Just Listen escrita por Lenora


Capítulo 15
Capítulo 13 - Centelhas


Notas iniciais do capítulo

Olá, Olá!
Quero agradecer os novos acompanhamentos (sejam-bem vindos, novos leitores!) e os lindos comentários que recebi no capítulo anterior.
Eu ia postar só amanhã, mas resolvi postar rapidinho pra vocês, espero que gostem!
Boa leitura!



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— Mi casa es su casa — disse Naruto ao abrir a porta. Sakura passou e logo foi seguida por Sasuke e Karin.

Não fazia muito tempo desde a última vez que estivera naquela sala, mas parecia que haviam se passado anos. Sentia seu coração apertar ao pensar em Kushina e Minato; por mais que a ruiva tenha prometido voltar, suas experiências anteriores não lhe deixavam relaxar.

— Meu pai deve ter deixado algo interessante na geladeira — o loiro foi para a cozinha, mas logo a rosada ouviu um barulho de objetos atingindo o chão seguido por várias maldições e palavrões. Ele não fazia nada certo — Merda! Chama a Karin pra mim, Sakura!

A Haruno em resposta apenas olhou para a ruiva, que a observava com uma sobrancelha erguida.

— Ele está te chamando — apontou para a cozinha antes de se sentar no sofá. Karin rapidamente foi até o outro cômodo ver o que o primo aprontava.

E esta foi a primeira vez no dia em que Sasuke e Sakura foram deixados a sós.

E ela não gostava disso.

E ela gostava disso.

Seu debate interno foi interrompido pelo barulho de seu celular.

Uma mensagem.

Ela nem precisava pensar muito pra saber quem mandara. Desbloqueou a tela e rapidamente colocou o celular para vibrar. Só a possibilidade de Naruto poder ouvir seu celular apitando a fazia se sentir culpada, como se estivesse fazendo algo errado.

Talvez realmente estivesse.

Sasuke: Qual é a ideia brilhante dessa vez?

Ela ergueu seus olhos, vendo-o olhá-la com expectativa. Sentindo suas mãos trêmulas mais uma vez, optou por apenas dar de ombros. Ela não fazia mesmo ideia do que o loiro queria.

Sasuke: Sabe, desde que começamos aquele esquema de sermos sinceros, tem uma coisa que eu quero te dizer.

Ela apenas assentiu em sua direção, incentivando-o a continuar, seja lá o que ele quisera dizer com aquilo, seu coração palpitava em ansiedade.

Sasuke: Naruto está apaixonado por sua amiga traça de livros

Sakura leu sua mensagem um par de vezes, tentando descobrir onde ele queria chegar com aquilo.

Sasuke: Ele sempre teve esse jeito mais solto com as outras pessoas, estão não pense algo fora da realidade ou vai se arrepender.

Sakura: Conheço Naruto antes de você.

Sakura: Acredite, eu sei como ele é. Sua preocupação é desnecessária.

Ele subiu os olhos e sorriu de canto.

Sasuke: Eu não disse que estava preocupado.

Sakura apenas rolou os olhos e abaixou o celular. Ela deveria se afastar dele, afinal ele era namorado de Karin, e a ruiva era sua amiga, certo?

Porém quando o telefone vibrou mais uma vez, ela não demorou dois segundos para tomar o aparelho em mãos novamente.

Sasuke: Chegou esse envelope com o seu nome.

Ela olhou para as mãos dele e viu o papel em suas mãos. Ela tinha um palpite do que se tratava aquilo, principalmente por ver o nome Haruno escrito.

Sakura: Pode jogar fora, não é nada importante

Sasuke podia sentir seus dedos coçarem para perguntar do que aquilo se tratava, mas se não gostava de outras pessoas se metendo em seus assuntos, ele não deveria forçar, certo?

Sasuke: Parece um convite, é bastante elegante

Sasuke: Tem certeza de que não é importante?

Sakura aproximou-se do moreno e tomou o papel de sua mão, guardando-o em sua mochila rapidamente. O Uchiha não se intrometeu mais, porém deu uma olhadela para a cozinha, percebendo que os Uzumaki estavam entretidos com o que faziam.

Sasuke: Pais podem fazer coisas realmente idiotas, não é?

Ela o encarou, não entendendo a mudança de assunto, quer dizer, ele não conhecia o nome de seu pai.

Sasuke: Eu deveria ter uns sete anos quando parei de verbalizar.

Aquilo lhe gelou o estômago. Por que ele tentava se aproximar mais quando tudo o que ela podia enxergar era tudo dando errado? Mas ela não conseguia simplesmente mantê-lo à margem.

Sakura: Por que parou?

Sasuke: Pode-se dizer que minha mãe é uma das melhores pessoas do mundo. Se existe um paraíso em algum lugar, tenho certeza que o lugar dela está lá reservado. Mas eu não posso dizer o mesmo do meu pai.

Sasuke: Depois que tive uma maldita meningite e fiquei surdo aos quatro anos, passei a estudar em casa e só depois de dois anos eu fui para uma escola especializada para surdos. Lembro que fiquei espantado ao ver as crianças se comunicando pelas mãos, afinal eu passei anos da minha vida sem poder conversar com qualquer pessoa.

Sakura não sabia o que dizer, apenas o olhava vez ou outra enquanto ele digitava interruptamente, mantendo uma expressão concentrada que não deixava transbordar qualquer sentimento.

Sasuke: Além dos sinais, a escola me reensinou a usar minha voz e também a ler. Quando a aula acabava, tudo o que eu queria era mostrar pra todo mundo o que eu havia aprendido, porque eu queria que alguém conversasse comigo. É por isso minha mãe e Itachi são tão fluentes em linguagem de sinais quanto eu, mas meu pai era ocupado demais para perder tempo com essas coisas, então quando era pra falar com ele, eu sempre usava minhas próprias palavras, porque eu queria que ele sentisse por mim o mesmo orgulho que tinha pelo Itachi. Só que eu não conseguia ouvir minha voz, e eu sei que pessoas surdas soam de um jeito diferente.

Sasuke olhou para a garota cujo olhar estava perdido na tela brilhante antes de enviar a continuação de sua conversa. Não sabia ao certo porque o fazia, mas queria que ela confiasse nele e, para isso, Sasuke pensava que teria que mostrar que ele confiava nela.

Sasuke: Fugaku não gostava de como minha voz soava, toda vez que eu tentava falar ele me pedia para parar, e então eu treinava mais com Itachi, para que eu parecesse mais normal quando usasse minha voz, mas sempre era a mesma coisa. Um dia, quando teve alguma confraternização da empresa, eu quis mostrar o que havia aprendido lendo uma matéria em que a companhia Uchiha tinha aparecido na primeira página do jornal, e escolhi bem o momento em que meu pai estava com o meu avô. Não sei bem o que Madara disse, mas deixou Fugaku muito irritado. Ele pegou no meu braço e me levou até despensa na cozinha e gritou comigo, não que eu tenha entendido muito bem o que ele disse, mas percebi que o envergonhava que outras pessoas soubessem que eu era surdo. Então como castigo por eu não obedecê-lo em parar de usar minha voz, ele me trancou naquele armário durante a festa inteira, no escuro.

Ela sentia as lágrimas quentes descerem sobre sua pele e teve de se esforçar para inalar o oxigênio que de repente havia se tornado tão pesado. Conseguia imaginar uma criança encolhida em um canto do ambiente escuro, esperando alguém aparecer.

Sakura: É daí que vem seu medo do escuro?

Ela pôde ouvir um riso sem humor da parte dele.

Sasuke: Acho que você pode chamar dessa forma.

Sasuke: É normal uma criança de seis ou sete anos não gostar de ficar sozinha no escuro, mas quando você não consegue escutar, passa a depender de outros sentidos, e não poder ver ou ouvir qualquer coisa era aterrorizante. Desde então eu procurei nunca mais dar razão para meu pai me colocar de novo naquele lugar e não falar em voz alta acabou por se tornar um hábito. Não é algo de que sinto falta.

Sakura então colocou seu celular no sofá e alcançou uma das mãos masculinas, entrelaçando seus dedos firmemente.

Pais eram realmente uma droga quando queriam.

— Tenho certeza de que ele está errado — pela expressão de Sasuke, a garota julgou que ele a compreendera o que seus lábios disseram, mas não entendera o porquê — Você deve ter uma voz muito bonita, eu gostaria de ouvi-lo algum dia.

Sasuke olhou os lábios rosados repuxados para o lado esquerdo do rosto em um pequeno sorriso. Não respondeu a sua afirmação, ou ao seu pedido, sabia que ela não esperava nada em troca. Encarou os verdes brilhante e apertou os dedos em torno dos seus. Nunca havia contado aquilo para Naruto ou Karin, mas sentiu poderia contar à garota, isso parecia certo.

Interrompendo o momento, Naruto, que havia acabado de colocar seus pés para fora da cozinha, foi direto até a frente do sofá, no qual os amigos estavam sentados – muito mais próximos do que estiveram antes – e ofereceu um copo a cada.

— O que é isso? — perguntou Sakura tentando identificar aquele cheiro desconhecido, já que não podia examinar a cor do líquido, já que o amigo havia posto a bebida em um copo colorido.

— Meu drink especial — sorriu abertamente — Espero que gostem, fiz com amor e carinho.

A Haruno olhou para Sasuke, que deu de ombros e levou o copo à boca. Ela olhou na direção de Naruto mais uma última vez antes de copiar o moreno.

Foi a pior decisão que já tivera.

Levantou-se correndo até a cozinha e cuspiu tudo o que quase ingerira na pia, sujando Karin no processo, que começou a xingá-la no mesmo instante. Depois de tentar tirar o sabor daquilo com água, foi até o Uchiha que se encontrava na frente da geladeira com a embalagem de leite sobre a boca e pegou a caixa de suas mãos.

— Puta merda, Sasuke! — ralhou o Uzumaki vindo até a cozinha novamente — Você sujou todo o tapete da minha mãe, seu filho da puta!

Sakura não sabia o que significavam aqueles sinais que o alvo do loiro fazia, mas tinha a impressão que metade eram palavrões, teria que pedir para que ele a ensinasse esses mais tarde.

— O que diabos você deu pra gente beber? — perguntou depois de ter bebido grandes goles de leite, Sasuke logo pegou de volta a caixa de sua mão para beber mais um pouco — Esse gosto não vai sair da minha boca nunca mais.

— Parem de drama, essa foi minha vingança por hoje cedo, seus ridículos — o loiro cruzou os braços enquanto ria para eles — Engraçado agora, não é?

— Ah, claro, seria realmente engraçado ver sua cara quando caíssemos duros no chão — ralhou com ele — Poderia ter nos matado, idiota.

— Vinagre e suco de maçã não matam ninguém.

— Você nos deu isso para beber?! — perguntou entredentes. Sasuke deu um passo adiante, ficando mais próximo do loiro.

— Eu? — apontou para si mesmo, inocentemente —Claro que não! Adicionei um toques de pimenta e uns ingredientes secretos também.

Sakura já estava longe demais para impedir o golpe que Sasuke desferira em Naruto, derrubando-o no chão. Vendo que não era necessária, pois o moreno parecia dar conta, virou-se para Karin, que encarava tudo aquilo do lado da pia, de braços cruzados.

— E você o deixou nos envenenar? — a ruiva deu de ombros.

— Tenho coisas mais importantes pra fazer do que ficar vigiando tudo o que Naruto faz, ainda mais porque esse idiota quebrou o vaso favorito da tia Kushina e eu tive que resolver isso — ela tornou a olhar o primo com um olhar zangado.

Depois de algumas agressões trocadas, Sasuke se levantou e foi para a sala. Karin olhou para o garoto no chão e suspirou, mudando sua atenção para Sakura.

— Por que não me ajuda com aquela roupa de sábado? — chamou ela, olhando para as escadas que levavam ao andar superior.

— O que é que vai ter no sábado? — perguntou Naruto ainda no chão choramingando.

— Se continuar assim, seu funeral — olhou rapidamente para a outra garota e subiu os degraus.

Quando chegou no quarto, Karin já estava acomodada em sua própria cama.

— Suigetsu me pediu para sair com ele — soltou de uma vez. Sakura sentou-se ao seu lado.

— E é isso que vai ter no sábado? — brincou a rosada, Karin lhe mandou uma careta irritada — O que você quer fazer?

— Não sei, estou confusa — respirou fundo, encarando os dedos entrelaçados em seu colo — Eu realmente gosto do Sasuke, ele sempre foi um ótimo amigo, o meu melhor amigo, mas não sei se isso não é o bastante agora.

— O que quer dizer? — Por mais que seu coração palpitasse pelo Uchiha, Sakura não torcia pelo rompimento da relação dele com Karin, só um pouco, queria que ele fosse feliz, ainda mais agora por saber de uma parte de seu passado. Ele merecia isso.

— Eu sempre fui apaixonada pela versão que eu criei do Sasuke, mas ignorei o fato de ele não ser a pessoa perfeita que eu tinha em mente — a ruiva olhou para Sakura, mas seus olhos nada absorviam, estava perdida em pensamentos — Eu sinto um grande carinho por ele, mas parece que, seja lá o que for que nos fez ficar juntos, está acabando.

A Haruno tomou algumas respirações para pensar no que dizer. Lembrou do casamento de seus pais e nas consequências que a persistência da mãe trouxera. Muita coisa poderia ter sido evitada se não fosse por isso.

— Eu não sei muito sobre relacionamentos, confesso, mas não acha que isso deveria acabar? — Sakura teve a atenção dos olhos castanhos — Adiar o término de algo que já foi bom não é legal, já vi isso acontecer e não terminou bem.

A Uzumaki mordeu os lábios. Seu lado teimoso, a menina de alguns anos atrás, insistia em continuar lutando para intensificar as centelhas, teimando em acreditar que a garota cor-de-rosa só dizia aquilo porque estava interessada em Sasuke, enquanto uma outra parte discordava totalmente.

O que fazer? O que fazer? O que fazer?

Jogar-se em algo novo ou se aconchegar no confortável?



Sakura se levantou, deixando a ruiva ruminar suas dúvidas sozinha. Sentia que, como uma amiga, havia cumprido sua parte. Disse o que realmente pensava, esperando que ninguém se magoasse com a situação.

Você quer isso.

Não seja uma mentirosa.

Mentirosa. Mentirosa. Mentirosa

Deu sua última tragada de oxigênio antes de virar-se para trás e dar à Karin seu último conselho, a partir dali não iria mais se intrometer, não seria hipócrita e dizer-lhe palavras vazias.

— Um dia Inoichi disse que em assuntos do coração a cabeça muitas vezes atrapalha, uma vez que nossos sentimentos não são racionais, e que se passássemos a pensar sobre eles, deixaríamos de enxergá-los com o coração e eles deixariam de se tornar sentimentos para se tornarem possibilidades do que poderia ter sido — riu sem humor — É meio cafona, mas às vezes faz sentido — e com isso foi embora.

A Uzumaki ficou por mais alguns instantes no quarto, mirando a parede enquanto revivia parte do passado ao lado de Sasuke. Ela sabia que precisava agir, Sakura estava certa sobre o erro de se prolongar algo que já não é certo, mas por que era tão difícil?

Ela sabia que Suigetsu era uma aposta arriscada, Um tiro no escuro, e sabia sobre o interesse que Sasuke tentava esconder sobre Sakura. Uma vez que escolhesse, não poderia voltar atrás.

Valeria a pena trocar o certo pelo duvidoso?

Ficou naquele quarto durante um bom tempo, meditando sobre ideias e possibilidades e, mais uma vez, teve que concordar com a rosada.

A razão realmente tornava tudo mais difícil.

Karin sempre se considerou uma pessoa corajosa, mas também sempre tivera um lado mais egoísta, agora cabia a ela descobrir qual dessas qualidades tinha mais peso no momento.

Para isso, ela tentaria. As coisas não poderiam continuar daquela forma.





— Muito chato, escolha outro — respondeu Ino sobre a escolha do livro do dia de Kiba. O garoto parecia nunca escolher algo bom ou decente o suficiente, não que ela gostasse muito desse passatempo dele.

— Por que você nunca concorda com as minhas escolhas? Nós perdemos mais tempo escolhendo livros do que tudo — ele bufou, arrastando os dedos pelas lombadas dos livros da biblioteca.

— Lógico! Você não enxerga, como quer escolher algo decente só de bater os olhos?! — reclamou batendo os pés no chão em movimentos ritmados. Por que Hinata não ficara em seu lugar?

Porque a Hyuuga não saía quebrando narizes alheios. Ela sabia.

— Que tal esse? — ele a entregou outro livro de capa dura, esse era mais pesado, o que significava maior trabalho, mas ao perceber que eram contos, logo se animou. Esses eram curtos!

— Pode ser, vamos nos sentar — ela lhe ofereceu o braço e ele segurou-a um pouco acima do cotovelo. Lembrava-se da primeira vez em que o garoto se segurou nela e ela logo tratou de espantá-lo, em resposta ele lhe disse que, já que não enxergava, precisava que ela o guiasse pelo caminho.

Isso parou de ser estranho um tempo depois.

Quando se sentaram, Ino segurou o livro e analisou bem a capa. Era um livro de contos, como observara antes, porém havia deixado um detalhe passar.

Não, não eram contos eróticos – não havia aquilo na escola, apenas na sala de Kakashi, como vira quando fora visitá-lo –, esses pareciam ser infantis.

— Os Contos de Hans Christian Andersen? Sério? — perguntou ela, ele sorriu ao perceber o tom de voz dela.

— Por que não? — deu de ombros, fazendo pouco caso.

— Ainda acho que você está mentindo sobre ser cego e que na verdade foi uma criança que nunca aprendeu a ler — resmungou ao abrir o livro e passar algumas páginas que julgou inúteis enquanto Kiba gargalhava ao seu lado.

— Você é divertida, tenho que admitir — ela olhou para seu rosto, enxergando suas íris castanhas mirarem sem foco em sua direção. Se não fosse por esse detalhe, ela diria que sua suposição estaria correta.

Quer dizer, o cara fazia qualquer coisa! Ela não conseguiria se imaginar sem os olhos.

— Como é não poder enxergar? — Antes que pudesse se conter, as palavras escorregaram de sua boca e acabaram por estacionar bem sobre seus ombros. Kiba parou de rir e ergueu um pouco a cabeça, inclinando-se na direção que julgou ser onde ela estava. Depois de pensar por alguns instantes, ele deu de ombros e respondeu.

— Poderia te perguntar como é poder enxergar. Sou assim desde que me lembro, então é algo normal pra mim — a forma descontraída com que Kiba tratava as coisas a deixava mais confortável, fazendo a culpa evaporar.

Conversar com Kiba era fácil.

— Não consigo me imaginar no escuro — disse ela, o Inuzuka soltou uma risadinha sem graça.

— Tenho certeza que você se sairia muito mal sendo cega — ela lhe acertou um tapa e ele passou a rir mais alto. Ino achou engraçada a forma com que ele, mesmo sem enxergar, era a pessoa mais risonha que ela conhecia.

— Tem alguma coisa que você gostaria de ver? — Kiba pensou por um minuto e só depois passou a subir suavemente seus dedos pela pele alva da garota, parando suas digitais na base de seu pescoço e chegar seu rosto para mais perto dela, passando a sussurrar.

— Os peitos das garotas — e riu um pouco mais alto quando Ino o empurrou de volta a seu lugar.

— Pervertido — ralhou ela, tomando um pouco de espaço entre os dois.

— Não sei — disse ele depois de finalmente voltar a seriedade — Seria bom ver as garotas, claro, mas sempre quis conhecer as cores, principalmente as do céu — Ino observou o garoto e pensou no valor que dava para as coisas tão simples como olhar para o céu.

Sentiu um bolo de culpa subir por sua garganta.

As pessoas geralmente dão valor a algo que não têm e ignoram as pequenas coisas ao seu redor.

— Você não tem nenhuma noção das cores? — perguntou curiosa, tentando esquecer aquela culpa amarga. Repassou as palavras de Tenten em sua cabeça; sabia que a garota tinha exagerado, mas não havia mentido.

— Não muito, é difícil entender esse tipo de coisa quando não se pode ver, mas eu busco associá-las a coisas que eu conheço. Como por exemplo associar o azul à água ou o amarelo ao sol, mas eu realmente gostaria de ver as cores e compará-las com as sensações que me trazem.

Ino não conseguiu ignorar o quanto se sentia mesquinha e egoísta perto de Kiba, por isso decidiu por encerrar o assunto e voltou seus olhos para as páginas amareladas em seu colo.

— A rainha das Neves — começou, observando-o arrumar-se melhor no assento — Primeira história: que trata do espelho e dos seus fragmentos.





Quando retornou à sala, encontrou os garotos revesando a posse do controle do videogame do loiro em frente a grande televisão da sala. Ela nunca vira Naruto tão concentrado na vida, ele ao nem ao menos piscava ao olhar para o personagem que massacrava todos os seus inimigos.

Sentou-se ao lado de Sasuke e encostou a cabeça que pesava sobre os ombros no encosto do sofá, mantendo seus olhos fechados. Podia sentir o estômago retorcer-se e suplicar pelo alimento que ela se recusava a dar, tinha medo do ponteiro da balança tornar a subir e alimentar o ego do monstro que se mostrava no espelho.

Feia. Feia. Feia. Feia. Feia. Feia. Feia.

Ela não precisava que as verdades fossem escarradas em sua cara.

Saber que ela nunca seria bonita o bastante a machucava ao ponto de evitar passar por perto de qualquer superfície em que pudesse ver aquela figura repugnante. Ela sempre se acovardava perante ao mostro que a perseguia do outro lado.

Feia. Feia. Feia. Feia. Feia. Feia. Feia.



Sasuke olhou para o lado, observando a garota tomar respirações profundas, e percebeu o quão pálida Sakura se encontrava. Ao encostar de leve em sua pele, para perguntar se estava tudo bem, sentiu o quanto ela estava fria, porém, quando foi alcançar o celular na mesa de centro para mandar-lhe uma mensagem, percebeu um chamado impresso na tela.

Respirou fundo e se levantou, foi até Naruto e tocou-o, para que ele pausasse o jogo para dar atenção ao que o Uchiha dizia através dos sinais de mãos.

Sakura não sabia sinalizar, isso não era nenhuma novidade, mas pelo contato que teve, sabia reconhecer a presença do nome de Karin nos dedos de Sasuke.

Não queria alimentar qualquer centelha de esperança maldita, afinal sabia que independente da opção do casal em se manter firme ou não, ela não queria se envolver. Mas ela a sentia lá.

Quando os dois rompessem, talvez um dia ela e Sasuke pudessem ter algo a mais, se conhecerem melhor sem o empecilho da culpa. Ela sabia que era horrível pensar aquilo naquele momento, mas não se conteve. As coisas iriam melhorar.

Talvez um dia. Talvez um dia. Talvez.

Acompanhou a figura masculina seguir até a escada e depois de uns minutos descer por esta, só que desta vez acompanhado da garota de cabelos vermelhos que lhe entrelaçava os dedos. Sakura pôde perceber que a feição sorridente da garota à presença do rapaz, que logo a puxou em direção a porta, para que saíssem de vista.

E assim que o fizeram, ou achavam que tinham feito, a Uzumaki o enlaçou pelo pescoço, juntando seus lábios em um beijo que lhe deu vontade de vomitar. A ruiva então puxou Sasuke pela mão e o levou pela rua, desaparecendo pouco tempo depois.

O que diabos havia acabado de acontecer?

Sakura tornou a encostar no sofá, alheia aos olhares que o loiro mandava em sua direção, e ficou ali até que acabou por pegar no sono, enquanto se imaginava pisoteando com golpes violentos todas as fagulhas até que se extinguissem. Acordou somente quando Naruto a chamou após atender o telefone.

— Tia Mikoto disse que preparou um bolo e está nos chamando para comer — ela ficou olhando a mão estendida do amigo durante um tempo e depois se levantou, ignorando a ajuda, indo em direção à porta sem fazer qualquer comentário, seguida pelo loiro.

Antes de entrarem na residência vizinha, Naruto segurou-lhe pelo braço enquanto coçava a nuca com a outra mão.

— Olha, já está escuro e eu não faço a mínima ideia para onde Sasuke e Karin foram, então não comenta nada sobre eles, tá legal? Mikoto é bem legal, mas ela continua sendo mãe — sorriu amarelo — A neurose vem pré instalado de fábrica — A outra apenas suspirou e abriu a porta.

— Isso não é problema meu — seguiu até a cozinha e viu a mulher cortar o doce para retirar um pedaço para o filho mais velho, que mal esperou o prato tocar a mesa para saborear mais uma das receitas de Mikoto.

— Mamãe pode ficar fora o quanto quiser se tiver comida assim todos os dias — comentou Naruto ao sentar-se apressado e capturar um pedaço do prato do outro com seu garfo — Está uma delícia!

Mikoto riu feliz pelo comentário. Era difícil receber elogios naquela casa onde todos os que herdaram o gene Uchiha pareciam ter uma aversão a doces, o único que tinha uma tolerância maior era Itachi, mas este quase não ficava em casa, sempre ocupado com a faculdade e o trabalho.

Mudou sua atenção dos garotos que devoravam tudo, para observar a garota que, em garfadas tímidas, comia o bolo vagarosamente, para então, depois de terminar, pegar mais um pedaço, só que dessa vez um pouco maior.

Talvez tenha imaginado coisas, no fim de tudo, porém não se deixou levar por achismos e continuou a vigiar a menina através de rápidas olhadelas. E foi num desses rápidos olhares que viu, não muito tempo depois, Sakura terminar seu segundo pedaço e pedir licença, saindo rapidamente da cozinha.

Prevendo o que estava por vir, Mikoto esperou alguns minutos e refez os passos da garota e parou na porta do banheiro mais próximo, onde imaginava que ela estaria.

E acertara.

Sakura estava de joelhos no chão, enquanto seus dedos molhados de saliva lhe serviam de apoio para a cabeça que estava praticamente dentro do vaso sanitário, retirando de seu estômago o que o alimentara momentos antes.

Quando por fim acabou, Sakura se apoiou em seus calcanhares e passou a palma da mão sobre o rosto, limpando tanto o suor que lhe gelava a pele quanto as lágrimas que sujavam o rosto. Após tomar algumas respirações profundas para se controlar, finalmente ergueu-se e, quando ia em direção a pia, deu de cara com a mulher que a encarava com uma expressão mista de reprovação e pena.

Não conseguiu se mover, apenas sentiu o coração bater acelerado devido ao susto e por ter sido pega.

Droga, por que tudo tinha que a ver com ela dava errado?!




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Notas finais do capítulo

É, eu sei, eu sei.
Sei bem o que vocês queriam, mas esperem, não me matem! Capítulo que vem tem musiquinha para descrever esse momento e, provavelmente, teremos um pouquinho da história da Sakura.
Digam-me o que acharam ;)
Beijos!