Rotten Soul escrita por Sially


Capítulo 16
O mistério da sociedade do café


Notas iniciais do capítulo

Olá!!! Como vocês estão?
Esse capítulo demorou mais do que eu esperava, mas finalmente consegui finalizar.
Eu tinha uma história em mente e precisava colocar tudo, ou a maior parte dela. Ficou difícil de finalizar porque eu tive que parar antes do previsto.
Mesmo cortando antes do esperado, o capítulo ficou longo. Não tinha como cortar antes, as informações eram muito essenciais e vocês vão entender o porquê ao longo do capítulo.
O próximo capítulo vai ser um pouco mais movimentado e não pretendo cortar nenhuma parte então talvez fique longo também. Espero que mesmo assim, vocês apreciem cada palavra e detalhe do capítulo.
Antes de lerem, quero deixar uma frase no ar...
Nada acontece por acaso.
Boa leitura



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/572512/chapter/16

Kaira

Eu sabia. Eu definitivamente estava certa. Claro que estava certa, já me viram errar algum palpite? Eu sabia o que estava acontecendo com Leanne. 

Depois de jogar Leanne dentro do lago congelado, me sentei no chão aguardando ela perder a consciência. O frio faria seu lado “negro" lutar para se manter no controle mas uma hora seu coração iria começar a diminuir as freqüências cardíacas e ceder para a hiportemia. 

Assim que Leanne afundou, usei magia para fechar qualquer buraco pelo qual ela pudesse sair, assim seja o que for que estivesse dentro dela usaria metade da força para se manter aquecido e metade para arranjar um meio de respirar. Como eu previ, ela quebrou o gelo com algum encantamento de fogo, entretanto seu corpo já estava adormecendo e tentando evitar a hipotermia. 

Nessa hora eu a peguei e levei-a para minha casa, já inconsciente. Tomei os cuidados necessários para curá-la e a deixei no sofá enrolada em vários cobertores evitando a hipotermia. Levaria algumas horas para se aquecer e finalmente acordar, sua energia era sugada quase completamente quando ela entrava nesse estado mais subconsciente e sombrio. Sentei em minha poltrona ao lado de onde coloquei Leanne e peguei um livro para pesquisar mais sobre o que eu havia descoberto. 

Passado às 10pm meu telefone tocou e eu o atendi.

— Kaira, Kaira.. Leanne está com você? Ela saiu daqui, eu não sabia como impedir e imaginei que ela fosse ai. Achei mais seguro você estar por perto caso alguma coisa acontecesse, afinal você tem poder e eu não… Kaira? Kaira está ai? - Sam gritava desesperado.

— Seu idiota. - foi a única coisa que consegui dizer. 

— O quê? - ele perguntou. 

— Eu disse para contar tudo para Leanne e o que você fez? - perguntei irônica - Mandou a garota para mim desmemoriada às 9pm. Você perdeu a cabeça, Samuel? E se no meio do caminho aquele demônio a encontrasse? O que você faria? Nada, aparentemente. - descarreguei minha raiva em cima dele. - Não tinha como a impedir? Que tal o fato de ela ser, eu não sei.. SUA FILHA!!

— Kaira…

— Não quero ouvir, eu só pedi para você contar a ela sobre seu passado e nem isso você fez. Ela tem o direito de saber, ainda mais agora que está entrando nessa vida. Eu não posso e não vou encobrir essa sua mentira para sempre.

— Ela não está entrando nessa vida. Ela nunca será uma caçadora. - Sam disse convicto. Dentro de mim havia uma guerra interna sobre contar ou não para Sam o que eu havia descoberto sobre Leanne. 

— Ela está mais enfiada nesse mundo do que você. Não sei se você sabe, mas ela é uma bruxa.. tã dãaaa - ironizei. - você pode ter escondido a verdade por 19 anos mas um dia ela vai descobrir e se não for por você será de algum jeito bem pior. 

— Kaira, diversos humanos vivem muito bem sem saber sobre o mundo sobrenatural. Além do mais, ela é só metade bruxa. - Sam dizia como se tentasse se convencer.

— Samuel Winchester, o fato de ela ser uma bruxa já é suficiente para ela não ser considerada humana. Aceite isso! Aliás, ela sabe sobre o mundo sobrenatural, ela não sabe sobre você.

— Ela não pr…

— Chega de desculpas. Só me ligue quando Leanne souber de tudo e faça isso rápido, se não eu contarei. - E então desliguei o telefone. Aquela história já havia se prolongado demais. Eu sabia que demoraria para Sam contar a Leanne, só não achei que levaria quase 20 anos. Leanne precisava saber, para sua própria segurança, Sam conseguiu formar uma boa quantidade de inimigos. 

 

 

Além do problema com Sam, que não deveria ter se tornado grande caso, havia um problema maior que eu precisava lidar. Eu ainda estava atordoada demais pelo que havia descoberto sobre Leanne. Não sabia como, nem onde e nem quando começou mas definitivamente Leanne estava tomando sangue de demônio. 

Essa era minha grande teoria e ela foi muito bem comprovada após os acontecimentos no lado congelado. A probabilidade maior era de que o sangue que ela tomava estava naquele café horroroso. Tomando de pouquinho em pouquinho todos os dias, era tão letal quanto qualquer outro veneno. 

Não sabia exatamente o que fazer com essa informação. Ela precisaria se desintoxicar e eu não sabia se o corpo dela suportaria, o de Sam não havia suportado. - Droga - praguejei alto e joguei o livro de minhas mãos longe, tentando, junto, descarregar minha raiva. - apoiei meu rosto nas mãos e respirei fundo - Eu estava irritada demais. Irritada por Leanne estar tomando sangue de demônio, irritada por eu não ter descoberto antes, irritada por Sam não ter contado, irritada pela impotência que eu tinha sobre toda a situação. Na verdade, eu estava furiosa e pela primeira vez, sem saber o que fazer. 

Tentei me acalmar e peguei o amuleto que havia dado a Leanne mais cedo. Ele havia queimado ela por causa do efeito do sangue de demônio no corpo dela. No momento, era provável que o sangue ativo no organismo tenha diminuído então o amuleto deveria funcionar. - coloquei o colar em sua mão e me certifiquei de que não houvesse nenhuma reação. Confirmado, coloquei o amuleto em seu pescoço.

Já havia passado algumas horas e Leanne ainda não acordara então decidi levá-la para casa. Deixei um bilhete em seu bolso da calça jeans:

 

“Você adormeceu em meu sofá após o treino. Te levei para sua casa. Não teremos treino amanhã.” 

— Kaira

 

Cancelei a aula do dia seguinte. Eu precisava pensar em algo para resolver o problema do sangue de demônio. Voltei caminhando para casa, já era tarde da noite mas não me importava, não era como se eu não conseguisse me defender. O caminho todo minha cabeça ficou vagando em todas as possibilidades cabíveis para salvar Leanne. 

Andando, me lembrei que Leanne dissera que comprava café no caminho das aulas, ou seja, eu deveria passar em frente ao lugar. Observei os estabelecimentos a minha volta até encontrar alguma coisa que se parecia com uma cafeteria e finalmente encontrei. Estava fechado. 

Eu já estava quebrando todas as minhas regras de ética, essas últimas semanas, sobre nunca mais usar magia, então abri mais uma exceção. Usei um encantamento simples para destrancar a porta, não fiquei surpresa quando a mesma não se abriu. Se era lá que estavam dando sangue de demônio para ela, eles não deixariam que um simples encantamento fosse suficiente para entrarem no estabelecimento. 

Tentei alguns outros feitiços silenciosos, por causa do horário, mas nada. Já estava ficando irritada, e com um misto de: medo de não conseguir mais ser a Kaira de antes, desespero para salvar Leanne, raiva por não conseguir desencantar uma simples barreira, acabei destruindo a porta a chutes estrategicamente posicionados nos pontos fracos da porta. Se feitiços não funcionavam, os métodos antigos deviam funcionar.

Eles funcionaram. Assim que pisei para dentro da cafeteria me arrependi no mesmo instante. Eu definitivamente não era a mulher cautelosa e inteligente de anos atrás - Burra - xinguei a mim mesma. 

As paredes começaram a se iluminar com linhas e escritos em roxo que formavam símbolos para uma armadilha contra salezianos. O lugar estava cheio dessas armadilhas e eu estava perdida. A cada segundo que passava, mais símbolos brilhavam nas paredes, chão, teto e qualquer outro lugar em que se podia desenhar. Se fosse apenas um símbolo que me prendia, eu conseguiria me livrar em alguns minutos mas eram dezenas, talvez centenas de símbolos. 

Há alguns anos, eu seria capaz de resistir às armadilhas em pouco tempo mas na atual circunstância, com pouca prática de magia, eu levaria horas. Se conseguisse. Era questão de minutos até que algum demônio aparecesse. 

Como uma última tentativa de me salvar, emiti uma energia através do meu corpo em uma freqüência tão simples e baixa que as armadilhas não reconheceriam como magia. Não era fácil fazer isso mas como a própria Primeira Saleziana disse, eu era a saleziana mais forte que já existiu, além da imortalidade que me deu vários anos de aprendizado e alguns truques na manga.

Assim que parei de usar meu poder completamente, como uma greve interna, essa energia era emitida quando eu tinha emoções mais fortes, eram como feitiços que transcendiam do meu corpo mesmo eu não comandando. Minha magia era forte o suficiente para fazer isso, e de uma lado demonstrava o quão forte eu era mas por outro essa energia era sinônimo de rastros.

Ao longo dos anos, aprendi a mexer nessa magia de baixa freqüência e usava para me divertir um pouco com os guardas da minha cela em Salém. Eu podia usá-la para mandar mensagens, atordoar outros seres sobrenaturais e até fazer encantamentos simples de confusão mental.

Emitindo essa energia, todos os seres sobrenaturais ao meu redor, inclusive os quais me escondi por anos, foram avisados da minha presença e minha esperança era de que fosse alguém um pouco mais bondoso que demônios puros. 

A energia carregava uma mensagem silenciosa, mas poderosa:

— Venham me pegar. - 

 

Leanne

 

Acordei na manhã seguinte com o despertador tocando. Me lembrava apenas de algumas coisas da noite passada, fui até a casa de Kaira, já tarde, e lá conversamos, chegamos a treinar e só me lembro até ai. Já estava cansada de acordar sem saber o que acontecera comigo no dia anterior. Odiava ficar inconsciente, e, estranhamente, isso estava sendo mais frequente do que eu gostaria.

Tirei meu cobertor de cima de mim e percebi que estava de calça jeans. Eu nunca dormia de calça jeans. Me sentei na cama e cocei os olhos tentando espantar o sono. Me levantei e troquei de roupa.

Quando tirei a calça jeans senti um bilhete no bolso de trás, era um recado de Kaira. Assim que o li fiquei aliviada, eu gostava de treinar mas precisava de um descanso. Passei a mão em meu colo e percebi o colar com o amuleto mágico de Kaira, fui lembrando mais do que acontecera.

— Bom dia, pai. - disse quando avistei-o andando sonolento pela casa. Ele acenou rapidamente antes de entrar no banheiro. 

Eu teria o dia todo livre, era até estranho, já havia acostumado com os treinos matinais de Kaira. Era sábado, por volta de 8 da manhã, decidi não perder o ritmo e fui correr com Nala ao redor do quarteirão. Me programei para passar na cafeteria e tomar meu café, mas quando cheguei ao lugar estava com uma porta improvisada de plástico e haviam policiais lá dentro averiguando e analisando o lugar. Encontrei o homem que geralmente ficava no caixa sentado em uma das mesas respondendo as perguntas dos policiais. 

Mesmo com a faixa amarela e preta, me aproximei, aquele lugar já era muito pessoal para mim. 

— Leanne!! - disse o homem quando terminou de responder às perguntas. 

— Derek, o que aconteceu aqui? - perguntei assustada. 

— Ninguém pode entrar aqui, senhorita, vou pedir que deixe o local. Não viu as faixas cercando o local? - um dos policiais me perguntou. Nala ao meu lado rosnou. Tentei repreendê-la.

— Me desculpe por ela. Já vou sair. - informei. Me voltei para Derek - Então, o que aconteceu? - Nala rosnou novamente, dessa vez mais direcionado a Derek - Nala! É o Derek, ele nos dá café. 

— Tudo bem, Lee, explico tudo lá fora. Podemos estar meio caindo aos pedaços mas consigo fazer seu café. - Derek disse gentil - faço essa exceção para você.

— Muito obrigada, Derek. - agradeci. Derek preparou meu café e fomos para a área externa. 

— Parece que invadiram a cafeteria, não conseguiram pegar o dinheiro. Acho que fugiram quando o alarme tocou. Só sei que a polícia não encontrou ninguém. - Derek disse triste. - Talvez tenha sido algum animal mas acho improvável, a porta da frente foi quebrada a murros parece, embora ache que nenhum humano teria forças suficientes para isso. - Derek contou,

— Meu Deus, Derek, mas se foi alguém ou alguma coisa que destruiu a porta, não deixou rastros ou sangue? - ele negou com a cabeça. - O que você acha que é? - perguntei. 

— Olha, um cara muito estranho passou aqui hoje. Dizia ser do FBI e ficou perguntando sobre anomalias no bairro e no dia a dia da cafeteria. Ele me pareceu bem estranho e com certeza não era um agente do FBI. Pensei que poderia ter sido ele, e agora tentava descobrir se sabiam dele mas realmente, não sei, Leanne. Essa é a única teoria que eu tenho. - Assenti, analisando cada palavra contada na história de Derek. Nala rosnou novamente. Não entendia porque Nala rosnava tanto para ele. Preferi não continuar ali, Nala era um Husky Siberiano, sempre atacava quando se sentia ameaçada. 

Algumas pessoas tinham áureas que não combinavam com suas reais personalidades, ou as personalidades que transpareciam. A áurea de Derek era um marrom bem escuro, o olhar da sua imagem astral era pura malícia e carregava um certo tipo de luz falsa. Como estava treinando bastante, o poder das áureas estava melhorando e eu conseguia decifrar com mais precisão as pessoas, por isso podia dizer com certeza que aquela luz no olhar do Derek fantasma era falso. Era como se a áurea dele quisesse mostrar a mim o quão errado as aparências poderiam ser. Essa era minha interpretação, mas eu ainda não conhecia todo os tipos de áureas. 

Derek tinha essa áurea estranha mas era uma das melhores pessoas que já conhecera. Muito simpático, até deixava eu pegar comida que faziam a mais na cafeteria para dar aos moradores de rua. Ele me contara que antes de trabalhar na cafeteria havia se voluntariado para ajudar as família no Haiti e estava juntando dinheiro para ir à África. 

Me despedi de Derek e percebi que mesmo hoje, no meu dia de folga, precisaria falar com Kaira. Talvez ela tivesse alguma ideia do que atacou a cafeteria. Pelas descrições parecia muito algo sobrenatural e quando estive lá senti uma energia estranha, quase como algo meio mágico, talvez até saleziano. 

Decidi passar na Kaira mas tarde. Antes eu visitaria o túmulo de Alanis. Com esse tempo a mais, por causa do dia de folga, poderia passar mais tempo com ela. 

 

Sam

Leanne estava a cada dia se parecendo mais com Alanis e isso me deixava feliz e preocupado ao mesmo tempo. Quando mais parecida com Alanis ela fosse, mais seria curiosa e iria atrás do perigo. Só que dessa vez, Leanne viveria. Não deixaria Kaira mexer com a cabeça dela a ponto de convencê-la a fazer o mesmo que Alanis fez. 

Eu me lembro bem da discussão que tivemos algumas semanas antes.

“ - Sam, a escolha era de Alanis e não sua! - Kaira disse para mim. 

— Você esteve esse tempo todo persuadindo ela com magia, ensinando e treinando ela como um porco para o abate. Eu sabia que tinha um propósito nisso tudo. Você não faria nada de graça, Kaira. 

— Samuel, ela era minha melhor amiga. Acha que eu queria ensiná-la? Ela me implorou para treiná-la. Eu nunca quis que ela tentasse quebrar a porcaria da maldição.

— Você devia tê-la impedido, Kaira! - gritei para ela - Você sabia o que a maldição era capaz de fazer, você é o exemplo perfeito disso. - me virei de costas tentando controlar algumas lágrimas de raiva - Você tem ideia do que foi ver Alanis me deixar com Leanne dizendo que iria se encontrar com você para treinar um tal de feitiço que esconderia Leanne da maldição, e dois dias depois receber uma ligação dela se despedindo só para que eu corresse para salvá-la. Você tem ideia do desespero que eu passei deixando Leanne com meu irmão para ir atrás de Alanis e impedí-la?

— SIM, SAM, EU SEI. - Kaira gritou de volta. - E você? Tem ideia do que foi ver sua melhor amiga implorar na sua porta para ajudá-la a treinar e ser forte o suficiente para quebrar a maldição  e salvar o amor da vida dela e sua filha? Tem ideia? 

Eu já perdi meu amor e meu filho, eu conheço essa dor. - Kaira disse fria e por um mísero segundo me arrependi do que disse a ela - Se havia uma pequena possibilidade de alguém quebrar essa maldição, esse alguém era Alanis. Ela tinha tudo necessário para quebrar a porcaria da maldição mas no último segundo ela mudou tudo, na verdade, revelou tudo. Ela sabia de tudo - Kaira suspirou se lembrando - Não imaginava que ela estivesse preparando seu próprio sacrifício para anular a morte sua e de Leanne. Sequer sabia que era possível. Me sinto horrível por ter participado disso. - ela confessou triste - Alanis disse que se eu soubesse a verdade antes não a ajudaria.

Ela tinha tudo planejado, Sam, ela disse que se eu não a ajudasse me trancaria com uma armadilha feita sob medida para mim. Eu diria que a treinei bem até demais. 

Alanis, preparou cada passo do plano dela. Ela sabia que precisaria da minha ajuda, uma vez que eu tinha alterado a maldição séculos atrás, ela precisaria do meu sangue para criar uma brecha. 

— Kaira, eu não preciso reviver isso. - disse nervoso. - já basta ter estado lá.

— Precisa sim, Sam, precisa sim. Você precisa saber toda a verdade que Alanis nunca contou. - então Kaira voltou a contar - Ela sabia que morreria da mesma forma que sua mãe morreu. Queimada no teto tentando defender Leanne do demônio que a atacaria. A parte da morte já estava pronta, ela só precisava te tirar de perto de Leanne. Então ela ligou e disse o que você precisava ouvir para ir até ela. Assim que você saiu de casa, ela entrou e encantou Dean, ele nunca soube de nada. - no fundo, eu sempre coloquei um pouco da culpa em Dean, Leanne era responsabilidade dele. - Alanis preparou tudo, reforçou cada encantamento de proteção em Leanne, e um pouco antes de morrer ela enfiou uma adaga com meu sangue em seu próprio coração e recitou a maldição alterando algumas partes para que ela morresse e vocês sobrevivessem. 

Ela me pediu para te esperar e explicar tudo mas eu não conseguiria olhar nos seus olhos depois de tudo o que eu fiz. Ajudei-a a te enganar. Me desculpe, Sam.. eu… - Kaira não conseguiu terminar de falar. As lágrimas daquela memória queimavam bem mais que meus olhos. Abriam uma ferida que por anos escondi. - Depois disso, eu finalmente cortei qualquer relação minha com a magia. Era a segunda e última vez que ela me tirou alguém que eu amava.

— Obrigado por contar. - meu punho estava fechado de raiva. Nada se comparava a dor que senti quando cheguei ao local que Alanis supostamente estava e não a encontrei. Voltando para casa, a encontrei morta nos braços de Dean. Leanne chorava muito. Eu não consegui dizer nada a Dean, apenas o expulsei da minha vida sem mais explicações. 

— Sam.. - Kaira voltou a dizer - Alanis sabia que ela não poderia quebrar a maldição. Ela viu. Inclusive, acho, até, que ela viu quem vai quebrar a maldição. - Kaira fez uma pausa como se considerasse se valia a pena mesmo continuar com o que tinha em mente. - Leanne é muito especial, Sam. Ela quebrou padrões que nunca foram quebrados por salezianos. Como se esconder por mais de 6 anos de qualquer criatura sobrenatural. Eu acho que Alanis só conseguiu se sacrificar e anular a maldição de vocês porque Leanne ficou em seu ventre por 9 meses e deixou um pouco da magia dela. - Eu não queria que ela continuasse a falar, eu sabia onde aquela conversa chegaria. - Sam, Leanne.. - Kaira engoliu em seco. 

— Não, Kaira. - quase gritei. - Você não vai fazer com Leanne o que fez com Alanis. Eu não vou perdê-la. Não vou deixar que você encoste nela!! - gritei furioso - é por isso que tem se aproximado de mim? Para chegar a Leanne? Deveria ter imaginado. Desde aquele dia em que nos conhecemos no bar em Londres. Você planejou tudo, não é mesmo?

— Não, Sam.. eu nunca faria isso - ela gritou de volta - Eu não sabia quem você era, assim como você, eu estava abalada demais por causa de Alanis e precisava de uma bebida. Você sabe, assim que descobri sobre você me afastei. - ela se defendeu - Sam.. só.. só não deixe o sacrifício de Alanis ser em vão. - ela disse mais calma.

— Não será em vão. Porque eu protegerei Leanne de qualquer coisa, inclusive de você se for necessário. “

 

Depois disso, só vi Kaira quando Castiel me avisou sobre ela e foi quando tudo recomeçou. A magia, os demônios, os perigos, e eu deixei. Deixei tudo se apoderar aos poucos da minha vida novamente. A única coisa que eu realmente sentia falta não retornou: Dean. Desde a morte de Alanis, não tenho o visto. Na época culpei Dean pela morte de Alanis, eu só queria alguém para culpar. Ele tentou se explicar diversas vezes até que desistiu e não nos vemos desde então. Vez ou outra Castiel aparecia, dava notícias de Dean, pegava alguma coisa que precisava e sumia.

A bronca de Kaira não saia de meus pensamentos.  Ela não tinha o direito de contar nada a Leanne, era meu passado. Leanne, não podia saber de nada porque quanto mais ela soubesse, mais ela descobriria sobre… o sangue, e todas as outras coisas horríveis que eu já fizera. É um motivo egoísta, eu sei, mas esse não é o único motivo. Geralmente, se você sabe sobre o sobrenatural, o sobrenatural te procura. - Ela já sabe sobre o sobrenatural, ela não sabe sobre você— disse uma voz no fundo da minha cabeça, estranhamente ela soava como Kaira.

Fiquei um bom tempo treinando vários diálogos mentais com Kaira. Quando percebi que qualquer argumento que eu desse seria inteligentemente quebrado por Kaira desisti de pensar, elaborei apenas as ideias e liguei para ela. Chamou uma, duas, quatro vezes e nada dela atender. 

— Agora, você não quer atender, não é? - resmunguei sozinho. Depois da segunda tentativa falha de ligar, decidi deixar uma mensagem na caixa postal. Minhas horas pensando no que falar para ela não seriam desperdiçados. - Kaira - comecei - pensei muito sobre tudo o que você falou e Leanne não está pronta para saber a verdade. Você não tem o direito de contar a ela. É a nossa vida e você sempre interfere em tudo, primeiro na minha vida com Alanis e agora com Leanne. Antes de tudo, eu falei que não queria Leanne nem perto dessa maldita profecia então…

— Acho que ela não vai responder. - Uma voz próxima de mim se manifestou. Pulei com o susto e me virei para encarar o dono da voz.

— Castiel? - eu disse confuso com o telefone ainda em mãos 

— Sam, Kaira mandou uma mensagem. - ele disse direto. Engoli em seco. Kaira nunca usaria Castiel para mandar alguma mensagem, mas se ela fizera isso, algo estava muito errado. - Ela está com problemas. 

 

Leanne

 

Depois de visitar minha mãe, dirigi até a casa de Kaira. Queria saber se o que havia acontecido no café tinha alguma coisa a ver com esse mundo sobrenatural. Estacionei em frente aos degraus de sua casa e estranhei ao ver que a casa estava estranha e vazia. Havia uma janela quebrada e a porta estava semiaberta. 

Entrei devagar e alerta a qualquer coisa que pudesse aparecer e me surpreender. O lugar estava revirado, móveis para todos os lados e livros jogados no chão. Peguei um pedaço grande de vidro que estava no chão junto aos outros pedaços estilhaçados da janela. Usei-o de arma e me certifiquei de que meu amuleto estava pendurado em meu pescoço, me protegendo. Andei pela sala, pela cozinha, fui até seu quarto mas não encontrei nada. Desci as escadas e me sentei no sofá da sala pensando no que faria. Algo não estava certo ali. 

Olhei ao redor e meus olhos capturaram a luz vermelha que piscava vinda do telefone de Kaira. Havia uma mensagem de voz - talvez fosse Kaira explicando o que acontecera - pensei. Apertei o botão das mensagens e esperei.

— Primeira mensagem de voz: - disse a voz computadorizada de mulher no telefone.

"Kaira, pensei muito sobre tudo o que você falou e Leanne não está pronta para saber a verdade. Você não tem o direito de contar a ela. É a nossa vida e você sempre interfere em tudo, primeiro na minha vida com Alanis e agora com Leanne. Antes de tudo, eu falei que não queria Leanne nem perto dessa maldita profecia então… Acho que ela não vai responder…. Castiel? … Sam, Kaira mandou uma mensagem. Ela está com problemas.”

— Fim da mensagem de voz. - a voz computadorizada concluiu. 

Era muita informação para absorver. A única certeza que eu tinha era que eram duas vozes e uma delas eu conhecia muito bem: a voz do meu pai. 

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Eai o que acharam?
Por favor, não deixem de comentar. Esse capítulo teve bastante informação e fiquei com medo de não ter sido muito clara, qualquer dúvida podem perguntar.
Obrigada por lerem e até o próximo capítulo.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Rotten Soul" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.