade sentada do outro lado do balcão tirou-me de meus devaneios.

— Me desculpe, o quê? – sacudi levemente a cabeça.

— Seu nome.

— Ah, sim. Hanna Marin – soletrei Marin logo depois de dizer que Hanna não possuía h no final.

A mulher digitou algo no computador e me entregou uma pequena tira de papel autocolante que dizia visitante.

— Pode aguardar um pouco? – pediu ela, gentilmente, apontando com a cabeça para uma fileira de cadeiras coladas à parede oposta. – É que ainda está no horário do café da manhã dos pacientes.

— É claro – dei um sorriso sem graça, colando a tirinha de papel em minha blusa.

Respirei fundo ao sentar em uma das cadeiras. Estava evitando pensar no que ocorrera há uma semana atrás. Eu havia me dado o direito de chorar durante apenas dois dias, mas ali, sem o meu consentimento, todos os meus pensamentos se voltaram para aquela noite, e as lágrimas já ameaçavam formarem-se outra vez. A noite do baile de máscaras, onde eu sentira meu mundo cair.

Mona é –A, eu dissera para mim mesma, de modo a fazer-me acreditar de vez naquilo. Eu ainda estava com a máscara em volta dos olhos, a voz falha, as pernas bambas e os olhos úmidos, enquanto flashbacks de momentos felizes meus com Mona atropelavam-se diante de mim.

Até hoje não sei direito como as garotas me deixaram dirigir até Lookout Point – um penhasco em uma área afastada, dentro da floresta – naquele estado; acho que devo ter gritado um bocado com elas para ter conseguido ficar no volante – é claro, não lembro porque usara muita vodca com limão nos dias que se seguiram para tentar esquecer daquela noite.

Mas ainda me lembro de quando estacionara o carro a apenas algumas dezenas de metros do penhasco, logo atrás do carro de Mona. Spencer havia ido com ela ao covil de –A com o intuito conseguir respostas, ainda durante o baile de máscaras; e depois que esta conseguira tais respostas, –A levara-a para um passeio.

Spencer conseguira escapar, abrindo a porta do carro de Mona ainda em movimento; e Mona saíra correndo atrás dela, porém parara ao me ver ao volante da pick-up de minha mãe, que tínhamos usado para ir à festa, completamente pálida.

Mona usava calças jeans pretas e um moletom também preto que parecia ser masculino, pois era um pouco mais largo do que ela. Seu cabelo estava preso e o capuz do moletom só deixava seu rosto à mostra. Seu olhar era uma mistura de fúria, por querer alcançar Spencer, e medo, pois parecia querer me explicar o que estava havendo ali.

Eu nunca nem ao menos sonhara em ver algo parecido. Aquilo fora como se eu estivesse diante de outra Mona, que eu nunca iria acreditar ser aquela que curava meus sábados de bebedeira quando estava frustrada ou me dava cobertura quando “pegávamos emprestado” algo da Tiffany’s e não devolvíamos mais. Éramos capazes de ficar horas ao telefone discutindo as previsões da Vogue para o verão, por Deus!

Uma lágrima escorrera pelo lado esquerdo de meu rosto e eu pisara fundo no acelerador, ignorando, por um tempo, os gritos de Aria ao meu ouvido, me dizendo para parar. De alguma maneira idiota, eu achava que se aquela Mona batesse forte com a cabeça, a minha Mona voltaria.

Não tivera forças para cumprir a missão, parando o carro a cinco centímetros dela. Mona continuara a correr atrás de Spencer até que conseguira alcançá-la, ameaçando jogá-la penhasco abaixo por uma razão que eu desconhecia – quer dizer, no fundo é claro que eu conhecia. Ela era –A e –A tinha ódio de todas nós.

Porém Spencer conseguira se desvencilhar, desequilibrando Mona em seguida, sem intenção. Estávamos todas em estado de choque, mas víramos quando Spencer tentara de fato segurar os pulsos de Mona, para evitar que ela caísse, o que fora em vão.

Ouvir o corpo de Mona atingir o chão, ao longe, fora como se cada osso presente em meu corpo se partisse. Eu despencara, de joelhos, no chão de terra batida, sendo amparada por Aria e Emily. Spencer também chorava de frente para mim.

— Eu tentei, Han – dissera-me ela, como se estivesse me pedindo perdão. – Juro que tentei puxá-la de volta.

Sem dizer nada, eu apenas a abraçara fortemente. Sabia que não havia sido culpa de Spencer. E, apesar de tudo, não conseguia sentir raiva de Mona. Apenas estava indignada, em negação. Queria minha velha melhor amiga de volta.

Já em uma área mais afastada da floresta, cercada por minhas amigas e por carros de polícia – depois que chamáramos por socorro –, eu não me atrevia a formular um pensamento. Me sentia vazia e tudo que queria fazer era ir para casa, tomar um banho quente e hibernar.

— Ela está viva! – dissera um dos oficiais de busca.

Com tais palavras, os pelinhos em minha nuca se arrepiaram. Viva. Por um momento, com o braço esquerdo de Emily ao meu redor, eu quisera sorrir.

— A vadia tem sete vidas – sussurrara Spencer, incrédula, para Aria.

Em seguida, eu sentira o sangue de Emily congelar, uma vez que estava recostada a ela, pois seu celular fizera um bip, seguido pelo resto de nossos celulares. Todas nós recebêramos a mesma mensagem de texto: Mona brincava com bonecas. Eu brinco com corpos. Durmam bem enquanto ainda podem, vadias. – A

 Uma vertigem descomunal me dominara e eu sentara ao meio-fio. As três outras garotas fizeram o mesmo. Eu largara o celular entre as pernas, no asfalto, por um momento achando que ia vomitar.

— Não pode ser – sussurrara Aria, a voz chorosa e quase nula.

Meu olhar se fixara em três paramédicos que carregavam Mona, envolvida em um emaranhado de tubos, para dentro de uma ambulância. Não havia jeito de Mona ter sido responsável por aquela mensagem em particular. Tal conclusão, por mais óbvia que pudesse ser, fizera meus ombros relaxarem.

Lembro-me vividamente também de quando Spencer fora me visitar, dois dias depois. Já era o segundo dia que eu passava comendo biscoitos de polvilho salpicados com o gosto salgado de minhas lágrimas. O sorriso simpático de Mona e o estilo patricinha que ela adquirira junto a mim no decorrer do primeiro ano não saía de minha cabeça.

— Han – Spencer dissera gentilmente, tocando meu ombro e se sentando ao meu lado em minha cama – , você tem todo o direito de ficar triste. Todas nós sabemos que Mona era muito importante para você.

Spencer falava como se eu estivesse chorando a morte de Mona.

— Sei que você ainda deve estar com muitas dúvidas – minha amiga prosseguira – e, embora eu me sinta do mesmo jeito, pode-se dizer que eu vim aqui hoje tentar clarear sua mente.

Eu passara as mãos pelo rosto úmido, atenta à Spencer, que sorria acolhedoramente.

— Naquela noite – ela começara a relatar –, enquanto eu estava naquele carro com Mona, indo para Deus sabe onde, eu perguntei o que levara ela a... fazer o que havia feito conosco. Se era algum tipo de revanche por nós termos mantido a amizade com Alison mesmo depois de saber do que ela era capaz. E... bem, Mona me respondeu apenas que você foi a única amiga verdadeira que ela teve e que nós roubamos você dela.

Spencer engolira em seco, na tentativa de dissipar o peso que as lágrimas davam a sua voz.

— Ela disse que, se eu desaparecesse – continuara, pausadamente –, o grupo ia se dissolver novamente, como acontecera depois do desaparecimento de Alison. E assim ela teria você só para ela, como antes.

Eu chorava ainda mais, sentindo certa falta de ar.

— Mas... se ela queria revanche... – eu gaguejava – se ela nos odiava tanto por termos sido amigas de Alison... como ela conseguiu esconder tamanho ódio de mim por tanto tempo?

Eu fitava Spencer em desespero, com os braços ao redor das pernas encolhidas. As lágrimas me queimavam os olhos.

— Spencer, você não entende – eu sentia claramente o esforço que toda a minha região abdominal fazia para deixar que as palavras saíssem. – Ela... ela era doce, tontinha e divertida. Ela me fazia bem. Nós... nós éramos amigas.

Spencer me abraçara, deixando que eu soluçasse.

— Eu não duvido disso – dissera ela, convicta. – Mas você ouvira a Dra. Sullivan ainda naquela noite, não é? Transtorno de hiper-realidade, Hanna. Isso significa que Mona não sabia distinguir qual de suas duas realidades era a verdadeira: se a boa, na qual ela era sua melhor amiga, ou se a má, na qual ela concentrava toda aquela energia vingativa.

Me desprendera de Spencer, esgotada. Eram todas palavras muito fortes para ouvir de uma só vez.

— Mona está doente, Hanna. E a boa notícia é que, com a medicação certa, ela pode melhorar. Porém nós sabemos que ela nem sempre fora assim.

— O que quer dizer? – eu havia parado de chorar e fitava Spencer, intrigada.

— Bem, acho que agora que as mensagens retornaram, é seguro afirmar que Mona não estava sozinha nisso tudo. É uma equipe, eu diria. A equipe –A. Ou você realmente achou que Mona tivesse superpoderes e fosse capaz de estar, efetivamente, em todos os lugares e de saber de tudo?

Spencer não me dera tempo para pensar em uma resposta.

— E, como toda boa equipe, esta possui um chefe. Um chefe que se aproveitou do ódio que Mona sentia por Alison, fazendo-a a proposta irrecusável de se vingar, e assim, fazendo a “Mona malvada” crescer, até que ficasse fora de controle – Spencer suspirara. –  Tudo é uma interminável teia de ódio e mentiras. Nós sabemos que Ali fora uma boa amiga, mas ela era muito mais sombria do que dizia ser. Encaremos a verdade agora, Hanna, nós não sabemos o que ela fizera para atrair tantos inimigos. Mas com certeza a lista vai muito além do negócio com a Jenna.

Ficáramos em silêncio ali por algum tempo.

— Uau – eu conseguira dizer, em um sorriso irônico. – Você disse ter vindo aqui para “clarear minha mente” e o que fez, ao invés disso, foi... – eu chacoalhara os dedos para indicar a Spencer o rebuliço mental que ela havia me causado até o momento.

Ela dera uma leve risada.

— Me desculpe. É que eu também estou uma pilha de nervos desde aquela noite.

— Tudo bem – abracei-a. – Para ser honesta, eu me casaria com esse seu cérebro.

Ríramos. Spencer tinha um olhar doce no rosto no momento.

— Tudo que estava tentando dizer é que acho que não é de Mona que devemos ter medo – ela tocara em uma mecha de meu cabelo –, pois de seu jeito maluco, Mona realmente amava você.

E as palavras de Spencer, afinal, me fizeram voltar a Rosewood High, parar de chorar em meus biscoitos de polvilho e, principalmente, estar aqui, agora, neste sanatório, esperando para rever minha melhor amiga.

 

 


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