Leanne

Era muito para absorver em uma única mensagem de voz. Eu não tinha tempo de lidar com isso agora, aquela voz dizia que Kaira estava com problemas e eu precisava encontrá-la. 

Eu não fazia ideia de como começar a busca. Tinha uma sugestão no fundo da minha consciência que me dizia para falar com meu pai, mas eu não estava pronta para a carga emocional que viria com o nosso próximo encontro. 

Procurei pela casa de Kaira alguma coisa, qualquer coisa que pudesse me ajudar a encontrá-la. Haviam livros e mais livros, mas não continham nada realmente útil. Um dos livros continha vários encantamentos de invocação de seres sobrenaturais e talvez esse poderia ser útil não da forma que eu queria mas que era necessária. 

Meu pai havia falado o nome “Castiel" no telefone. Quando eu era criança ele sempre contava histórias e nelas, vez ou outra, aparecia um Castiel no meio. Considerando tudo o que vinha acontecendo nos últimos meses, Castiel provavelmente era um anjo e muito real. 

Procurei no livro a parte de invocação de anjos e encontrei sem muita dificuldade. O problema mesmo seria encontrar os ingredientes para a magia. 

Kaira era uma senhora bruxa, então se eu procurasse bem, talvez encontrasse tudo o que precisaria ali mesmo. Sai andando pela casa atrás de algum porão ou sala secreta que ela esconderia seus artefatos mágicos. Kaira era possivelmente a bruxa mais inteligente e poderosa do mundo, logo, ela não deixaria uma “sala secreta” de fácil acesso para qualquer um arrombar sua casa e entrar. 

Me surpreendi quando, sem mais opções, decidi procurar no lugar mais obvio: a dispensa. E em uma prateleira separada estavam diversos vidros com coisas estranhas e nomes estranhos. Kaira podia ser a melhor bruxa do mundo mas ainda era uma mente velha no corpo de uma super modelo. 

Tentei pegar um dos vidros e minha mão foi bloqueada por uma barreira invisível - estava fácil demais - me lembrei de uma vez que vi Kaira abrir uma barreira como aquela em sua casa para pegar um livro na prateleira da sala. Ela havia desenhado o símbolo saleziano que tinha no meu pulso com seu próprio sangue e apoiado sua mão em cima. 

Tive um pouco de problema com a parte do “próprio sangue” porque não queria me cortar mas não houve outra alternativa. Desencantei a barreira e peguei tudo o que o feitiço pedia. 

Preparei todo o ritual, recitei o encantamento e ateei fogo na bacia onde os ingredientes jaziam, com uma explosão alta um homem apareceu dentro da fumaça causada pela explosão.

— Você deve ser Castiel - comecei sem enrolação - meu nome é Leanne, e eu vou salvar a Kaira. - engoli em seco enquanto ele se virava calmamente, um pouco confuso com tudo o que acontecera. Assim que me viu abriu um sorriso. 

Sam

Castiel me levou até o galpão onde escondiam Kaira. Foi fácil para ele encontrar a fonte da mensagem que estava sendo transmitida em baixa freqüência apenas aos seres sobrenaturais. Kaira não era flor que se cheire mas era uma amiga e por mais que eu estivesse furioso, ela ainda precisava de ajuda.

O galpão ficava em um local abandonado, não havia nada por perto. O máximo que se ouvia eram os grilos e o som alto de meus próprios pensamentos. 

— Não consigo entrar. - anunciou Castiel. - há selos de proteção contra anjos em todos os lados. Você vai ter que entrar sozinho, Sam. - ele concluiu - Você consegue?

— Que pergunta é essa? É lógico que eu consigo. Eu passei mais tempo na minha vida sendo caçador do que qualquer outra coisa. - afirmei.

— Eu sei, mas já faz algum tempo…

— Não se preocupe comigo. Quando entrar posso tentar anular os selos e você entra também. - Castiel assentiu.

Observei o galpão lotado de vampiros e fiquei imaginando o que faria. Já na porta haviam dois vampiros de guarda. Separei uma seringa com sangue humano para neutralizá-los e tomando coragem me aproximei de um dos guardas e coloquei em seu pescoço metade do líquido vermelho. O vampiro caiu no chão imobilizado, o outro vampiro viu o que aconteceu e partiu para cima de mim. 

Nós dois caímos no chão e a seringa voou de minhas mãos. Eu precisava encontrá-la logo e impedir que avisassem aos outros da minha chegada. Com um pouco de luta corpo a corpo consegui jogar o vampiro longe o suficiente para pegar a seringa de volta e colocar em meu bolso. Dessa vez, eu fui para cima do vampiro e quando estive perto suficiente, injetei o sangue humano nele, o neutralizando também. 

Respirei fundo me recuperando da adrenalina. Castiel talvez tivesse razão, eu estava um pouco enferrujado. 

Entrei no galpão e me escondi atrás dos pilares para obter o elemento surpresa. Estava tudo escuro, provavelmente porque vampiros enxergam tão bem no escuro quanto no claro. Já eu nem tanto. De canto a canto procurei por Kaira, quando finalmente a encontrei no canto de uma sala escura, amarrada e machucada. Não posso negar que isso me atingiu, afinal Kaira era a saleziana mais forte que já existiu, se ela foi pega, como eu não seria? Tentei manter minha mente longe disso e pensar em um jeito de sair logo de lá. 

— Kaira - corri ao seu encontro largando o facão que carregava como arma para decapitar os vampiros se necessário. - Eu vou te tirar daqui. - disse firme. Kaira resmungava alguma coisa por debaixo da mordaça de pano que haviam colocado nela. Ela parecia muito impaciente. Assim que consegui tirar o pano de sua boca, ela falou, gritou na verdade:

— Sai daqui, é uma armadilha.. SAM!! - ela gritou pouco antes de eu sentir um baque atrás da minha cabeça e apagar.

Narrador

Matthew passara a noite em claro tentando evitar os sonhos. Desde que saíra da prisão saleziana havia tendo esse tipo de sonho. Era como se entrasse em outra dimensão e parecia muito real. Os salezianos eram muito poderosos de modo que podiam te enfeitiçar sem que se quisesse e que percebesse. Matthew acreditava que era isso que acontecia com ele. 

Ja desistira de tentar pedir às Salezianas que o ajudassem, era perda de tempo. Ele já aprendera a conviver com isso mas desde que passou no cemitério e encontrou aquela garota entre as lápides os sonhos se tornaram mais frequentes. Ele tinha certeza que já tinha a visto em um desses sonhos, queria encontrá-la de novo mas não sabia como. 

Aquela noite em particular havia encontrado com a garota, mas, no sonho, ela parecia muito longe. Havia algo sombrio a envolvendo, Matthew tentou alcança-la e salvá-la mas foi interrompido por algo que o despertou.

Assim como todos os outros seres sobrenaturais, Matthew sentira a energia emanada de Grand Island, NE, tinha certeza que era uma saleziana. Aquele poder só podia ser de um saleziano. Essa era sua única chance. Preparou todo o equipamento caçador e saiu a procura do saleziano.

De madrugada, tomou o maior cuidado que pôde para conseguir se aproximar do centro da energia, ele sabia que vários outros sobrenaturais estariam atrás disso. Ter um saleziano seja devendo um favor ou capturado era extremamente valioso. 

Se aproximou do galpão onde conseguiu ouvir ardida, uma voz feminina.

— O que estão esperando? Não querem me matar? - ela gritava enfurecida. - Novidade para vocês, garotos, eu sou imortal - então uma risada doce emergiu. 

— Já que você é imortal podemos ter uma fonte eterna de sangue fresco e mágico. - vozes masculinas disseram - além de um conteúdo extra, não? Assim, nos sacia de todas as formas possíveis. Muito obrigado. - a mulher amarrada no chão gritou enfurecida. - Pode gritar o quanto quiser, aqui ninguém irá te ouvir, gracinha. 

Matthew observou o local e a mulher machucada e suja no chão. Reconhecia ela, era Kaira, estava na mesma prisão que ele em Salém, vez ou outra trocavam olhares. Tudo o que sabia sobre ela era que era a prisioneira mais perigosa e poderosa da prisão saleziana. - Se conseguisse salvá-la talvez ela lhe concedesse um favor, pensou Matthew, e finalmente acabaria com os sonhos que o perseguiam.

Xx

— Mas que beleza, hein Samuel. - Kaira começou quando percebeu que Sam retomara a consciência. - que belo caçador você. - ela jogou para cima dele. - Era muito difícil ter um plano? - Sam passava a mão onde havia recebido a pancada, não estranhou seus dedos saírem um pouco avermelhados de sangue. Ele grunhiu reclamando da dor. 

— Oi para você também, Kaira. - Sam disse cínico. - Não recebo nem um obrigada por vir te salvar? 

— Você não me salvou de nada, não devo agradecimento nenhum - ela respondeu. - por favor, me diz que você tem um plano B. - Sam desviou o olhar. O plano era tirar os selos para Castiel entrar mas nem isso havia feito.

— Então… não estava contando com isso - Sam gesticulou para a sala vazia - nos meus planos. 

— Você é uma decepção, Samuel. - Kaira concluiu. 

— Ei, vocês dois, calem a boca! - ordenou um vampiro que estava de guarda na porta da sala que os prendia. 

— Vem aqui me calar - Kaira rosnou. O vampiro entrou na sala e se aproximou de Kaira. Ela cuspiu em seu rosto e ele lhe proferiu um soco no estômago. Kaira se curvou sobre sua mão emitindo um grunhido baixo de dor.

— Não importa se você é mulher ou qualquer outra coisa, ainda é prisioneira aqui e vai seguir nossas regras. - o vampiro disse baixo e ameaçador enquanto Kaira tossia sangue.

— Você será o primeiro que eu vou matar. - disse Kaira com raiva. O vampiro riu e voltou a seu posto. 

— Quanta maturidade. - Sam debochou. Kaira lançou um olhar de ódio para ele como resposta. 

Passado algum tempo ouviu-se um barulho alto. Como uma explosão, e uma névoa de poeira preencheu a sala. 

— Sam - Kaira sussurrou - olhe ali. - Sam olhou onde Kaira havia indicado. - tem alguma coisa brilhando, acho que é um pedaço de vidro ou uma faca. Tenta pegar, aproveita que ele está distraído. 

Sam obedeceu, pegou a faca com a boca e entregou-a nas mãos de Kaira. Do lado de fora da sala, ouvia-se barulho de luta, alguns vampiros estavam gritando por reforços e o vampiro que estava de guarda estava considerando se deveria deixar os dois prisioneiros ali e ajudar os outros. 

Kaira não conseguiu soltar sua amarra pois estava encantada para impedir seus poderes. Entretanto, ela conseguiu soltar a de Sam que era uma corda comum. Kaira só conseguiu tempo para soltar a amarra das mãos de Sam antes que o guarda se virasse para eles.

— Ei, o que estão fazendo? - Kaira que tinha a faca na boca virou o rosto para um lado para pegar impulso e lançou a faca acertando perfeitamente o coração do vampiro. A faca não deveria ter muito efeito sobre o vampiro mas serviu para causar um choque momentâneo suficiente para desnorteá-lo. Em seguida um facão passou pelo seu pescoço decapitando-o. 

Kaira e Sam paralisaram por um momento sem saber quem tinha decapitado o vampiro. Aliado ou inimigo.. Matthew apareceu na porta com o facão coberto de sangue. 

— Precisam de ajuda? - ele perguntou apoiando o facão no ombro e sorrindo. 

— Eu ia matá-lo! - Kaira vociferou.

— Acho que você não estava nas melhores condições para fazer isso. Se quiser coloco a cabeça de volta e te dou o facão. E se perguntarem eu digo que você o matou. - ele piscou para Kaira. 

— Engraçadinho.

Matthew se aproximou e cortou a corda que ainda prendia os pés de Sam. Depois ele se aproximou de Kaira tentando sem sucesso cortar a corda dela.

— Obrigado - Sam agradeceu o garoto que assentiu.

— Você não vai conseguir soltar. - Kaira disse - precisa anular primeiro o selo de prisão aqui no chão. - Sam olhou para o chão que estava normal e não entendeu onde estava o selo - não dá parar ver, Sam, precisa de…

— Pronto. -  Matthew disse após fazer uma rachadura nos locais exatos que anulavam o selo. Cortou a corda de Kaira e deu passagem a ela. 

— Quem é você? - Kaira perguntou curiosa pela habilidade do garoto. 

— Considere um amigo antigo. - Matthew sorriu com o termo usado. Antes de se levantar completamente, Kaira tossiu sangue de novo. - Você perdeu muito sangue? - Matthew perguntou. 

— Não consegui medir mas pelo menos três vampiros se alimentaram de mim. - Kaira contou. - ainda estou meio fraca mas consigo me virar. - Ela disse tentando se levantar mas pisou em falso e cairia se Sam não a tivesse pego. 

— Eu ajudo você - Sam disse. - Nem adianta recusar. - Sam apoiou um dos braços de Kaira em seu pescoço e a ajudou a andar. O barulho no andar debaixo do galpão não parou um segundo sequer. - Onde estão os vampiros? Ninguém veio aqui ainda - comentou Sam - tem mais alguém com você? - Ele quis saber. 

— Não exatamente - Matthew disse coçando a cabeça - não sei quem é, nem consegui ver por causa da explosão que causei mas ela disse que estava aqui para salvar Kaira então não questionei e vim ajudar vocês enquanto ela ficou cuidando dos vampiros. 

— “Salvar" … - Kaira revirou os olhos - a maioria dos seres sobrenaturais que vem aqui para me “salvar" querem me pegar e usar de alguma outra forma. Não duvido que essa seja mais uma. 

— Depois lidamos com ela. - afirmou Sam - precisamos sair daqui primeiro. - Matthew e Kaira assentiram. 

Assim que saíram da sala para o corredor encontraram com dois vampiros indo em sua direção. Não havia para onde fugir senão correr mais fundo  se distanciando da escadaria que os levaria para o andar de baixo e assim à saída. 

— Kaira, onde está a faca que você encontrou no chão da sala. - Matthew perguntou rápido. - está embebida em sangue de defunto. 

— Usei para atirar no vampiro que guardava a sala.. como sabia que…

— Eu coloquei ela lá para você encontrar.

— Mas como? - Kaira perguntou insistente. 

— Precisamos de outra coisa para nos proteger, só tenho esse facão e você deixou minha faca lá. - Matthew revirou os olhos. 

Assim que o primeiro vampiro se aproximou, Matthew tentou acertar-lo com o facão sem sucesso. O vampiro desviou antecipando o golpe e atingiu Matthew com força jogando-o para trás. O facão escorregou para os pés de Sam. 

— Sam, eu to bem, pode ir. - Kaira disse. - Ajude ele. 

— Tem certeza? - Sam perguntou. 

— Tenho.. agora vai. - Sam pegou o facão e foi de encontro ao outro vampiro. 

O corpo do vampiro o qual estava com a faca no peito estava a poucos metros atrás de outro vampiro. Kaira precisava passar por ele para pegar. Estava menos fraca do que antes mas ainda estava sem poderes por causa dos selos. Entre ficar parada esperando ser salva por um dos dois, e correr e tentar pegar a faca, a segunda opção se fez a melhor consideravelmente. 

Kaira tomou fôlego e foi ao encontro do terceiro vampiro que vinha em sua direção. Sem arma alguma enfrentou o vampiro corpo a corpo. Quando Kaira tentou lhe dar um soco no rosto, o vampiro segurou seu pulso puxando para o lado, como ela previu. Kaira usou da posição em que estava para bater com força em seus dentes com o cotovelo. O vampiro a soltou levando as mãos a boca que sangrava. Kaira aproveitando o momento chutou seu estômago jogando-o para trás. Ela correu e pegou a faca do coração do vampiro decapitado. 

No meio tempo, Sam conseguiu decapitar com muito esforço o vampiro que enfrentava, e Matthew estava no chão tentando manter o vampiro em cima dele o mais longe possível de seu pescoço. Kaira se aproximou desse e enfiou a faca nas costas do vampiro que caiu paralisado no chão. Ela estendeu a mão para Matthew que aceitou e a agradeceu.

— Estamos quites. - Matthew disse.

Ele tirou a faca do vampiro e deu a ela. 

— Acho que pode ser mais útil para você agora, depois você me devolve. - Kaira aceitou.

Os três olharam para o fim do corredor onde tinha a escada e viram mais vampiros subindo. Algo em torno de seis, visíveis. Antes que pudessem ver mais, seguiram pelo corredor até chegar no final. Não havia saída, o corredor terminava em uma torre de sino. Um pequeno espaço para andar em volta do sino estava suspenso no alto e abaixo haviam várias cordas envolvendo o sino. Não havia chão senão o gramado misturado a madeira velha no chão, ou seja, era uma grande queda.

— Essa não. - Sam engoliu em seco vendo que não havia saída senão pular ou ficar e lutar. - A queda é muito alta, não dá pra pular.

— E quem disse alguma coisa sobre pular? - Kaira disse limpando o sangue já seco nos lábios - eu só saio morta ou vitoriosa daqui. - Ela disse confiante. 

— Eu também - Matthew disse apontando o facão para os vampiros que se aproximavam. Ele tinha medo mas não desistiria. Sam aceitou a escolha dos dois e se preparou para lutar também. Os três sabiam que estavam exaustos e que a probabilidade de vitória era ínfima mas nenhum deles desistiria antes de dar tudo de si.

Assim que os vampiros os alcançaram a luta recomeçou. Kaira foi a primeira a cair no chão. Deu tudo de si mas estava realmente fraca por conta do sangue perdido. Sam conseguiu empurrar pelo menos dois vampiros para a queda abaixo do sino antes de se distrair com Kaira no chão e também ser golpeado se juntando a ela. Matthew foi o último a cair, decapitou três vampiros até que o alfa apareceu e o derrotou também. Nenhum deles morreu mas ficaram no chão enquanto outros vampiros os amarravam. 

— É lindo como vocês tentam mesmo sabendo que vão perder. - o alfa disse. - é admirável mesmo. Essa força toda… - ele considerou - me faz até pensar em transformá-los em vampiros. 

— Não! - Kaira gritou - eu te castro antes que coloque suas presas em mim. - o Alfa gargalhou. 

— Você seria a primeira, Kaira, mas tem mais valor se lhe dermos aos demônios puros. - Kaira enrijeceu com a menção dos demônios puros. Ela sabia que de todos os cenários ruins possíveis ali, estar com os demônios puros seria o pior. - Não é tão bravinha assim, não é? - ele tocou o queixo dela e ela virou o rosto rápido. 

O alfa continuou falando mas Matthew se distraiu olhando para cima. Viu Leanne escondida em cima do sino com o dedo nos lábios indicando que deveria fazer silêncio. Ela tinha outro facão em mãos. Leanne indicou o alfa e apontou para os próprios olhos e depois para baixo, um sinal que Matthew compreendeu bem. Leanne queria que o alfa olhasse para baixo e assim ela cortaria sua cabeça. 

Haviam outros vampiros ao redor do sino mas se o alfa morresse era muito provável que os outros vampiros fugissem. 

— Então… me conte de novo porquê você sequestrou Kaira? - Matthew chamou a atenção do alfa. 

— Ela é valiosa, não só seu sangue mas os demônios puros acabaram de entrar em contato e disseram que querem ela, em troca de nossa proteção no novo mundo deles. - disse um dos vampiros.

— Hmm.. não sei se você sabe mas.. demônios mentem. - Matthew debochou - você acha mesmo que eles vão lembrar de vocês, um grupinho no meio da legião de escravos que eles vão ter? 

— Eles disseram que por ela, eles nos dariam o que quiséssemos. - outro vampiro disse. 

— Quieto! - o alfa o censurou -  não vê o que esse caçador está fazendo? Quer nos confundir. Não dê ouvidos a ele. - O alfa se aproximou de Matthew. - Já que você se interessa tanto em saber da mentira dos demônios puros, vou levá-lo junto e lhe dar de presente. Mais uma alma para eles consumirem será um bom presente, ainda mais se for um caçador imundo como você. Mas… - ele andou até Sam - Melhor que um caçador seria levarmos dois. - o alfa encarou Sam. - Ainda mais se for um Winchester. - Cuspiu a palavra. Matthew mediu a distância que o alfa estava e calculou que estava na direção de Leanne. 

Ao seu lado, havia um buraco no chão de madeira velho. Nesse buraco, Matthew jogou o celular que estava no bolso para fazer barulho. O alfa se assustou por ter uma audição aguçada. Ele se aproximou da beirada da madeira que separava o pequeno corredor seguro da queda e morte certa, e olhou para baixo procurando a origem do barulho. Leanne saltou de cima do sino e com o facão em punho acertou perfeitamente a nuca do alfa decapitando-o. 

Assim que a cabeça do alfa caiu no chão metros abaixo, Leanne se virou para os outros vampiros com o facão em mãos. Alguns vampiros tentaram atacá-la e outros fugiram. Os que tentaram atacá-la acabaram ou decapitados ou mortos caídos juntos da cabeça decapitada do alfa abaixo do sino. 

Sam estava boquiaberto. Estava ali o tempo todo e não imaginava que o “ela" referido por Matthew fosse Leanne. Leanne era apenas uma garota, uma criança e acabara de decapitar o alfa dos vampiros. - Sam pensou - Ele nem percebeu que prendeu a respiração até que o ar lhe faltou. 

— Pode parar de babar, Sam. - Disse Kaira baixinho só para ele - Então.. quem é que não estava pronta para saber, mesmo?

Leanne tinha sangue respingado no rosto e nas roupas, ela limpou o facão antes de utilizá-lo para cortar a corda primeiro de Matthew, depois de Kaira e enfim de Sam. 

— Obrigado. - Matthew começou - achei que nos encontraríamos de novo, mas não nessas circunstancias, senhorita sem nome. - Leanne riu lembrando que não havia falado seu nome da ultima vez que se encontraram no cemitério.

— Pode me chamar de Leanne. - Leanne sorriu - da próxima vez vamos tentar não nos encontrar no cemitério nem em situações de quase morte, sim? - Leanne se aproximou de Kaira para livrá-la das amarras - então, a aprendiz superou a mestre?

— Nunca. - Kaira respondeu. - te vejo amanha às 5 da manhã. - Leanne fez uma careta. - Obrigada, Lee. - Kaira agradeceu e lhe deu um abraço quando ficou livre. 

Por último e mais dificil, Leanne se aproximou do pai para cortar suas amarras. Sam ainda estava vislumbrado com o que Leanne fizera, havia um misto de orgulho e horror. Orgulho por ter salvado eles e horror por ver sua filha daquele jeito. Sam não conseguia parar de pensar em como ela estava parecida com Alanis. 

Os dois se olharam por alguns segundos como se se vissem pela primeira vez, um analisou o outro demoradamente até que Leanne apenas soltou suas amarras e se virou. Leanne sabia que Sam guardava um segredo, também achava que ele não sabia sobre ela ou sobre qualquer coisa sobrenatural quando, na verdade, ele estava ali, enfiado bem no meio de tudo. 

A cabeça de cada um estava muito confusa, não se sabia quem sabia o que mas uma coisa era clara: Sam era quem escondera o maior segredo ali. Não havia palavras para começar o diálogo então o silencio se perdurou entre eles. 

— Você me deve um celular novo. - Matthew disse para Leanne enquanto caminhavam lado a lado já saindo do galpão. 

— Você não tem intimidade suficiente para ficar pedindo coisas de mim. - Leanne respondeu brincando.

— Você acabou de salvar minha vida, acho que não tem como ter mais intimidade do que isso. - os dois riram. - aliás, já que não tenho celular vou precisar do seu número para quando precisar ser salvo de novo. 

— Boa… - Leanne elogiou - desde que possamos trabalhar melhor nossa mimica, foi ótimo como fizemos lá mas tive que repetir umas três vezes até você entender - ela disse rindo. 

— Então haverá uma próxima vez? Hã? Trabalharemos juntos…

— Quem sabe, não nasci pra isso - ela deu de ombros. - sou uma saleziana e não matadora de vampiros. 

— Mas se saiu muito bem. Aliás, chama-se caçador e não matador de vampiros - Matthew a corrigiu rindo. 

— Ah, então é isso o que você é.. Imagino que seja por isso que estava no cemitério com a pá aquele dia? - perguntou curiosa. 

— Sim, mas vamos deixar essa historia para outro dia. Sou um caçador - ele repetiu - assim como Sam. - ele indicou Sam conversando ao lado de Kaira. Leanne deu de ombros. - Qual o problema? O cara nem te agradeceu por salvar a vida dele, não gosto de caçador que não é humilde o suficiente para aceitar que foi salvo, eu sei que ele é um Winchester mas…. 

— Ele é meu pai. - Leanne disse rápida. Matthew ficou boquiaberto com a confissão mas não disse nada sem saber ao certo o que dizer.

— Kaira, e agora? - Sam perguntava pela terceira vez para Kaira - Como será as coisas entre mim e Leanne?

— Sam, eu te disse milhões de vezes para contar antes. Não deveria ter sido assim. Muito menos daquele jeito como vocês dois agiram quando ela te soltou. Não trocaram uma palavra sequer.

— Eu fiquei irritado demais para falar… - Kaira se virou e colocou o dedo na cara de Sam antes de falar.

— Você não tem nenhum direito de ficar irritado com ela. Ela, sim, tem direito de se irritar com você. 

— Ela correu muito perigo, Kaira. - Sam confessou sua preocupação.

— Essa é a vida dela agora você querendo ou não. E é melhor você querer porque quanto mais ela souber mais chances terá de sobreviver quando algum inimigo seu - Kaira bateu no peito de Sam - do passado surgir. 

— Acho que você pode ter razão. - Sam se rendeu. 

— E quando eu não tenho? Vocês vão precisar tirar isso a limpo, chegou a hora de conversar direito com ela, a conversa que deveria ter acontecido há pelo menos 10 anos. 

— Eu vou contar tudo. Agora não tenho mais para onde fugir.

— Bom mesmo - Kaira disse dando um soco em sua barriga. - Cabeça dura!

Todos se despediram. Matthew pediu para conversar com Kaira e por isso foram para a casa dela. Leanne e Sam forma juntos para casa sem trocar uma palavra sequer. O silêncio mortal consumia a mente gritante dos dois. Para quem observava a cena só podia constatar: todo o silêncio ali seria compensado com muita gritaria quando a verdade surgisse a tona.