Os Filhos de Umbra escrita por Rarity


Capítulo 25
Capítulo Vinte e Cinco: 1993 -485 dias antes


Notas iniciais do capítulo

Antes que vocês leiam e tirem suas próprias conclusões dessa psicanálise da Analícia: ela não é a vilã da história, ela é uma criança com problemas que a mãe ignorou e só percebeu tarde demais. Ela tem sua culpa em suas ações, mas no final ela era uma criança que também não merecia morrer.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/572473/chapter/25

Capítulo Vinte e Cinco: 1993 -485 dias antes

Não é da morte que temos medo, mas de pensar nela.

Sêneca

26 de Julho de 1993

Se alguém me perguntasse como eu acabei caçando supostas fadas no quintal de Berenice na tarde de Vinte e Seis de Julho de 1993, eu diria que foi tudo um sonho e que você não viu nada.

Estamos chegando ao final de minha vida e ao final desta história –mas não fique triste. Acredite, por mais rápida que minha vida tenha sido, minha morte conta várias outras histórias e ela ainda nem acabou. Entraremos em dias mais sombrios daqui pra frente, portanto, vamos nos despedir de minha inocência com um bom e engraçado conto enquanto você pega um lanchinho. Nada continuará o mesmo depois disso.

Naquele dia em específico, uma segunda feira próxima do final das férias, decidimos passar o resto de tarde com Analícia e Berê, já que não tínhamos nada melhor pra fazer e Maria nos mandou sair da TV e “aproveitar as férias”. Se vocês se lembram bem, quando eu sugeri aproveitar as férias, nenhum adulto me ouviu, mas tudo bem. Serviu para que saíssemos do fort que criamos no meio da sala com travesseiros e lençóis e deixássemos a pobre Lerina assistir um pouco de jornal –ela ficava uma fera se não soubesse do que estava acontecendo, dizia que Sococó da Ema já era isolamento demais. No fim, a casa de Belle ficou chata e Analícia sugeriu que aproveitássemos o Jumento Voador enquanto podíamos.

—Eu estou com preguiça. –Mel reclamou enquanto a puxávamos rua acima, ela quase deitando no chão de sono.

—O que você estava fazendo que ficou a noite toda acordada? –perguntei a vendo cair sobre Belle.

—Lendo. –ela respondeu sonolenta. –Peguei na biblioteca da escola para as férias.

—Ok, acho que você está oficialmente banida do grupo. Foi bom te conhecer, Mel. –Leo falou solenemente.

—Um dia você vai perder essa língua, Leo. –Pablo avisou. –E você nem vai poder fazer piada depois.

—Tão agressivos....

—Você vai se animar até chegarmos lá em casa, Mel. –Analícia mudou de assunto, já cansada de ouvir o bate-boca dos meninos. –Eu tenho várias bonecas.

—Sem bonecas, por favor. –Henrique pediu. –O Pedro é mole e o Pablo tem uma irmã, eu e o Leo não suportamos bonecas.

—Eu não sou mole.

—E eu consigo brincar sozinha. –Dete afirmou, saindo do silêncio em que ela se colocou desde que saímos, parecendo apreciar a paisagem. –Pablo é quem gosta de brincar comigo.

—Ei!

—~Olhaaaaa só Pablo —Leo cantarolou, e eu gemi em frustação. Eles só parariam amanhã com as piadinhas.

—Eu já queria voltar de qualquer forma. –Analícia contava ao meu lado enquanto eu tentava fazer as crianças pararem de brigar. –Deixei um dente ontem debaixo do travesseiro e não tive a chance de ver se a Fada do Dente pegou.

—Fada do Dente? –Emily torceu o nariz. –Você ainda acredita nisso?

O mundo pareceu parar para Analícia.

—Como assim? É lógico! É ela quem pega os dentes!

—Analícia. –Emily começou bem séria, como um médico a dar a notícia de um óbito. –Fada do Dente não existe.

Analícia arfou, parecendo horrorizada. Suas mãos foram parar no peito como se ela estivesse controlando seu coração e logo ela vinha rápido cobrir a boca de Emily como que para impedi-la de continuar, quase suando com a força de se levantar na meia ponta.

—Se você falar isso, uma fada morre! –ela exclamou assustada. –Não pode falar isso.

—Analícia, isso é uma historinha. –Mel continuou. –Só uma lenda para as crianças. Você sabe disso, não?

—É. Tipo Papai Noel e Coelhinho da Páscoa. –Leo falou.

—Coelhinho da Páscoa? Mas nós fizemos a caçada dele esse ano! –ela bateu os pés.

—Analícia, quem esconde os ovos são nossos pais. –contei como quem fala o tempo, já que era senso comum.

—Não! –ela cobriu a boca como quem não podia acreditar.

—E quem compra os presentes de Natal são nossos pais. –Pablo acrescentou.

—Mas minha mãe não iria poder comprar todos os presentes! –Analícia rebateu.

—Analícia, ela compra os seus presentes. –Mel explicou. –É assim que funciona.

Analícia começou a andar em círculos, os cabelos loiros se revirando em seus ombros quase que como se sentissem a raiva dela.

—Não! Não pode ser! E querem saber, eu vou provar que fadas existem! –ela afirmou, cruzando os braços ao olhar pra gente. –Nós vamos capturar uma fada hoje.

Eu e meus amigos nos entreolhamos, cada um com uma cara de desespero. Mesmo quando voltamos o olhar para Analícia, ela ainda nos olhava com um fogo de determinação no rosto enquanto esperava que vocalizássemos nossas concordâncias.

—Pelo lado positivo, -começou Dete. –pode ser bem divertido.

Eu duvidava bastante.

(***)

—O plano é o seguinte. –Analícia começou enquanto entravamos na cozinha e ela ia recolhendo algumas coisas: papel alumínio, barbante, melado e etc. –Precisamos de todos juntos nisso se quisermos capturar uma fada. Elas são muito espertinhas e vamos precisar tomar cuidado.

Encarei Pablo de lado, ambos com uma cara de desolação. Eu, particularmente, não acreditava que íamos mesmo fazer isso. Teria preferido brincar de boneca, pelo menos não seria uma completa e total perda de tempo. E Berenice ia certamente nos matar por desperdiçar tudo aquilo que Analícia estava usando.

—E vocês viram? Meu dente não está mais no travesseiro, porque a Fada do Dente pegou!

—Ou porque a sua mãe pegou. –Henrique adicionou, mas Analícia o ignorou.

—Isso quer dizer que ela ainda está por perto. Talvez tenhamos sorte dessa vez. –ao finalizar, ela fechou os armários com uma sacola de coisas nas mãos. –Estão prontos para isso?

—Analícia, eu acho melhor-

—Sim. –Dete me interrompeu, parecendo achar aquilo importante. –Vamos ajudar você, Analícia.

Analícia praticamente brilhou, seu sorriso atingindo outros níveis de beleza. Uma parte de mim entendeu a vontade de Dete de preservar as poucas coisas que traziam felicidade para Analícia, a outra desesperadamente desejava que ela crescesse. Analícia não poderia ser a filhinha da mamãe pra sempre, e lidar com esse lado mimado dela era cansativo.

—Nós vamos fazer uma armadilha! –ela anunciou. –Vamos fazer um caminho de papel alumínio do quintal até a floresta, vamos encher ele de melado e vamos ziguezaguear as árvores com barbantes. Para atrair as fadas também vamos usar algodão e bétulas secas que a minha mãe tem guardado.

—Maravilha Analícia, por que você não pega pra gente?! –Mel pediu, batendo as palmas em uma exclamação.

Analícia foi, bastante contente. Assim que ela saiu do cômodo, os olhos dos seis se viraram para mim.

—Vamos mesmo fazer isso? –Belle sussurrou. –Não já estamos um pouco grandinhos pra essas coisas?

—É importante pra Analícia. –justifiquei.

—É uma mentira! –Emily rebateu.

—Quem sabe, talvez a gente capture uma fada cor de rosa. –Leo falou. –Talvez ela vomite arco íris e cague glitter.

—Ai que nojo, Leonardo. –Mel torceu o nariz.

—Não é como se a gente pudesse só ir embora. Vamos gente, é a filha da Berê. A Berê ia querer que a gente ficasse com a Analícia. –Pablo argumentou.

—É bom para Analícia acreditar em espíritos de luz. –Dete parou a discussão. –São bons exemplos de moral.

Silêncio.

—Ceeeerto. –Belle respondeu. –Vamos seguir o que a Dete falou.

Andava bastante estranho conversar com a Dete. Em alguns momentos, ela era o perfeito exemplo de uma criança de nove anos, e em outros parecia ter vivido trinta e três. Dete sempre foi uma criança especial, mas parecia que desde que a Dona Creuza morreu Dete levou o “especial” para outro nível. Não era um assunto que conversávamos, porém. Dete ainda era a irmã de Pablo, e falar dela perto ou longe dele era simplesmente errado. Em geral, simplesmente seguíamos a onda.

—Voltei! –Analícia anunciou, uma embalagem de algodão e um saquinho de flores secas. –Minha mãe usa para várias coisas, mas ela não vai se importar se usarmos um pouquinho.

—Beleza. –afirmei. –Por que não vamos indo?

Analícia pegou os materiais que usaríamos e saímos, dando de cara com o sol. Analícia falava animadamente sobre os tipos de fadas e como cada uma ajudava a natureza em seus ciclos. Ela falava com uma convicção e entusiasmo que até eu comecei a achar que as fadas ajudavam na troca de estações.

—Seria tão legal capturar uma, não seria? –ela falou alto enquanto cortávamos papel alumínio e fazíamos uma trilha na floresta. –Seríamos famosos!

—Ninguém ia acreditar. –Mel respondeu. Porque elas não existem, permaneceu não dito, mas eu via o esforço de Mel para não explicar cientificamente todos os processos que Analícia falava que as fadas faziam.

—Analícia, se elas existem, por que nunca falaram delas na escola? –Belle perguntou, tentando usar uma aproximação que fizesse a própria Analícia perceber que fadas não existem.

—Porque elas ficam escondidas e nem todo mundo pode ver. Só quem acredita consegue ver uma fada. –Analícia explicou, como se fizesse total sentido.

—E você já viu?

—Bem, não de pertinho.

—Como sabia que era uma fada então?

—Era um sentimento! –Analícia grita, de repente incomodada com a atenção. Ela fechou a cara e voltou a colocar o papel alumínio. –Isso deve nos avisar se algo ou alguém estiver passando. Podemos começar a usar o barbante.

E juntos passamos o barbante nas árvores usando uma boa quantidade. Dete e Analícia pingavam o melado em alguns pontos para atrair as fadas com o doce, enquanto Belle e Mel espalhavam as folhas e o algodão nas folhas. Henrique e Emily cuidavam do barbante e eu, Pablo e Leo fazíamos o caminho de papel alumínio num relativo silêncio, salvo pelo barulho dos pássaros e da vida ao nosso redor.

Eu gostava da floresta de Sococó da Ema, se é que podíamos chamar assim. Ela era... exótica, no mínimo. Todo o ar misterioso e ao mesmo tempo vivo que a natureza tinha, de quem não julga e não condena. Um esconderijo para todas as almas torturadas.

—É oficial. Analícia é doida. –Leo sussurrou ao meu lado.

—Leo!

—Não dá pra dizer que ela é inocente... –Pablo continuou. –Meio estranha, talvez.

—Você ouviu sua irmã. É importante que ela pense em espíritos positivos e tudo o mais. –repeti. –É bom ter inspiração.

—Eu acho que a obsessão com fadas é porque Analícia quer se sentir mais especial que os outros, só isso. –Leo comentou amargurado.

Mas fazia muito sentido, admito. E todo o lance de negação da realidade também.

—Podemos só fingir que isso é outra brincadeira? –pedi.

Eles deram de ombros.

Por mais que fadas não fossem meu lance, eu poderia me imaginar caçando outras coisas com o mesmo entusiasmo de Analícia –o Mestre dos Magos, por exemplo. Claro que grande parte de mim sabia que ele era só um personagem, mas podia imaginar. Num nível saudável.

No fim, Analícia colocou o melado no chão da floresta e pediu para que nos escondêssemos até ouvir o barulho de algo passando. Tivemos que nos abaixar nos arbustos, ou no caso de Henrique, nas árvores. Ele preferiu subir lá em cima enquanto o resto de nós não quis arriscar. Teríamos que ficar bem quietinhos para ouvir, e Mel acabou dormindo encostada numa árvore. Belle fez “awn” ao vê-la.

Quando eu já pensava em adormecer, Belle encontrou meu braço para um beliscão. Antes que eu pudesse brigar, ela apontou com os olhos para os barulhos de algo andando no papel alumínio.

Finalmente, pensei.

Aí eu olhei.

E nos pés de Mel, passava uma barata, descontraidamente passando pelo melado nos pontos onde ele estava. Quando ela subiu nos pés de nossa amiga, eu e Belle prendemos a respiração.

Analícia levantou a cabeça ao ouvir o barulho, mas fiz um sinal para que ela ficasse quieta. Apesar da confusão, ela continuou quieta, olhando para o chão.

A barata pareceu gostar de Mel, subindo pela roupa dela para o braço.

Belle sinalizou para que eu pegasse a barata. Girei a cabeça veementemente para afirmar que eu não ia fazer isso. Pablo repetiu o ato, também se afastando.

Belle respirou fundo, pegando uma folha para se aproximar de Mel com cuidado.

Quase sem respirar, ela se aproximou, levantando a folha pra pegar a barata quando os olhos de Mel se abriram. Ela pareceu confusa inicialmente, o olhar apavorado de Belle a desconcertando. Aí ela analisou a situação, olhando para o ponto em seu braço onde ela sentia algo pinicando.

E o grito de Mel ecoou na floresta.

A primeira coisa que ela fez foi pular e balançar o braço, desesperada para tirar a barata, que voou para o chão. Ao se afastar, ela esqueceu de uma das linhas de barbante nas árvores e voltou para o chão, se lambuzando de formigas e melado no processo.

O resto de nós, com uma barata a solta, saímos correndo, tentando evita-la. Formigas, cobras, escorpiões e o resto eu saberia lidar. Aquela era uma barata gigante, definitivamente não era uma batalha para um Pedro desarmado. Quase pulei numa árvore junto com Henrique quando ela se aproximou correndo, dando um grito tão agudo quanto o de Mel. Por sorte a minha, escorreguei num punhado de melado e também caí no chão.

À essa altura, Analícia, Henrique e Emily se aproximaram para ver o que aconteceu, mas a presença deles pareceu desconcertar a barata, que começou a voar. E aí cada um correu para um lado –ouvi o barulho do pote de melado caindo, mas não vi quem teve esse infortúnio.

Finalmente, um par de mãos em concha recolheram a barata e a levaram para longe.

Dete.

—Pronto, pequenina. –ela falava.

Depositou gentilmente a barata numa árvore, de onde ela seguiu feliz o resto do caminho e nos permitiu respirar em paz.

—Como você fez isso? –perguntei sem ar.

—Era só um bichinho inocente. –ela respondeu. –É melhor voltarmos, acho que a Mel foi picada por várias formigas.

Voltamos sem nem recolher nossa bagunça –alguém arrebentou o barbante e o melado virou propriedade das formigas à essa altura. Mel foi o caminho inteiro gemendo pela dor das picadas, praticamente carregada por Henrique e Belle, sendo ela quem recebeu o maior número. Todos nós tínhamos algumas também dolorosas, mas Mel estava com as pernas bastante picadas. Felizmente não eram formigas de grande veneno.

—Vamos colocar você na minha cama. –Analícia sugeriu assim que entramos na casa, parecendo genuinamente preocupada.

Levamos Mel arrastada até o quarto de Analícia para encontrar Berê nele, um avental sujo no corpo enquanto claramente colocava algumas moedas no travesseiro de Analícia.

—MÃE! –ela gritou, horrorizada.

Berenice a olhou também preocupada. –Não é o que você está pensando.

—A senhora levou meu dente? Por que não me contou?

—Gente! –Emily exclamou. –Berê, a Mel precisa de ajuda!

Berenice levou um momento para se recuperar antes de ver o estado de Mel. Seus olhos se encheram de empatia, logo pegando nossa amiga pela mão para levá-la para o próprio quarto.

—Mãe? –Analícia chamou, mas Berenice favoreceu Mel ao levá-la para onde estavam os medicamentes. E eu vi claramente um olhar de raiva nos olhos de Analícia, por mais que tenha sido tudo ideia dela. Durou um instante, porém.

Berenice exigiu que todos nós lavássemos nossas feridas e colocou uma pasta de água e bicarbonato de sódio nos machucados, e todos nós tivemos que tomar um remédio para evitar alergias ou infecções. Depois que todos estavam exaustos e doloridos, Berenice nos prometeu um lanchinho.

Mel estava com dor ainda e logo adormeceu no sofá, Emily e Belle em vigília perto dela. Leo, Pablo e Henrique acabaram pegando um baralho de UNO que encontraram por ali e começaram a jogar. Eu ia fazer o mesmo, mas ao ver Analícia e Berenice passando para a cozinha eu não consegui conter minha curiosidade.

—Foi muito irresponsável o que você fez. –Berenice começou, tratando das feridas de Analícia com o maior cuidado. –Poderia ter acontecido coisas piores, você sabe.

—Eu só queria uma fada. –Analícia suspira.

Berenice, resignada, apenas suspira em resposta.

—Analícia, não pode arriscar a sua vida e a dos seus amigos assim. E se outro bicho mais venenoso tivesse aparecido? Eu poderia estar tendo que levar um de vocês pro hospital agora. –ela reprime.

—Fadas não existem, não é? –Analícia muda de assunto. –Mas você sempre falou que eu era sua fadinha. Sempre, mamãe.

—Oh, Analícia. –Berenice suspira. –Você sempre vai ser minha fadinha, meu amor.

—Mas se fadas não existem-

—Não é sobre fadas existirem ou não. –Dete interrompeu, aparecendo do meu lado e intrometendo-se na conversa. –É sobre o significado que elas têm. O Papai Noel não é sobre um velhinho mágico que traz presentes, é sobre caridade e recompensa. Por isso ele é um símbolo importante e por isso não importa se ele existe ou não. Tudo é simbólico.

Encaramos a pequena maravilhados, e Dete corou sob nosso olhar.

—E o que eu simbolizo? –Analícia perguntou para a mãe, desesperada para voltar a ter sua atenção.

—Analícia, você é minha vida. Você é tudo o que eu tenho. –Berenice replicou. –Você é minha luz.

Analícia sorriu imensamente, satisfeita com a resposta, e abraçou a mãe.

Cutuquei Dete com o ombro e a mandei um sorriso orgulhoso. –Mandou bem.

Mesmo assim, Dete estava triste ao olhar a cena, uma aura pesada em seus ombros a deixando com as costas eretas. –Uma tempestade está chegando, Pedro, e nenhum de nós está preparado.

A encarei mais uma vez surpreso com ela, mas Dete só encarava Analícia e Berenice olhando os armários e conversando entre si como se nem se lembrassem que estávamos ali. E era o sonho de Analícia, ela praticamente pulava –não fazia sentido o que Dete dizia. Parecia que as coisas, pela primeira vez, iam se acertar. Que no final do próximo ano, todos pudéssemos ser verdadeiramente amigos e que Analícia teria superado o ciúme incontrolável e a insegurança que possuía.

—Tudo vai mudar. –Dete continuou ao meu lado. –É inevitável.

A palavra acendeu memórias ruins de pesadelos antigos com cobras, fumaças e forças ruins, me fazendo quase engasgar com a minha própria saliva. Antes que eu pudesse exigir que Dete se explicasse, Berenice começou a murmurar ao procurar os armários enquanto falava em voz alta:

—Talvez eu possa fazer uns biscoitos com o resto de melado... –Berenice começou. –Analícia, você sabe onde eu deixei?

Ops.

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Uma historinha boba sobre uma caçada às fadas ficou bem sinistra, não é?em
Vamos entrar em 1994 e eu estou louca para mostrar todas as minhas fan theories sobre a Dete -lembrando que ela é uma OC, ok? Essa é a MINHA versão. Pelo que eu soube, se o Emerson decidir retomar a história, vai ser bem diferente disso aqui.
Aliás, vamos dar uma pausa por aqui. Quero terminar 1994 inteiro antes de postar, porque quero que sejam capítulos bem dark mesmo, e faz tempo que eu não entro nessa vibe tristeza.
E só pra deixar claro, eu vou sentir MUITA falta desses tempos.
ALSO: Eu não sou psicóloga e tudo que aqui é explicado sobre a cabeça da Analícia é baseado nas experiências do Pedro com ela. Ela é uma personagem complicada que é muito mais que a antagonista dessa história.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Os Filhos de Umbra" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.